Apr 5, 2013

Alô Bolívia III

Confusão e receio: os bastidores do papo entre Timão e a família Beltrán

Pai do garoto Kevin explica recusa à doação do Corinthians, que se coloca à disposição para iniciar nova conversa sobre ajuda

Por Leandro Canônico*Cochabamba, Bolívia

Pais de Kevin Espada, Carola Beltrán Espada e Limbert Beltrán  (Foto: Reprodução / SporTV)
Pais de Kevin Espada, aguardam novo contato do
Corinthians (Foto: Reprodução / SporTV)

“Não quero ficar rico. Quero apenas um legado do Kevin para os três irmãos dele. Algo que eu não pude fazer por eles todos. Eu nem devo usar esse dinheiro”.

A frase acima foi dita por Limbert Beltrán, pai do garoto boliviano Kevin Douglas Espada Beltrán, morto no último dia 20 de fevereiro, após ser atingido por um sinalizador disparado da área onde estava a torcida do Corinthians durante o empate por 1 a 1 com o San José, em Oruro, pela Taça Libertadores.

Depois de um mal-entendido com a diretoria do Corinthians a respeito de uma doação proposta pelo clube, Limbert tenta uma reaproximação com o time brasileiro. Inicialmente, o pai de Kevin recusou os US$ 200 mil (aproximadamente R$ 400 mil) oferecidos pelos alvinegros. Ele não achou o valor significativo.

Limbert queria mais por estar com medo de o clube brasileiro utilizar a doação como argumento para ajudar na liberação dos 12 corintianos presos em Oruro, suspeitos da morte do garoto. O menor H.A.M., de 17 anos, confessou o crime no Brasil. Mas os bolivianos não aceitam o depoimento. Muito menos o pai de Kevin.

– Eu estava com receio de que, com essa doação, os 12 brasileiros presos em Oruro fossem soltos. Portanto, eu pedi um valor mais significativo. E não considero o depoimento desse menor no Brasil. Só vou acreditar nele se aparecer aqui na Bolívia para confessar – disse Limbert ao GLOBOESPORTE.COM.

Não considero o depoimento do menor”
Limbert Beltrán

A confusão dos valores foi provocada por má interpretação na reunião que o pai de Kevin teve, por telefone, com um representante corintiano. O vice-cônsul do Brasil em Cochabamba, Vitorino Barros da Silva, foi o mediador. Ele foi procurado pela reportagem, mas o consulado disse que ele havia saído para levar a esposa ao médico.

De acordo com Limbert, depois de dar as condolências à família pela morte do garoto, o representante do Corinthians avisou que daria uma ajuda financeira à família. Foi quando o pai de Kevin pediu que essa doação fosse quantificada. Vitorino, então, escreveu em um papel: um milhão.

Pressionado por diversos advogados (brasileiros e bolivianos), que diziam que a família poderia levar até US$ 6 milhões em um eventual processo, Limbert pediu o dobro. A reunião, então, terminou com a promessa de uma contraproposta do Corinthians nos dias seguintes. A resposta veio dois dias depois.

– Eles nos procuraram novamente dois dias depois e ofereceram US$ 200 mil. Eu não entendi nada. Recusei. Queria um valor mais significativo não para ser abusivo, mas para que o Corinthians pagasse uma quantia que os fizesse lembrar para sempre do Kevin. Afinal, pelo que sei, os clubes ajudam as torcidas – disse.

Limbert é convicto de que o Corinthians colabora com a viagem dos seus torcedores. Por isso, acredita que o clube tem responsabilidade também na morte do seu filho. De qualquer maneira, houve um equívoco nos valores. Na realidade, o Timão ofereceu inicialmente 10% da renda de uma partida.

O vice-cônsul, então, anotou o valor de um milhão (seria de dólares) querendo dizer que essa era a provável renda total de uma partida do Corinthians com o Pacaembu lotado. Portanto, o clube brasileiro daria 10% dessa renda (US$ 100 mil). Diante do pedido de Limbert para dobrar, o Corinthians ofereceu US$ 200 mil.

Na cabeça do pai de Kevin, no entanto, a ideia era pedir o dobro, independentemente da moeda. Passado alguns dias, ele admite o mal-entendido.

– Houve uma confusão. Não vou rechaçar mais a oferta. Não tenho condições. Quero apenas voltar a ter contato com o Corinthians, para explicar tudo isso. O consulado não quer mais mediar essa conversa e eu estou em contato por email com o clube. Mas ainda espero uma resposta – finalizou Limbert Beltrán.

Procurado pelo GLOBOESPORTE.COM, em Bogotá, na Colômbia, o diretor de futebol do Timão, Roberto de Andrade, afirmou que o clube ainda quer ajudar.

– Se a família do Kevin quiser conversar novamente, estamos à disposição. Não estávamos sabendo dessa confusão – disse o dirigente alvinegro.

A família de Kevin Espada Beltrán não tem intenção de entrar na Justiça contra o Corinthians. Primeiro por querer um entendimento amigável em relação à doação proposta pelo clube. Depois por achar que não vale a pena uma briga nos tribunais, tanto no aspecto financeiro quanto no psicológico.

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