O ex-jogador Walter Casagrande Júnior, bicampeão paulista e ídolo com a camisa do Corinthians, lançou sua biografia nesta terça-feira, em uma galeria comercial na Avenida Paulista, em São Paulo. Em parceria com o amigo e jornalista Gilvan Ribeiro, o camisa 9 da Democracia Corintiana explorou pontos delicados de sua trajetória de vida, como a dependência de drogas, em um livro que demorou três meses para ficar pronto.
O lançamento de “Casagrande e seus demônios” reuniu amigos, familiares, ex-jogadores, companheiros de televisão e até dirigentes da época áurea em que vestiu a camisa do Corinthians. Alternando momentos de felicidade ao encontrar Ataliba, que o chamou de “jacaré” e pediu desconto no preço do livro, e reflexão, quando dava depoimentos a respeito de seu drama pessoal, Casagrande manteve a serenidade e atendeu cerca de 400 fãs que também se acotovelaram por um autógrafo e uma fotografia.
“Prestes a fazer 50 anos (seu aniversário dia 15), eu vejo uma vida muito boa, maravilhosa. Por um lado eu sinto falta de alguns amigos que já morreram pelos mesmos motivos que eu tive, por abuso de drogas. Tenho amigos de infância que olho as fotos, e tive que fazer isso para poder contar história ao Gilvan, e estão faltando esses amigos. Isso eu lamento, porque me sinto um sobrevivente. Eu consegui passar a tormenta e hoje estou de pé”, conta, orgulhoso, o atual comentarista de televisão.
Revelado nas categorias de base do Corinthians, ‘Casão’, como é chamado, ainda vestiu as camisas de clubes como Caldense-MG, São Paulo, Porto-POR, Ascoli-ITA, Torino-ITA, Flamengo, Paulista e São Francisco-BA, sem contar a participação na Copa do Mundo de 1986 com a Seleção Brasileira. Já como comentarista, o atacante viveu o mais duro de seus desafios: a dependência de drogas como cocaína e heroína. A fase mais crítica da doença ocorreu entre 2005 e 2008, ano em que sofreu um grave acidente de carro e permaneceu internado para tratamento.
“Eu acompanhei o declínio na fase mais aguda da dependência química, sempre tentando alertá-lo. Cheguei a dizer que ele seria internado involuntariamente, mas ele não enxergava isso. A pessoa perde a noção das coisas. Foi dramático acompanhar uma pessoa de que eu gosto e admiro esquálido, magro mesmo, fazendo tratamento. No segundo momento, fui visitar o Casa na clínica e a Editora Globo me ligou propondo que eu fizesse o livro”, relembrou Gilvan Ribeiro, sem encontrar qualquer resistência no ex-atacante para colocar suas memórias no papel.
Para que Gilvan se inspirasse, Casagrande o presenteou com uma biografia do cantor britânico Eric Clapton, que passou por situações semelhantes. “Sempre é um momento difícil reviver o drama que passei, os momentos mais pesados. Contar para ele com detalhes é complicado, mas também vieram à memória os momentos bons. Foi gostoso, mas o momento da internação, do meu uso de drogas, era muito ruim de relembrar. No final conseguimos um livro com uma linguagem jovem, pop, intercalando histórias alegres e outras mais duras”, revelou o ídolo da Fiel.
“Eu já estou com o livro pronto há muito tempo atrás, antes de ser confeccionado em formato de livro. Não consegui ler. Depois ele foi feito e não consegui ler também. Vejo sempre o pessoal falando que está legal, que eu vou gostar, aí eu vejo algumas páginas de vez em quando, mas não li”, confidenciou Casagrande, garantindo que ainda não parou para ler a própria história. Ao contrário de Galvão Bueno, seu companheiro de trabalho, que confessou ter passado a noite atento à leitura da biografia que atraiu atenção de fãs de toda a cidade para a livraria em que o evento foi realizado.
Além de Galvão, outros colegas de TV Globo estiveram presentes, como os jornalistas Milton Leite e Maurício Noriega, além do ex-árbitro Leonardo Gaciba e dos ex-jogadores Beletti e Caio Ribeiro que, inclusive, trouxe um envelope que o emocionou: a mãe de um jovem dependente de drogas pediu para que o ex-atleta levasse as fotografias de seu filho para que Casagrande as autografasse.
Entre ex-jogadores, as presenças mais requisitadas foram de Zé Maria e Ataliba, companheiros e amigos pessoais. “Ele é superação acima de tudo. Não vou falar que ele é corajoso, porque sempre foi, mas agora colocou a vida dele em pauta. É uma pessoa que superou problemas, hoje continua um grande ídolo e segue sendo respeitado. Ele é um exemplo de vida. Eu faço trabalho na Fundação Casa, sinto na pele esses problemas, principalmente com os jovens. O Casão passou e tirou de letra, do mesmo jeito como fazia gols no Corinthians e na Seleção Brasileira”, encerrou Zé Maria, satisfeito pela chance de rever o amigo.