Sep 23, 2014

O “Chapão” é um erro

A eleição dos membros do Conselho Deliberativo do Corinthians é pelo modelo de eleição majoritária. Quer dizer que a chapa que faz 50% dos votos (mais 1) elege todos os membros do Conselho. Não adota o clube o sistema de proporcionalidade no qual cada chapa teria o número de conselheiros proporcional aos votos. Quem faz 30% do Conselho teria 30% dos membros, por exemplo.

Esse modelo corinthiano é adotado há muitas décadas  mas, nos dias atuais, mostrou um grave erro. Como a diretoria executiva é eleita pelos sócios -no mesmo pleito- quem vence a eleição presidencial leva tudo: Conselho Deliberativo e Cori (Conselho de Orientação e Conselho fiscal). A mesma maioria que elege a Direção Executiva fica com controle completo de todos os órgãos do clube.

Esta é, sem dúvida, uma das razões da nossa crise atual (que deverá ser agravada nos próximos anos). Com controle absoluto de todos os órgãos, a direção passou a informar de forma equivocada o que ocorria na gestão.

Um mar de tranquilidade foi pintado nos últimos anos com balanços e “Relatórios de Sustentabilidade” que dariam inveja a qualquer grande grupo econômico. Receitas em alta (o que foi correto) e uma gestão disposta a gastar por todo lado. Mesmo sem dinheiro, foram feitos contratos lunáticos -para técnicos, jogadores etc e estabelecida uma política de pagamento de comissões para tudo: compra, venda e empréstimos (?) de jogadores; renovação de contratos de atletas; contratação de técnicos (ainda que desempregados) e tudo mais. O clube assumiu uma política -nunca usada- de derramar dinheiro à torto e a direito.

Sem receitas suficientes para as aventuras, acelerou o adiantamento de receitas futuras. O que era episódico passou a ser regra geral  e em todos os contratos e os “parceiros” são convidados a antecipar pagamentos futuros.

Com a crise chegando às portas, a política de dividir direitos sobre jogadores com “parceiros/empresários” mostrou toda sua fase ruim. O clube vende, vende, vende e quase sempre fica com migalhas, enquanto os “parceiros” faturam alto. Nesta dança de descalabro até a categoria de Base entrou na liquidação: quase todos os jogadores foram oferecidos  a “parceiros” no desespero de encontrar grana.

Para piorar uma situação ruim apareceram -o que estava bem escondido- as dívidas fiscais que levaram quase a diretoria inteira ser processada na justiça federal. Nesta dança tiveram que fazer um Refis estabelecendo um carnê para as próximas décadas  em que o clube terá um pesado fardo para carregar.

Tudo isso poderia não ocorrer se na eleição do Conselho Deliberativo fosse adotado o sistema proporcional. Uma parcela grande (no caso 40%) dos membros seriam de um grupo não alinhado com a diretoria executiva. Este controle absoluto gerou um estado de informações incorretas que agora compromete todo o clube.

Numa reforma futura do Estatuto do Corinthians  um dos pontos importantes a ser mudado é o estabelecimento de eleição proporcional para o Conselho. Isso não evitaria todos problemas, mas poderia contribuir para que muito do que ocorreu fosse brecado.

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