Jan 15, 2014

Muita sede e pouca água.

 

TVs estrangeiras diminuem cobertura da Copa devido aos preços do Brasil

 

Carolina Juliano

Do UOL, em São Paulo

  • TVs transmitem jogo da Copa das Confederações no Mineirão, em Belo HorizonteTVs transmitem jogo da Copa das Confederações no Mineirão, em Belo Horizonte

Emissoras de TV estrangeiras estão tendo que rever seus planos de transmissão da Copa do Mundo de 2014 no Brasil devido aos valores exorbitantes que estão sendo orçados por produtoras brasileiras, hotéis e pelo mercado imobiliário na hora de alugar uma sala para montar o escritório. Algumas estão mesmo desistindo de se estabelecer no país durante o mundial por considerarem os valores completamente inviáveis.

A reportagem do UOL ouviu alguns representantes de produtoras brasileiras que preferiram não se identificar por questões estratégicas e porque ainda não conseguiram fechar os seus contratos, mas que informam que não só os estrangeiros estão sendo prejudicados com esse custo elevado, mas também as próprias produtoras brasileiras, porque os clientes não estão fechando contrato pelos valores pedidos.

“A verdade é que muita gente viu na Copa uma oportunidade única de ganhar dinheiro e até de se aposentar, e essas empresas resolveram inflacionar o mercado”, diz a fonte de uma das maiores provedoras do Brasil em serviços de transmissão via satélite. “O Brasil já é mais caro que o resto do mundo por conta dos nossos impostos, se resolvem cobrar muito acima do normal ainda, fica inviável mesmo.”

O caso mais emblemático citado por essa fonte é o de um grande canal inglês, que foi um dos primeiros a fechar um pré-contrato para se estabelecer no Brasil, montar estúdio, trazer apresentadores e equipes para transmitir direto daqui. Há dias, o canal rescindiu contrato e diminuiu em 70% seu trabalho no Brasil. “Resolveram montar o estúdio na Inglaterra mesmo, pois só a montagem aqui custaria US$ 1 milhão, pagaram a multa rescisória do contrato e agora vão apresentar de lá com alguns links (entrada ao vivo com jornalista) no Brasil, e ainda resolveram trazer equipamento e pessoal próprios”, informa a fonte.

Outro caso citado por ela é de uma emissora australiana, que previa a montagem de estúdio de transmissão no Rio de Janeiro, com quatro apresentadores e mais convidados. Isso custaria para eles na Europa, por exemplo, US$ 200 mil. No Brasil pediram este valor apenas pela locação do imóvel onde seria montado o estúdio. Os australianos também tiveram que mudar de planos.

Impostos e logística

Produtores nacionais informam que a transmissão da Copa no Brasil já teria os custos mais altos do que no resto do mundo porque a carga tributária é muito grande. Segundo fontes consultadas pelo UOL, o imposto que se paga por esse tipo de serviço chega a 30%. Além disso, a logística dessa Copa do Mundo é muito difícil pelas distâncias a serem percorridas.

Outra fonte de uma grande produtora sediada em São Paulo cita o caso de um orçamento pedido por uma emissora do Japão. A seleção japonesa vai jogar em Natal e depois segue para Cuiabá num espaço de quatro dias. “Não é possível que a mesma unidade móvel que vai para Natal chegue a tempo e preparada para fazer o jogo de Cuiabá. Isso encarece muito o orçamento porque vamos precisar de dois carros”, diz a fonte.

Para fazer um jogo em Manaus, a produtora de São Paulo estima que levaria sete dias para chegar lá com todos equipamentos e para prepará-los. O custo disso é muito alto e não vale a pena para realizar apenas um jogo. Tem seleção que vai viajar milhares de quilômetros entre um jogo e outro. “Os estrangeiros simplesmente não pagam. Eles estão sacrificando a participação deles na cobertura do mundial devido aos preços praticados no Brasil.”

Confira os locais que vão receber as seleções na Copa do Mundo de 201422 fotos

A Alemanha terá um CT próprio em Santa Cruz de Cabrália, na Bahia, para ficar hospedada durante a Copa

Aluguel de meio milhão

Uma das três maiores cadeias de televisão do Golfo Pérsico também não conseguiu ainda fechar contratos para as transmissões no Brasil. Ela solicitou um orçamento grande, para abrir escritório, montar estúdio e se mudar para o Rio de Janeiro no mês da Copa. “Fizemos a pesquisa de locais para eles se alojarem e os valores que estão sendo pedidos no Rio de Janeiro são surreais”, diz a fonte da produtora contactada. “Por uma área de 200 m² pediram meio milhão de reais. Tem hotéis cobrando diária de R$ 1 mil. Está todo mundo louco no Brasil e desesperado lá fora.”

Outra emissora dos Emirados Árabes contactou profissionais no Brasil para contratar repórter e cinegrafista para transmitir ao vivo o sorteio dos grupos da Copa, realizado em 6 de dezembro na Costa do Sauípe, na Bahia, com mais um link na cidade do Rio de Janeiro. Pediram alguns orçamentos 20 dias antes do evento e desistiram de fazer também por causa dos preços. “No Brasil cobra-se a mais, por exemplo, por um profissional que fala inglês, mas na Europa falar inglês é condição primeira para ser um profissional, não cobra-se por isso”, diz um produtor que já trabalhou em cadeias televisivas na Europa e no Golfo Pérsico. “Tudo isso parece absurdo para quem vem de fora fazer televisão aqui.”

Na ocasião do sorteio da Copa, as fontes informaram que operadores de câmera que geralmente cobram diária de R$ 150 chegaram a pedir R$ 600, e como no nordeste brasileiro tem menos profissionais do que no sul e sudeste, até emissoras brasileiras tiveram que pagar mais caro para terem o serviço.

Na Argentina é mais barato

Uma outra produtora brasileira com sede em São Paulo, que habitualmente realiza trabalhos para uma das cadeias televisivas mais emblemáticas do mundo na produção de documentários, foi contatada para realizar uma produção sobre a Copa das Confederações de 2013. O programa seria veiculado antes do evento, mas diante do orçamento, o canal desistiu da produção.

Depois disso, o mesmo canal solicitou novo orçamento para realizar um programa sobre a Copa do Mundo. Este seria gravado e transmitido em português e espanhol, para o Brasil e América Latina, sendo que ambos iam ser gravados e produzidos em São Paulo. A multinacional também considerou o valor pedido inviável, mas desta vez não desistiu, foi à Argentina e contratou uma equipe de lá para produzir tudo em Buenos Aires, pois ficava muito mais barato.

“Está caindo a ficha”

A 150 dias do início da Copa do Mundo do Brasil não há praticamente contratos fechados entre produtoras brasileiras e emissoras estrangeiras. Nos próximos dias, quando a Fifa definir e distribuir as credenciais para os profissionais de imprensa, as emissoras terão que definir suas estratégias. Há um ano que as produtoras estão fazendo orçamentos para a Copa e já se observa uma queda nos valores pedidos no mercado. “Acho que está caindo a ficha e as produtoras estão vendo que se não abrirem mão dos altos lucros irão ficar sem cliente”, diz a fonte de uma das maiores produtoras do País.

E como Copa do Mundo não é um evento para o qual se possa simplesmente dar as costas, para conseguirem trabalhar no Brasil, os canais internacionais estão se organizando como podem. Uns diminuindo em até 70% os trabalhos em nosso território, outros se retirando mesmo do Brasil, optando por transmitir de seus países, e ainda há vários que estão se unindo, abrindo mão da exclusividade e aceitando dividir equipamentos e até escritórios para não saírem no prejuízo.

www.uol.com.br

16 Comments

  • “Tem seleção que vai viajar milhares de quilômetros entre um jogo e outro”
    Mais uma que devemos ao molusco!

    • gostaria de entender o grande problema em viajar milhares de km, visto que não irão de jegue. da mesma forma não entendo a choradeira pelo “calor” em jogos no norte e nordeste. a imprensa brasileira engole essa pela preguiça de verificar as temperaturas médias nesses locais no meio do ano.

      vivemos a era do mimimi onde todos choram para tentar alguma vantagem.

      Vai Corinthians!

      • Viajar milhares de km não é nenhum problema para quem vai passear, mas para atletas disputando uma competição de altíssimo nível é uma desvantagem enorme em relação aos que não vão fazer isso.

  • Citadini, essa notícia divulgada no blog do Neto (link abaixo) de que o Corinthians adiantou cotas de TV até 2017 é para lá de preocupante. A veracidade dessa informação têm que ser apurada, pois não é possível que em tão pouco tempo a situação financeira do clube tenha mudado tanto. E coitado do próximo presidente, este que se cuide…

    http://blogdoneto.blogosfera.uol.com.br/2014/01/15/quebrado-timao-adianta-cotas-de-tv-ate-2017/

    • Mas você ainda consegue acreditar no que esse sujeito vomita??

  • estádio em Cuiabá, Manaus.. só dá pra entender no Brasil. Eu espero mesmo que muita gente que está cobrando esses absurdo de aluguel fique na mão. Incrível como o Brasileiro quer levar vantagem nas coisas..

    • Ficou faltando Fernando: só dá pra entender no Brasil lulo-petista.
      Essa palhaçada foi imposição do apedeuta.

  • hummm… Europeus são cheios de mimimi mesmo! Se o propósito da Copa (ou um dos) é promover o turismo no país sede então andou bem o comitê organizador em escalar Manaus e Cuiabá. Amazônia e Pantanal (tem quem prefira Miami, mas tudo bem!)! Se fosse no México criticariam a altitude!

    • “Se o propósito da Copa (ou um dos) é promover o turismo no país sede”
      Quem disse ??????????

    • Você conhece Manaus altamir? E Miami?

      • Infelizmente nenhuma das duas. Conheceria com prazer. E um dos propósitos da Copa é sim promover turismo! Quem disse que não?

  • Conheço as duas altamir, e a minha pergunta tinha um propósito.
    Sem entrar no mérito de qual das duas é “mais turística”, mesmo porque isso depende de muito de gosto pessoal, o FATO é que, infelizmente, é MUITO mais fácil fazer turismo me Miami
    do que em qualquer lugar do Brasil, o que só nos traz prejuízo
    Não me entenda mal, eu ADORARIA que fosse fácil para qualquer estrangeiro viajar pelo Brasil, mas não é.
    Um exemplo entre dezenas: tente reservar um hotel aqui em, sei lá, outubro. Voce não vai conseguir saber o preço, mas nos EUA sim. Isso se aplica a tudo, restaurantes, excursões, passagens, etc

    Ops, já ia esquecendo. O turismo no país sede é CONSEQUÊNCIA, não objetivo. A maioria dos turista vem por causa da Copa e voltam e recomendam aos amigos e familiares voltar dependendo da sua experiência.

  • Discordo que seja consequência, e não objetivo. Isso é só uma questão de perspectiva, a meu ver. Para alguns pode ser apenas uma oportunidade de ganhar um dinheiro pouco importando o aspecto esportivo ou o de promover o país como destino turístico. Me parece que é o caso de um sem número de pessoas de que se fala no artigo. Ouvi outro dia uma histórinha simpática. Era sobre o tolo da aldeia. Todos os dias mostravam a ele uma moeda enorme de metal e outra minúscula de ouro e diziam para ele escolher uma entre elas. Ele sempre escolhia a grande. Perguntaram um dia a ele se não sabia afinal que o ouro era mais valioso. A resposta foi que era claro que sim! Mas se uma única vez escolhesse o ouro acabaria com a brincadeira e não poderia mais acumular as outras. Ao cabo de um tempo quem seria o tolo? Outra versão da história da galinha de ovos de ouro, afinal. Infelizmente é o que parece que se está fazendo no país. Melhor tentar ganhar muito dinheiro de uma vez explorando turistas ao máximo do que viabilizar o país como destino pós-Copa, etc. Outra posição é do oportunismo de alguns que pretendem apostar no fracasso da Copa em troca de dividendos para suas posições. Não vou esconder do senhor que me irritou particularmente a maneira como se referiu ao ex-presidente Lula. Respeito a opinião política de todos, mas acredito que seja falta de educação referir-se desse modo a alguém de quem se discorda tendo em vista que o fórum em que essas opiniões são expressas é aberto a todos. Em outras palavras. Por que manifestar tal agressividade sem preocupar-se com os diversos leitores de seus textos? Abraços

    • ” Não vou esconder do senhor que me irritou particularmente a maneira como se referiu ao ex-presidente Lula”
      Se lhe irritou, peço desculpas, obviamente este não era meu objetivo.

      “Por que manifestar tal agressividade sem preocupar-se com os diversos leitores de seus textos?”
      A agressividade vem do mal que ele causou e ainda vem causando a praticamente todos nós.
      Entendo sua opinião mas discordo totalmente dela. Acho que figuras públicas podem ser criticadas e NÃO acho que alguém deve se sentir atingido por isso.
      Exemplos não faltam. Ultimamente tenho lido e ouvido acusações gravíssimas contra o STJD, inclusive chamando seus membros de desonestos. O mesmo acontece com quase todos os políticos do MUNDO.
      Imagine um americano que se irritasse toda vez que alguém xingasse ou ridicularizassem o Bush.
      A sua reação, que respeito é um dos males que o lulo-petismo trouxe ao país. Uma pergunta:
      quantas vezes você já ouviu/leu o Maluf sendo xingado? Quantas vezer já viu usarem malufar como sinônimo de roubar?
      A diferença é que os malufistas (não sou) não se sentem pessoalmente atingidos.
      um abraço e um ótimo final de semana

      Abraços

      • Obviamente discordo de seu juízo de que haja algum mal causado a todos e de modo permanente pelo ex-presidente. Não discordo, por outro lado, de que tantas vezes outros políticos tenham sido atingidos sem que isso afetasse muita gente. Depende, claro, do grau de identificação que se tem com eles. Mas a minha questão diz respeito acima de tudo ao contexto. Entre corintianos prefiro mais os aspecto que nos identificam do que aqueles que nos afastam! Mas gostei da conversa. Vejo que o senhor é pessoa educada e mais preocupada com argumentos do que com retórica! Abraços alvi-negros!

        • Obrigado Altamir, percebi o mesmo em você. Vai Corinthians!

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