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Fifa abre guerra contra empresários
Entidade anuncia a intenção de criar um sistema informatizado, substituindo o trabalho dos agentes, que prometem ir à Justiça para barrar a iniciativa
JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE / GENEBRA – O Estado de S.Paulo
GENEBRA – Os dias podem estar contados para uma categoria que, nas últimas décadas, enriqueceu vendendo e comprando jogadores de futebol. A Fifa abriu uma guerra contra os empresários de atletas e anunciou que está trabalhando para criar um sistema informatizado que, em um futuro próximo, pode fazer grande parte do trabalho desses agentes. Na Europa, empresários já alertaram que, se a Fifa decidir ir adiante com a ideia, eles irão à Justiça contra a entidade.
Levantamento feito pela Fifa revelou que em 2012 28% de todo o dinheiro movimentado nas 11,5 mil transferências de jogadores acabaram nas mãos dos empresários. O volume chega a R$ 1,1 bilhão na Europa. Só na Inglaterra, eles coletaram mais de R$ 240 milhões. O Manchester City, atual campeão inglês, admitiu que pagou mais de R$ 30 milhões a intermediários nos últimos dois anos.
O plano da Fifa é criar o GPX, sigla para designar o que ela chama de Sistema de Transferência Global de Jogadores, um serviço sigiloso de dados a que apenas os clubes teriam acesso. Nele, seriam colocadas várias informações sobre todos os jogadores do mundo. Assim, um clube poderia ficar sabendo quando termina o contrato de um atleta e qual é o valor da multa rescisória, entre outros detalhes.
Os clubes poderiam ainda usar o sistema para anunciar os jogadores que estão dispostos a vender e aqueles que gostariam de contratar. “Seria uma espécie de Ebay de jogadores”, explicou ao Estado um dos responsáveis pela elaboração do novo sistema, em referência a uma das maiores redes de comércio on-line do mundo.
Para a Fifa, o mecanismo vai “revolucionar” a forma pela qual jogadores são comprados e vendidos e, na prática, tornará o empresário um elemento secundário no futebol. “O sistema vai reduzir de forma drástica a dependência dos clubes de intermediários”, declarou a Fifa.
O anúncio da entidade, como era de se esperar, deu início a uma guerra. Empresários europeus já deixaram claro que não vão aceitar nem sequer que o sistema seja criado. Mel Stein, ex-representante do inglês Paul Gascoigne e hoje presidente da Associação de Empresários de Futebol, alertou que o sistema concebido pela Fifa “não tem como ser adotado” e, além disso, é ilegal.
“Os clubes são, em grande parte, administrados por pessoas que nem sempre são do meio do esporte”, comentou Stein, que representa 340 empresários. “Eles não conhecem o mercado dos jogadores. Quem conhece são os empresários.”
“Imagine todos os atores envolvidos em uma transferência. Isso inclui o técnico do clube que quer vender, aquele que quer comprar, o dono do clube, os representantes do jogador e outros”, apontou. “O que o empresário faz é trazer todas essas pessoas para a mesma mesa. Em muitos casos, a forma mais barata de fechar um acordo é por meio de um empresário.”
Segundo ele, os empresários europeus vão lutar com unhas e dentes contra o novo sistema. “Haverá uma ação legal se a Fifa decidir ir adiante com a ideia.”
REVOLUÇÃO
Em Zurique, a Fifa garante que o projeto não será abandonado e espera que comece a funcionar nos próximos meses. “O sistema vai revolucionar o sistema nacional e o internacional de transferências”, declarou Jacques Anouma, membro do Comitê Executivo da Fifa.
O que a entidade evita comentar é que o sistema de empresários foi oficializado pela própria Fifa há anos, criando a categoria de “agentes oficiais”. Para ser um representante credenciado, o empresário precisa passar por um exame escrito. Mas, entre os vários escândalos que atingiram a entidade nos últimos anos, um deles diz respeito ao comércio de resultados das provas, facilitando a vida daqueles que querem ser “representantes oficiais”. A Fifa deixou de licenciar agentes em 2001. Atualmente, eles são licenciados diretamente pelas federações nacionais.
(Estadão, http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fifa-abre-guerra-contra-empresarios-,985729,0.htm, 18/01/2013)
Brasileiros minimizam decisão, mas pedem rigidez
Principais empresários do País não acreditam em extinção da profissão e valorizam trabalho com clubes e atletas
RAPHAEL RAMOS – O Estado de S.Paulo
A Associação Brasileira de Agentes de Futebol e os principais empresários do País minimizam a decisão da Fifa de lançar o Sistema de Transferência Global de Jogadores. A opinião é que o trabalho desses profissionais não corre risco de acabar.
“Se você quer comprar uma casa, procura um corretor. Se quer investir o seu dinheiro, procura um profissional do mercado. O mesmo acontece quando o clube quer um jogador. Isso não vai mudar”, diz o presidente da Associação Brasileira de Agentes de Futebol, Jorge Moraes.
Para ele, antes de tentar diminuir o papel do empresário, a Fifa deveria disciplinar o exercício da profissão. “O que a Fifa tem de fazer é penalizar quem não cumpre o seu estatuto. O problema é que o agente acaba levando a culpa de tudo. Existe uma série de coisas erradas no mundo da bola, mas só quem paga o pato é o agente”, critica.
Wagner Ribeiro, empresário que tem Neymar e Lucas na sua carteira de clientes, também dá de ombros para a investida da Fifa contra os agentes. Ele alega que o tête-à-tête é insubstituível. “Não vendo jogador por DVD. Vou aos clubes, converso com os presidentes, negocio. Não tem como um computador fazer o que eu faço”, diz.
Ribeiro, inclusive, acredita que o Sistema de Transferência Global de Jogadores da Fifa poderá ajudar os agentes. “Hoje em dia tem muito atravessador que se diz empresário. Se de fato for criado esse sistema on-line, basta você acessá-lo para conferir se a pessoa está dizendo a verdade ou não.”
Opinião semelhante tem Reinaldo Pitta. Ex-empresário de Ronaldo Fenômeno, atualmente ele trabalha, entre outros, com Emerson Sheik, Felipe (ex-Vasco) e Fabrício (São Paulo). “Agora surgiu a profissão pai/empresário de jogador. O garoto com 15 anos começa a se destacar e o pai já abandona o emprego porque acha que o filho vai se transformar num Neymar, mas depois não dá certo e a família passa fome. Esse tipo de coisa não pode continuar.”
Para José Fuentes, o Sistema de Transferência Global de Jogadores só beneficiaria os clubes, em detrimento dos atletas – entre os seus clientes estão Luis Fabiano e Juninho Pernambucano. “Quem tem interesse em tirar os agentes do meio são os clubes. Se o clube negocia direto com o jogador, é vantajoso para ele, mas se o atleta quiser fazer um bom negócio ele precisa ter um agente ao seu lado porque o clube só pensa no seu lado”, conta.
Ainda segundo Fuentes, são os clubes que incentivam a ação de atravessadores. “Eles continuam existindo e sobrevivem porque tem gente dentro dos clubes que trabalha com eles. Os próprios dirigentes pedem para fulano ou beltrano fazer algum tipo de serviço para eles.”
Transparência.
O ex-goleiro Gilmar Rinaldi, que atualmente agencia as carreiras do meia Danilo e do lateral Fábio Santos, vê na decisão da Fifa de criar um mercado on-line de jogadores a oportunidade de a atividade dos empresários ficar mais transparente. Ele cita o exemplo do futebol italiano, onde é estipulado no contrato do jogador o valor da comissão repassada ao empresário.
“O que falta é um modelo mais transparente. O Sindicato dos Atletas, por exemplo, poderia criar um selo de certificação para os contratos e, assim, evitar problemas como acordos sem validade ou assinatura”, sugere.
Agente de Thiago Neves, Léo Rabello discorda de Rinaldi. Para ele, o valor da comissão é “uma questão de foro íntimo”. “Esse ranço que existe contra empresário de jogador de futebol é esquisito. Hoje, todo mundo tem empresário, o artista, o cantor e ninguém está preocupado quanto o empresário do Roberto Carlos ganha ou deixa de ganhar em um show.”
(Estadão, http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasileiros-minimizam-decisao-mas-pedem-rigidez-,985733,0.htm, 18/01/2013)
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Está de parabéns a Fifa em tentar acabar com essa promiscuidade no futebol. Claro que não se deve generalizar, mas há muita podridão nesse “meio”. Aliás, gostaria de entender melhor essa mudança no que diz respeito ao antigo “passe” que sustentavam os clubes – principalmente os menos expressivos-, e a legislação atual. O empresário só pega os “filés mignon” que eventualmente aparecem nos clubes , sem qualquer custo, deixando para os clubes o ônus do investimento em categorias de base. Este é o principal motivo da falência dos clubes do interior. Recentemente – no Programa CARTÃO VERDE – o Rivelino disse que tentou “entrar” nas categorias de base do Corinthians (quando era diretor) para moralizá-la e não conseguiu. Por que será, heim ? Você era diretor na época, Citadini. Poderia nos dizer ?
Abraços e VAI CORINTHIANS !!!
Eu era diretor do Futebol Profissional. O diretor da categoria de base era o sr. Nesi Cury. Ele e seu pessoal tocava a Base.
Gostei e acho que a FIFA não está fazendo isso à toa. Ela deve querer sua parte agora. Ao invés de pagar o empresário agora o clube provavelmente vai ter que pagar à FIFA um percentual considerável. Mesmo que a FIFA não esteja querendo morder o seu, uma coisa é certa: quando 3 ou mais pessoas influentes se unem formar uma quadrilha, fica impossível de evitar o pior. De qualquer forma, este parece ser um mecanismo de controle interessante.
Bobagem, mais uma ação para inglês ver… Cadê as ações contra lavagem de dinheiro?
Boa iniciativa, tenho minhas dúvidas se vão conseguir, pois a máfia é grande, mas vale tentar…
Citadini,
Olha essa matéria sobre o zizao, muito legal.
http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/paulista/ultimas-noticias/2013/01/18/zizao-diz-que-nao-sabe-quanto-tempo-jogara-e-que-vai-sair-gritando-se-marcar-pelo-corinthians.htm
Acho que a Fifa não pode impedir que um jogador tenha o seu empresário, assim como qualquer artista tem.
O que a Fifa tem que proibir é a posse econômica de jogadores por empresas ou pessoas, chamadas de “investidores”.
Jogador não pode ser mercadoria, embora alguns supermercados tenham em sua prateleira, como Sondas por exemplo.
Jogador só pode pertencer economicamente a clubes, e fim de papo.
O que aconteceu foi que pessoas e empresas, alheias ao futebol, passaram a comprar e vender jogadores, e ficaram mais ricas do que os clubes, na maioria falidos.
E o que é pior, sem riscos. Os riscos ficam todos com os clubes, inclusive com indenizações escorchantes.
Isso que tem que acabar. Dono de jogador só pode ser clube.