Novo governo, velho futebol
O Brasil vence a Sul-americana de 1919, a primeira grande vitória de nosso futebol.
Sempre que um novo governo assume seu trabalho, o mundo do futebol (e do esporte em geral) alimenta esperanças de mudanças e progresso.
O governo Temer -que não é tão novo assim- não traz qualquer expectativa de novos ares para o esporte nacional.
O “mundo” do futebol é sempre um “estado” à parte da nação.
A paixão pelo jogo de bola trazido da Inglaterra estabelece um muro que muito tem contribuído para nosso atraso nesta área.
As importantes vitórias de nossos times -iniciadas em 1919- foram construindo uma cultura que é típica do futebol.
A linguagem sintetizada que marca os “boleiros” e até a constituição de dirigentes “folclóricos” vão fazendo o futebol um mundo descolado de tudo.
A própria mídia esportiva tem um espaço próprio, quase segregado dos demais setores e muito resistente a mudanças.
Sustentado por vitórias constantes, o futebol é um convite à estagnação e ao reacionarismo.
Qualquer ideia nova ou qualquer opinião diferente é de pronto afastada do mundo do futebol.
Lembro bem quando assumi a vice-presidência de futebol do Corinthians, no final de 2001, e disse à imprensa que eu achava “papo furado” esse negócio de “co-irmãos”. Até dentro dos dirigentes do clube alvinegro fui criticado. Havia -segundo queriam me fazer crer- um ritual de elegante nas relações entre os clubes, embora eles se odiassem o tempo todo e procurassem um “passar a perna ” no outro. Nunca aceitei esta formal ideia.
Há quase sempre um discurso padrão de jogadores, técnicos e dirigentes. Se algum diz algo fora das fórmulas aceitas, o “mundo” do futebol procura expelir esses diferentes.
Em quase todos os clubes, federações e na CBF quase todos os dirigentes se apresentam como ricos empresários que chegaram ao futebol para salvar o esporte. Alguns, procuram divulgar histórias que dizem que eles são beneméritos e que doaram dinheiro aos clubes. Nunca vi isso.
É claro que nosso futebol precisa de mudanças urgentes.
O desastre da Copa deveria servir para buscarmos caminhos novos.
As mudanças possíveis no futebol vêm por dois campos: pelos clubes e pelo governo.
As grandes equipes do nosso futebol vieram -quase todas- de clubes sociais. Por esta razão, em muitos casos desta área o país sempre encontra experiências positivas de mudanças. Nas áreas políticas dos clubes é possível encontrar ideias de mudanças, mesmo que limitadas.
As federações e Confederação são estâncias duramente conservadoras. Não querem mudar nada. A única preocupação é em manter os dirigentes nos postos “trabalhando” pelo Brasil. São um exército do atraso.
Aí entra o governo. Quando a política abre espaço para mudanças, aparecem leis renovadoras em nosso futebol.
Os últimos governos pouco ajudaram, mesmo com o surgimento de boas iniciativas em alguns momentos. Com falta de apoio, quase todas as boas ideias ficaram incompletas -ou fracassaram completamente.
Foi assim no governo Fernando Henrique, no governo Lula e e na gestão de Dilma. Uma ou outra medida positiva e muito retrocesso.
O que segura os governos nas iniciativas de mudanças é o grande envolvimento com o Poder das federações e da CBF.
Desde a gestão do ex-presidente Ricardo Teixeira, o “envolvimento” do Estado mostra um trabalho eficiente para segurar as mudanças.
Governos de esquerda e de direita -isso não importa para o futebol- todos seguem apoiando o quadro da forma como ele é.
Mesmo aqueles que se dizem (ou se diziam) de esquerda e que criticavam os rumos do futebol mudaram seus discursos e seus amigos ao chegar no poder.
O governo que aí está tem tudo para ser o mais do mesmo para o futebol.
Seria uma surpresa para todos se iniciarmos um caminho de reformas para nosso principal esporte.
Vamos torcer por mudanças. Torcer, quase sem esperança.
As parcerias e a promiscuidade
Rivellino, a maior revelação da base corinthiana
Quando o clube adotou, há alguns anos, o sistema de “parcerias” nas categorias de Base ficou claro que o resultado não seria positivo.
Agora, com as denúncias de “compra de cartas” e dinheiro para dirigentes do clube, o problema fica maior, mas há qualquer surpresa.
Já era patente que o Corinthians pouco (ou nada) ganhou com a intromissão de “empresários” em contratos de jogadores. Bastava observar o resultado das negociações: o Corinthians ficava sempre com um pingo de dinheiro (e algumas vezes sem nada) no mesmo momento em que os tais “parceiros” enchiam os bolsos.
Nas atuais circunstâncias, nem conseguimos revelar jogador nem, tampouco, ganhar dinheiro com os resultados da base.
Com as recentes denúncias dos empresários envolvidos neste sistema (e até prejudicados, segundo dizem) o problema fica ainda mais grave.
O que nos mostra este imbróglio é que foi extinta a separação entre clube, jogador e empresário. Já não é possível distinguir os interesses do clube dos interesses dos “empresários” -palavra usada agora como mero eufemismo, visto que nem sempre são conhecidas as suas empresas.
Este estado de promiscuidade acaba provocando acontecimentos como os que se desenrolaram nos últimos dias. Não sabemos mais onde começa o clube, nem onde e entra os dirigentes e empresários.
O clube deve apurar e revelar tudo o que ocorreu, mas deve também mudar a política da categoria de base a fim de acabar, de uma vez por todas, com o atual modelo de gestão.
Negociações só podem ser feitas para trazer dinheiro para o clube e para ninguém mais.
Sendo assim, este estado promiscuo deve acabar o quanto antes. É para o bem do futebol.
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