Feb 5, 2013

Problemão !

Jogos no Brasil estão sob suspeita

Europol descobre rede internacional que manipulou resultados de quase 700 partidas pelo mundo e cujos tentáculos teriam se expandido ao País

JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA – O Estado de S.Paulo

Jogos de diferentes campeonatos regionais e nacionais do Brasil estão sob suspeita de fazer parte do maior escândalo da história recente do esporte, revelado ontem pela Europol. A organização europeia de polícia descobriu uma rede de corrupção internacional no futebol montada pelo crime organizado e que manipulou resultados de quase 700 jogos pelo mundo, incluindo partidas no Brasil, na Copa dos Campeões e nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

 

“Nunca vimos uma rede tão grande de criminosos no futebol. Trata-se de uma operação sofisticada e uma evidência clara de como a corrupção invadiu o esporte”, declarou Rob Wainwright, diretor da Europol.

Ao Estado, a polícia alemã da cidade de Bochum, que fez parte da operação, confirmou que os tentáculos do crime organizado estariam chegando até o Brasil. A assessoria da polícia, porém, se recusou a dar detalhes. “As investigações ainda estão ocorrendo e, se revelarmos os indícios, podemos prejudicar o processo”, argumentou a polícia de Bochum. Os alemães, porém, confirmaram que trabalharam sobre suspeitas no Brasil envolvendo “diferentes campeonatos regionais e nacionais”.

Procurada pelo Estado, a Polícia Federal do Brasil informou que “não se pronuncia sobre investigações” e não confirmou se colaborou com as investigações. Como a Europol age na Europa, ela não pode condenar ninguém por crimes no Brasil.

Grande parte do esquema se baseia na compra de jogadores, árbitros e dirigentes para manipular resultados. Apostadores, principalmente na Ásia, colocam seu dinheiro no resultado combinado e levam milhões em lucros. O mecanismo serve para pelo menos duas finalidades: lavar dinheiro do tráfico de drogas e de armas e simplesmente gerar milhões de dólares em lucros, na prática financiando o crime.

O Brasil não seria o único alvo na América do Sul. Um amistoso em 2010 entre as seleções sub-20 de Argentina e Bolívia, apitado por um trio húngaro, também está sob suspeita. O juiz deu acréscimos de 13 minutos sem motivo. Aos dez minutos além do tempo regulamentar, ele ainda apitou um pênalti inexistente a favor dos argentinos para garantir a vitória.

Só na Europa, o crime envolvia lucros de mais de 8 milhões (R$ 21,5 milhões) em apostas, além da distribuição de 2 milhões (R$ 5,4 milhões) em propinas pagas a jogadores, juízes e cartolas. Alguns atletas chegaram a receber 100 mil (R$ 269 mil) para garantir um resultado.

As partidas sob suspeita não se limitam a encontros sem expressão. Pelo menos um jogo válido pela Copa dos Campeões na Inglaterra nos últimos quatro anos está sob suspeita. Dois jogos das Eliminatórias para a Copa da África e um na América Central foram registrados. Dois jogos da Liga Europa e vários clássicos na Europa também foram colocados na mira da polícia. Na Alemanha, a polícia identificou cerca de 70 partidas.

Hoje, apostas nas diferentes modalidades de esporte movimentam US$ 1 trilhão (R$ 1,98 trilhão) por ano e, no caso do futebol, bilhões estariam transitando por casas de apostas de forma ilegal. Agora, as novas revelações apontam que, só na Europa, o esquema envolveria uma rede de 425 pessoas suspeitas; 50 desses suspeitos já foram detidos e podem pegar 39 anos de prisão.

E-mails. A rede de criminosos foi identificada em 15 países europeus e a investigação vem desde 2011. Para chegar à constatação, polícias de diferentes países obtiveram cópias de mais de 13 mil e-mails e documentos que confirmaram o esquema.

Laszlo Angeli, procurador húngaro, explicou como funciona o esquema no seu país. Uma pessoa na Ásia entrava em contato com árbitros que tentavam manipular os resultados.

“Esse é um dia triste para o futebol”, afirmou Rob Wainwright, diretor da Europol.

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