Dec 5, 2012

Invasão de 1976

 
Invasão: 36 anos

Completa 36 anos  a histórica “invasão” corinthiana ao Rio de Janeiro, no jogo da semifinal do Brasileirão/76, entre o Timão e Flu. Segundo Celso Unzelte é, ainda, o jogo com maior público da história do Corinthians: 146.043 pagantes. É, também, uma das mais belas páginas de nosso esporte e da vida do Corinthians. O texto que segue é  comentário de Nelson Rodrigues, no jornal O GLOBO, sobre o ocorrido. E uma peça histórica, magnífica, orgulho pra todos: corinthianos, tricolores e outros mais.

NELSON E A INVASÃO CORINTIANA

Nelson Rodrigues

1-Uma coisa é certa: – não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações. Até que, lá um dia, acontece a grande vitória. Ainda digo mais: – já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate. Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.

2-Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.

3-A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: –“O Rio é uma cidade ocupada”. Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte.

4-Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha. Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time. Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel. Um amigo me perguntou: – “E se o Corinthians perder?” O Fluminense era mais time. Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corinthianos, quando faziam um prévio carnaval. Esse carnaval não parou. De manhã, acordei num clima paulista. Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam. Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca. Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.

5-Não cabe aqui falar em técnico. O que influi e decidiu o jogo foi a torcida. A torcida empurrou o time para o empate.

6-A torcida não parou de incitar. Vocês percebem? Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca. Os corinthianos estavam tão certos de que ganhariam que apelaram para o já ganhou. Veio de São Paulo, a pé, um corinthiano. Eu imaginava que a antecipação do carnaval ia potencializar o Corinthians. O Fluminense jogou mal? Não, não jogou mal. Teve sorte? Para o gol, nem o Fluminense, nem o Corinthians. Onde o Corinthians teve sorte foi na cobrança dos pênaltis. A partir dos pênaltis, a competição passa a ser um cara e coroa. O Fluminense perdeu três, não, dois pênaltis, e o Corinthians não perdeu nenhum. Eis regulamento de rara estupidez. Tem que se descobrir uma outra solução. A mais simples, e mais certa, é fazer um novo jogo. Imaginem que beleza se os dois partissem para outro jogo.

7-Futebol é futebol e não tem nada de futebol quando a vitória se vai decidir no puro azar. Ouvi ontem uma pergunta: “O que vai fazer agora o Fluminense?” Realmente, meu time não pode parar. O nosso próximo objetivo é o tricampeonato carioca. Vejam vocês:

– empatamos uma partida e realmente um empate não derruba o Fluminense. Francisco Horta já está tratando do tricampeonato. Estivemos juntos um momento. Perguntei: – “E agora?” Disse – amanhã vou tomar as primeiras providências para o tricampeonato. Como eu, ele não estava deprimido. O bom guerreiro conhece tudo, menos a capitulação. Aprende-se com uma vitória, um empate, uma derrota. Só a ociosidade não ensina coisa nenhuma.

No seguinte jogo, vocês verão o Fluminense em seu máximo esplendor.

 

NELSON RODRIGUES era tricolor e publicou este texto no GLOBO em 6/12/76, no dia seguinte ao jogo Fluminense x Corinthians.

7 Comments

  • É sempre bom fazer lembrança desse dia. Eu só acho que deveria ser feito um trabalho mais detalhado sobre esse fato, um DVD com relatos de pessoas, jogadores, dirigentes que estiveram lá no maracanã.

  • estive lá. foi emocionante e inesquecível. não acreditem quando disserem que foi exagero!

  • kkkkkkkkkkkk estao acostumados com a rodoviaria.ai vao pro aeroporto e quebram tudo!!!kkkkkkkkkkk léo meu idolo

    • Só uma aguda crise de ignorância é capaz de produzir uma frase desta.

    • Valeu, Alan!

      E este ano nem rodoviária para vocês santistas tem.

      Curtam as férias e assistam o mundial de futebol pela TV! Somente os grandes clubes do mundo jogam em dezembro…

      Os demais…

  • hahahaha estao acostumados com rodoviaria..e nao com aeroporto..
    agora falando serio..encheram o aeroporto e fizeram uma puta festa..mas dai quebrar tudo é palhaçada..e a imprensa passa a borracha nisso..
    o SOBERANO é acostumado com festas..botamos 40 mil no SACROSSANTO MORUMBI pra ver o FABULOSO

  • Independentemente de quem será o campeão, o Mundial de 2012 (nona edição da história) será para sempre lembrado como o Mundial da INVASÃO CORINTHIANA AO JAPÃO.

    Da mesma forma que o Brasileirão de 1976 é lembrado como o campeonato da INVASÃO CORINTHIANA DO MARACANÃ.

    É por isso que o Corinthians é tão invejado e, consequentemente, tão atacado: a despeito de sermos o Campeão dos Campeões (maior campeão paulista, maior campeão do Rio-SP, maior campeão brasileiro – sem canetadas, 1° Campeão Mundial e campeão INVICTO da Libertinha, em 14 jogos, ganhando do Boca na final), não precisamos de títulos para sermos o clube mais importante do Brasil.

    Mesmo que o Corinthians tivesse tantos títulos quanto a Ponte Preta (a de Campinas, pois a da Baixada até que tem as suas taças), ainda assim seria o maior clube do Brasil, “simplesmente” porque O CORINTHIANS É O TIME DA FIEL!

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