Viva! Um texto que merece 10.
Caráter, o legado de Tite
O futebol é rude demais para valorizar o humano. Não fossem os números, as vitórias e os resultados, ninguém teria chorado na despedida de Tite. Não precisamos nos iludir com isso. O lado bom, entretanto, é que em três anos de convivência, o treinador ajudou a dar tudo o que o corintiano sofredor de 1977 não teria coragem de pedir. Hoje é possível dizer que, respeitadas as épocas e as diferenças, ele é o maior treinador da história do clube.
Quando for preciso fazer um balanço e apontar o legado de Adenor Leonardo Bachi em sua segunda passagem pelo Corinthians, será fundamental dizer que os 73% de aproveitamento dos pontos disputados foram ótimos, que as 66 vitórias jamais serão esquecidas e que as conquistas do Brasileiro, da Libertadores e do Mundial formam a sequência perfeita.
Mesmo assim é pouco, não explica o significado desses três anos, não oferece a dimensão correta do que foi esse período. O que levaria, então, 35.033 torcedores ao Pacaembu num sábado à noite? Certamente não foi para comemorar a classificação no meio da tabela nem para curtir mais um provável 0 a 0. Foi para ver Tite, ainda responsável pela equipe e pelo 17º. empate no Campeonato Brasileiro.
O estádio lotou para dar adeus, para dizer que os problemas e a apatia ofensiva não eram, naquela noite, tão importantes, e que um dia Tite vai voltar. O Pacaembu, que breve terá que se despedir dele mesmo, dele Pacaembu corintiano, quando o time se mudar para Itaquera, lotou desta vez para reconhecer o caráter desse homem.
No futuro, quando for preciso apontar o legado do treinador no Corinthians, será justo, antes de citar os títulos, lembrar do seu caráter, de sua dignidade e de como a vida fluiu sob o seu comando num clube acostumado à cultura do sofrimento. Não foi fácil, por que no futebol as coisas apenas parecem fáceis. Mas foi diferente.
Vai ser difícil esquecê-lo, principalmente quando alertava que a Libertadores deveria vir embrulhada por um clima de paz e de merecimento. Vencer a qualquer custo não lhe interessava, embora ironicamente tenha sido desclassificado em 2013 pelo apito de Carlos Amarilla. Já não havia no time a mesma sintonia, mas era possível ir mais longe.
O Paulista e a Recopa Sul-americana não foram suficientes para mantê-lo no cargo na temporada que se encerra. Três anos no comando da mesma equipe é uma eternidade no futebol, seja para Tite ou Guardiola. E assim começa uma nova história.
É provável que a geração da fila, dos 23 terríveis anos de expectativa veja Oswaldo Brandão à frente de Tite na galeria dos treinadores corintianos. O homem que libertou toda uma nação do sofrimento e da chacota merece um lugar especial no altar do corintianismo.
Só mesmo quem suportou a espera para saber o significado dos títulos paulista de 1977 e da Libertadores de 2012. Eles representam momentos únicos na vida e na alma da instituição. Mas não é possível compará-los. Embora toda vitória aparentemente possua a mesma raiz, delas brotaram Corinthians diferentes.
Nada as une, apesar da camisa alvinegra. O campeonato estadual, importante naquela época, não encerrou o sofrimento, apenas reforçou a percepção de que tudo tem que ser difícil, improvisado e contestado. Já a competição sul-americana introjetou na carcaça corintiana a informação de que pode ser diferente.
A partida contra o Internacional abraçou também outra despedida, a do lateral Alessandro, que chegou para jogar a Segunda Divisão e para ser o capitão do maior título da história corintiana. Fisicamente não dá mais, é o fim da linha.
A trajetória do jogador no clube também foi marcada pelo caráter. Líder discreto, Alessandro encerra a carreira dentro de campo, mas dificilmente ficará longe do Corinthians, que a partir do ano que vem voltará a ser dirigido por Mano Menezes, bastante responsável pela mudança de rumo a partir de 2008. É o fim e o começo.
www.estadao.com.br
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10 com louvor!
Bingo!! Ele achou a explicação que TODO mundo procurava….No fundo todos sabiam, mas não conseguiam expressar ou explicar o porque de tanto sucesso e tanta empatia com uma torcida que age por paixão, e deixa a razão em segundo plano.
Pois é , a passagem de Tite no Corinthians foi excelente, tanto pelos resultados dentro de campo, é também como diz o texto do Calçade o caráter do treinador foi seu maior legado, justamente o caráter do novo treinador do Corinthians, me deixa muito ressabiado. Espero que ele contraria o ditador popular que diz !!! que pau que nasce torto, morre torto.
Preciso! Grande profissional, a pessoa de bom caráter, competente.
Parabéns ao Paulo Calçade!
Que belo texto. Parabéns ao jornalista.
Paulo Calçade é um dos poucos jornalistas de alto nível na imprensa esportiva. Parabéns Calçade!!
Desculpem-me o comentário longo, mas sou da “geração da fila, dos 23 terríveis anos de expectativa …” (sic). A 1ª vez que fui no estáido foi num Corinthians 1 x 0 Palmeiras, em 1964, Pacaembu, gol de Silva. Vi desde Rivelino (assisti varias vezes suas preliminares nos aspirantes c/ o PSJ lotado) até Ronaldo (vi todos os seus jogos no Pacaembu).
Nunca tive tanta alegria com o Corinthians como nestes ultimos três anos. O Corinthians não só ganhou tudo, mas ganhou bonito, com garra e classe, e com imposição do jogo. Diferentes formas de jogar, mas o Corinthians impôs seu estilo aos adversários como na época do Sócrates.
Mais do que ganhar um campeonato ou outro, sempre quis ver o Corinthians jogar como Corinthians, i.e. com técnica e garra. Nesse sentido, nunca tive fixação pela Libertadores. Mas pérai… ganhar um campeonato em finais contra o até então “temível, imbativel e falado” Boca, em semifinais com o Santos na época aurea de Neymar, e 4as de final contra o grande time do Vasco. E ainda por cima, INVICTO, com time mais disciplinado, melhor defesa e melhor ataque!! Desempenho similares no Campeonato Brasileiro e no Mundial. Seria mais fácil manter o Tite e renovar o elenco. Mas…
Estive no Pacaembu no sábado passado. Fui lá para agradecer. Éramos mais de 35000 num sábado à noite num jogo práticamente “amistoso”. Em termos mundiais, nunca vi e nunca soube de uma despedida como a de Tite. Tite e Alessandro (que nunca foi um craque) erraram nestes 3 anos. É claro que sim. Mas sempre tiveram o verdadeiro espírito corinthiano. A torcida sabe distinguir perfeitamente o verdadeiro do falso.
Porque Tite saiu do Corinthians? Ninguém até agora respondeu de modo claro. Mas – pra variar – pode vir a pseudo-explicação de que o “futebol é cíclico”. Pra variar, parece que os dirigentes do Corinthians estão disputando quem irá comandar “o negócio”. Essa mesquinharia e mediocridade – para não dizer safadeza – nada tem a ver com a grandeza do Corinthians. A torcida que não é comprada sabe perfeitamente disso.
Dr. Citadini, existe algum tipo de instituição jurídica (e.g. Fundações de Direito Privado) em que o Corinthians poderia tornar-se de modo a profissionalisar presidente e diretores? Será que nos Estados Unidos não existem modelos similares para os clubes de basquete e futebol americano?
Toninho, eu também sou da “geração da fila”, e concordo com QUASE tudo o que você disse.
Só discordo da comparação com a época do Sócrates. Aquele time, mesmo tendo mais craques que o de 2012, só ganhou paulistas, sabe por que? Eles nem sabiam o significado de GARRA.
Eram da turma do mais direitos, menos obrigações, ou melhor, SÓ “direitos”