Apr 24, 2012

O chá dos co-irmãos

 

(Anita Malfatti, “A Boba” (1915-16))

A mídia informa que, ontem, numa churrascaria, os quatro maiores Clubes da Cidade (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos) fizeram as pazes.
Em tom conciliador, o Presidente do São Paulo FC, Juvenal Juvêncio,   e o ex-Presidente do Corinthians, Andrés Sanches, falaram, especialmente, da necessidade de união dos Clubes. Não há qualquer surpresa nisso tudo.

A relação do grandes clubes sempre foi marcada por uma política, digamos assim, de “duas faces”. Uma pública, onde o Dirigentes fazem provocações e até críticas aos adversários, e outra – reservada, onde se abraçam,  combinam tudo, e justificam suas declarações públicas.  Esta é a linha adotada por todos.
Inclusive pela atual Direção do Corinthians.

O único beneficiado por esta relação hipócrita é o São Paulo.
Ele junta todos e exerce uma liderança imposta por uma alegada superioridade cultural, pessoal, postural, econômica  etc. É um engodo que favorece aos tricolores e o maior prejudicado sempre é o Corinthians.

E isto não é de hoje. Recordo-me, quando era Diretor de Futebol, recebia críticas por todo lado (inclusive dentro do Timão) pela minha postura diante do SPFC.
O grupo do vice Nesi Cury, do qual a Direção do Corinthians dos últimos 4 anos é ramificação, exercia uma cobrança quase diária pela relação com o São Paulo. A cada fato era dito “precisamos respeitar o São Paulo” ,  “o SPFC é nosso co-irmão”, “vou ligar pro fulano, presidente do SPFC e explicar …” . Esta linha era majoritária no Clube e nos colocava em um posição subalterna perante um de nossos adversários. O auge do equívoco era narrado pelo Sr. Nesi e companhia,  fora um jantar oferecido, nos anos 60 no Parque São Jorge, para o Presidente do São Paulo, Laudo Natel. Entre elogios e palmas foi decidido que muitos conselheiros comprariam carnês da construção do Morumbi, bem como cadeiras cativas. Sempre fui duro crítico deste jantar e não perdia oportunidade de falar da vergonha dele ter ocorrido. Mas esta relação “amistosa” com o São Paulo sempre foi a marca do grupo. Recordo-me do Campeonato Paulista de 2003, quando a Federação queira (porque queria) ver o São Paulo campeão. Com um regulamento confuso, deu interpretações todas favoráveis ao SPFC. Nós reagimos, embora internamente muitos defendessem que deveríamos ficar calados. Tive que assumir, por  um dia, a Presidência do Clube para encaminhar um recurso a um órgão da Federação que decidiria sobre a matéria. Sabíamos que perderíamos mas, a partir daí,  poderíamos recorrer à CBF e lá o jogo seria outro. Foi o que ocorreu. No julgamento, em São Paulo, todos os Clubes votaram contra o Corinthians e a favor do Tricolor. Até o Palmeiras, que se dizia inimigo dele. A reunião serviu, no entanto, para que pudéssemos recorrer ao Tribunal da CBF. Serviu, também, para que se pudesse dizer, que, naquele momento eu me lembrava que o Corinthians fora o único Clube  solidário com o Palestra,  quando queriam (quem?) tomar o  Parque Antartica. Relembrei a reunião do Conselho Corinthiano e os membros da delegação que foram até a Rua Turiassú levando nossa solidariedade. Foi um constrangimento geral.
Mas recorremos, ganhamos no Rio e principalmente vencemos no campo, para desespero do tricolor.

Nos últimos 5 anos, a política do Corinthians não foi  muito diferente, embora, para efeitos públicos, houvesse brigas para cá e para lá.
Brincadeiras de “bambi”, uma ou outra crítica, eram seguidas de telefonemas para a Direção Tricolor, conforme os própios dirigentes do SPFC vazavam para a mídia. Era a mesma politica de “duas faces”, que os cartolas tanto gostam. No entanto, com aquele episódio dos ingressos, houve um certo momento onde o atrito (que deveria ser permanente) aflorou. Pressionados pela torcida, e diante de uma decisão equivocada dos tricolores, a Direção corinthiana teve um momento de radicalização. Isso não impediu, no entanto, os permanentes elogios ao marketing e à estrutura do SPFC. Mesmo na questão do estádio, o Corinthians apoiou o SPFC para a reforma do Morumbi.  Aquela cerimônia no gramado do estádio com o Presidente Lula, a Direção do São Paulo e outros dirigentes teve como seu maior destaque  o ex-Presidente do Corinthians, Andrés Sanchez. Somente com a posição firme – e correta- da Fifa a questão do estádio teve outro encaminhamento.
E nisso o Presidente Lula foi o motor que mudou o quadro.

Ao se reunirem, em almoço (poderia ser um chá), os Dirigentes, especialmente do Corinthians, subscrevem uma política errada, que dá a liderança ao São Paulo.
Não há qualquer motivo para não mantermos distância de nossos adversários. Até a questão da TV não necessita mais de “união de Clubes”.
É cada um por si e a Globo do outro lado.

Nem a Diretoria passada, que adotou o esquema de “duas faces” na relação com o São Paulo, nem a Diretoria atual, que – sinceramente – não mantem nenhuma postura para confrontar-se com o Tricolor, agem de forma  correta com os interesses do Corinthians. Sou contra ficar fazendo qualquer provocação barata entre os grandes Clubes, mas sou especialmente contra criar-se esta geleia geral onde todos são irmãos e iguais. Nada disso!
É confronto e pronto.

 

31 Comments

  • Sou a favor do respeito mutuo entre os demais clubes, porém essa conversa fiada de “co-irmãos” é de uma hipocrisia nojenta e absurda! Outra atitude desnecessária, são as provocações entre dirigentes. Isso contribui para um acirramento exagerado da rivalidade, gerando violência entre torcedores rivais.

  • Sou contra as provocações públicas, mas tenho a consciência que infelizmente no caso SPFC a coisa é complicada, conquanto existe um protecionismo da mídia em relação a esse clube, e mais: não dá para confiar um milímetro sequer no tal Juvenal. Um cara que desmonta o estatuto de um clube para se auto beneficiar, é porque ganancioso demais pelo poder, e quem gosta muito de poder não é confiável.

    • Quanto a isso vc tem razão. Não há motivos para confiar.

  • Olá Citadini,

    Desta vez sou obrigado a discordar de você. Acho que os clubes deveriam deixar suas diferenças para a disputa entre as quatro linhas, e fora delas trabalhar em conjunto para uma melhor gestão, transparência, competitividade e organização do futebol paulista e brasileiro. Boa parte da grandeza do Corinthians vem do tamanho dos adversários. Quero que cada vez mais os times brasileiros se fortaleçam para que possamos manter nossos talentos por aqui e acredito que isso só pode ocorrer com a união de nossos times em prol do futebol brasileiro como um todo.

    Filipe

    • Não concordo muito. Ser educado, cordial tudo bem. Mas submisso, não.

  • Boa Citadini!!!! PERFEITO!!!!!!!!

  • Acredito que temos que fazer o que o Citadini sugere: simplesmente sermos educados, sem dar muita importância. Na hora das negociações, cada um por si. Não temos nada a perder tomando este partido. Quem tem a perder são elas.
    Citadini, que história é essa do Palestra quase ter perdido o estádio? Pelo que deu pra entender, o São Paulo queria afaná-los. É isso?

    • Após a guerra quase perderam o estádio. Todas as colônias derrotadas na guerra( alemã, japonesa e italiana) tiveram problemas com bens. E estádio por pouco não dançou.

    • não conseguiram afanar o estádio do palestra mas levaram o germânia. uma simples “gugouzada” esclarece a questão e outras sobre a nebulosa história do time citado

      • É, não ficaram só no Palestra.

  • assino embaixo.

  • Realmente é um absurdo só, parece que nossos dignissimos dirigentes não sabem o poder que o clube tem… apoiar um clube que desde sempre foi o mais corrupto do país e se aproveitou de um período militar para de forma absurdamente irregular, contruir seu estádio as custas da população e que ainda fica pregando de dono da moral e da ética, é no mínimo uma mediocridade sem limites.

    Certa vez escutei o Joao Paulo de Jesus Lopes afirmar que o são paulo era um clube de fidalgos. Pois bem, é mesmo, um clube formado por gente que se diz de boa estirpe, boa formação, mas que na verdade sempre viveu de benefícios e conchavos no mínimo muito mal esplicados com o governo militar e a politicagem estadual e federal.

    Já o Timão não, é clube de operários, trabalhadores, e não tem a menor obrigação se passar por bom moço. Somos o que somos e pronto. Quem não gostou que se crie pra outro lado! Pena que nossa diretoria não ache isso!

    • Vc está certo. Nada de geléia geral.

  • Citadini, concordo 100% com a postura com o SPFC. Clube sórdido, históricamente safado, com conchavos políticos, especialmente durante a ditadura. NUNCA deveremos ter qq tipo de relação, parceria, aliança, nada. Eles representam tudo que o Corinthians e os corinthianos não são. É a elite em sua forma mais podre, que despreza o povo mas precisa ter uma torcida grande para manter um time de futebol. Em resumo, os “cardeais” tricolores odeiam a parcela mais pobre de sua própria torcida mas sabem que precisam dela para sobreviver. É o ranço do aristocrata clube Paulistano sobrevivendo até hoje.

    Minha única discondância com relação ao seu texto. Durante o período Andrés, estava escancarado que a tal visita de apoio ao Morumbi 2014 era jogo de cena do Andrés, como foi comprovado posteriormente, com a rasteira dada no SPFC na construção do nosso estádio. Se há algo que se possa elogiar na adm Andrés é a relação (explosiva) com o SPFC. Não jogar mais no Morumbi e fazer pressão para que SEP e SFC tb não mandassem seus jogos lá foi fundamental para quebrar a fonte de recursos que mantém aquele paquiderme velho, antiquado e ultrapassado. Além da briga para que SCCP e Flamengo tivessem mais recursos da TV que os outros, incluindo aí o SPFC.

    • Quanto ao apoio ao Morumbi discordo. Era submissão mesmo. È dificil acreditar que um presidente do Corinthians vá ao gramado apoiar uma reforma que era um escárnio. Só a posição técnica da Fifa salvou. Mas quando ao conflito dos ingresso eu concordo. A pressão da torcida não deixou margem para acordo. Que havia ocorrido quando disputamos a série B, que vc lembra foi no Morumbi.

  • Concordo. É só ver quais mídias insistem em usar o termo “Itaquerão”, apesar dos pedidos da Diretoria, para saber quem está por trás dessa pauta permanente de estigmatização da instituição Corinthians, com adjetivaçoes rasteiras.

    Sempre tem um São Paulino, por trás dessas notinhas.

    E sou mais radical ainda Citadini, além de se afastar do S.Paulo, a diretoria tem que jogar duro contra esses “jornalistas” e suas redações, que o Corinthiano está cansado de saber quem são.

    Todos os corinthianos hoje, estão bem cientes de qual é o jogo contra o Corinthians.

    E pior do que isso, é ver até ex-jogadores nossos, se juntando ao que há de pior de anti-corinthiano da imprensa.

    Uma personalidade que se vangloria de seu corinthianismo, ao participar de um UOL da vida, deveria como primeiro ato, postar no espaço que tiver, a sua indignação pelo tratamento que dão ao Corinthians, e apelido ao estádio.

    Se não o fazem, são simplesmente submissos por interesses, e coniventes.

    • Acho que o jornalista deve ter liberdade de falar qualquer coisa. Mas nós também devemos falar o que queremos.

  • Perfeito, Citadini. Uma pena para nós, corinthianos, é que você seja uma voz isolada. Na maior parte das vezes, o Corinthians – o Time do Povo – históricamente foi dirigido por gente que aproveitou-se pessoalmente de sua grandeza. Na maior parte das vezes, o nosso inimigo sempre esteve dentro da nossa casa. Existe tristeza maior do que essa?

    • Muitas vezes é isso que ocorre.

  • Pena não termos uma obra sobre a história do futebol paulista e brasileiro, com H maiúsculo, que chegue a estes pormenores. Uma tese defendida na USP parece que preenche um pouco desta lacuna: http://www.usp.br/agen/repgs/2007/pags/002.htm

    • Não conheço. Vou dar uma olhada.

    • É, parece que tentaram levar na mão grande o Palestra…

      • Tentativa houve. Fracassou.

  • Citadini, só fico triste pq voce quando esteve no comando do time sempre nos tratou como time pequeno. O time do primeiro semestre de 2004 era do mesmo nivel ou inferior ao time de 2007. tenho extremo receio que sua chapa ganhe uma eleição.

    • Pode ser.E o de 2002 foi melhor ou pior ?

      • O de 2002 era fantastico. Mas ai voce vendeu o Ricardinho (melhor jogador do time) pro SPFW e vendeu o campeonato no mesmo ato. E depois Deivid saiu por mixaria. Leandro, Jorge Wagner, Liedson… Muita gente não lembra, mas foi o grande desmanche que eu vi no Corinthians. Kleber saiu, olha que absurdo! Fabio Luciano, Rogerio (esse é um caso a parte, saiu na justiça e ainda temos divida com o porco, fdp), Vampeta… Poxa, da mta tristeza de lembrar. Mas acho que tambem era pq não tinhamos dinheiro. Mas como um clube como o Cruzeiro conseguia contratar um Alex, Aristizabal, Maldonado, Deivid… Sei la, muita incompetencia tambem. Só espero que se tiver a chance de voltar ao Corinthians, faça um trabalho melhor. E essa decisão do sanchez de nunca mais jogar no morumbi tambem nunca tinha sido tomada. se provou muito acertada.

        • Não foi bem assim, mas o torcedor é sempre emoção. Um abraço.

          • ok. grande abraço.

  • Nossa, quanta angústia no coração!
    Falar de favorecimento de arbitragem, está de brincadeira, vejamos 1977 (Rui Rei, Boschilla), 2005 Tinga e árbitro ladrão contra o Inter (campeonato mais roubado de todos os tempos. Javier Casrtrilli, Sveiter, Dualib, Kia, Andres!
    Figuras obscuras do futebol.
    E ainda tem o desplante de falar que a decisão de construir o estádio com dinheiro sujo (wempreiteira emprestará pois o time da marginal é insolvente na praça.
    Chega a ser ridículo, nunca vi uma pessoa tão aficcionada pelo TRIcolor que nem o dono do Blog.
    O dia que o TRIcolor não existir, acho que este Blog acaba!!
    Salve o TRIcolor!!!

  • e vc diz q essa reuniao entre os presidentes do g 4 da liderança ao sp…pq????????????

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