Mar 25, 2014

Ainda sobre estádios e estádios

O CORINTHIANS MAIOR QUE A COPA.
Por Edgard Soares
Roque Citadini me concedeu este espaço em seu Blog para expor minha tese de que o Corinthians não precisaria sediar a abertura da Copa do Mundo para ter um estádio à altura de suas tradições e importância no cenário esportivo brasileiro. Ao contrário do que ele escreveu.
Tenho certeza de que Roque concordará com meus argumentos porque é uma pessoa inteligente.
Afora isso, para os que não sabem, e creio que seja a maioria, sou a pessoa que há mais tempo conhece Roque Citadini no Parque São Jorge, o Roque candidato a dirigente.
Ele estava a meu lado em janeiro de 1991 e fazia parte de minha chapa Força Independente que concorreu as eleições presidenciais daquele ano. Acreditava em minhas propostas, defendi-as e se aproximou em função delas.
Éramos jovens, com menos de 40 anos, e Roque já era nesta data Presidente do Tribunal de Contas do Governo, queria participar da vida política do clube; eu já havia sido eleito em eleições diretas duas vezes conselheiro do Corinthians, além de ter sido diretor de patrimônio do clube.
Roque só voltaria ao Corinthians como dirigente muitos anos depois, em 2.000, como vice-presidente de futebol. Eu fui vice-presidente de marketing de 1995 a 1998.
Roque também sabe que sua eleição à Presidente do CORI em 2006 contou com minha ajuda e costura interna decisiva na diretoria para que ela fosse de consenso. O que não era, antes de minha interferência. Ele, como é um homem honrado, melhor do que ninguém, pode falar a respeito e confirmar o que estou afirmando aqui.
Invoco estas lembranças para que fique claro que Roque e eu não precisamos de intermediários para nos entender e porque se temos um laço de amizade há tantos anos é porque há respeito mútuo entre nós.
O que não quer dizer que não possamos discordar sobre um determinado assunto.
Minhas ponderações são simples:
1) Como qualquer corinthiano estou feliz pelo Corinthians finalmente possuir um estádio próprio.
E torço, mais do que qualquer um, para que este empreendimento não acabe se tornando uma dor de cabeça monumental para o clube.
2) Infelizmente o que se viu até hoje é uma total falta de transparência nesta empreitada e nisso, tenho certeza, Roque e eu concordamos.
3) O que me leva a estranhar quando Roque afirma que não se interessa pelo futuro do estádio e pelas projeções se o mesmo vai dar lucro ou prejuízo, como ele escreveu. “O que interessa é que temos um estádio”. Como não interessa? Parece o Mário Gobbi falando que não interessava de onde vinha o dinheiro do Kia Joorabchian.
4) A par do Itaquerão, que hoje é irreversível, sou obrigado a lembrar que o Corinthians não precisaria do Governo Federal, de incentivos fiscais, do Lula e do estranho favor que a empreiteira Odebrecht está fazendo em relação à construção do mesmo.
5) O argumento de Roque é que sem a Copa do Mundo não haveria dinheiro disponível nem empreiteira boazinha financiando, ela própria, a construção como está acontecendo. Eu diria: infelizmente, se isso fosse verdade. Porque dinheiro do Governo, prioritariamente, não é para construir estádio.
E porque estádio com dinheiro do Governo é caminho certo para super-faturamento e corrupção. Como é que alguém como Roque pode achar que esse é o único caminho?
6) Porém, o que importa, é que no caso do Corinthians, haveria sim, plenas condições de erguermos um estádio contando somente, unicamente, com investidores particulares.
7) Expliquei um milhão de vezes como isso funcionaria (foram cinco reuniões do Conselho Deliberativo a respeito. Nunca, na história do clube, se esmiuçou tanto um projeto de qualquer área como o que apresentei).
Bem, mas isso é passado.
8) O que resta, prezado Roque, é que encarando o estádio como Incorporação Imobiliária, seria possível, sim, construí-lo. E de uma maneira muito, mas muito vantajosa para o Corinthians.
Sou especialista no assunto, minha empresa tem 32 anos, trabalhamos para as maiores Incorporadoras do país, sei do que estou falando.
É algo como você falar a sobre a Prestação de Contas de um dos 600 prefeitos do estado.
9) Poderiam ser outros nomes, outras empresas.
Mas o modelo, que é o mais importante, se encaixaria nas seguintes premissas:  os investidores teriam direito a venda (por tempo determinado de 10.000 cadeiras cativas) e a venda do namimg rights por 10 anos. Todas as outras vendas de naming rights pertenceriam ao Corinthians.
10) As vendas ou aluguéis de camarotes, por exemplo, também pertenceriam 100% ao Corinthians. Assim como aluguéis de lojas, estacionamento, espaço para shows e eventos de qualquer natureza. Repito: só as cativas e a primeira venda do namimg rights.
11) Haveria garantia mais do que suficiente dos investidores identificados. Repito, poderiam ser outros nomes. mas como exemplo no caso que apresentei eles seriam Bradesco, Petros, Banif, Construtora Hochtief (que já construiu mais de 30 estádios em todo o mundo). Terreno comprado e passado em nome do Corinthians desde o primeiro instante. Um seguro de construção, Perfomance Bond, feito em Londres. Zero de dinheiro público no business. Auditoria da Price na operação.
12) A conta fechava porque o estádio para 55 mil pessoas (o que não é nenhum estadiozinho), a 1.800 metros do Parque São Jorge, tinha projeto aprovado e terreno comprado. Tudo isso documentado. Com presença dos investidores ao vivo nas reuniões do Conselho Deliberativo.
13) Não faça como os medíocres, porque você não é medíocre, que se retorciam por eu ter tido a idéia. Isso é mero detalhe.
Tecnicamente, Roque, sabe porque tudo isso era possível, plausível, real? Porque o Corinthians tinha uma demanda reprimida dos torcedores para a aquisição das cadeiras cativas. Porque o naming rights estava vendido para o Bradesco antes de a construção se iniciar. Porque a localização era excepcional.
Qualquer estruturador de negócios competente poderia ter feito isso. Não tenho culpa de ter sido eu.
14) E não consideramos jamais o Marketing Plan com Copa do Mundo.
Concluindo:
Ponderando estes dados, mesmo que sinteticamente, tenho certeza de que Roque quis dizer uma coisa aqui no seu Blog e escreveu algo que permitiu outra interpretação. Não foi feliz, em minha opinião. Acontece.
Todas as colocações públicas de Roque desde 2.000 (ou desde 1991), por sinal, levam em outra direção.
Ele sempre acreditou, ou disse acreditar, na força individual do Corinthians, chegando mesmo a superstimá-la em várias ocasiões. Afirmar que o Corinthians dependeria de uma Copa do Mundo para construir seu estádio é o mesmo que negar tudo o que pregou anteriormente. Seria jogar no ralo suas próprias teses.
Pensando melhor, ele sabe disso. Para finalizar:
Num determinado momento em 2002 convenci o Presidente da FPF, então bastante capitalizada, Eduardo Farah, (eu era vice-presidente de marketing da entidade) a fazer um empréstimo para o Corinthians transformar o estádio Alfredo Schurig num estádio para 35 mil pessoas. Aliás, o mesmo número de público do Pacaembu.
Fiz uma defesa ardorosa da idéia e Farah aceitou. Havia cinco grandes empresas interessadas em propaganda estática no local, de enorme passagem e visibilidade, que amortizariam quase totalmente o empréstimo. O que significava, mais uma vez, sua auto-suficiência para o empreendimento.
Telefonei para o Presidente Dualib e para o Vice-Presidente de Futebol, Roque Citadini. Ambos foram à Federação para um almoço e receber formalmente a notícia. Aliás, a ótima notícia.
A FPF já tinha feito o projeto, que ficou lindo, e o doaria sem custos ao Corinthians. Até o  impacto de trânsito estava solucionado com área de grande estacionamento ligando as duas marginais.
Liguei então para a assessoria da Prefeita Marta Suplicy para quem minha Agência tinha trabalhado, com sucesso, na campanha de 2.000 e porque era importante que ela apoiasse o projeto. Apenas apoiasse, mais nada.
Assim que Farah deu a boa nova aos dois dirigentes corinthianos, na presença da prefeita Marta, que também estava no almoço, Roque pediu a palavra:
“Esse sempre foi meu sonho. Estou super-feliz. Sempre acreditei que o Corinthians poderia fazer sozinho o seu estádio”.
Gravamos então uma entrevista de Roque e Farah falando sobre o assunto para o programa Futebol Paulista e Você que ia ao ar na Rede Vida e na Rede TV! simultaneamente. Conservo até hoje a fita betacam do programa.
Roque, como eu – e como se vê – sempre achou que o Corinthians poderia fazer sozinho o seu estádio. Sem Copa do Mundo.
Estou neste momento no Rio Grande do Norte, mas telefonei para minha Produtora em São Paulo.
Solicitei que fossem ao arquivo e digitalizassem a fita do Futebol Paulista e Você e me mandassem por Internet. Revi a entrevista de Roque. Confirmei mais uma vez:
“Sempre achei que o Corinthians não precisava de ninguém para construir o seu sonho”.
Acredito que ele não tenha mudado de idéia.
Blog do Citadini: 
Este blog, como sabem os internautas , é um espaço de discussões sobre o Corinthians. É amador e feito as pressas entre trabalho e descanso.Quase sempre, sem qualquer revisão de texto.
O que aparece por aqui representa a visão de corinthiano. E , por aqui, aparecem muitas brigas.
O conselheiro Edgard Soares enviou manifestação que publico acima. Poderia ter feito em outros veículos ( seguramente com maiores números de leitura) mas preferiu aqui  pelo gosto  do debate alvinegro.
 Embora fale mais do ” Roque”  do que do estádio, apresenta sua versão. Óbviamente não concordo com tudo que diz  “do Roque”  até porque “esquece” de dezenas de vezes em que estivemos em campos opostos em questões corinthianas. Mas isso não tem a menor importância para o assunto atual.
Na manhã de hoje , os jornais trazem declarações do ex-ministro Célio Borja,  sobre o Movimento de 1964. Diz que o “golpe” ocorreu porque o presidente João Goulart  iria dar um golpe pior do que a ditadura de 1964. Mas haveria o tal “golpe do Jango” ? E como este seria ? Pior do que o regime de 1964?
Todos os que viveram 1964 ( e estavam no poder ) negam o tal “golpe do Jango” que o ex-ministro Célio Borja  traz ao debate 50 anos depois de 31 de março.
Este é o caso do estádio que o Edgard defende. Como ele mesmo diz no inicio de seu texto  “é uma tese”. Poderia ser melhor, pior ou um desastre. Mas é -claramente- uma discussão teórica.
Minha posição sempre foi muito clara neste debate. O projeto apresentado pelo Edgard no Conselho Deliberativo – com todos os louvores- que ele diz ter, era parte de uma acordo eleitoral para a eleição do André Sanchez.  “Votem no Andrés e o projeto vai ao CD”. O atual presidente Mário Gobbi foi claro na reunião quando disse em voz alta – no microfone- dirigindo a Edgard : ” Edgard , está cumprido nosso acordo. O projeto esta no CD”.
Recebi muitas críticas de amigos da oposição quando fui o primeiro a questionar aquela discussão toda. Embora todos soubessem que era uma “barganha eleitoral” queriam  que o veto ao projeto só viesse da parte da diretoria que não concordava. Não achei correto. Estas questões do Corinthians estão acima de situação e oposição. E disse o que pensava.
Tambem fui contra os projetos da diretoria que vinham na mesma linha. O próprio Luiz Paulo Rosemberg ficou uma “arara” quando questionei o estádio do Pacaembu e o estádio de 30 mil lugares em Itaquera ( ou outro lugar).
Disse- e não tenho porque mudar- que a Copa abria um novo tempo no futebol. E que, se a abertura do evento não fosse no Morumbi, o novo estádio só poderia vir pelo Corinthians. O “Edgard” sabe o quanto questionei o Andrés por ter ido ao “inicio das obras com Lula e Serra  no Morumbi”.
Esclareço apenas que tivemos vários projetos discutidos à época. Em todos tive a mesma opinião. Ou entramos na Copa ou ficaremos sem estádio. E não se trata de ganhar nada do governo, não. A Copa alavanca investidores, dinheiro, governos etc. Tanto que o SPFC estava louco para  entrar no trem.
Por último lembro ao Edgard que este não foi o único projeto de estádio que apresentou ao Corinthians. Louvo o esforço mas acredito que a opção pela Arena Corinthians em Itaquera- como parte da Copa- foi o melhor caminho. Por mais que vc e o Luiz Paulo Rosemberg  digam o contrário.  

5 Comments

  • Boa essa discussão. Daí a gente fica sabendo de tudo que acontece lá no clube…rs

  • Não gosto do Edgard Soares. Posso estar enganado, mas ele me parece mais um mercador que “sobrevoa” o PSJ, em busca de oportunidades para ganhar dinheiro. Entretanto, de certa forma eu concordo com ele sobre a necessidade de se ter a Copa para fazer a Arena. Até o exato momento não conseguimos vender nossos naming rights, mesmo com Copa. O que uma empresa leva em conta para associar seu nome a uma arena? Além da popularidade do clube, a localização da Arena. Veja, a arena Palestra já vendeu os naming rights, mesmo o Palmeiras sendo um time com cerca de um terço da torcida do Corinthians. Como pode? Simples: ela está muito bem localizada. Nada contra o pessoal de Itaquera, mas ela não é tão acessível quanto o Pacaembu ou o Palestra. Como que uma empresa vai pagar caro por colocar seu nome em uma arena, cuja mídia cor de rosa não cansa em chamar de “Itaquerão”? Até o próprio Edgard, a despeito de ter perdido a concorrência, tenta queimar o estádio ao chamá-lo de “Itaquerão”. Além do mais, esta mesma imprensa tenta associar “Itaquerão” a dinheiro público e superfaturamento, tal qual o Edgard faz. Aliás, seria ele mesmo corinthiano?
    Por essas e outras, acho que será muito difícil vendermos esses naming rights, que, fosse uma arena melhor localizada e fora do eixo da Copa, poderia pagar tanto quanto ou mais do que a própria Prefeitura, que se viu obrigada a dar “cupons” de isenção fiscal para fugir do vexame da Copa. E aí sim, concordo com o Citadini: tanto a Prefeitura quanto todo o povo paulistano deveriam agradecer o Corinthias, de joelhos.

  • Bom, sem entrar no mérito e em detalhes, eu acredito no Citadini….

  • esse edgard soares , está ofendido porque ele queria fazer um estádio nos moldes que a w torre fez para o palmeiras.
    ou seja teríamos um estádio simples, e o edgard seria o dono por 30 anos, , hoje temos um estádio de luxo , moderníssimo, com capacidade de aumento ou até manutenção.
    o corinthians irá pagar em 12 anos com 3 de carencia. ou seja 15 anos.
    a diferença é que no caso do edgards seriamos locatários, e hoje dependendo da arrecadação que se for mínima já é suficiente para pagarmos o bnds e os juros.
    e ainda assim sobrar dinheiro.

  • Não gostei dele se referir ao estádio pelo apelido. Todos sabemos quem criou e com qual objetivo. Indiscutivelmente para inibir interessados no naming rights.
    Lamentável, ver corinthiano usando o apelido para o “invejão”.

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