Sep 26, 2014

Uma mudança necessária.

Em meio a dura crise financeira que o Corinthians foi jogado, um assunto tomou todo mundo de espanto: a antecipação de receitas futuras.

Revelada à conta gotas, em verdade escondida, a crise mostrou alguns itens que necessitam ser analisados. Após uma ação na Justiça Federal por débitos fiscais -que assustou todo mundo- o presidente Gobbi passou a falar outra linguagem na  entrevistas. Aquele mundo de boas notícias que os balanços e “Relatórios de Sustentabilidade” traziam foi solenemente jogado ao Deus-dará. Uma nova história aparece com o presidente mostrando que o clube está em difícil situação financeira.

Foi um choque em todos os membros do clube. De repente o clube soube que não pagou impostos e que precisa de uma Lei para sair do rolo; que o futebol tinha gasto o dinheiro que não tinha; que o Futebol estava pagando comissão para tudo (compra, venda ou empréstimo de atletas); que o clube inovou no pagamento de comissão aos empresários por renovação de contrato e até por contratação de técnico; que fêz um grande parcelamento de débitos fiscais etc. Para agravar, o clube viu-se em situação complicada ao adotar uma política de “parceria” com empresários nas compra e venda de jogadores. Vende, compra, vende compra e quase sempre os resultados -para o clube- são pífios. E descobriu-se que até os jogadores da Base são do esquema de “parcerias”.

Se todos os problemas financeiros são preocupantes, veio uma notícia que agrava mais ainda: o clube adotou a política de antecipar as receitas futuras para enfrentar a situação presente.  Embora o clube tenha apresentado um aumento de receita expressivo nos últimos anos,  as contas continuaram no vermelho. No período pré-Copa, as receitas deram um salto. No Corinthians e em outros clubes, a  TV, a publicidade e os materiais esportivos aumentaram de valor. Mas o clube gastou demais.

As contratações que não deram resultado (o que é sempre um risco no futebol) e as novas idéias de pagamento de comissões para tudo (compra,venda,empréstimo) sangraram e as receitas não cobriram os gastos, embora o clube tenha disputado  quase todas as grandes competições.

O avanço nas receitas futuras é um grave problema que necessita ser analisado sob pena de termos mais e mais problemas. Nosso estatuto pouco ajuda para enfrentar esta situação. A rigor, a Diretoria Executiva, que controla a maioria do Conselho Deliberativo, do Cori e do Conselho fiscal, sem muito trabalho aprova todas as medida de  antecipação de receita.  O presidente Gobbi, ao dizer em público que estava antecipando receita, tomou o cuidado de informar que tinha entrado no mesmo caminho dos dirigentes anteriores. Não é bem assim. As antecipações sempre ocorreram de forma episódica, diferente do quadro atual que foi geral e frequente.

Pelo que informa a direção -sempre de forma confusa e por etapas- o clube já antecipou receita da TV por 3 anos, o que será um grave problema para as contas do futuro. CBF, Federação Paulista, e todas as empresas “parceiras” do clube já tiveram dinheiro sacado da receita futura. No caso das empresas de materiais -pelo que diz a direção á mídia- adotou-se a política de fazer contratos longos, mas com um pagamento inicial de luvas totalmente desproporcional ao usual, deixando ao futuro um contrato quase sem retorno. Também tem problema no parcelamento de dívidas fiscais (os tais Refis) que o clube pagará nos próximos 15 anos. Adotou-se o sistema inverso: aqui os pagamentos iniciais são pequenos e vão aumentando no futuro.

Está mais do que na hora do clube pensar em mudanças. Uma das mais importantes será estabelecer regras que limitem estes quadros de antecipação de receita.  É muito complicado ver o clube fazer contratação ou pagar um contrato lunático para jogadores e técnicos sacando dinheiro do futuro. Torna-se urgente que adotemos um regramento que impeça este tipo de prática. Além de transparência, é preciso ter freios na Diretoria Executiva. Se isso existisse, não faríamos uma contratação por 15  milhões de euros de um jogador problemático.

Sem novas regras, poderá haver uma sequência de antecipação de ganhos futuros com uma gestão comprometendo a outra.

O equilíbrio entre receita e despesa, que o clube urgentemente necessita, só virá com mudanças que limitem estas antecipações.

 

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