Após 30 anos, Democracia Corinthiana ainda provoca emoção, apoios e conflitos
Nesta semana, no cine Cultura, em São Paulo, foi apresentado o documentário “Democracia em Preto e Branco”, do diretor Pedro Asberg, dentro do festival de cinema “É tudo verdade”.
Um belíssimo documentário. É emocionante para todos os corinthianos que viveram aqueles dias repletos de discussões, conflitos e paixões.
O documentário está centrado em um tripé, que se entrelaça o tempo todo: a Democracia que nasce no Corinthians, a ditadura que o Brasil vivia e a participação do rock n’roll.
A parte do movimento corinthiano é de uma emoção só. Rever aqueles gols e jogadas do grande time de craques da Democracia é sempre um prazer único. Os toques de Sócrates, Zenon, Biro-Biro, Casagrande e todos mais é inesquecível. Foi também emocionante ver as gravações da época com as opiniões dos jogadores e dirigentes que realizavam aquele movimento sem precedente no futebol brasileiro.
Eram craques nos pés e na cabeça.
Creio que neste campo (da Democracia Corinthiana) faltou um ponto: a incrível resistência que houve -especialmente na imprensa desportiva- pela idéias dos jogadores. Quem vê o documentário pode sair com a falsa impressão de que todos apoiavam a “Democracia”. Nada disso! Alguns eram contra porque defendiam a ditadura (e os jogadores a incomodavam); outros porque não conseguiam apoiar nada que saísse do Corinthians. Os demais eram contra simplesmente porque nunca aceitaram discutir.
A maioria da mídia não só foi contra, mas também foi raivosa. Eram ataques fortes e diários ao título de “baderneiros, maconheiros, bagunceiros, bêbados” e outros tantos xingamentos.
Perdeu o documentário a oportunidade de ouvir muitos dos que foram contra a Democracia. Alguns eram (e são) nomes famosos na mídia do futebol.
Ao ouvir os poucos que defenderam, o filme protege aqueles que atacaram e tudo ficou por isso mesmo. E, principalmente, dá uma falsa ideia aos que não viveram aqueles dias.
Injusto e equivocado foi colocar somente no ex-presidente Matheus e no jogador Leão no núcleo contra o movimento. Faltaram muitos. Inclusive a visão dos outros clubes e jogadores.
A parte relativa a ditadura faz o mesmo caminho que o cinema nacional vem trilhando: denuncia a violência da polícia e mostra a revolta da população.
Está mais do que na hora do cinema brasileiro sair desse “mesmismos”. A ditadura não foi só a polícia e as bombas nas ruas. Houve muito apoiadores que, nos dias atuais, estrategicamente, reescrevem sua biografia. E, por mais incomodo que possa ser, devemos admitir que a ditadura teve apoio não somente da polícia e das bombas. O ex-presidente Médici foi aplaudido no Maracanã. Por mais que esses fatos incomodem, eles não podem ficar escondidos.
Mas é sempre difícil olhar para este período. Como foi difícil para a França e Itália no pós-guerra.
A parte que dá ao Rock n’roll uma decisiva participação na luta contra a ditadura é exagerada. Não me lembro da contestação desta área. Não havia músicas censuradas, nem cantores exilados, cassados ou presos como havia em outros setores artísticos.
Naquela época, sofreu muito a música popular brasileira (e até a música clássica), onde havia um monte de punidos pela ditadura.
O fato do Casagrande gostar de rock não transforma este gênero em revolucionário. Um equívoco só. Quase uma agressão aos músicos da MPB que sofreram o “pão que o diabo amassou”.
Mas nenhuma dessas ressalvas retiram a importância do documentário.
Ele é emocionante e mostra um dos mais belos movimentos vivido pelo Timão e pelo Brasil.
www.blogdocitadini.com.br
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Por onde começar?
“Alguns eram contra porque defendiam a ditadura (e os jogadores a incomodavam); outros porque não conseguiam apoiar nada que saísse do Corinthians. Os demais eram contra simplesmente porque nunca aceitaram discutir.”
Eu por exemplo era contra porque se tratava de uma grande palhaçada, baseada em muitas exigências e “direitos” e nenhum compromisso e obrigação.
” o filme protege aqueles que atacaram e tudo ficou por isso mesmo. ”
Protege por que Citadini? Por um acaso era obrigado ser a favor?
” Houve muito apoiadores que, nos dias atuais, estrategicamente, reescrevem sua biografia”
Alguns sim, mas do outro lado são muito mais os que reescreveram, dizendo que lutaram pela democracia. Estes sim conseguiram reescrever a História. Quer uma prova? Aí vai:
” devemos admitir que a ditadura teve apoio não somente da polícia e das bombas. O ex-presidente Médici foi aplaudido no Maracanã. Por mais que esses fatos incomodem, eles não podem ficar escondidos.”
Não DEVERIAM ficar escondidos, mas estão sendo, cada vez mais.
A minha grande crítica àquele movimento é que ele misturou alhos com bugalhos. PAISES tem que ser democráticos, algumas regras da democracia NÃO se aplicam a empresas nem a times profissionais.
No Timão da Democracia cumpriam-se as “escrituras”: Futebol joga-se Primeiro com a Inteligência e Depois Pés. O time mais cerebral que vi jogar.
POR EXEMPLO, quem assistiu Corinthians 5 x 1 Palmeiras sabe do que estou falando. Neste dia, o grande Luis Pereira conversou com Sócrates para ficar só nos 5. No estádio, eu vi os dois conversando no meio de campo enquanto o Palmeiras atacava. Os repórteres confirmaram a conversa depois com os jogadores.
Além disso, foi o único grupo de jogadores que participou do movimento pela democratização do país. Do ponto de vista político, isto já basta.
“Primeiro com a Inteligência e Depois Pés. O time mais cerebral que vi jogar”
Se foi assim toninho, como você explica que esse time
Leão, Sócrates, Casagrande, Eduardo, Biro-Biro e Zenon. Agachados: Mauro, Alfinete, Paulinho, Juninho e Wladimir;
só ganhou paulistas e ficou em 10º no Brasileirão de 83?
Mario: não podemos nos esquecer que nos inícios dos anos 80, o Campeonato Paulista ainda era mais importante do que o “Campeonato Brasileiro” (aspas, porque em muitos anos foram meros torneios).
Você deve lembrar-se que o “Campeonato Brasileiro” iniciou-se somente em 1971 e era um torneio que servia principalmente para as negociatas políticas principalmente da ditadura. Os diversos nomes eram a prova da bagunça do nosso futebol na época. Iniciou-se como “Campeonato Nacional de Clubes” (71-74), depois “Copa Brasil” (75-80), “Taça de Ouro” (81-83), “Copa Brasil” (84-86), “Copa União” (87-89), etc.
Os estaduais, por sua vez, eram verdadeiros campeonatos. Na maioria esmagadora das vezes, com times fortes na capital e no interior. Nos anos 90, houve de fato uma inversão, e o Campeonato Brasileiro da Série A (a partir de1989) começou gradativamente a ganhar mais importância do que os estaduais.
Não quero com isso tirar o mérito dos clubes que foram “campeões brasileiros” ganhando copas, taças e torneios na época. Mas, tanto o campeonato Paulista como o Carioca eram mais importantes do que estes torneios.
Tendo participado da invasão de 76 não posso concordar. Com toda sinceridade, nunca vi nada parecido com aquilo em São Paulo. Foram duas semanas em que só havia um assunto: Corinthians.
“Tudo no time era decidido no voto entre jogadores, comissão técnica e diretoria que tratavam também sobre escalações, local de concentração e análise do campeonato. Os votos tinham peso igual entre os atletas, técnicos, funcionários, diretoria e presidente.”
Alguém concorda com isso?
Eu não concordo com isso, Mário. E não concordo com outras coisas que ocorreram à época também.
Mas esses “equívocos” são acidentais perante o seguinte fato essencial :
No país do futebol, os jogadores do Corinthians foram os únicos que coletivamente participaram do movimento pela re-democratização do país. Na minha opinião, do ponto de vista político, isto já basta.
em tempo: jogadores, diretoria e funcionários
“os jogadores do Corinthians foram os únicos que coletivamente participaram do movimento pela re-democratização do país. Na minha opinião, do ponto de vista político, isto já basta.”
Nisso estamos de acordo toninho. Minha critica é toda baseada no que fizeram (e não fizeram) como jogadores.
Coincidimos! Shalom e ótimo Pessach, Mario !!
Obrigado toninho, o mesmo para você e sua família