Sep 2, 2014

Uma entrevista esclarecedora. E estarrecedora!

O presidente Mário Gobbi deu uma longa entrevista no domingo, na TV Gazeta, no programa Mesa Redonda (Confira aqui trechos da entrevista). Falou de todos os problemas do futebol (e do Corinthians) e deve ter deixado perplexos os corinthianos pouco informados que ouviam aquela singular manifestação.

Falou que o futebol vive uma grande crise; que os clubes estão gastando o dinheiro que não têm; que os salários de jogadores e treinadores estão muito altos; que se não houver mudança, o futebol brasileiro vai ao colapso; que o projeto do governo tem que vir logo, senão a situação será insustentável. Reconheceu que o Corinthians vive uma dura crise financeira; que está sem dinheiro para pagar as próximas folhas de pagamento; que não tem nenhuma receita das rendas do estádio; que a folha “bate em 10 milhões”; que já adiantou receitas futuras da TV, da CBF, da Federação Paulista e de outros parceiros de publicidade e da parceira de uniforme; disse que não deu certo a compra do Alexandre Pato; que a política de parcelamento dos direitos dos jogadores está errada e que isso tudo não pode mais ocorrer, referindo-se ao caso Cléber.

A entrevista toda foi numa linha impessoal, mostrando que os problemas são graves e chegaram sem muita explicação. Indicou que o caminho é mudar tudo.

A fala do presidente provoca espanto pois adota um discurso totalmente diferente do que vem sendo dito ultimamente. Quem recebeu -nos últimos anos- os “Relatórios de Sustentabilidade”, ricamente encadernados e fartamente distribuídos no clube, deve ter visto na entrevista do presidente um pesadelo. Nos grossos cadernos com fotos, gráficos e muitas cores, as prestações de contas indicavam uma situação singular de gestão, sem problemas. Equilíbrio entre receita e despesas e uma contínua melhora nas contas da agremiação. Era tudo um engano, como provam as palavras do presidente na TV Gazeta.

Os problemas não são novos e o atual presidente não pode eximir-se de sua cota (grande) de responsabilidade.

Há quase 7 anos ele dirige o clube (primeiro como diretor de futebol e depois como presidente) e sua autocrítica não elimina suas duras  responsabilidades.

Anunciar que o futebol está em crise e que o Corinthians está no meio desta confusão pouco altera o quadro da realidade. Dizer que há dificuldade para pagar a folha dos profissionais (10 milhões) só mostra a pouca responsabilidade fiscal dos últimos anos. O San Lorenzo, que venceu a última Libertadores, tem uma folha que é de, aproximadamente, um terço da que o Corinthians ostenta. E os gastos corinthianos no futebol são altos porque a diretoria assim decidiu: nosso técnico ganha o dobro (sim, o dobro) de qualquer outro treinador do país. Estava desempregado e conseguiu um precioso acerto com o Corinthians. Os salários de nossos jogadores são de dar inveja a todos. O clube aceitou o pedido feito pelos procuradores dos craques que vestem a camisa corinthiana. O Corinthians adotou uma política de pagar comissões (na compra, venda e renovações) que não era coisa comum no Parque São Jorge e na maioria dos clubes brasileiros. A categoria de base “comprou” um exército de jogadores nos últimos anos, alguns sem nunca terem jogado com a camisa alvinegra. Isso tudo vem sangrando nossas finanças.

É claro que a compra do Pato não deu certo, mas não foi esta a única operação danosa para o caixa do clube. Os pagamentos a jogadores que atuam em outros clubes também comprometem claramente o orçamento.

Reclamar por não ter a receita do novo estádio também não altera nada. Isso era previsto e a Arena teria -e tem- que ser paga.

Ao admitir que o clube vive hoje de adiantamentos de receitas de competições futuras, o presidente poderia ter sido mais claro. Deveria ter dito quanto já gastou dos recebíveis futuros da Globo, da CBF, da Nike, da Caixa, da Federação etc. A informação de que esta prática não é recente e que “só entrei nela” não diminui sua responsabilidade. Primeiro porque quando o clube foi assumido no final de 2007 , havia por volta de 19 milhões em caixa (dinheiro da venda do Willian) e a dívida (parcialmente negociada) chegava perto de 50 milhões. Destaque-se que nos anos que antecederam a Copa, as receitas do futebol deram um salto em todos os clubes. A concorrência da TV elevou os contratos chegando a valores nunca vistos e o equilíbrio orçamentário era perfeitamente possível com aquela situação.

O problema de hoje é o gasto excessivo. Gastou-se de forma errada, como o próprio presidente admitiu.

Quando estava na oposição, o Sr. Mário Gobbi tinha uma receita clara para mudar o clube e chegar-se a um equilíbrio orçamentário. Uma “reengenharia” seria feita e pronto: tudo se resolveria. Ele atormentava o Conselho com longos (e profundos) discursos sobre o que deveria ser feito para mudar a realidade do clube. Nada ocorreu.

A entrevista na TV Gazeta choca muitos corinthianos, especialmente os pouco informados sobre o que se passa nos bastidores.

Tragicamente, a situação é pior do que a revelada pelo presidente. Bastaria ele explicar (sem rodeios) os adiantamentos de receitas e que as cores da crise ficariam mais complicadas ainda.

A entrevista no Mesa Redonda só traz uma conclusão sobre o quadro crítico das finanças do Corinthians. Quem dá esta conclusão é o próprio presidente Mário Gobbi: precisamos mudar tudo. E rápido.

 

15 Comments

  • realmente a entrevista choca, agora, com o que o clube arrecada a MAIS que os outros clubes em patrocínio e tv (considerando o que é divulgado, claro), só teríamos menos receita que o flamengo em função de termos “perdido” a renda do estádio.

    espero que não venham novos tempos de regis pitbul, adrianinho e outros….

  • Sou sócio do clube, Roque.
    Cadê o Raul Correa?
    Sumiu?
    Nao dá entrevista?
    Com a palavra, o financeiro do clube.

  • É então, que isso fique claro para algumas pessoas que comentam aqui no blog, que vivem no “país das maravilhas” e sempre quando se falava mal da diretoria tinham verdadeiros “xiliques”.

    Pois é, como sempre preguei, não existe mágica, acreditar que o clube estava indo de vento em polpa, sem questionar como, é coisa de quem gosta de ser enganado… creio que quem acreditou nesta gestão são os mesmos que acreditaram que o país estava no rumo certo, que se beneficiaram dos programas sociais do governo, e esqueceram que estes por si só, não são suficientes para avaliar o desempenho de um país inteiro…

    Não é coincidência que na mesma semana que o clube anuncie uma de suas mais graves crises o IBGE também anuncie o encolhimento da economia pelo segundo trimestre seguido, afinal a gestão do clube, infelizmente está diretamente ligada, pelos mesmo princípios, da gestão do país… pegar crédito, gastar, investir em políticas populistas e eleitorais, sem se preocupar com o dia em que a conta chegar. Pois bem, chegou!!!

    Quanto a oposição, da qual o nosso digníssimo blogueiro faz parte (e olhe que sou um admirador dele), essa, assim como ele, também tem grande parcela de culpa pelo clube estar nesta situação, afinal, se até alguns jornalistas mais bem informados, sabiam que a situação não era favorável, como pode conselheiros, que tem a OBRIGAÇÃO de fiscalizarem, e se manifestarem contra abusos na gestão, até então terem ficados quietos, inertes sobre tamanho desmando???? E olhe que conhecimento técnico para interpretar as contas e os relatórios é o que não falta, afinal o Citadini é conselheiro de um tribunal de contas, especialista no tema!!!!

  • ta todo mundo na pindaíba..inclusive o nosso soberano..porem com as vendas do evangelista e do douglas, a situação esta mais amenizada

  • Olha, a situação é terrível. Eu sempre achei que o Luis Paulo tinha reorganizado as finanças do clube, e defendi a permanência na direção. Ainda acho que ele foi bem, e melhorou as receitas. Mas o problema é a que preço tudo isso aconteceu. O preço foi alto. E as consequencias serão danosas… Para ter equilíbrio financeiro, o clube precisava vender jogadores, mas os direitos deles estão fatiados entre empresários…

  • Roque, voce gosta de barulho, enquanto presidente do cori pouco fez para impedir os desmandos dos presidentes!

  • Parabéns pelas corajosas palavras, Sr. Citadini !

    Não faltarão aqui, os covardes lacaios de sempre para instiga-lo.

    Espero que mantenha-se vigilante e crítico, para o bem do Corinthians.

    Estamos no fim de uma era, que embora com alguns méritos, finalmente vai acabar.

    Tal qual o PT, o atual grupo Renovação e Transparência (sic), deveria resignar-se e assumir suas mazelas e incompetência administrativa.

    Saiam do poder em quanto ainda podem faze-lo espontaneamente, com as próprias pernas… e sem que a torcida precise usar a força !

  • Corromper tudo e todos gasta muito dinheiro e o curintia vem torrando muito para ganhar esses títulos, desde do BR de 2005, passando pela lavagem de dinheiro do Kia e culminando na farra do dinheiro publico para mundial e estadio, quando o dinheiro acaba os tapinhas nas costas diminuem, os amigos se afastam, a tendencia e vir um era negra, tomara que não, mas é o preço a se pagar pela desonestidade!!!

    • É, se o Corinthians fez isso, imagine o time da globo, que a anos vem chafurdando em crises financeiras abismais, e devendo até as cuecas… corrupção lá pros lados dos times do rio é coisa que vem de berço…

    • James Fla, do dinheiro do Kia nós já pagamos com juros e correção (vide jogar a segundona).Quanto a farra do dinheiro público, sugiro se informar. O estádio do Corinthians será pago. Aliás uma das razões na falta de dinheiro agora é justamente por conta desse pagamento.

    • Meu Deus, que fim de feira virou esse blog.
      Torcedor de time do RJ vindo aqui falar em honestidade?? Que piada.
      RJ e honestidade são como água e óleo, não se misturam.

  • Citadini, se tens amor ao Corinthians, candidate-se a presidente. Já passou da hora do senhor assumir esta responsabilidade.

  • Esta certo o presidente, quando diz que tem que mudar tudo.O Mano Menezes, ganha um dos maiores salários entre os treinadores do Brasil.Mas vem,PAULO CEZAR GUSMAO, GILSON CLEINA,WAGNER MANCINI,CRISTOVAO,JORGINHO, NEI FRANCO e todo mundo da um no tático no MANO.Nao se concebe o CORINTHIANS perder do BRAGANTINO.E o mesmo que colocar uma FERRARI diante de um UNO MILLE, e resultado for a vitoria do FIAT.Um time que não tem um batedor de faltas que se preze.A reposição de bola do goleiro CASSIO e horrível.
    E sabido que ,escanteios cobrados nadirecao da marca do penalty, invariavelmente resultam em gols ou jogadas de perigo.So o MANO nao ve isto.Lembram de quando o CORINTHIANS
    fez uma partida de encher os olhos.O CRUZEIRO, com jogadores que não chegaram a serem titulares no CORINTHIANS, casos de NILTON, EVERTON RIBEIRO, WILLIAM, esta dando show no Brasileirao.O CORINTHIANS e time pra jogar pra frente.Acorda DIRETORIA.Vao esperar oque pra mandar o MANO embora?

    • Creio que o futebol agora, apesar de ser a razão da nossa existência é a coisa menos importante… agora tem que se mudar essa diretoria a qualquer custo, pois esses “nós” táticos dentro de campo é resultado das negociatas de diretores, conselheiros e empresários que comandam o clube… ou acontece um choque de gestão, mas um choque de verdade, que atinga diretoria e 90% do conselho vendido que temos, ou os próximos anos serão iguais aos que o flumined estaria vivendo se não fosse um corja carioca para virar a mesa… infelizmente o negócio será feio, de regis pit bull para baixo!

  • Caro Roque Citadini,
    Como fica estas coisas perante o conselho do clube e também juridicamente. Este senhor e sua trupe falavam maravilhas sobre as finanças e o futuro do clube, agora vêm com esta entrevista. Eu pergunto será que como presidente este senhor não enxergou isso em 2013 ao contratar o Pato pelo preço absurdo e ainda ficar com 60% do seus direitos federativos. O que passa a impressão é que o Corinthians é uma grande “teta” e que só tem oposição de bazar, pois todos ficam calados ou não tomam a devida atitude interpretando juridicamente esta administração, pois vários além de sócios são conselheiros do clube.
    É inadmissível uma entrevista desta não ter nenhum desdobramento de cobrança em todas as esferas possíveis sobre a gestão atual e a anterior.

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