Coluna Econômica
Há tempos o Ministério da Saúde firmou parceria com grandes hospitais privados, como o Sírio Libanês e o Albert Einstein para difundir seu conhecimento para polos hospitalares em todos os cantos do país.
O mesmo procedimento deveria ser adotado pelo Ministério dos Esportes com os grandes clubes esportivos, que se dedicaram ao desenvolvimento de atletas.
No Seminário “Gestão Esportiva”, do projeto Brasilianas, foi apresentado o “case” do Esporte Clube Pinheiro, de São Paulo.
O clube tem 113 anos, 38 mil associados num total de 136 mil pessoas, 2.900 atletas e um orçamento anual de R$ 132 milhões.
De 1960 a 2012 preparou atletas responsáveis por 10% das medalhas olímpiadas obtidas pelo Brasil, desde os pioneiros Manuel dos Santos (primeiro medalhista olímpico de natação), a João do Pulo, Douglas Vieira, Gustavo Borges, César Cielo e Rafael Silva.
Existem 130 diretores trabalhando voluntariamente na área de esportes amadores. Seu papel principal é o da formação de atletas potenciais com recursos do clube e das leis de incentivo.
Se o Pinheiros fosse um país, no último Panamericano teria sido o 9o colocado – o Brasil foi o 3o.
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Responsável pelos projetos de Lei de Incentivo ao Esporte do Clube, Suzana Pasternak constata haver muito recurso para preparar o país para as Olimpíadas, mas pouco conhecimento sobre o que fazer com ele.
Hoje em dia, há um conjunto de atletas levados a toda sorte de eventos, sem nenhuma forma de planejamento, diz ela. O atleta sai de casa, entra em estado de fadiga, com um treinamento intensivo sem orientação esportiva e psicológica, diz ela. Falta conhecimento dentro das próprias organizações esportivas.
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O foco do Pinheiros não é o atleta que aparece na mídia. Quando os atletas adquirem essa dimensão, o clube não rem condições de retê-lo. A importância do atleta campeão é no fomento à sua modalidade. Mas o foco de qualquer política olímpica tem que ser os jovens e, especialmente, as crianças com potencial.
Quando Cielo tornou-se superestrela, não cabia mais no bolso do clube. A opção era investir ou em um único atleta ou na base de 5 mil jovens preparados pelo clube.
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O grande problema das políticas públicas é a falta de técnicos especializados em gestão do esporte. Não adianta apenas faculdade de educação física, diz Suzana. Gestão de esporte é muito mais que isso. Há a necessidade de suporte dos parceiros públicos para trabalho mais consistente.
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Mais crítico, o advogado Alberto Murray Neto tem denunciado sistematicamente o que considera gestão temerária de Carlos Arthur Nuzman à frente do COI (Comitê Olímpico Brasileiro).
Seu avô, Major Silvio de Magalhães Padilha, foi primeiro finalista olímpico da América do Sul em provas de atletismo nas Olimpíadas. Hoje em dia, ele dirige uma ONG com o nome do avô.
Major Silvio criou as bases do esporte em São Paulo, precedendo a União. Em 1939, criou a primeira Secretaria de Esportes do país.
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Alberto considera que não há política pública de esportes no Brasil. E que o Plano Emergencial de Medalhas para os Jogos Olímpicos de 2016 é uma farsa. “Só quem não entende nada de esportes pode acreditar que pode-se criar uma potência olímpica trabalhando 4 anos apenas”, diz ele.
A visão integrada
Segundo ele, uma política desportiva precisaria, de partida, envolver o Ministério da Educação, da Saúde e das Cidades, para poder massificar o esporte. 12% das escolas públicas têm espaços mal ajambrados chamados de de praças de esporte, com professores de educação física mal remunerados, diz ele. Nos Estados Unidos, o esporte é inteiramente calcado na escola e nas Universidades.
O modelo americano
Em Nova York foram criados centros desportivos em inúmeros bairros, dentro da estratégia de diminuição da criminalidade. No caso do Brasil, não existem nem leis permitindo o uso do espaço urbano para isso. No caso brasileiro, Ministério dos Esportes, COI, Federações e Confederações atuam sem um papel definido. Não há um agente coordenador dos recursos e dos esforços. E os recursos maiores são aplicados apenas nos grandes atletas.
O gasto com as Olimpíadas
Nunca houve tanto recurso disponível, diz ele. No ciclo olímpico, que acabou em Londres, fora, R$ 550 milhões da Lei Piva, R$ 520 milhões de patrocínio de estatais, R$ 644 milhões do Ministério dos Esportes, R$ 433 milhões de renúncia fiscal. E os resultados foram pífios. Com R$ 2 bi a mais, o país conseguiu apenas 2 medalhas a mais. E os recursos não foram aplicados de forma transparente, diz ele.
Dinheiro que não chega ao atleta
Há uma enxurrada de dinheiro que não chega nem ao técnico nem ao atleta, diz ele. O único projeto que coloca dinheiro nas mãos de ambos é o de Paula e Ana Moser. E isso porque os recursos não passam por nenhuma federação. Nas federações e confederações não há governança, transparência, gestão eficiente, diz ele. Os dirigentes se perpetuam por décadas graças a estatutos que matam qualquer possibilidade de oposição.
Os novos estádios
Em Manaus, está sendo construído um estádio de R$ 1 bi, onde o dinheiro público é roubado a rodo, diz ele. No Engenhão houve enorme superfaturamento e o estádio acabou entregue ao Botafogo por preço de banana. Os estádios para a Copa não têm viabilidade econômica. E os investimentos nas Olímpiadas, assim como no Panamericano, não vão deixar legado para os clubes e para as cidades.
O legado do Panamericano
É possível fazer as Olimpíadas sem megalomania e a Copa apenas melhorando um pouco os estádios para atender aos requisitos da FIFA, diz. É preciso fazer uma Copa que caiba no bolso do país. Em 1963 São Paulo sediou um Panamericano. Todos os eventos foram sediados no Pacaembu e nos clubes. Construiu-se o CRUSP para alojamento dos atletas. Deixou-se um legado para a cidade. No Panamericano do Rio, nada se aproveitou.
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