Aug 16, 2012

100 anos de Nelson Rodrigues

(Reprodução)

Comemora-se no próximo dia 23 de agosto os cem anos de nascimento de Nelson Rodrigues. Pernambucano, mas carioca de coração, o dramaturgo Nelson era torcedor do Fluminense e escreveu a mais famosa crônica sobre a invasão corinthiana de 1976. Nós não esqueceremos nunca do Nelson, da crônica e da invasão.
Para sempre Viva!


NELSON E A INVASÃO CORINTIANA

Nelson Rodrigues

1-Uma coisa é certa: – não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações. Até que, lá um dia, acontece a grande vitória. Ainda digo mais: – já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate. Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.

2-Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.

3-A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: – “O Rio é uma cidade ocupada”. Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte.

4-Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha. Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time. Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel. Um amigo me perguntou: – “E se o Corinthians perder?” O Fluminense era mais time. Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corinthianos, quando faziam um prévio carnaval. Esse carnaval não parou. De manhã, acordei num clima paulista. Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam. Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca. Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.

5-Não cabe aqui falar em técnico. O que influi e decidiu o jogo foi a torcida. A torcida empurrou o time para o empate.

6-A torcida não parou de incitar. Vocês percebem? Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca. Os corinthianos estavam tão certos de que ganhariam que apelaram para o já ganhou. Veio de São Paulo, a pé, um corinthiano. Eu imaginava que a antecipação do carnaval ia potencializar o Corinthians. O Fluminense jogou mal? Não, não jogou mal. Teve sorte? Para o gol, nem o Fluminense, nem o Corinthians. Onde o Corinthians teve sorte foi na cobrança dos pênaltis. A partir dos pênaltis, a competição passa a ser um cara e coroa. O Fluminense perdeu três, não, dois pênaltis, e o Corinthians não perdeu nenhum. Eis regulamento de rara estupidez. Tem que se descobrir uma outra solução. A mais simples, e mais certa, é fazer um novo jogo. Imaginem que beleza se os dois partissem para outro jogo.

7-Futebol é futebol e não tem nada de futebol quando a vitória se vai decidir no puro azar. Ouvi ontem uma pergunta: “O que vai fazer agora o Fluminense?” Realmente, meu time não pode parar. O nosso próximo objetivo é o tricampeonato carioca. Vejam vocês:

– empatamos uma partida e realmente um empate não derruba o Fluminense. Francisco Horta já está tratando do tricampeonato. Estivemos juntos um momento. Perguntei: – “E agora?” Disse – amanhã vou tomar as primeiras providências para o tricampeonato. Como eu, ele não estava deprimido. O bom guerreiro conhece tudo, menos a capitulação. Aprende-se com uma vitória, um empate, uma derrota. Só a ociosidade não ensina coisa nenhuma.

No seguinte jogo, vocês verão o Fluminense em seu máximo esplendor.


(Reprodução)
NELSON RODRIGUES era tricolor e publicou este texto no GLOBO em 6/12/1976, no dia seguinte ao jogo Fluminense x Corinthians.

Aug 15, 2012

Olha aí!

Tarsila do Amaral, “Sol Poente” (1929)

 

Este Blog, há muito tempo, vem discutindo o momento ruim que vive nosso futebol.
Sobretudo com ausência de jogadores “foras-de-série”. Isto já ocorreu na Copa da Africa so Sul, 2010, onde o elenco era dos mais fracos que o futebol brasileiro já apresentou. Não adianta a mídia inventar que este ou aquele é craque, por uma ou outra jogada. Com o tempo, a realidade se impõe. O craque Tostão, na
Folha de hoje, 15/8, fala deste grave problema.
É hora de refletirmos sobre ele, ou então, a Copa de 2014 será pesada.

 

Pior do que pensava

TOSTÃO

Após as más atuações e a derrota para o México, o futebol brasileiro está pior do que pensava

Prefiro ver o Brasil melhor no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do que ganhar mais medalhas. De qualquer maneira, se quiser evoluir, em todas as áreas, incluindo o esporte, será necessário diminuir as patotas, a perniciosa relação de troca de favores e colocar os mais bem preparados e mais dignos nos cargos estratégicos.

Não basta planejar e investir.

Projeto não fala, não pensa, nem tem alma.

O Brasil joga hoje, contra a Suécia, a última partida no estádio Rasunda, onde ganhou a Copa de 1958. Recentemente, vi, em DVD, todos os jogos, na íntegra. A seleção era melhor do que imaginei com 11 anos, ao escutar as partidas pelo rádio. O Brasil mostrou ao mundo que era possível unir o futebol imprevisível, descontraído e criativo com a eficiência.

Chico Buarque, décadas atrás, em um belíssimo texto, disse que os europeus eram os donos do campo, por ocuparem melhor os espaços, e os brasileiros, os donos da bola, por gostarem de ficar com ela e de tratá-la com intimidade. Hoje, o Brasil não é dono do campo nem dono da bola.

Está pior do que pensava. Antes da Olimpíada, achei que o time, por ser quase o principal, diferentemente de outros países, seria o grande favorito e que nossos jovens dariam show em defesas de jogadores desconhecidos. Enganei-me.

Contra o México, Mano errou ao colocar Alex Sandro no meio-campo, aberto, com a função de ser secretário de Marcelo. Alex Sandro e o time já tinham jogado mal contra a Coreia do Sul. Mano errou também ao levar Hulk. A prioridade era mais um zagueiro ou um lateral direito. A defesa jogou muito mal em todas as partidas.

O Brasil não tem um craque definitivo. O único com chance de ser um fora de série é Neymar. Ainda não é. Sem craques experientes a seu lado, no Santos e na seleção, ficará muito mais difícil para ele evoluir. Neymar vive um momento perigoso. Deram a ele o prestígio de uma celebridade mundial, de gênio, e também uma enorme responsabilidade. Se o Brasil não for campeão do mundo, os mesmos que o adulam vão massacrá-lo.

A formação ineficiente e, muitas vezes, promíscua, nas categorias de base dos clubes, e o estilo de jogar dificultam o aparecimento de craques. Com menos craques, há menos chances de isso mudar. Mano, pelo menos no discurso, tenta fazer alguma coisa, sem sucesso. As marcas da mediocridade foram impregnadas na alma dos jogadores, técnicos e de parte da imprensa.

Não adianta trocar de técnico, a não ser que surja alguém especial, romântico e racional, profundo conhecedor de detalhes técnicos, táticos, observador da alma humana e, ao mesmo tempo, corajoso, combativo e que não precisa gritar, se exibir e dizer que é tudo isso. Falta ao futebol um Zé Roberto.

www.folha.com

Aug 14, 2012

Apoio (em excesso) prejudica

Di Cavalcanti, “Samba” (1925) (reprodução)

Tanto o técnico Mano Menezes quanto o Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Sr. Carlos Nuzman,  vêm recebendo declarações de apoio por todo lado.
Da mídia em geral, de dirigentes, de políticos, de atletas, de analistas etc. Todas muito interessantes, mas, ao mesmo tempo, muito preocupantes.

Com a derrota para o México, na final do futebol nas Olimpíadas de Londres, o técnico Mano Menezes passou a ser contestado por muita gente.
Mas, defendido por um número ainda maior de pessoas. O Presidente da CBF, José Maria Marin, e o Diretor da Seleção, Andrés Sanches, saíram logo com declarações de apoio ao treinador. A CBF divulgou que até o ex-presidente Lula teria telefonado e elogiado o desempenho brasileiro pela medalha de prata conquistada.

Mano Menezes é um experiente profissional do futebol e sabe que todos estes discursos vão  abaixo se a Seleção não começar a apresentar uma boa atuação nos próximos jogos.
Palavras (ainda que belas) não seguram ninguém no cargo, especialmente na Seleção. Ou vence – e bem – os próximos jogos, ou deve ficar preparado para o pior. E com este elenco de “estrelas” que tem nosso futebol qualquer técnico “suará frio” para dirigir a Seleção.

O Presidente do COB, Sr. Carlos Nuzman,  é outro que vem sendo defendido pelo desempenho em Londres da equipe olímpica do Brasil.
Tabelas, gráficos e elogios brotam como nunca. Da mídia, de políticos e do governo.

Tudo ajuda pouco. Deve o Sr. Nuzman lembrar-se que o governo gastou muito para resultados tão pequenos em Londres.
Isto é um problema. Mas o problema mesmo é que a Presidente Dilma Roussef , que já derrubou o presidente da entidade que dirige o futebol (CBF) , tomou uma simples medida: recusou-se  a receber em audiência o Sr. Ricardo Teixeira. Mesmo com apelos de muitos segmentos (desde cartolas até de políticos – e até  mesmo do ex-presidente Lula), a Presidente bateu o pé e disse: Não recebo! E o Presidente da CBF viu que não daria para comandar o futebol – em uma Copa do Mundo – com um veto deste tamanho.

O Presidente Marin nunca foi recebido pela Presidente da República, mas ele finge que “não é com ele”.
Isto é, não pede audiência. O Sr. Nuzman deve ficar atento. O apoio do governador Cabral e do prefeito do Rio, Paes, são importantes, mas, como no caso da CBF, se a Presidente bater o pé, a coisa toda muda. E aí não adianta apoio na mídia, na política,  etc.
Ninguém teve tanto apoio quanto Ricardo Teixeira  na hora em que deixou o Rio de Janeiro e foi para Miami.

Muito apoio pode atrapalhar.

 

Aug 13, 2012

Golaço! E de letra

 

 

O belo gol de Romarinho salvou o fim de semana desportivo de nossa gente.
Um toque de gênio na vitória do Corinthians em Curitiba por 2×1, contra o Coxa. Romarinho mostra, cada dia mais, que pode se tornar um ótimo jogador para o Timão e para a Seleção Brasileira. Não só pelos belos gols que faz  (um deles na primeira linha da história – aquele de Buenos Aires), mas pelo refinado toque de bola que tem. Vamos torcer para que sua carreira avance e ele – numa nova fase – consolide-se como o grande atacante que já dá claros sinais de ser. Tivesse ele o apoio da mídia, como os Lucas, Oscares ou Marcelos da vida, já estaria ocupando todo o espaço de rádios, TVs e jornais.
Melhor assim, seguir contra a maré, sem bajulação, pois a conduta da mídia nada resolve.
Conduta que só dá a ideia,  errada, de que jogador médio é que merece ser rotulado como craque.

Seleção e derrota

A Seleção Brasileira perdeu no sábado, 11/8, para a do México, em jogo que não deixa espaço para choros e caras de brabo.
Perdeu, merecidamente. Trata-se de uma Seleção em que 80% dos jogadores que lá estão poderiam ficar de fora que ninguém sentiria falta. Creio que boa parte deles permaneça por lá, ainda que sem grandes resultados, e com a mídia insistindo que são craques. E este é o time “principal” do Brasil.
Com esta geração jogando esta bola, toda a Copa de 2014 pode se tornar um evento trágico para o “País do Futebol”.

Evento londrino

A abertura e o encerramento das Olimpíadas de Londres foi no mesmo ritmo: lento, arrastado, quase sonolento. Não deixará saudades e não intimida o Rio de Janeiro para daqui 4 anos. Qualquer escola de samba, com uma boa bateria e um razoável carnavalesco, fará uma apresentação muito mais criativa.
Aquela entrada com as Bachianas de Villa-Lobos indica um bom caminho para os organizadores do evento no Brasil.

Bem pior do que a festa londrina foi o desempenho da delegação do Brasil.
Com o Comitê Olímpico Brasileiro recebendo 2,1 bilhões para sua preparação (o dobro do que recebeu o grupo da Itália, e mais do que recebeu a “gigante” Austrália,  1,7 bi), o número de medalhas conquistadas e os índices obtidos foram pífios.  Com o dinheiro todo centralizado no COB, e distribuído para os “amigos” das Confederações, o Brasil faz o trabalho oposto ao que todos os exemplos de sucesso indicam. Nada se investe em Clubes, universidades, escolas e centros de formação de atletas, procurando concentrar-se em gastos administrativos de entidades, qu pouco contribuem para o crescimento dos esportes e devido suporte aos atletas. Com as mudanças na CBF fica cada vez mais difícil manter este reinado de miséria (em vitórias) e de fartura em grana vinda do governo. Vamos torcer para que a Presidente Dilma Roussef venha a ter com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro a mesma postura que aplicou ao futebol.
Aí, sim, a coisa muda.

Aug 11, 2012

Futebol, Vôlei e Olimpíadas

Assisti apenas alguns lances da seleção brasileira de futebol nesta Olimpíadas. Nesta decisão de hoje não foi diferente. Acho um exagero, sem limite, os elogios que nossa mídia faz à seleção. Todos são “craques”, espetaculares, geniais etc.  Não acho nada disso. Pelo contrário, vejo um time com muitos jogadores médios e um ou outro que pode tornar-se “craque” . Não acho que perder para o México seja o fim do mundo mas, devemos lembrar, nossa seleção é, praticamente, a seleção titular. Diferente das outras equipes que participaram das Olimpíadas que mandaram equipes bem mais jovens.

Sei que a campanha, agora, será para trocar o técnico. Não entro nesta onda porque creio que nosso problema é “mais embaixo”. Faltam craques. Temos uma geração que não mostrou quase nada. Exceto os longos elogios e paparicos da mídia são jogadores que estão por provar a condição de “fora de série”.

Vôlei

Fiquei feliz pela vitória da seleção feminina de vôlei. Primeiro pela raça e competência que mostraram. Saíram de uma situação difícil e viraram o jogo. Merecem todos os aplausos. Aplauso também, que não deve faltar, para o técnico José Roberto Guimarães excelente profissional e pessoa da melhor qualidade que no futebol passou pelo Corinthians com  merecido aplauso. Cumprimento também, meu colega de ginásio, José Elias de Proença, preparador físico da seleção e exemplar profissional. Um grande viva as meninas e a comissão técnica.

Olimpíadas e TV

A tv brasileira merece algumas críticas pela cobertura que faz dos esportes, principalmente das Olimpíadas. Mas quem der uma olhada na cobertura da TV da Espanha vai ficar assustado com o profissionalismo e imparcialidade da mídia brasileira. Os espanhóis vivem aplaudindo tudo e todos parecendo que estão na liderança de medalhas. Acho que o longo período de franquismo deu um marco decisivo na cobertura jornalística dos espanhóis. É só elogio.

Aug 10, 2012

1914, o ano que não terminou

(Ana Maria Dias, “Manhã Luminosa”, 2008) (Reprodução)

O ano de 1914 é muito importante na história do Corinthians.
Trata-se do ano em que o alvinegro conquistou seu primeiro grande título. Foi Campeão Paulista  invicto, não perdendo, nem empatando uma só partida. Teve ainda o destaque de seu mais importante jogador, Neco, que foi o artilheiro da competição.
Mas 1914 não é importante somente por ter sido o  ano em que o “time dos carroceiros” venceu o Campeonato Paulista.

Neste ano o Corinthians teve sua estreia em partidas internacionais em duas partidas contra o Torino da Itália.
Curioso este fato de o Timão ter sua estreia mundial com o time que ficaria marcado em nossa história. O Torino voltaria ao Brasil em excursão, durante 1948, quando venceu todo mundo com a famosa “esquadra”, que era a própria Seleção Italiana. Só perdeu um jogo: para o Corinthians por 2×1, no Pacaembu em 1948.
No ano seguinte (em 4 de maio) um terrível desastre aéreo extinguiu a equipe torinese. O Timão promoveu a famosa partida em homenagem aos italianos,  jogando no Pacembu contra a Portuguesa, vestido com a camisa do Torino.  A renda do evento foi doada às famílias dos jogadores do Torino e esta foi a única homenagem que recebeu a famosa “seleção azzurra” do Torino.  
Há dois anos, o alvinegro voltou a lembrar estes fatos com o lançamento da bela camisa grená com a qual o Timão passou a jogar como uniforme alternativo.

Formação do Timão na homenagem ao Torino: (Da esquerda para a direita): Em pé: Hélio, Noronha, Edélcio, Baltazar, Servílio e Colombo; Agachados: Rubens, Touguinha, Bino, Belacosa e Belfare. (Reprodução)
SC Corinthians Paulista 2 x 0 Portuguesa de Desportos; DATA: 8/5/1949; LOCAL: Estádio do Pacaembu; GOLS: Colombo e Noronha;Estréia do centro-médio Touguinha no quadro corintiano. ÁRBITRO: Francisco Kohn Júnior; RENDA: Cr$ 178. 067,00.

Jogadores famosos e craques 

Quando aparece um negócio com algum time europeu, como este de Lucas (ex-Marcelinho), a mídia surfa.
Começa a ver traços de “fora-de-série” em um jovem atleta, que ainda não tem sua carreira consolidada. Grandes transações financeiras (quando elas realmente existem) não garantem um status de craque “fora- de-série” para ninguém. Acrescente-se que o jogador precisa superar várias etapas para se consagrar. Uma delas é tornar-se titular – indiscutível e indispensável – da Seleção Brasileira. Já vimos muitos jogadores,  envoltos em ruidosas transações, seguirem para a Europa e depois minguarem. Seria inútil criar listas destes “futuros craques” que foram para a Europa e deram chabu. Menos para  a nossa mídia.
Bem menos.

Aug 9, 2012

Empate no Brasileirão é ruim



 

Numa disputa de pontos corridos, como é o caso do Campeonato Brasileiro, o empate é um resultado ruim.
Foi o que ocorreu ontem à noite, 8/8, no Pacaembu, no jogo do Corinthians contra o Atlético de Goiás.  Mesmo estando há vários jogos sem derrotas, o Timão pouco acrescenta à sua campanha com estes empates que vem conseguindo.

O time corinthiano mostra que é difícil de ser vencido mas que, por outro lado, não tem êxito em “fazer” um bom resultado, no caso uma vitória. Esteve melhor, com a defesa e o meio de campo sempre organizados e atuando bem, mas faltam gols.

Ontem, vendo o técnico Tite gesticulando por todo lado à beira do gramado, lembrei-me de Mussolini,  sanguinário ditador italiano, às vésperas de entrar na Segunda Guerra.
Queria, porque queria, ir para a guerra junto com a Alemanha, mas não tinha exército. Nesta situação produziu uma frase que ficou famosa na história: “Até Michelangelo precisava de mármore para fazer estátuas. Se tivesse apenas argila, teria sido um simples oleiro”. É a situação do nosso técncico.
Precisa de jogadores de ataque de qualidade superior.

Lembre-se, por outro lado,  que o nosso goleiro não foi feliz no gol dos adversários, mas isso não deveria alterar muito a partida.
Todos falham em certos lances, até o goleiro. Boa foi a jogada do gol de empate, mostrando que o Romarinho tem muito para render no Timão.

Não é um resultado que mude o mundo, mas adia uma arrancada maior do Corinthians para mudar o Campeonato.

Esportes  e TV

Não sei o motivo que levou a Globo e a Record a brigaram tanto para transmitir estas Olimpíadas de Londres. Na maior parte dos países são transmitidos apenas alguns jogos mais importantes, ficando a maioria dos esportes coberta pelo noticiário geral. Estas longas e cansativas transmissões da SporTV (e creio que a da Record também) pouco interesse despertem no público.
E também não considero que os patrocinadores ganhem alguma coisa com isso.

A grana mata a pompa

A anunciada venda do atleta Lucas (ex-Marcelinho) do SPFC para o PSG  (será que já assinaram  ou faltou caneta?) mostra um lado nada romântico do futebol.
O Tricolor vendeu o garoto por duas razões simples: primeira, o jogador queria sair; segundo, o SPFC está precisando (e muito ) de grana.  O atleta entra na mesma nau em que já embarcaram muitos brasileiros: vai para a Europa muito cedo (não se consagrou no Brasil ou na Seleção)  e querendo “arrumar a vida”.  
Se será um craque por lá é outra coisa.

Aug 8, 2012

Brasileirão, Olimpíadas e a caneta de Pinochet

(Francis Grant (1803-1878), “Duque e Duquesa de Beaufort”) (reprodução)

Confesso que acompanhar as Olimpíadas está chato demais.
Pelo lado brasileiro, trata-se apenas de um conjunto de justificativas sobre erros, quedas, derrotas etc. Até a ferradura do cavalo entrou na roda. Mesmo o futebol (onde o Brasil passou fácil e vai para a final) não temos vibrado muito. Ontem, assisti apenas a parte do jogo da Seleção Olímpica de futebol e só no final me dei conta de que era a Coréia do Sul e não a do Norte o nosso adversário. O que, diga-se, não tem nenhuma diferença para este esporte. Gosto de ver hipismo. Não pelo cavalo ou pelo jockey, mas pelo locutor: fala baixo, manso (quase sussurando), mostrando que em esporte de ricos ninguém grita.
Não fosse essa “qualidade” de transmissão as olimpíadas não teriam graça.

No futebol o destaque desta quarta, além do jogo do Timão, no Pacaembu, as 20,30 hs,  é o artigo do Tostão na Folha.
Fala sobre o impacto que o Corinthians tem no Campeonato e diz algo importante : “Parece que acabou a longa fase de prepotência dos treinadores, de acharem que não têm nada para aprender com os técnicos de outros paises”. Está certo o craque. Nossos profissionais devem ter um olho aqui e outro lá fora.
Só assim evoluiremos.

Faltou a caneta 

Os jornais desta Terra de Piratininga anunciam (há alguns dias) que o atleta Lucas (Marcelinho) teria sido negociado com o PSG, agora um Clube dominado pela grana árabe.
Segundo nossa mídia “só falta assinar”!

Achei estranha esta demora em uma assinatura em um papel (já dura quase uma semana a espera), mas me lembrei de um precedente histórico, que pode  explicar a dificuldade com o jamegão.

Nas vésperas do golpe sangrento no Chile, em 1973, os dois comandantes  das Forças que conspiravam (Marinha e Aeronáutica), há tempos,  contra o Presidente Salvador Allende, foram a casa do General Augusto Pinochet, comandante do Exército  (a Arma mais importante, do ponto de vista militar) e que estava numa posição dúbia. Um dia Pinochet dizia que apoiaria o golpe, noutro, mudava de ideia,  deixando os líderes das outras armas em pânico. Pinochet, então recém nomeado para o cargo  por Allende, jurara – inúmeras vezes – defender o Governo e a Constitução democrática do Chile. Na hora em que recebeu a “prensa” dos dois outros comandantes, disse: “está bom, vamos para o golpe com todas as consequências”. Mas os dois comandantes conspiradores, já conhecendo o histórico de vacilos de Pinochet, tiraram um papel da pasta e disseram: “então, vamos os três assinar este documentos que marca o golpe”. Pinochet, surpreso, primeiro perguntou se seria necessário assinar aquela carta, recebendo a resposta de imediato. Sim, era imprescindível!  Sem saber o que fazer, alegou: “não tenho caneta”. Aí está o que falta para o negócio do SPFC com o PSG, falta-lhes a caneta para assinar os papeis. Pelo menos é isso o que diz nossa mídia já há alguns dias. No caso do Pinochet um ajudante de ordens do representante da Aeronáutica disse: está aqui a caneta. Acho que os dirigentes do SPFC estão desprevinidos e não têm nenhuma Bic no bolso.
Pode ser esse o motivo de tantos adiamentos.

Aug 7, 2012

Olimpíadas e futebol

Thomas Eakins, “The Biglen Brothers Racing”, 1873  (reprodução)

Estas Olimpíadas não são a maravilha toda de que falavam por aí.
Primeiro, aquela abertura que mais parecia com Jogos Colegiais de Xiririca. Monótona, arrastada, sem criatividade, dando ao Rio a possibilidade de, mesmo sem grandes esforços, fazer um papel bem melhor.

Agora, nesta edição londrina dos jogos, aparecem confusões por todo o lado. Entrega de resultados em modalidades como o badmiton (sinceramente, nem sabia que isso existia), envolvendo 4 países numa trama ao estilo da máfia. Depois, o  “corpo mole” de algumas equipes para fugirem de confrontos na fase seguinte.
Por último, os casos de doping, já comprovados, que mancham qualquer disputa.

E sempre com um tratamento leve da mídia.
Hoje pela manhã, um brasileiro que não conseguiu classificação, foi direto ao falar com a TV: “não dormi bem”. Pronto, está dada a explicação! Simples, sem qualquer fuga. E a mídia nada diz. Poderia ter perguntado se foi o travesseiro, o aparecimento de uma pulga, ou até mesmo uma goteira no quarto…
Nada, nenhum questionamento.

Imagino se no futebol algum atleta aparecer com esse tipo de justificativa o que ocorreria. Cairia o mundo.  E nem se diga que os olímpicos são atletas “amadores”. Muitas das confederações gastam rios de dinheiro (público) e não são objeto de qualquer cobrança ou indagação.

O COB, bem, o COB  é aquilo que já conhecemos.
Dinheiro sobrando, distribuído para os chapas das confederações.
E grande parte dos recursos é consumida com a própria burocracia olímpica.

É, acho que é melhor acompanhar apenas o futebol.

Aug 6, 2012

Futebol, Olimpíadas e outros


Grant Wood
. “Adolescência”, óleo sobre tela e têmpera, 1932. (reprodução)

Tite, nosso técnico, fez uma análise precisa do empate de ontem, 5/8, em São Januário, contra o Vasco da Gama.
Disse, na Folha, de hoje: “Gostei muito do desempenho, a marcação, a ofensividade. Mas fico com o sentimento de que a gente tem que transformar em vitória, poderia ter vencido.” Também acho.
O Corinthians foi melhor e poderia ter vencido.

Não acho que este empate seja um desastre como a guerra na Síria.
Mas não foi o melhor resultado. Mesmo estando há 6 jogos sem derrota, neste tipo de disputa o importante é vencer. O empate ajuda pouco, quase nada.

Vamos para frente, pois a equipe pode melhorar sua sequência sem derrotas e conseguir vitórias, mudando o campeonato.

“Valeu pela experiência”

Este é o bordão que mais ouço dos atletas brasileiros participantes da Olimpíada londrina.
Valeu para quem? Foi boa a viagem, bons hoteis, ótimos papos. E daí?

A mídia gosta de pegar no pé de jogadores de futebol quando, saindo do gramado, os atletas vêm com aquelas máximas “jogamos com determinação e humildade”; “o professor pediu para marcar no campo todo” etc e tal. Porém pouco falam em relação aos atletas olímpicos, que mantêm sempre a mesma cantilena: “valeu pela experiência”. Reduziram a máxima “o importante é competir” para “o  importante é viajar e estar aqui”.

Oh vida dura!

O Blog do Perrone traz uma interessantíssima matéria sobre um barraco no Tricolor Paulista.
Um empresário (ou será ex?) de um famoso supermercado teria exagerado nas cobranças ao time, ao fazer duras declarações públicas. Diz a matéria que o dito cujo – embora filho de portugueses, abandonou a Lusa – fica mandando, durante os jogos,  mensagens SMS  para o auxiliar técnico, exigindo mudanças na equipe, substituições de jogadores etc. A Diretoria tratou de desautorizar as críticas feitas em público ao treinador tricolor.

Curioso é que, na matéria do Perrone, um Diretor reclama que o empresário deveria trazer a rede de supermercados para anunciar na camisa do time.
Poderia repetir o que fez com o filho, quando corria na Fórmula 1, ou quando um batalhão de atletas era levado para a maratona de Nova York e a mídia divulgava  o incentivo como ” apoio cultural” . Esqueçam , senhores. Isto já não vos pertence mais ! O tal empresário não é mais o dono da rede de supermercados. É grande acionista,  mas não o principal.
Se desejarem falar com o novo investidor majoritário, devem procurar na lista de Paris por um nome argelino.