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Jan 4, 2023
admin

Meu inesquecível encontro com Pelé

A partida de Pelé nos deixa com uma tristeza infinita. Ele foi um gênio sem igual e era conhecido em todo o mundo.

Eu tive a grande oportunidade de ter dois encontros interessantes com ele, sendo o primeiro deles em um voo de Nova York para São Paulo, quando eu era vice-presidente de futebol do Corinthians.

Assim que entrei no avião, fui para a classe executiva e fiquei sabendo que Pelé estava na primeira classe. Embora tenha tido vontade de cumprimentá-lo, me contive naquele momento, pois imagino que é desagradável para os famosos esse tipo de incômodo. Fiquei no meu lugar, ainda que encantado por estar tão perto de Pelé. Após o jantar, um funcionário da Varig se aproximou e disse que Pelé gostaria de falar comigo. Surpreso e sem hesitar, fui para a primeira classe, onde havia apenas seis lugares. Nos assentos ocupados estava Pelé e um americano que, acredito, não sabia quem era o Rei.

Pelé me recebeu com muita cordialidade e disse que tinha um elogio e uma crítica para me fazer. Ele lembrou que há alguns meses eu estava na Gazeta e alguém o havia criticado. Apesar de ser dirigente do Corinthians, eu sempre mantive o argumento de que Pelé era um gênio sem igual e estava para o mundo como Beethoven ou Leonardo da Vinci. Eu falei o que sempre senti. Sobre isso, ele disse que era muito grato, pois ele marcou muitos gols no Timão e eu havia superado tudo isso. Em seguida, ele fez uma queixa. Naquele mesmo programa, numa discussão sobre o Santos, eu disse que o ataque do Santos era muito forte, pois tinha Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, além de Olten Ayres de Abreu, João Etzel e Romualdo Arppi Filho. Esses últimos três não eram jogadores -eram juízes- e tinham fama de “ajudar” o Santos. Pelé, de forma elegante, contestou, mas percebi que não era com mágoa. Conversamos quase durante quase todo o percurso. Ele disse que não dormia bem no voo. Foi uma viagem agradável e uma boa conversa sobre tudo no futebol.

Quando estávamos sobre o Brasil e prestes a encerrar o papo e ele me convidou para almoçarmos juntos no futuro. Fiquei novamente surpreso, e com aquele belo encontro não poderia negar. Aceitei e dei meu telefone para ele. Ele disse que ligaria na semana seguinte para marcar o almoço em seu escritório, localizado num prédio na Juscelino. A sua secretária me ligou dois dias depois do encontro no avião. Eu marquei o almoço e fui encontrar o Rei, acompanhado de Celso Grellet, que era conselheiro do SPFC e empresário de Pelé. Foi outro momento muito agradável que se prolongou até o fim da tarde.

Nunca esqueci esses dois encontros com Pelé e, sempre que o encontrava em um restaurante da cidade com seu empresário, ele também lembrava com carinho das nossas conversas. Sinto uma tristeza imensa com a sua partida.

Agora vejo, de forma mais clara, o seu tamanho no mundo. As TVs e jornais de todos os países só têm uma palavra: Pelé.