Sem sal, sem açúcar
(Mary Cassat, “The loge”, 1882) (Reprodução)
Sem jogos do Corinthians durante a semana, o mundo desportivo fica sem rumo.
E sem assunto. A quarta fica sem cara de quarta-feira.
Vejam em que nossa mídia anda insistindo: no caso do roubo atribuído ao pessoal do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em Londres; no contrato de amistosos da Seleção Brasileira; e, como faz tradicionalmente, em uma ou outra fofoca sobre o estádio do Corinthians.
O caso do roubo em Londres (que parece não ser só na Inglaterra) é ruim para o Brasil e deveria ser clareado o quanto antes.
Com direito a nomes e números.
A Seleção é outro assunto que volta quando não temos alguma coisa expressiva no esporte.
Qualquer destes times contra os quais o Brasil vem jogando nos últimos anos tanto faz para nosso torcedor.
Quase todos os selecionados escolhidos são fracos.
Ah! Há um assunto que poderia render muito, mas a imprensa não gosta.
Trata-se das declarações do Deputado Romário (craque no campo e no microfone). Não sei o que está esperando nossa mídia que não cobra alguma resposta dos citados para a crítica que o Deputado faz.
Sim, é certo que a estratégia da CBF é a do silêncio absoluto. Mas, convenhamos, isto não obriga a grande imprensa a ficar calada.
Há também uma ou outra notícia sobre a construção do estádio do Corinthians.
Nada que mude nada.
Rumo ao Rio-2016
Medalha de lata
O Comitê Organizador queimou a largada nos trabalhos para os Jogos de 2016.
As cópias piratas (para usar expressão mais suave) de arquivos da Olimpíada de Londres formaram episódio constrangedor, humilhante e embaraçoso para os brasileiros, anfitriões da próxima festa mundial do esporte.
A demissão de dez supostos responsáveis pela atitude ilícita e deselegante não encerra o escândalo; apenas confirma a praxe de que são necessários bodes expiatórios, para livrar cabeças coroadas de cobranças e eventuais suspeitas.
Os bombeiros de plantão inicialmente não ligaram para a fumaça, provocada dias atrás pelo jornalista Juca Kfouri. A reação imediata foi a de ignorar a denúncia de que observadores patrícios haviam se apoderado de informações dos britânicos sem a devida autorização. Era melhor deixar a notícia esvair-se.
Tão logo perceberam que havia fogo, e este poderia alastrar-se, trataram de colocar em prática ações de emergência. Uma nota lamentou o ocorrido e informou que os culpados pagariam a conduta leviana com a perda do emprego. Nota adicional reiterou que agiram por iniciativa própria, sem o conhecimento dos superiores nem de “nenhuma outra liderança da Rio-16”. Só não foram demitidos por justa porque se entendeu que não houve intenção criminosa. Ou seja, não passou de um pecadilho, na avaliação dos dirigentes do COL.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, classificou de “lamentável” a pilhagem cibernética, em nota publicada no site da pasta. Mas destacou que o Comitê agiu corretamente ao liberar-se dos funcionários levianos. Em determinado trecho do comunicado oficial, ressalta que foi um fato passado entre “entidades privadas”. No mais, vamos em frente que atrás vem gente. Como se, dessa maneira, esperasse limpar a mancha com uma suave ensaboada moral.
Não é assim, não. A história tem mais arestas soltas do que aparadas. A começar pela postura do governo. Ao frisar o caráter de empresa particular do Comitê Organizador, fica a impressão de que o ministro ensaiou não meter a mão na cumbuca e olimpicamente driblar a polêmica. COL e Comitê Olímpico Brasileiro são entidades privadas, mas de enorme interesse público. Muito mais agora, que recursos municipais, estaduais e federais são destinados, com generosidade, para a preparação dos Jogos Olímpicos de 2016. Portanto, o governo tem o dever de cobrar atitudes transparentes, de fiscalizar os movimentos dessas empresas. E como tem!
O comportamento de COL e COB é ainda mais estranho. O presidente das duas entidades, não por acaso a mesma pessoa, tinha de vir a público e prestar esclarecimentos no ato. Deveria ser o primeiro a falar, a dar a cara para bater, a ser cobrado. Esse o papel que se espera de uma liderança, já que assim é tratado no site oficial. No entanto, optou pelo silêncio, estratégia usada também pelo prefeito do Rio.
Ninguém explicou que arquivos eram esses, a quais equipes pertenciam os observadores trapalhões, de onde vieram, que cargos ocupavam e havia quanto tempo. Silêncio total, desmentidos oficiais e aposta na anestesia moral em que vivemos.
É sempre igual: explode um bafafá tremendo, grave e, na hora em que a lama ameaça sujar tubarões, se apela para o recurso do “eu não sabia”, “foi um bando de aloprados”, “agiram por iniciativa pessoal” e por aí vai, à espera do esquecimento.
O episódio desprestigia a cúpula da Rio-16 e mostra que começamos nossos Jogos com bela medalha de lata.
Antero Greco
(O Estado de S.Paulo, Esportes, 26/9/2012, p.E-2)
Postagens Recentes
Arquivo
- September 2023
- January 2023
- September 2022
- August 2022
- January 2022
- November 2021
- April 2020
- December 2019
- November 2019
- January 2019
- February 2018
- January 2018
- December 2017
- November 2017
- October 2017
- September 2017
- August 2017
- July 2017
- June 2017
- May 2017
- April 2017
- March 2017
- February 2017
- January 2017
- December 2016
- November 2016
- October 2016
- September 2016
- August 2016
- July 2016
- June 2016
- May 2016
- April 2016
- March 2016
- February 2016
- January 2016
- December 2015
- November 2015
- October 2015
- September 2015
- August 2015
- July 2015
- June 2015
- May 2015
- April 2015
- March 2015
- February 2015
- January 2015
- December 2014
- November 2014
- October 2014
- September 2014
- August 2014
- July 2014
- June 2014
- May 2014
- April 2014
- March 2014
- February 2014
- January 2014
- December 2013
- November 2013
- October 2013
- September 2013
- August 2013
- July 2013
- June 2013
- May 2013
- April 2013
- March 2013
- February 2013
- January 2013
- December 2012
- November 2012
- October 2012
- September 2012
- August 2012
- July 2012
- June 2012
- May 2012
- April 2012
- March 2012
- 0
Categorias
- 2000
- 2012
- 2013
- 2014
- 2016
- Audiência
- Campeonato Brasileiro
- Campeonato Paulista
- CBF
- COB
- Confrontos Históricos
- Copa
- Copa do Brasil
- Copinha
- Corinthians
- Cultura
- Discursos na história
- Educação
- Esportes Olímpicos
- FIFA
- Futebol
- Gestão pública
- Legislação do Esporte
- Libertadores
- Marketing
- Mercado da Bola
- Mídia
- Música
- Opera
- Pesquisas
- Seleção Brasileira
- Torcidas Organizadas
- TV
- Uncategorized
- Violência