Democracia Corinthiana
É Tudo Verdade 2014: Documentário sobre a Democracia Corinthiana relembra futebol, rock e política dos anos 80
É impossível agradar a todas as torcidas quando o assunto é futebol. Mas o documentário “Democracia em preto e branco”, que conta a história da Democracia Corinthiana, deve interessar, sim, a todos os fanáticos por futebol e até a quem não está nem aí para o esporte. O movimento liderado por Sócrates, Vladimir, Casagrande e Zenon rompeu as barreiras do campo, influenciando o processo de redemocratização do País. Tudo isso é contado ao som do melhor do rock nacional que, assim como a Democracia Corinthiana, trazia à tona o sentimento de descontentamento com a “década perdida”. O filme faz parte da competição brasileira de longas do É Tudo Verdade 2014, que ocorre entre os dias 3 e 13 de abril, em São Paulo, e de 4 a 12 de abril, no Rio de Janeiro (veja os horários de exibição abaixo).
Futebol e política se fundem quando Sócrates, na época ídolo do Corinthians e assediado por times europeus, decide colocar seu futuro nas mãos do Congresso, que poderia aprovar a emenda constitucional cujo objetivo era reinstaurar as eleições diretas para a presidência da república. Era 1984 e mais de 1,5 milhão de pessoas se reuniam no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, pedindo “Diretas Já”. Sócrates sobe então ao palco e promete: se a emenda for aprovada, não vou embora do meu país. A emenda não passou e ele partiu. O jogador, que morreu em 2011, foi entrevistado neste mesmo ano para o documentário. “O que eu tinha na mão era aquilo lá”, diz, relembrando o episodio. “Queria demonstrar meu sentimento, meu credo naquilo que eu pretendia para o meu povo”.
O diretor Pedro Asbeg, relembra com carinho seu encontro Sócrates, um de seus ídolos de infância. “Tivemos a chance de mostrar a ele um promo do filme e esse encontro foi igualmente emocionante, pois ele estava muito entusiasmado com o projeto”, conta. “O filme, inevitavelmente, é também uma homenagem a ele”.
Nesta entrevista, Asbeg, que é flamenguista, fala sobre a dificuldade de tratar de três temas tão ricos como a Democracia Corinthiana, a política e a música dos anos 80 em apenas um filme, reclama da dificuldade que os documentaristas encontram na negociação, autorização e compra de materiais de arquivo e adianta um pouco sobre seu novo documentário “Geraldinos”, em processo de montagem, para o qual gravou os últimos 10 jogos da “Geral” do Maracanã.
Em outra entrevista, você havia me falado que é fanático por futebol e achava que o esporte deveria estar mais presente na filmografia nacional. Agora que o documentário está para ser lançado você sente essa demanda do público, interessado em saber mais sobre histórias que envolvem o esporte?
Pedro Asbeg – Acredito que o universo do futebol, além de ser repleto de histórias ricas e fascinantes, é também parte integral da cultura popular brasileira. Por isso, apesar do numero crescente de filmes com temática futebolística, acho que ainda estamos aquém do potencial cinematográfico que o tema tem.
O documentário é construído sobre três pilares: a situação política da época (anos 80, Diretas Já), o surgimento do rock nacional e, claro, a Democracia Corinthiana e seus resultados dentro e fora do campo. Todos esses assuntos são interligados. Como foi abordar todos esses temas no mesmo filme?
Pedro Asbeg – Foi difícil e, ao mesmo tempo, necessário. Quanto mais eu pesquisava sobre o período e os temas, mais percebia que eles estavam diretamente ligados. Afinal, naquele momento cinzento da nossa história o voto e a liberdade de expressão eram desejos comuns de grande parte da população, principalmente dos mais jovens.
Como foi o processo de escolha e compra de material da arquivo?
Pedro Asbeg – O processo de pesquisa foi gigantesco e muito prazeroso, pois além de descobrir materiais riquíssimos e muito raros, pude contar com a colaboração do grande pesquisador Marcio Selem (que é pesquisador do filme “Bernardes”, também selecionado para o ÉTV 2014).
Infelizmente, o processo de negociação, autorização e compra do material de arquivo foi duro, burocrático e cansativo. Os preços subiram muito de 2010 até 2014, encaramos empresas intransigentes e que veem esse material apenas de maneira comercial. A ANCINE nos obriga a ter cartas de anuência inexplicavelmente e, pra piorar, temos uma lei que dificulta muito o uso de qualquer imagem, uma vez que todas precisam contar uma autorização formal. Desta forma, é quase impossível se fazer um filme de denúncia no Brasil.
Assim que terminar o festival pretendo iniciar um movimento entre documentaristas para tratarmos desses problemas. Gostaria de encontrar soluções práticas para o documentário brasileiro sobreviver de uma maneira que não seja apenas fazendo homenagens ou vivendo tão preso a regras feitas por pessoas que não tem qualquer compreensão do trabalho, apenas preocupações burocráticas e que protegem quem não deveria ser protegido. Chaim Litewski, diretor que venceu o É Tudo Verdade em 2009 com “Cidadão Boilesen”, por exemplo, está há anos tentando fazer um filme sobre PC Farias. Alguém acha que a família vai dar uma carta de anuência para a ANCINE?
A locução é da Rita Lee e, ao longo do filme, entendemos o motivo desta escolha. Como foi o contato com a cantora?
Pedro Asbeg – Este sempre foi um filme que imaginei contar com um locutor. Aos poucos fui percebendo quantas eram as razões para ter a Rita fazendo esse papel. Além de ser uma verdadeira pioneira e rainha do rock brasileiro (e também corintiana), ela trazia um frescor feminino em um filme basicamente masculino. Por fim, ela viveu em 82 um episódio emocionante que tratamos no filme. Foram dois anos de tentativas e negociações até que conseguíssemos ter a Rita no filme, para apenas uma muito agradável tarde de gravações. Não tenho a menor dúvida de que valeu a pena.
Você já está trabalhando em algum outro projeto?
Pedro Asbeg – Estou atualmente iniciando o processo de montagem de um filme que dirijo com meu amigo Renato Martins. Filmamos em 2005 os últimos 10 jogos da “Geral” do Maracanã, mitológica e popular área do estádio que reunia aqueles de menor poder aquisitivo. Hoje, às vésperas da Copa e com milhões de reais gastos com dinheiro público, percebemos que o fechamento da Geral foi uma parte do processo de “limpeza” pelo qual passam nossos estádios e outros ambientes públicos em geral. É sobre essas questões que trata “Geraldinos”.
Você disse que as entrevistas mais emocionantes para você foram as dos ex-jogadores Magrão (Sócrates) e do Casão (Walter Casagrande). Pode contar um pouco mais como foi a relação deles com o filme? Chegou a mostrar algum trecho para o Sócrates? E o Casagrande, já assistiu?
Pedro Asbeg – Sim, considero estas as entrevistas mais emocionantes que fizemos para o filme, pois além de terem trazido depoimentos bonitos e sinceros, os dois são também meus ídolos de infância.
Gustavo Gama (produtor executivo do filme e co-diretor de “Bernardes”) e eu estivemos com o Sócrates em 2011. Tivemos a chance de mostrar a ele um promo do filme e esse encontro foi igualmente emocionante, pois ele estava muito entusiasmado com o projeto. Infelizmente não está aqui para ver o resultado final. O filme, inevitavelmente, é também uma homenagem a ele. Ainda não consegui mostrar nada do filme para o Casão, torço muito para que ele possa ir à sessão no dia 10.
Afinal, você é corintiano?
Pedro Asbeg – Sou torcedor do Flamengo, fanático por futebol e admirador da história da Democracia Corinthiana. Talvez por isso (espero), o filme gere interesse aos que torcem para qualquer time e mesmo para aqueles que não gostam de futebol. Afinal, os temas que costuram o filme são nacionais e até universais.
Pedro Asbeg é formado em cinema pela University of Westminster, dirige e edita documentários. Recentemente, montou os filmes de longa-metragem “Carta para o Futuro”, “Copa Vidigal”, “Enchente”, “Vou rifar meu coração” e “Cidadão Boilesen”, vencedor do festival de documentários “É Tudo Verdade” em 2009. Em 2011 dirigiu seu primeiro longa-metragem, que estreou na Première Brasil do Festival do Rio. Atualmente produz seu terceiro longa-metragem como diretor, “Geraldinos”.
Horários de exibição de “Democracia em Preto e Branco” no Festival É Tudo Verdade 2014
Rio de Janeiro
Espaço Itaú Botafogo – SALA 4 – Praia de Botafogo, 316 – Botafogo
05/04 sábado – 21h
06/04 domingo- 15h
São Paulo
Cine Livraria Cultura – Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073
10/04 quinta-feira – 21h
11/04 sexta-feira – 15h
www.estadao.com.br
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“Tudo no time era decidido no voto entre jogadores, comissão técnica e diretoria que tratavam também sobre escalações, local de concentração e análise do campeonato. Os votos tinham peso igual entre os atletas, técnicos, funcionários, diretoria e presidente.”
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