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Mar 30, 2012

Novo Bosman

(Wassily Kandinsky. “Amarelo, Vermelho, Azul”. (1925))  (Reprodução)

A notícia de que a Justiça Suíça deu ganho de causa, em processo contra Fifa, ao jogador brasileiro Matuzalem,  vai dar o que falar.

Mais uma vez, o jornalista Jamil Chade, correspondente do Estadão na Europa, marca um gol de placa, trazendo este assunto bomba.
Matuzalem atuava no Shaktar Donestsk, da Ucrânia, quando se iniciou o conflito. O jogador saiu e foi atuar na Espanha. O Clube do Leste Europeu recorreu à Fifa e ganhou a causa. Foram condenados o clube espanhol e o jogador,  que deveriam pagar R$ 28,8 milhões  aos ucranianos. Após o prazo (sem pagamento), o atleta não poderia defender nenhum clube de futebol. O jogador – que hoje está na Lázio, da Itália – recorreu  à  Justica Suíça e, aí, deu-se a surpresa: a Justiça disse que a decisão da Fifa não deveria atingir o jogador e este poderia jogar.

Trata-se de uma decisão perigosa para o “poder da Fifa”. Esta entidade tem um poder sem igual no mundo. Regula o futebol e os “negócios” dele decorrentes. Diferentemente de qualquer outro órgão mundial (ONU, UNESCO etc)  tem grande poder coercitivo. Isto é, suas decisões são cumpridas pelas Federações nacionais e pelos Clubes. Quem não aceita seus decretos (no futebol e nos negócios),   não cumprindo o que ela decidir –  seja o Clube  ou o jogador – fica proibido de atuar. E as Federações obrigam o fiel cumprimento de suas imposições, sob pena de elas próprias serem punidas.

A decisão do caso Matuzalem fulmina esta fortaleza. Não podendo excluir o jogador de atuação, suas sentenças pouco valerão,  serão tranformadas em meras “resoluções”, como as da ONU, que vive determinando isso ou aquilo, mas só são aplicadas quando países como EUA, França ou Inglaterra resolvem mandar suas tropas e bombas (como no caso da Líbia).
A Fifa tem verdadeiro pavor das decisões das Justiça nacionais, mas sempre contou com uma certa proteção do judiciário suíço. Por esta razão, quando vê que vai perder, faz acordo, como no caso Bosman, onde falou muito e, depois, calou-se. Se esta decisão prevalecer, o mundo terá uma mudança, sem precedentes, no futebol. Como ocorreu no caso Bosman, os desdobramentos do caso Matuzalem vão repercutir por todo lado.
E possivelmente com intensidade maior.

Alô, Pelé

O maior jogador do mundo, Pelé, telefonou, no dia de ontem, para o Presidente da CBF, José Maria Marin. Nenhum assunto novo, nada extraordinário, mera rotina. Só uma diferença:  o simples telefonema virou noticía em todos os jornais.  Nas páginas esportivas e em colunas sociais. Claramente, foi divulgação da CBF. Ou seu presidente recebe poucos telefonemas, ou o assunto era importante e não foi revelado. Só faltou aos jornais perguntarem o que de tão relevante se discutiu na conversa telefônica. Pode ser muita coisa mas, provavelmante, não era nada.
Só algum assessor mostrando quanto tem  influência na mídia, especialmente nas colunas “sociais” .

Mar 20, 2012

A virada que abala o futebol

A renúncia do presidente da CBF Ricardo Teixeira,  e agora sua saída do Comitê Executivo da Fifa,  provocam enorme mudança no futebol brasileiro.
Ninguém esperava esta bruta virada. Nem os amigos nem, tampouco, os inimigos. Os jornalistas (onde o apoio  Teixeira era grande) ficaram estupefatos. O esporte predileto da maioria deles era ironizar os que eram contra e queriam a saída do ex-presidente da CBF. Diziam que eram “uns gatos pingados”, que caberiam num Fusca. Este apoio apaixonado a Teixeira, por longos anos, criou uma situação estranha. Para “limpar o passado” , muitos se tornaram (subitamente) críticos de Teixeira, chegando a ser os mais radicais nos ataque. Procuram levar os torcedores a esquecer os anos de bajulação que fizeram. Mesmo os que sempre criticaram Teixeira foram surpreendidos com a saída de cena do ex-presidente. Do Juca ao Antero, e mais o time de críticos, todos ficaram de boca aberta com a rápida e inesperada mudança.

O pior ocorreu na cartolagem. Aí então o apoio era quase “norte-coreano”. Nesta caso, a surpresa foi maior ainda. Os dirigentes de nosso futebol – em sua esmagadora maioria – via no presidente Teixeira o exemplo de quem sabe lutar e vencer. Já tinha sido alvo de CPI, quando muitos caíram, ele deu a volta por cima, todos os processos na Justiça tinham sido razoavelmente resolvidos, e a mídia “dominada” na parte que, segundo o ex-presidente, interessava. Some-se a tudo isso o fato de Teixeira ter uma grande articulação política. Era bem ligado a Sarney, Tasso Jereissati, Aécio Neves, Sérgio Cabral, e na última década  se tornou ” chapa” do presidente Lula.
Enfim, para os dirigentes do futebol brasileiro estava aí um exemplo de cartola blindado, imbatível, prestigiado, intocável. Foi este quadro de super-homem que levou o ex-presidente do Corinthians, Andrés , a dizer aquela coisa, sem sentido, de Zorro, Sargento Garcia etc. Daí porque, a queda súbita, deixa todos atordoados. Até sem rumo, procurando entender o que houve para tão grande mudança.
E não foi uma simples queda, como já ocorreu no futebol. Foi quase uma hecatombe, onde o ex-presidente  vendeu todos  os seus negócios,  saindo do país para morar em Miami. Tudo sem que se sabia, com exatidão, as razões. Não há um processo judicial (até onde se sabe); não há nova CPI; enfim,  nada identifica a tempestade que ocorre.

O “jornalista amigos” já se reciclaram (e passaram a atacar Teixeira), mas os cartolas ainda estão perplexos. Sem rumo e preocupados, como se este tipo de fato  fosse voltar a acontecer.  O mundo dos dirigentes de futebol sofreu o maior trauma que já ocorreu. Acho que nem a perda da Copa de 50 abalou tanto a cartolagem. Lá eles colocaram a culpa no goleiro. Este mundo dos dirigentes é uma área complexa , para dizer o mínimo.
Diferente da Europa, onde os clubes são de empresas e empresários (e ganhar dinheiro é a meta), por aqui os times de futebol são – quase todos –  de Clubes Sociais. E atuam sem finalidade de lucros.
Neste caso, não há espaço para cartola ganhar dinheiro, como na Europa. Mas a verdade é que o futebol coloca um mundo de interesses financeiros por todo lado. Empresários de jogadores, empresas de publicidade, materiais etc, tudo aponta para negócios e mais negócios,  e os dirigentes não podem ter qualquer interesse ou ligação (direta ou indireta).  Aí fica um campo minado, com todo tipo de problema. A queda – abrupta- de Ricardo Teixeira acendeu  a luz amarela para a cartolagem do futebol.
Se com ele , tão protegido e blindado, deu-se isso, imagine-se o que poderá acontecer neste mundo de promiscuidade (quase generalidade), que está por aí em nosso futebol. Não há dúvida que a queda de Teixeira é um marco.
Para onde vai só o tempo dirá.

 

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