Briga sem trégua
Edward Hopper (1882-1967), “Nighthawks” (Reprodução)
Não faço parte do exército que acha o jogador Kaká um craque fora-de- série.
Nunca foi, mesmo quando ganhou prêmios e mais prêmios. Acho que era só um bom jogador. E ponto!
Agora, o que está fazendo o técnico José Mourinho nesta briga para tirá-lo do Real Madri é deplorável.
Tudo aponta que o Real não quer mais o meia.
Comprou por uma fábula (65 milhões de euros) e quer vender por 25 milhões de euros. Quer, também, ficar livre do salário do atleta nos próximos anos. Até aí é um problema do Clube espanhol.
Errou e agora está colérico.
O que não é justo é quererem se vingar no jogador pelos prejuízos da contratação toda.
Quem quis a compra foi o Real. Se não deu certo o problema foi criado pelo Clube. O jornal El País, da Espanha, diz que Mourinho quer que Kaká vá para o “terceiro mundo do futebol”. Isto quer dizer: EUA, Mundo Árabe ou Japão.
Quer varrer qualquer possibilidade de recuperação do atleta na Europa ou na América Latina.
O “Estadão” hoje informa que Mourinho acusa Kaká de “atrapalhar seu projeto” no Real.
Lorota. Quer o lugar para contratar outro “seu” jogador para a vaga do brasileiro. Fez bem o pai de Kaká ao responder à altura ao empedernido técnico: “Projeto seu, não? Seu e do Jorge Mendes” (superempresário que faz e desfaz no Real). Já tem cinco jogadores dele por lá e quer uma boquinha para colocar mais alguns.
Independente de não fazer parte da claque permanente (e eterna) do jogador Kaká, acho que o comportamento do Real (e de seu treinador) uma página vergonhosa para o futebol.
Torcidas organizadas
Quando é que as autoridades policiais vão divulgar os relatórios que elaboram sobre “conflitos” entre torcedores organizados?
Seria bom para todos conhecerem de onde vêm os maiores problemas nesta área difícil da Segurança. As torcidas do Timão deveriam cobrar que a polícia divulgasse esses números da forma mais clara possível. Como muita gente já sabe, teríamos surpresas e mais surpresas neste campo. Santinhos mostrariam seu lado de demônios.
E os que são satanizados pela mídia mostrariam que não são tão problemáticos como dizem os preconceitos.
Sem anjos.
(Aldemir Martins) (Reprodução)
A briga do jogador Oscar, com a participação do SPFC, de seu empresário e do Inter, está interessante de se acompanhar.
Nesta confusão toda só há uma verdade: não há anjos neste caso. Os tricolores não são exemplos nobres nesta questão, pois já agiram de todas as formas para atrair jovens jogadores. E algumas delas nada santificadas. O jogador, normalmente, quer passar por pobrezinho, enganado, enrolado, usado etc, mas ele foi desmascarado por declarações dos próprios colegas.
Ficou claro – o que é comum neste casos – que o jovem não era vítima, mas participava de uma trama. Como no caso Nilmar/Lion/Corinthians, o rosto triste do atleta é só uma forma de dissimulação para obter apoio de torcedores. Seu empresário é conhecido no mercado, agindo desta forma contra e a favor de todos os clubes. O vento (clube) vira de acordo com seu interesse. Muito bem relacionado com a cartolagem, apronta poucas e boas para os clubes e, em seguida, é perdoado, partindo para novas transações.
O Inter é o Inter. Reclama, grita, chora e faz cara de vítima. Nem tricolor, nem colorado têm do que reclamar.
Interessante, também, nesta confusão, é ver a mídia dividida. Normalmente (quando é o Corinthians) ela fica do lado do jogador. O “pobrezinho” é apoiado por todos os brados de liberdade contra a “escravatura” dos contratos. Mas, nesse caso, está envolvido o “Mais Querido”… da mídia, e os jornalistas estão divididos. Poucos empunharam a bandeira da liberdade (do jogador), muitos passaram a exigir o cumprimento do contrato. Coisa que nunca fizeram e só o fazem agora por que o prejudicado é o Tricolor.
Relações perigosas
Se a Polícia continuar a investigar as torcidas organizadas, vamos ter surpresas. Quase todos os clubes, cartolas e políticos têm laços fortes com estas organizações. E as polícias Civil e Militar, também. Desde o fornecimento de ingressos à ajuda jurídica nas “encrencas” ; de ônibus ao apoio no carnaval, em quase tudo (quase tudo, mesmo), podem aparecer vereadores, deputados, secretários de governo, cartolas, oficiais da PM e policiais civis.
Por aí podemos entender porque tantas investigações anteriores andaram devagar (quase parando) e não chegaram a grande coisa.
Portugal é uma mãe
Não sei quais são os motivos que levaram o Diretor da CBF, Andrés Sanchez, a falar (de forma agressiva) do futebol português.
Hoje, na Folha ele diz “ se nós (cartolas brasileiros) fizéssemos o que se faz no Porto, estaríamos na cadeia”. Sem conhecer este caso (mas conhecendo outros), acredito que o futebol da “terrinha” não seja bom exemplo para ninguém. Seus grande clubes são dominados por dois ou três “empresários”, que são operadores de “investidores” do Leste Europeu. E fazem qualquer coisa .
Portugal é um paraíso fiscal, sem prestígio, mas com muitos “espertos”. Qualquer transação de jogador que passe por clubes lusitanos, é uma encrenca. Mas, para ser justo, alguns ex-dirigentes de lá estão condenados e foragidos da Justiça (na Inglaterra, é claro).
Inúteis decisões
(Almeida Junior, “Recado Difícil”, óleo sobre tela, 1895) (Reprodução)
Com mais uma morte, em meio à briga de torcidas organizadas, a Federação decidiu fazer o que sempre faz: tomou uma medida que significa rigorosamente nada.
Expulsou dos estádios as duas torcidas litigantes (Gaviões e Mancha Alviverde). Trata-se de um veto que não veta. O torcedor só não poderá entrar com os pertences alusivos à torcida, sem eles, não haverá problema.
É o mais completo caso de não fazer nada, dizendo que fez tudo.
Alguns perguntam: o que poderia fazer a Federação para encontrar solução deste problema? Há medidas – que são papel da Federação e não dependem de lei, do Ministério Público, do Governo ou da Polícia.
A primeira, e mais importante, é estabelecer a venda de ingressos de forma identificada (como é feito na Europa). Compras pela internet, com cartão ou boleto e de outras formas, que identifiquem quem está comprando. E garantir lugares marcados (ou áreas, como preferem alguns) . Sabe quando as Federações vão adotar estas medidas? Só quando os governos obrigarem.
Venda identificada é o fim de mamatas na fabricação e distribuição de ingressos, que ocorre na CBF, nas Federações e nos Clubes.
Nem vou falar hoje no problema grave da promiscuidade dos Clubes, Federações e torcidas com as polícias (civil e militar). Se for adotado o sistema europeu de venda identificada, os elementos punidos já não conseguiriam mais ingressos. Mas para se adotar um sistema desses, seria preciso comprar uma briga com as empresas que confeccionam as entradas. E, neste caso, a briga será de morte!
Maior do que entre torcedores de organizadas.
Mudei.
Na entrevista de ontem, no UOL, o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, agora como Diretor de Futebol da CBF, disse que “é a favor de todos os dirigentes serem remunerados até para acabar com essa onda de que todo dirigente é ladrão”. É uma mudança e tanto no que sempre disse Andrés. Foram muitas as vezes em que defendeu que os Clubes e Federações tivessem, em sua direção, empresários bem sucedidos, sem necessidade de ganhar mais nada, inclusive salários. Chegava ao ponto de se auto indicar como exemplo. Mudou.
Não há problema em mudar de ideia. O que espanta é a forma tão radical, sem qualquer fato novo. É claro que o futebol necessita de profissionais bem remunerados: técnicos, médicos, jogadores, preparadores físicos, técnicos de administração etc. Mas ter os dirigentes remunerados (não são profissionais de áreas específicas), isto é outra conversa.
Com os clubes sociais, sem finalidades lucrativas, controlando o futebol, sempre será necessário o dirigente sem remuneração. Afinal, quem o sócio colocará para controlar o contratado?
Remunerar dirigentes só é possivel no modelo de clube-empresa. Não é o caso brasileiro.
Livro da discórdia.
Também no UOL, o ex-presidente ataca o zagueiro Paulo André, por este ter criticado Ricardo Teixeira.
Diz que ele deveria primeiro jogar e não dar palpite na casa dos outros. Foi infeliz a declaração. Como aquela do Zorro e o Sargento Garcia. O jogador está se recuperando de uma contusão e, pelas notícias, é dedicado a seu tratamento. Mas não creio que a bronca com o Paulo André tenha sido pelas críticas ao ex-presidente Ricardo Teixeira.
Acho que foi pelo lançamento do livro. Não fica bem pro mundo da bola ter um jogador que escreve e lança livros.
Um estado de promiscuidade
(Pablo Picasso. “Guernica”) (Reprodução)
Já se tornou rotina o choque entre torcidas organizadas, com brigas, socos, tiros e mortes.
Sempre que isso ocorre (especialmente com anúncio de vítimas fatais), aparecem fórmulas para se resolver o problema “da violência no futebol”. Não tenho ilusão. Quase nada será feito, porque há um erro básico que explica este grau de violência. Esses equívocos não são de hoje.
Quando, há décadas, a Polícia Militar determinou a separação de torcidas, implantou o eixo de todas as violências.
Com a separação, os grupos tornaram-se tribos e a cada dia aumentam seus atritos. Isso não era assim. Torcedores de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e outros íam ao campo no mesmo ônibus, sentavam-se lado a lado.
Os atritos existiam, mas eram quase sempre limitados a insultos, bate-bocas ou empurrões. Foi a divisão (determinada pela Polícia), que preparou o estado de guerra entre os fãs. A própria ideia de levar os torcedores escoltados para o estádio (outra ideia errada da Polícia), só consolidou o conflito.
A primeira medida (adotada em outros países) é o fim da separação de torcidas. Cada um fica no lugar que comprou, não importando quem esteja ao lado. Ou se faz isso, ou não se muda nada. Mas só isso não resolve.
Os ingressos, como no mundo todo, devem ser vendidos com comprador e lugar identificados. Pela internet, por cartão, por boleto e etc, o Clube saberá quem comprou aquele posto no estádio. Não sei se os cartolas aceitam uma venda controlada de ingressos (até pelos esquemas de privilégios que existem), mas, sem isso, o problema não caminha para a solução.
Por último, e talvez o mais importante ponto, é encerrar-se o estado de promiscuidade que existe entre as Polícias (Militar e Civil) e as torcidas organizadas e seus braços do samba. Não há quem não conheça delegados, investigadores, oficiais da PM e soldados que não frequentem – de forma habitual – sedes de Torcidas e de suas Escolas de Samba. Políticos e cartolas nem se diga! Estão lá para defender e apoiar seus amigos. Assim, não há política de segurança pública que resolva.
Com tal grau de relações amigas, fica difícil investigar ou prender quem quer que seja. Ou as autoridades da Administração Pública encerram este estado de conivência absoluta, ou nada será resolvido. Neste mundo de futebol, reunindo cartolas, políticos, policias militares e civis, existe ainda um sem número de “empresas de segurança”, que funcionam como elo de ligação com as forças policiais do Estado. E quase sempre seus donos são ex-delegados e ex-oficiais, prontos para “resolver” qualquer encrenca.
Neste estado, onde não há uma linha separando a condição marginal das autoridades de segurança, não há repressão à violência que funcione. Quem conhece os Clubes, as Federações e as torcidas sabe que esta convivência entre os que praticam a violência e os que deveriam reprimir-la, é para lá de “amigável”.
Sem o fim desta situação promíscua, nenhuma medida terá efeitos plenos e duradouros. Como não tiveram no passado o credenciamento na Federação, a filmagem de torcedores blá-blá-blá… Ou as autoridades superiores de segurança determinam o rompimento entre seus quadros e as organizações de torcida, Clubes e Federações (e também das empresa de ex-policiais), ou tudo continuará numa boa. E outros choques virão, e novas mortes também.
Empresários no futebol
É incrível como a mídia gosta de rotular todo mundo de “empresário”. Basta ocupar um cargo no futebol, e lá vai o rótulo: empresário. Ou grande empresário, empresário de sucesso. Isso já virou bordão.
E longe da realidade.
Um domingo de emoção pura
O jogo deste domingo no Pacaembu, entre o Corinthians e Palmeiras, foi uma partida repleta de emoções.
Não só pelo resultado (a vitória do Timão, de virada), mas em todos os momentos e jogadas. Este clássico apresenta um quadro singular: há quase um século estes dois times apresentam-se para a disputa que divide uma parte majoritária da cidade. Nestes anos, todos tiveram duelos memoráveis com vitórias e derrotas (e empates) marcantes. Sempre achei o clássico Corinthians e Palestra um episódio singular e, mesmo em campeonatos pouco atraentes, fazem as duas torcidas vibrarem.
Neco, grande ídolo do Timão, dizia que jogador bom era aquele que tinha grande atuação contra o Palestra. E os alviverdes nunca perdoaram jogadores de seu time quando fracassaram neste jogo. Na partida de hoje, a disputa foi igual a que ocorre em quase 100 anos. A virada do Timão deu uma cor especial. Fiquei feliz em notar no jogo tantos e tantos jovens e crianças. Só lamento ver nestes jogos onde existe apenas (praticamente) uma única torcida. Seria bom se mais palestrinos ocupassem áreas no estádio. Até para verem a virada.
Lamentável foi a briga de torcidas organizadas numa região da cidade. Não é isso que esperamos do futebol. Rivalidade, disputa mas …. futebol é esporte e não guerra física.
Vida dura
As rádios fizeram a festa neste domingo no Pacaembu. Derrotar o Timão era desejo (nada discreto) da maioria dos jornalistas. Um conhecido tricolor não escondeu sua “luta” pela derrota do Corinthians. Em determinado momento, quando o Palestra vencia, chegou a dizer que o problema do Timão era porque o Palestra tinha argentino e chileno na sua equipe. E o Corinthians não se dá quando joga contra esta gente. É uma tolice aberta, que demonstra o quadro de sofrimento daqueles que querem derrotar o Timão. Quando o jogo virou, estabeleceu-se um clima similar aos soldados americanos em retirada de Saigon.
Só desespero, angústia e uma vontade louca de chorar.
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