Aliança eleitoral: governabilidade ou viragem política?
por Marcos Malaquias, professor, jornalista e escritor
Iniciando a luta eleitoral de 22, os partidos começam a colocar suas peças na mesa. A mais surpreendente, sem dúvida, é o ocorrido na campanha do ex-presidente Lula. Para espanto de muitos, especialmente daqueles em seu próprio partido, foi marcada uma clara aproximação com um adversário histórico de grandes suas lutas eleitorais: ninguém mais, nem menos, do que o ex-governador Geraldo Alckmin. Entre os surpresos estava a mídia.
As explicações chegaram de todos os lados. Sem esquecer que muitos dentro do PT são contrários a esta aproximação, os comentaristas justificam a jogada como um ato puramente eleitoral: para acalmar o “mercado”, Lula teria convidado Alckmin para sua chapa. Nesta tese, o ex-governador seria um sinal de moderação. Alckmin, tido como mais conservador, traria a garantia que setores econômicos desejam.
Outros comentaristas, além de mostrar a carta da “moderação “, dizem que o movimento traria o compromisso de governabilidade com forças políticas mais amplas, englobando o “centro”. Entretanto, além da jogada eleitoral e da governabilidade, poderemos estar testemunhando uma clara viragem política de Lula.
O PT, junto com Lula, desde seu nascimento, teve uma linha forte de combate: sempre foi contrário a qualquer proximidade com grupos democráticos (de centro ou de esquerda). Lembremos que combateu Brizola —quando este era “perigo” para sua hegemonia; não apoiou nada do que fez o MDB na democratização (vide a CF/88) e sempre se sustentou em oposição a todos e tudo, como ocorreu no governo Itamar, contestado por petistas, e nos governos do PSDB, quando o partido manteve sua dura luta de oposição.
Sua posição de ataque ao plano real foi total. Mesmo políticas caras à esquerda foram combatidas, como o financiamento a Educação (Fundeb) ou o Bolsa Escola (embrião da Bolsa Família).
A linha era clara: ser contra, contra e contra.
E isso deu bom resultado nas urnas: o partido ganhou a eleição presidencial por quatro vezes, com este estilo de política sendo mantido nos governos de Lula e Dilma.
Em nenhum momento, para governar, o PT buscou construir alianças partidárias com grupos de proximidade ideológica. Sua governabilidade foi construída sempre por “cooptação”: quanto mais distantes de seu projeto político, mais procurados eram os “aliados”. O encontro não passava por interesses ideológicos de ninguém. Deu no que deu.
Com “inimigos” bem definidos por mais de 30 anos, é enxergado, agora, um mundo diferente. Demônios de ontem neste momento não são tão demônios assim.
Se a ação comprovar não ser só eleitoral, de governabilidade, mas também uma viragem política, teremos que entender o que levou a isso. Não há dúvida que a chegada do bolsonarismo (e seu caminhão do atraso) muito contribuiu para alterar as peças do jogo. A condenação de Lula, após 14 anos de governo, também pode ter influído. Por outro lado, a adesão em massa ao bolsonarismo por parte de ex-aliados de Lula mostrou que a cooptação tem limites.
Ainda não sabemos, mas tudo parece ser mais para viragem, do que aliança eleitoral ou mera governabilidade. É uma manobra mais difícil e mais complexa. Talvez seja por isso a perplexidade de vasta área de seu partido.
É aguardar.
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