Um estado de promiscuidade
(Pablo Picasso. “Guernica”) (Reprodução)
Já se tornou rotina o choque entre torcidas organizadas, com brigas, socos, tiros e mortes.
Sempre que isso ocorre (especialmente com anúncio de vítimas fatais), aparecem fórmulas para se resolver o problema “da violência no futebol”. Não tenho ilusão. Quase nada será feito, porque há um erro básico que explica este grau de violência. Esses equívocos não são de hoje.
Quando, há décadas, a Polícia Militar determinou a separação de torcidas, implantou o eixo de todas as violências.
Com a separação, os grupos tornaram-se tribos e a cada dia aumentam seus atritos. Isso não era assim. Torcedores de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e outros íam ao campo no mesmo ônibus, sentavam-se lado a lado.
Os atritos existiam, mas eram quase sempre limitados a insultos, bate-bocas ou empurrões. Foi a divisão (determinada pela Polícia), que preparou o estado de guerra entre os fãs. A própria ideia de levar os torcedores escoltados para o estádio (outra ideia errada da Polícia), só consolidou o conflito.
A primeira medida (adotada em outros países) é o fim da separação de torcidas. Cada um fica no lugar que comprou, não importando quem esteja ao lado. Ou se faz isso, ou não se muda nada. Mas só isso não resolve.
Os ingressos, como no mundo todo, devem ser vendidos com comprador e lugar identificados. Pela internet, por cartão, por boleto e etc, o Clube saberá quem comprou aquele posto no estádio. Não sei se os cartolas aceitam uma venda controlada de ingressos (até pelos esquemas de privilégios que existem), mas, sem isso, o problema não caminha para a solução.
Por último, e talvez o mais importante ponto, é encerrar-se o estado de promiscuidade que existe entre as Polícias (Militar e Civil) e as torcidas organizadas e seus braços do samba. Não há quem não conheça delegados, investigadores, oficiais da PM e soldados que não frequentem – de forma habitual – sedes de Torcidas e de suas Escolas de Samba. Políticos e cartolas nem se diga! Estão lá para defender e apoiar seus amigos. Assim, não há política de segurança pública que resolva.
Com tal grau de relações amigas, fica difícil investigar ou prender quem quer que seja. Ou as autoridades da Administração Pública encerram este estado de conivência absoluta, ou nada será resolvido. Neste mundo de futebol, reunindo cartolas, políticos, policias militares e civis, existe ainda um sem número de “empresas de segurança”, que funcionam como elo de ligação com as forças policiais do Estado. E quase sempre seus donos são ex-delegados e ex-oficiais, prontos para “resolver” qualquer encrenca.
Neste estado, onde não há uma linha separando a condição marginal das autoridades de segurança, não há repressão à violência que funcione. Quem conhece os Clubes, as Federações e as torcidas sabe que esta convivência entre os que praticam a violência e os que deveriam reprimir-la, é para lá de “amigável”.
Sem o fim desta situação promíscua, nenhuma medida terá efeitos plenos e duradouros. Como não tiveram no passado o credenciamento na Federação, a filmagem de torcedores blá-blá-blá… Ou as autoridades superiores de segurança determinam o rompimento entre seus quadros e as organizações de torcida, Clubes e Federações (e também das empresa de ex-policiais), ou tudo continuará numa boa. E outros choques virão, e novas mortes também.
Empresários no futebol
É incrível como a mídia gosta de rotular todo mundo de “empresário”. Basta ocupar um cargo no futebol, e lá vai o rótulo: empresário. Ou grande empresário, empresário de sucesso. Isso já virou bordão.
E longe da realidade.
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É a pura verdade. Colocar cada um de um lado só acirrou os ânimos. Por outro lado, o fato de esses sujeitos marcarem encontro pela internet para briga, só ratifica que fazem parte de gangues. Afinal, foram 300 pessoas, segundo PM. 500 ! Isso não é briga de gangue?
Concordo com você, Citadini, mas acrescento mais dois pontos importantes: a falta de educação. Educação escolar e a dada pelos pais. O camarada que vai a um estádio com o intuito de dar uma sova em um outro indivíduo pelo simples fato dele torcer para outra equipe, é um sujeito que carece de orientação familiar básica. Isso é apenas uma forma extravasar suas frustrações em diversos aspectos de sua vida social no lombo de seu semelhante. É recalque, infelicidade pura. Outro ponto relevante é uma legislação (processual, principalmente) na qual anima os infratores a praticar esse tipo de atitude.
falou muito bem, Citadini! Tá tudo errado aqui no Brasil este negócio de torcida organizada. É muito complicado também o favorecimento que os times dão para esses bandidos. Não entendo por que eles têm tratamento VIP, enquanto o torcedor normal tem que sofrer pra ir num estádio assistir algum jogo.
Isso que aconteceu domingo foi uma vergonha!!!
Junte-se a isso tudo, jornalistas e dirigentes que adoram jogar gasolina no fogo, com provocações absurdas (inteligentes que deveriam ser) ofendendo paixões de torcedores com cabecinha fraca.
Com certeza, não foi só a mão do torcedor que puxou aquele gatilho.
Todos os que deram corda às provocações tem a sua parcela, ao quebrarem com aquela união mencionada “de viajarem todos no mesmo ônibus”.
Acho que muitos deveriam se penintenciar e rever atitudes, ainda mais agora que a comunicação é veloz e instantânea, que até brigas são agendadas via rede.
A mesma rede, onde a gente lê absurdos e provocações com charges humilhantes, e ofensas baratas a paixão do torcedor.