Apr 17, 2012

O Estado pode mudar o futebol

 

(Djanira da Motta e Silva) (Reprodução)

Durante décadas, os clubes de futebol, as Federações e os Dirigentes alimentaram a balela de  que a Constituição garantia a eles “autonomia” e poderiam fazer o que quisessem.
Sem qualquer controle do Estado. Era, segundo os Dirigentes, um mundo auto-regulado, sem interferências de ninguém. Diziam-se “entidade privadas”, imunes a qualquer controle ou regulamentação. Uma parte significativa da mídia entrou nesta lorota, que era um dogma do futebol. Com esta  “interpretação criativa” da cartolagem chegou-se  a dizer que não poderia haver CPI sobre o Futebol, pois a autonomia seria atingida.  
Puro equívoco.

No último dia 23 de fevereiro, o Supremo Trinal Federal, enterrou – de uma vez – este conjunto de ideias malucas dos Dirigentes. Ao julgar a constitucionalidade do Estatuto do torcedor, o STF disse que o Estado pode legislar sobre Futebol e tudo mais. Não poderia ser diferente. Aquela autonomia das entidades, de que fala a Constituição de 1988, é mero instrumento ou meio para a concretização do esporte, definido como direito do cidadão. A ideia de que a regulamentação do Poder Público é uma “interferência estatal no funcionamento das associações desportivas” caiu por terra.
E mais , o Estado pode e deve regulamentá-las.

Hoje, em longa entrevista no Estadão, o Ministro Aldo Rebelo diz que o que mais incomoda o Governo é a ” perpetuação de cartolas no comando das entidades”.
Períodos de “10, 15, 20 anos de uma pessoa na mesma cadeira são considerados um abuso”. Entre outros pontos, este fará parte de um conjunto de normas e diretrizes que regulamentará a Gestão de Clubes, Federações e Confederações. Viva! O Governo, finalmente, entendeu que pode mudar o Futebol. E, após a decisão do STF, caiu por terra qualquer pretensão “independentista” do esporte. Será uma grande revolução se o Governo inovar e estabelecer normas para o estatuto das entidades desportivas.

O fim da reeleição de Dirigentes deve ser um objetivo claro. Sugiro que seja adotado o modelo do Corinthians: os dirigentes têm um mandato de 3 anos, sem reeleição, somente podendo recandidatar-se após 2 gestões. Isto deveria valer para Clubes,  Federações e Confederações. E também deveria estabelecer novas normas de transparência e controle destas entidades. Seria uma revolução e tanto no Esporte brasileiro.

Devemos lembrar que os problemas no Futebol são de menor grau quando comparados aos de  outras modalidades. No Futebol, o torcedor e a opinião pública estimulam mudanças, especialmente em clubes grandes. Em outros esportes olímpicos o quadro é desolador. Veja-se o COB, onde há mais de décadas e décadas segue o domínio do Sr. Nuzman. Nas Federações não é diferente.

O Ministro Aldo Rebelo poderá fazer uma revolução.
E será um marco no Futebol. O Estado pode mudar o Futebol. Só é preciso querer. Nas últimas décadas, os Ministros da área queriam ser paparicados pelos cartolas. E isso os Dirigentes esportivos  sabem fazer muito bem. É trocar festas e elogios por uma revolução. Vamos torcer para que o Ministro faça a sua.
O Futebol agradecerá.

Apr 16, 2012

Agora é pra valer.



Quem gosta e quem não do gosta do Campeonato Paulista (Paulistinha ou Paulistão) sabe que esta primeira fase é longa e pouco atraente.
Agora, com a fase final, o campeonato ganha uma outra ordem. O Corinthians venceu a primeira fase, o que chega a ser uma surpresa. Disputa a Libertadores, viaja muito e, em vários jogos, colocou a equipe “B” para atuar. Como fez ontem, quando venceu a Ponte em Campinas. Mas os outros vacilaram (ou não estão jogando grande coisa) e o Corinthians ganhou sem jogar tudo o que pode  jogar. Vamos esperar esta segunda fase para vermos os melhores jogos. Será? O importante para o Timão foi testar alguns jogadores da base que poderão ser aproveitados nos próximos jogos e temporada.
E ficou claro que alguns reservas, mesmo com nome, não estão em boas condições físicas para atuar o jogo todo.

Briga feia

Nesta briga sem quartel entre o jogador Oscar, o São Paulo Futebol Clube, o Inter e o empresário Giuliano Bertolucci,  as surpresas são diárias.
Agora o Clube paulista, alertado por uma entrevista dada para um certo jornalista, vai usar as palavras do atleta para fazer prova contra o Inter. Pelo que vi no Blog do Perrone a entrevista nunca teria sido colocada no ar. Ôpa! Que radialista bonzinho este que dá ao SPFC uma declaração que os ouvintes nunca ouviram.
Vale tudo. Até o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez, que nunca teve o problema de escancarar as categorias de base do Clube às parcerias com empresas, agentes, empresários etc, segundo o Painel FC da Folha, mudou de ideia e entrou na cruzada do Presidente do Tricolor, Juvenal Juvêncio. Agora defende a necessidade de “mais medidas de proteção aos clubes”. Como ele anda lá pela CBF, é  só  pedir pro presidente Marin fazer como a Fifa: proibir qualquer contrato de jogador que não seja só com o Clube. E mandar as agremiações ignorarem estes acordos de empresas e empresários que atletas e clubes tanto vivem fazendo.

O UOL e a guerra do estádio

Nesta segunda-feira, pela manhã,  o portal UOL publica mais uma manchete sobre o estádio do Corinthians em Itaquera.
E, no padrão escândalo, diz que o Clube pode perder o terreno se não…
Li as duas primeiras linhas e mudei de matéria. Vamos aguardar a próxima.

Apr 15, 2012

Uma confusão salutar

A briga entre o jogador Oscar, o São Paulo Futebol Clube, o Inter de Porto Alegre e o empresário Giuliano Bertolucci está cada dia mais quente. Como já disse por aqui, não há anjos neste terreiro. O jogador com a bandeira da liberdade quer jogar no lixo o contrato com o clube paulista. O SPFC , que não é nenhum exemplo de santidade nestas questões, agarra-se ao contrato  com o atleta, desconsiderando qualquer pressão quando o jogador era menor de idade. O Internacional – sempre queixoso com o mundo- é usado pelo empresário que é o ” dono do jogador” e pouco aparece nas matérias. O empresário, que nos últimos anos vem tendo forte influências em grandes clubes (inclusive SPFC e Inter), não fala nada e não ouve nada.

O interessante é que a mídia, pela primeira vez, está dividida. Normalmente o jogador é retratado como vítima ( quase um pobre coitado), explorado pelo clube. Neste caso, como o SPFC esta na briga, esta marca está mais leve. Agora também falam da defesa do pactuado entre o jogador e clube. Mas, como regra, os clubes ( SPFC e Inter) bem como quase toda a mídia esquecem o empresário, o real dono do jogador. Não há uma crítica de dirigentes do futebol ao agente que organizou toda a manobra. Na mídia, um ou outro, falam alguma  coisa, como faz  o Juca. Para a maioria não existe esta questão. Dos clubes não ouvi um dirigente levantando sua voz contra este negócio, que já esta tornando-se comum no nosso futebol.

O Brasil está criando um quadro novo no futebol mundial. Este contratos  de jogadores divididos entre clubes, empresário, agentes etc , que retiram o monopólio dos clubes  em contratar com jogadores. Um número significativo de atletas, nos dias atuais, “pertence” a empresas, empresários, agentes etc. Tudo à margem da lei. A única garantia destes acordos é a palavra dos dirigentes. Este contratos paralelos entre jogadores e empresários nunca foram contestado na Justiça. Se forem, correm o sério risco sério, de serem ” chumbados”, como dizem os portugueses. A Fifa não aceita. Sómente ” a palavra ” dos dirigentes dos clubes mantém estes contratos.

Mas este “mercado paralelo” que  está no centro desta polêmica, SPFC/Inter/ Oscar/ empresário,  não aparece na briga. Ninguém quer tocar fogo no prédio e acabar com o negócio. Até porque, todos, ainda que informalmente, defendem esta prática.

Esta mais do que na hora da CBF regular esta matéria . A Fifa , em muitas decisões , já disse de forma clara : só vale o contrato do  jogador e clube. Os paralelos entre jogador e empresário (e também clubes) não vale. Seria uma medida revolucionaria da nova direção do futebol brasileiros. Vamos torcer. Mas não acredito .

Apr 14, 2012

A crise na Europa

A Copa Santander Libertadores terá outro nome no próximo ano. É o que dizem os jornalistas da área econômica dos jornais. A crise na Europa esta cada dia pior. O sistema bancário só está em pé pelo socorro trilhardário do Banco Central Europeu. Sem esta ajuda, iriam pra cucuia.

Itália e Espanha, dois gigantes do futebol, estão no centro da crise. E a capacidade dos governos em socorrer bancos, seguradoras, montadoras etc está se exaurindo. E o futebol será atingido em cheio. Empresas que tradicionalmente apoiam o futebol estão “puxando o breque” ou até “saindo de campo”. Outras,  que são tradicionais proprietárias de clube, estão cortando tudo. De salário a gastos em hoteis. Até concentração e viagens estão tendo seus gastos reduzidos. Com esta crise toda a esperança de venda de  jogadores para a Europa está reduzida. Um ou outro clube inglês, propriedade de oligarca russo ou árabe exótico,  é o que sobrou. Bom para o futebol sul americano, especialmente brasileiro e argentino, que poderão dar um salto nesta crise toda. Ficarão com jogadores melhores e, pela força da economia local, ganharão outro  padrão mundial.

Que briga !

A confusão SPFC-Oscar- Inter-empresário está ficando cada dia mais quente. Como ja foi dito por aqui , nesta luta, não existe anjos. A diferença é que parte da mídia- que tradicionalmente apoia o jogador- desta vez está dividida. O SPFC conseguiu ganhar o ar de vítima numa situação onde outros clubes sempre foram vilões. A única unanimidade é a ausência de crítica midiática ao empresário envolvido. Nem  os clubes envolvidos ousam criticá-los. Vai que lá prá frente, estejam unidos- em outros negócios- e não é bom atacar um agente tão forte.

Ainda Adriano

Continua rendendo todo tipo de discussão a saída do jogador Adriano do Timão. A Folha de hoje (sábado), no seu caderno de esporte, informa a nova cirurgia do atleta com discussão interessante.  O médico do Corinthians, para rebater críticas, diz que o atleta foi tratado por ” dois problemas : a lesão e a obesidade”. Ué ! Para o Departamenteo médico do Timão alcoolismo não é doença e depressão deve ser uma descida rápida. Com esta visão- que esquece as  verdadeiras doenças- seria impossível cura-lo.

Informa- também a Folha- que o ex- presidente Andrés- enviou um SMS ao empresário do jogador  com a frase ” Se estivesse no Corinthians, nada disso teria ocorrido. Teria resolvido de outra maneira”. A divulgação desta mensagem causa surpresa pois poderia indicar divergência na diretoria do Timão. Não acho, não. O vazamento do SMS foi para o Ronaldo que não estaria satisfeito com o que ocorreu. E, como todos sabemos, o jogador sempre agiu de forma correta com o clube. Inclusive quanto a procura de patrocinadores. O melhor, então, é não irrita-lo.

Apr 13, 2012

Sexta-feira 13


(Marc Chagall. “Paris através da janela”, óleo sobre tela, 1913)

Para muitos sexta-feira 13 é um dia de azar e infortúnio.
Esta história teria seu início na ordem secreta do Papa Clemente  V, para a destruição da Ordem dos Templários. Por solicitação do Rei Felipe IV da França,  o  Sumo Pontífice emitiu uma bula secreta, fixando uma certa sexta-feira, dia 13, em 1307, para o ataque final e extermínio aos Templários. O Rei ficou com o patrimônio da ordem e a Igreja com o prestígio (e também a grana).  A partir deste fato,  a sexta 13 ganhou a má fama que tem até hoje. Assim, o dia 13 é propício para o azar.
Já o dia 12 é seu oposto. Ali é sorte e alegria. Doze seria o número da completude: 12 meses do ano, 12 tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus, 12 signos do Zodíaco.
Enfim, é o dia da felicidade.

O futebol é um mundo de misticismos e superstições, onde o dia 13 não está perdoado. Mas não creio que a torcida do Flamengo passe a acreditar – a partir de ontem –  que dia 12 seja dia da sorte, e  13,  de azar. O que ocorreu não deixa dúvidas.

Mas esta cultura mística, carregada com todo tipo de história, é uma constante no futebol brasileiro.
Ninguém se esquece que o Brasil eliminou a camisa branca  após a derrota da Seleção em 1950 , no Maracanã. Quando, em 1958, a Seleção não poderia jogar a final com a “canarinho” (a Suécia tinha a preferência e sua camisa oficial era amarela), foi proposto jogar com o velho uniforme nº.2, a tal camisa branca. Didi – o chefe da Seleção – disse não. Por mais que o psicólogo da Seleção explicasse que aquilo era superstição, bobagem, etc, o time rejeitou. A situação estava no impasse e a Direção da Seleção resolveu o caso com uma solução tão mística como a rejeição do branco:  o time jogaria com uma camisa (comprada às pressas)  de cor… azul, a mesma cor do manto de Nossa Senhora da Aparecida, segundo palavras dos Diretores. Foi uma solução marcada pela superstição. E o Brasil foi campeão!
Mesma sorte não teve o Palestra que, na partida final do famoso Campeonato Paulista de 1954 (ano do Quarto Centenário de São Paulo), por orientação de um pai-de- santo, trocou a cor de  sua camisa e o Presidente engessou a perna, embora nada tivesse. Não deu sorte. O Corinthians foi o campeão daquele que é o mais famoso de todos os campeonatos de São Paulo.

Nas últimas décadas os “despachos”, “trabalhos”  feitos por religiões de origem africana, perderam (um pouco) seu espaço. Foram substituídos pelos católicos (nenhum Clube deixa de rezar o pai-nosso e ave-maria antes do jogo)  e pelos evangélicos, que surgiram com seus “atletas de Cristo”. Mas tanto em um como no outro está presente uma forte dose de misticismo e superstição. Invocar um santo ou fazer uma promessa, como fazem os católicos, é também aceitar sua mística.  Como também os evangélicos (especialmente este novos pentecostais), que revivem hoje práticas que Calvino e Lutero mandariam para a fogueira: óleo santo, meia consagrada, terra de Israel, porta da salvação, etc, tudo é uma superstição geral que a Reforma Protestante tanto condenou e que os evangélicos de hoje reconstituem.

Mas no futebol  azar, sorte, figa  e tudo mais são presenças constantes. Para os que acreditam ou não.

 

Apr 12, 2012

Quarta de gols e de garfos



O Corinthians venceu, na noite de ontem, o Nacional do Paraguai e está classificado para a próxima fase da Copita (ou será Copaça?) Libertadores.

Agora o empenho do Timão deve ser por ficar numa classificação cada vez melhor. E acho bem possível. Mas, enquanto assistia nosso jogo do Alvinegro, recebi um sem número de mensagens, SMS, emails etc sobre o que ocorria na famosa Feira de Santana, onde o Bahia II (local) enfrentava o SPFC. Após o jogo, vi os lances. Foi uma garfada geral. Pênalti, cartão e expulsão. Hoje a mídia trata o  ocorrido de forma discreta. Não fica bem dizer que seu “queridinho” eliminou o forte adversário com substancial ajuda da arbitragem. Juiz erra. E muito! Mas para os dois lados.
Quando o erro é evidente, e somente para um dos times, a coisa fica confusa.

Cem anos I

A comemoração dos cem anos do Santos foi lembrada, hoje, por dois artigos de fôlego: Wagner Villaron, no Estadão (“Sempre Santos”); e Juca Kfouri (com o “Santos 100 Pelé”), na Folha.
É justo que os jornais falem de um clube quando ele chega aos 100 anos. É fato pouco comum no Brasil. No artigo do Wagner ele diz  que o time é um orgulho pelo “futebol ofensivo e goleador”. Está certo, mas precisa tirar um longo período de sua  história  e muitos jogos (como este último com o Barça). Juca centra (os técnicos e jogadores diriam “foca”) seu comentário no centenário santista numa partida. O jogo contra o Milan, em 1963, no Maracanã, na partida final da Copa Intercontinental. Fala da raça santista, da virada etc.  Não deveria lembra desta partida. Juca diz apenas que Almir Pernambuquinho, dez anos após o jogo, revelou que jogou dopado prática, segundo Juca, “habitual… na Itália.” Não é bem isso que Almir revela no seu livro. Fala do doping e de muito mais. Cita a direção santista e afirma que o jogo estava comprado. Quer dizer, o juiz argentino  Juan Regis Brozzi  (creio) estava “na gaveta”. Nunca esqueci desse jogo. Era um piá (12 anos) e já sabia que era um corinthiano “casca grossa”. Nunca tive  qualquer simpatia pelo Milan. Prefiro a Juve, o Napoli ou Catânia. Mas, naquela noite, torci para o Milan. E vi o submundo do futebol. Uma arbitragem deplorável. A imagem em branco e preto (com chuvisco)  da TV não deixava dúvidas. Era assalto! Quando li o livro de Almir, uma década após, fiquei com uma sensação de orgulho de torcedor. Eu não caí nesta bobagem de torcer por time brasileiro, especialmente numa armação como essa.
E nunca mais me esqueci do que ocorreu.

Cem anos II

Há um filme do centenário do Santos que segundo Juca Kfouri está muito bom.
Ótimo, para ser preciso. Pode ser. Não vi e não vou ver. Mas, diz ainda Juca, que o pecado do filme “está em fazer permanente contraponto com o Corinthians”. Esqueça, Juca . Isso é doença de todos. A bronca com o Timão é ampla, geral e irrestrita. Viva!
E não vai mudar.

Apr 11, 2012

Líbia tropical

(Tarsila do Amaral)(Reprodução)

Após a renúncia do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira,  e sua mudança para os Estados Unidos, a principal entidade de nosso futebol ficou numa situação de “caos do poder”.
Caos similar ao vivido na Líbia, desde o final do governo Kadafi  aos dias atuais. Há um número incalculável de grupos brigando, cada um defendendo seu espaço. Os órfãos do ex-presidente juraram fidelidade ao novo dirigente (Marin), com o anterior afirmando que tudo continuaria tranquilo e bem. As Federações dividiram-se entre os nomes, mas todas continuam querendo manter seu status. Os clubes, que nunca apitaram muito, passaram a lutar por um espaço maior. Poucos acreditavam que o presidente Marin conseguiria sobreviver por algum tempo. A Folha, por exemplo, dizia que a entidade seria dirigida por um triunvirato.

O novo presidente – que não é nenhum iniciante – sentiu a insegurança de todos os grupos e passou a compor com cada um. Sua meta é equilibrar o barco e navegar com pouca velocidade. Mas não significa que esteja parado. Compõe com todos, mas não satisfaz (em 100%) a nenhuma das pretensões. Começou, aos poucos, trocando nomes, aproximando-se de Federações, agradando clubes, enfim, pretendendo acalmar a todos.
Em suma só quer uma coisa: continuar no cargo.

Esta política de aparente pacificação cancelou todos os projetos futuros de vários grupos do futebol brasileiro.
Com isso os clubes jogaram a Liga para o espaço; arquivaram a reconstrução do Clube dos 13. Nada mudará! Nenhuma mudança no futebol brasileiro até a Copa do Mundo. Nada de revolucionário virá, somente se tocará o barco até chegar 2014. Mas o futebol é um esporte que apresenta surpresas (nos campos e nos escritórios).
A Seleção Brasileira, e seu sucesso ou fracasso, é o motor para todo tipo de festa ou choro. E nossa Seleção está numa situação pior do que o quadro herdado com a saída de o ex-presidente Teixeira. E aí mora o perigo.  O novo presidente “não vai com a cara” do técnico atual, Mano Menezes. Não vai demiti-lo por qualquer motivo. Mas, se algum motivo aparecer (uma derrota), ele dança.
O artigo do Antero Grecco (“Fogo Brando”), no Estadão de hoje, 11/4,  mostra bem este quadro. E uma mudança de técnico sempre traz turbulências. Maiores ainda, se estiver próxima a Copa do Mundo.
É esse o problema do novo presidente da CBF: mudar devagar, sem fazer barulho, para não provocar a ira de vários grupos de nosso futebol.

Consultor Jurídico?

Sempre que posso dou uma olhada no blog do Birner (www.blogdobirner.net).
Ele tem muitas fontes no São Paulo e – principalmente – no Corinthians (basicamente em sua Diretoria). Por esta razão, traz boas matérias. Mas confesso que, esta semana, tomei um susto. Seu blog só tem notícias jurídicas. Advogados falam, Juízes declaram, Desembargadores afirmam, Ministros despacham etc. Tudo pela luta judicial, que ocorre entre  São Paulo-Oscar-Inter. Parece um suplemento do Consultor Jurídico.
É bom, mas inusual.

Sem sigilo

Fez bem a Odebrecht em concordar com o Banco do Brasil e abrir o sigilo bancário do contrato de financiamento do BNDES para a construção do estádio do Corinthians.
Não é comum, para ser mais preciso, nunca vi isso. Mas é o melhor caminho. O Banco empresta para todos; a linha de crédito é conhecida; os juros são os cobrados em qualquer contrato similar e a forma de pagamento também é usual. O Banco do Brasil é somente um agente obrigatório para este tipo de contrato. Seu ganho é seguro e seu risco é nulo. Imagino com que dor no coração o UOL colocou esta nota no seu portal na manhã de hoje (11/4/12). Veja que diferença: quando falavam da reforma do Morumbi o São Paulo apresentou o Banco que participaria da operação. Sinceramente, não me lembro nem do nome. Era um Banco de internet, que trabalha com câmbio em lojas da cidade. Mas isso não significa nada.
Vão continuar falando aos borbotões, porque a dor é muito grande.

Apr 10, 2012

Mazzaropi, Adoniran e o desempate

 

(Reprodução)

Até nossos adversários reconhecem que a maior força do Corinthians é sua imensa torcida.
Com grande presença social entre as camadas populares, o Alvinegro avança pela classe média e  é a maior força, até entre os ricos. Este fenômeno, que permitiu a um time de operários, da periferia e  sem patrimônio financeiro, tornar-se – em um século – a potência que todos sabemos, é  um fato ainda pouco estudado. Muitos foram protagonistas,  ajudaram  nesta vitoriosa caminhada: jogadores, ídolos, dirigentes, escritores, políticos, torcedores (famosos ou não). Há um mundo de situações que explica este crescimento do time que começou no Bom Retiro.

Destaco, hoje, dois grandes corinthianos, que muito ajudaram o Corinthians a ganhar a popularidade que tem nos dias atuais: Mazzaropi e Adoniran.
Foram valentes propagandeadores do Timão no meio da população, especialmente entre os mais pobres. Muito da adesão de novos torcedores foi obra destes dois gênios. Esta dupla tem muito em comum, além de seu fanatismo pelo Corinthians: eram de São Paulo, filhos de imigrantes italianos e foram brilhantes em sua arte.
Os dois traziam a marca do Corinthians.

Mazzaropi nasceu em São Paulo (em 9 de abril de 1912) teria completado, no dia de ontem, 100 anos.
Nasceu praticamente quando o Timão começava na Várzea, com garra e mais garra.  Começou no circo,  mas trabalhou em tudo: rádio, TV, cinema, além de um mundo de apresentações que hoje seriam chamadas de stand-up.
Quer dizer: contava piadas sozinho nos palcos, mas com graça e criatividade, não como fazem muitos dos atuais artistas desta onda, infestada por piadinhas (sem graça) de verve americana. Mas seu grande campo de  sucesso foi o cinema. Em cada lançamento de seus 32 filmes, reunia sempre uma multidão no cinema Art Palácio, na  Av. São João, centro de São Paulo.
Em 1966, lançou seu famoso “O Corinthiano”, até hoje um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional. O filme, feito em período de grande dificuldade  do Timão, tem cenas de jogos reais, em que aparecem Rivelino e Dino, estrelas do Alvinegro. Seu Manoel, um barbeiro, corinthiano fanático, entra em conflito o tempo todo com seus vizinhos palmeirenses. Sobra até para a mídia da época, que atacava o Corinthians como o jornalista Geraldo Bretas (“venceu, mas não convenceu”, dizia o radialista em seu bordão). O sucesso de Mazzaropi com o povão, especialmente nos anos 1940, 50 e 60, muito ajudou na expansão de nossa torcida.
Viva, grande Mazzaropi!

Adoniran Barbosa, como Mazzaropi, era de São Paulo, onde nasceu em 6 de agosto de 1910.
Quase junto com o nascimento do Timão. Também era filho de imigrante italiano (chamava-se João Rubinato), e trabalhou em quase tudo. Atuou no rádio, televisão, cinema,  mas seu forte foi a música. Compositor fantástico, assumia seu corinthianismo por todo lado. Criou o personagem “Charutinho”, na Rádio Record, com notável sucesso. Tratava-se de um corinthiano, morador do Morro do Piolho, o primeiro maloqueiro e sofredor, que ganhou a simpatia de toda a cidade. Especialmente entre a população pobre que acompanhava todas as participações daquele genial “Charutinho”. Arrastou para o Timão uma legião de torcedores. Viva, grande Adoniran!

Lembremos que o período que vai de 1940 a 1960 é decisivo para a definição do time com a maior torcida em São Paulo. Com a chegada da industrialização e seus operários (do Nordeste, na sua maioria) a cidade sofre uma brutal mudança. E o futebol também. A briga entre Corinthians e Palestra (dois times de origem italiana numa cidade onde 70% era de italianos ou seus descendentes) foi inesquecível. A utilização do Palestra pelos adeptos do facismo trouxe dinheiro e riqueza a sua agremiação, mas cobrou um alto preço. Vincular-se a ideias racistas e retrógradas deixara um campo aberto para seu rival (o Corinthians) receber levas e levas de imigrantes que por aqui chegavam para construir a nova metrópole. Aí o jogo desempatou e o placar nunca mais mudou. E para isso Mazzaropi e Adoniran foram muito importantes. Que vivam para sempre estes dois gênios!

E o triunvirato?

Quando o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, renunciou e deixou o país, a Folha publicou que a entidade seria dirigida por um Triunvirato.
Marin (seu formal presidente), Del Nero (da Federação Paulista) e Andrés Sanchez (diretor de Seleções). Acho que a Folha tinha lá suas fontes para informar com tanta certeza e precisão. Mas hoje, pelo que leio na Folha, a história de “triunvirato” ficou só naquela matéria. Marin vai compondo por todo lado, nomeando um aqui, outro ali, até sem avisar o nomeado. Surpresa? Pode ser. Mas apenas para os que acreditavam que, com a saída do presidente Teixeira, nada mudaria.  Mas a frase do atual presidente sobre o ex indica algo: “Não dei nem boa Páscoa para ele”. Para que lado vão andar as coisas, pouco sabemos. O que definirá o futuro serão os acordos para Marin consolidar o Poder.
E muita gente vai perder o sono nos próximos meses.

Apr 9, 2012

2 x 0, resultado perigoso

(Antonio Peticov. “Man dragora”) (Reprodução)

O Corinthians venceu mais um jogo no Paulistão (ou seria Paulistinha?), no Pacaembu, ontem no domingo de Páscoa.
Mas a mídia pouco falou sobre a vitória  ou da  co-liderança do Campeonato. Preferiram destacar o placar de um a zero com que foi batido o Paulista, de Jundiaí. Mas, 1×0 por acaso, é empate ou derrota ? Quando se trata do Timão, a mídia tem critérios que nem Deus explica. O time não perdeu, e daí? Mas também não goleou, dirão.  E desde quando este deve ser o objetivo num campeonato disputado em conjunto com outro.

A vitória foi importante mas deixa, para os corinthianos sinceros, algumas preocupações.
A maior delas é a precária condição física de alguns jogadores de grande importância para a equipe. Está mais do que na hora de termos um elenco em boas condições físicas, para as duras competições que vêm pela frente. O time está organizado, joga de forma compacta e, em geral, controla o jogo. Mas necessita de alguns jogadores em melhor forma para enfrentar adversários mais fortes. O ideal, como já foi dito, era termos mais uns 3 ou 4 jogadores – de boa qualidade – e com boa preparação física.

Para a mídia – no entanto –  o assunto que importa é o placar apertado. E muitos torcedores do Timão entram nesta onda. Ontem, quando saía do Pacaembu, um jovem torcedor aproximou-se com esta queixa midiática. 1×0… 1×0… 1×0…, só isso? Respondi de forma cordial e irônica: “prefiro o 1×0 porque 2xo é um resultado muito perigoso, como diz a mídia”. O torcedor entendeu a minha brincadeira e passou a falar de outras coisas, inclusive sobre alguns atletas que “estão correndo pouco”.
Aí concordamos e saímos andando e comentando o sofrimento dos nossos adversários (até em campeonatos simples, como o Paulista).

A Nova CBF

Quem achava que o novo presidente Marin seria um mero elemento dominado por todos, deve estar surpreso.
Ele está correndo por todo lado. Articula com Federações, Clubes, Estados, Municípios e com a União. Fará tudo (tudo, mesmo) para manter-se no poder. E não há composição impossível para sua pretensão e para os interesses que o futebol e a Copa movimentam. Para ele não há direita nem esquerda, velho ou novo, Flamengo ou Vasco, Corinthians ou São Paulo, Ministros, Secretários ou Governadores.
Todos serão aliados – pelo menos em potencial – desde que concordem com sua manutenção no cargo. Até a mídia diminuirá suas críticas. O problema será quando um acordo com um aliado atingir interesse de outro, também aliado. Aí mora o perigo de confusão. Mas ele lutará para que isso não ocorra.

 

Apr 8, 2012

Mentirinha ou mentirona?

“A mentira é condenável em sua natureza” diz a Igreja Católica no seu Código ( §  2485).
Acrescenta ainda que “a culpabilidade é maior quando a intenção de enganar acarreta o risco de consequências funestas”. Mas a própria Igreja, conhecendo a natureza humana, afirma que  “uma simples mentira é um pecado venial”,  isto é, pode ser perdoado mediante arrependimento e rezas. Dante Aleghieri, em sua notável obra,  A Divina Comédia,  coloca  a mentira no segundo círculo do inferno, dando-lhe um caráter grave. Mas há situações onde aparece uma mentira piedosa – quase sempre dizendo proteger a pessoa envolvida- vítima do pecado. É o caso do médico de Violeta, na ópera La Traviata,  quando seu médico diz que a cura do seu mal está próximo – embora ela estivesse às portas de falecer. Sentencia a “dama das camélias”, na ópera de Verdi: ” os médicos tem direito  de dizer mentiras piedosas”.

Tudo vem à tona quando os médicos anunciam a “repetição” da cirurgia do jogador Adriano. O atleta será operado pelo médico José Luiz Ronco, que trabalha no Flamengo e na Seleção Brasileira e convidará para participar da intervenção o médico do Corinthians que fez a anterior. E que será agora repetida! Justificam, tanto um, quando outro,que o atleta “não cumpriu” as regras pós-operatórias. Curioso a conduta destes médicos. Parecem lembrar o médico de La Traviata, ou até coisa pior. Ninguém disse, nestes meses todos, que havia problema na recuperação da cirurgia. Todo problema era o peso. Peso… balança… peso… balança.
Uma centena de vezes isto foi afirmado sem que nunca tenham dito, como diz agora o médico do Corinthians, que já havia “programado essa cirurgia para o fim do ano”.

O melhor a  ser feito nesta situação seria contratar médicos que não vivem o futebol, (e há tantos especialistas na matéria)  e deixar que eles resolvesse (ou tentasse fazê-lo) os problemas do jogador. Mas isso é sonho no mundo do futebol. Os médicos que atuam por aí -na maioria- são boleiros. Vivem sendo endeusados em programas de futebol. Tratam jogadores e jornalistas o tempo todo. Também, na sua maioria, não tem qualquer respeito acadêmico. Isto é, grandes Escolas e professores falam cobras e lagarto desse pessoal do futebol. Mas o prestígio na área esportiva é grande, embora na maioria, não tenham publicado uma apostila de suas “especialidades”. Este caso do Adriano marca bem a situação. Tudo será resolvido entre os mesmos, com todo corporativismo que já marca a profissão. Não nos esqueçamos do tal “dr. Roger” famoso em “reproduções” que vivia nas páginas e programas como estrela. Embora muitas pacientes tenham – por longos anos- reclamado do dito cujo- os órgão de controle da profissão ficaram mudos. Mudos não, na moita. Quando a Justiça denunciou o médico, os fiscais da medicina reuniram as denúncias velhas e expulsaram  o ex- famoso doutor.

Neste caso do jogador Adriano – independente do seu problema no tendão- não é este o caminho para sua recuperação. Os ” doutores” mentem ( de forma piedosa ou não), mas seu problema é outro. Como já foi dito, por um sem -número de gente séria, é alcoolismo e depressão. Mas convenhamos, alguém acha que estes médicos de clubes citados são especialista no tratamento de tais doença? É quase um escárnio o fato da mídia ficar ouvindo, entrevistando, badalando médicos que não tem nenhuma condição de resolver tais problemas.

Mas afinal, será que a mídia não sabe disso?  Sabe e é conivente.