Entrevista na ESPN
Veja abaixo parte da entrevista concedida na última sexta, na ESPN.
Tudo bem Citadini? Já está oficializada a candidatura, como é que é esse processo?
O Corinthians é um clube mais complexo do que parece. Eu também sou contra esse negócio de candidatura ficar um ano fazendo campanha, isso prejudica muito o clube.
A eleição é em fevereiro, até o fim do ano se decide, e vamos ver o que o clube vai fazer.
Porque o Corinthians vive um momento particularmente difícil. Nós estamos numa grave crise financeira que nos últimos tempos foi subestimada, mas o clube tem uma dificuldade grande que aparece por todos os pontos: teve que fazer um Refis enorme, nunca fez um REFIS desse, quer dizer, imposto que não pagou – foi até a diretoria inteirinha processada por débito fiscal – mas não é só débito fiscal, o clube está gastando muito no futebol, gastou muito no futebol, eu não estou dizendo que é só salário, mas gastou muito no futebol.
A verdade é que se perdeu a mão e a gestão é uma gestão que produziu um grande buraco nas finanças. O clube vive hoje antecipando receita de tudo: televisão, Nike, empresta dinheiro de empresário, de tudo.
A perspectiva para o ano que vem é muito pior, porque como o clube está fazendo antecipação de receitas, nós vamos ter uma situação difícil.
Veja que naquele momento pré-Copa, quando aumentou-se em todas as áreas, todos os clubes tiveram as suas receitas aumentadas, todos, nos quatro anos anteriores à Copa, que na verdade produziu uma situação falsa de que ia continuar sempre entrando cada vez mais dinheiro, e os clubes, no caso o Corinthians também, acharam que isso ia se reproduzir, ia ser sempre assim e gastavam como não podiam.
A verdade é que qualquer diretoria que tome posse o ano que vem enfrentará uma grave situação, terá que adotar medidas que esta não adotou – porque não quis ou porque não acredita – mas terá que adotar, e o Corinthians tem que resolver alguns problemas sérios.
Se a oposição conseguir botar quatro ou cinco ideias e projetos claros para os sócios, ela tem condição de ganhar a eleição, mas é preciso que ela bote. Se a oposição ficar discutindo quem vai reformar melhor a sauna, quem vai construir um bar melhor na piscina, daí nivela tudo, a situação já tem a máquina, e a situação também tem uma tática, que é anunciar jogador para o próximo ano, que no fundo é uma coisa pra você não discutir o problema. Anuncia que vem o Tevez, anuncia que vem não sei quem lá… que é uma coisa assim pra dizer: “escuta aqui, nós estamos ai com uma folha de pagamento pra jogadores nossos que estão noutros times maior que a maior parte dos clubes brasileiros.”. A folha de pagamento que o Corinthians faz pros outros, não é a dele. A dele então, se juntar o negócio estoura.
Então o clube precisa enfrentar a questão da sua categoria de base que foi destruída. O clube adotou uma política de pegar dinheiro de empresário e entregar participação de jogador. Hoje não adianta o Corinthians revelar jogador, tudo o que revela, tudo o que ele traz da base, o jogador não vai render nada, ou vai render muito pouco, ou quase nada pro clube, e esta é uma política que precisa ser esclarecida. Mas eu acho que é a oposição que precisa dizer isso ai.
Eu, por exemplo, advogo que ou os jogadores de base são 100% do Corinthians ou não tem base, não precisamos ter base. Se for pra fazer essa coisa virar uma barriga de aluguel de empresário, não tem motivo nenhum pra ter base. Ai nós vamos virar um Benfica, um Porto, e esses clubes não são padrão para nós. Queremos trabalhar com os outros que não tem esse procedimento de virar um clube de aluguel.
Então isso precisa ser decidido, mas a oposição precisa colocar esse debate. Se nós ficarmos caindo: “Quem vai ser o próximo técnico?”. O próximo técnico não tem nenhuma importância, quem for. A única coisa que precisa ficar decidida do próximo técnico é que não pode ganhar o que ganha.
Não dá. Esse salário que nós estamos pagando de técnico é o maior salário do país, o dobro de qualquer outro técnico de qualquer outro time, e eu não sei se não é um dos maiores salários do mundo, porque eu duvido que tenha técnico na Europa que ganhe todo mês US$ 300 mil, US$ 400 mil. Então, não adianta a gente ficar numa discussão falsa, ou vai discutir “Vamos trazer o Tevez, vamos trazer não sei quem lá, precisamos contratar.”, nós precisamos resolver a base.
O problema básico: reduzir o gasto com futebol, e é duro, porque você precisa manter uma equipe competitiva e reduzir o gasto do futebol. Eu sei que isso é duro porque quando eu fui vice-presidente de futebol o time vinha daquela equipe de 98,99 e 2000, e pra você reduzir aquilo ali você sofre, mas nós acabamos fazendo bem, tanto que me 2002, quando estava lá o Parreira, acabamos fazendo um bom papel nos campeonatos que disputamos.
Então, o Corinthians precisa uma equipe competitiva, mas precisa pensar, também, que ele tem que trabalhar com a realidade.
Nós temos a questão do estádio, eu já sei que vão perguntar. O estádio não tem nada a ver com a nossa crise. A nossa crise não tem nada a ver com o estádio.
Mas não pode agravar a crise?
Pode. Acontece o seguinte, o estádio, nós sabíamos de antemão, bem antes, que o clube perderia bilheteria do estádio para pagar a dívida, que é R$ 1 bilhão e pouco e tem que ser paga. O clube não se preparou pra isso. Aliás ao contrário, acreditou que iria ter mais bilheteria e gastou mais. Então o estádio não é problema. É um belo estádio, é uma arena bonita, moderna.
Eu acho que a oposição também deve colocar claramente que não pode “pacaembunizar” a arena do Corinthians, quer dizer, virar um negócio que ninguém paga, criança não paga… criança que não tem dinheiro, não paga, mas tem criança rica que pode pagar. Pessoa de idade não paga, mas espera ai! Se tem dinheiro tem que pagar. Tem que ter ingresso popular, mas tem que também cobrar caro a área VIP do Corinthians.
Então nós temos que manter essa arena. Agora, se a oposição não conseguir montar um conjunto de ideias reformadoras no Corinthians, vai acabar entrando nessa campanha discutindo… ai fica essa coisa: “vou fazer uma sauna, vou trazer o Tevez, não vou trazer o Tevez”, que pra nós, nessa altura, o clube não tem que discutir.
Citadini você falou dos mecanismos que a situação utiliza pensando em vencer as eleições. Você acha que se a oposição não se unir neste momento, essas eleições vão ficar com a situação?
Sou favorável a unir, mas você tem que unir a partir de ideias. Se as pessoas não pensam iguais você não une. Eu tenho um pouco síndrome de união, de fazer essas frentes.
Eu, como já tenho alguma idade, posso dizer isso, ainda quando estava na escola participei de um grupo que apoiava a derrubada do Xá da Pérsia, era da Faculdade de Direito. E nessa frente para derrubar o Xá da Pérsia entrou todo mundo. Entraram os estudantes, o Partido Comunista, o Partido Liberal, o Partido Democrata e os Aiatolás. Derrubaram o Xá. Três meses depois os Aiatolás engoliram todo mundo e colocaram um regime que hoje é uma das vergonhas da humanidade, que é um regime dominado por religião, atrasado.
Então, sempre que falam um negócio de fazer frente, juntar com um, juntar com aquilo, eu fico pensando: será que nós não vamos estar botando aiatolás, que depois engolem todo mundo? Prenderam os liberais, mataram os comunistas, fizeram tudo e tomaram o poder, ficou um poder da religião. Então, eu sou favorável a você unir, mas eu quero unir sabendo que eu terei condições de defender você, que não pensa exatamente como eu, mas que eu tenho condições de defender o que você pensa.
Se não conseguirmos discutir isso daí, nós não nos unimos. Se ficarmos discutindo só quem vai fazer a melhor reforma da piscina, aí eu estou fora, não quero.
Você falou dos gastos no futebol, excessivos, de fato é uma aberração qualquer clube do mundo pagar salário para quem joga em outro clube, eu acho um absurdo. No caso de clube brasileiro mais ainda, porque nenhum nada em dinheiro, nenhum deles vive a realidade paralela de um Barcelona…
O Corinthians pagou até comissão para emprestar o jogador, não tem cabimento.
Eu queria que o senhor falasse sobre o seguinte: quando foi campeão de tudo, o Corinthians montou um time, o clube montou um time com jogadores, que nenhum deles era uma grande estrela, um time muito equilibrado, muito bem treinado, muito competitivo, ganhou todas as competições que o clube sempre sonhou, e com investimentos maiores não havia conseguido no passado, ao de repente contrataram o Alexandre Pato por 15 milhões de Euros. Como o senhor vê uma contratação como essa de um jogador que nem no Corinthians está agora?
Eu não gostaria agora, depois que a coisa acontece, de você falar: “não, não devia ter feito”, porque muita gente defendeu. Eu acho que contratação de jogador é sempre um risco. Eu sempre cito o exemplo do Gilmar. O Gilmar é o maior goleiro da história do Corinthians, o maior goleiro do Brasil, não tem outro goleiro com tanta importância quanto o Gilmar.
O Gilmar quando foi contratado pelo Corinthians, veio do Jabaquara. Na verdade, o Corinthians foi contratar um médio-volante, um meia chamado Cassiá ou Sissiá, eu não lembro nem direito o nome dele, ai os sujeitos disseram o seguinte: “Tem ai um goleiro, o Gilmar, leva esse junto também”. “Ah! Não quero o goleiro porque nós já temos o Cabeção”. “Não, não, não… leva esse Gilmar”. Até agora não sei nem o nome direito desse volante, e o Gilmar acabou se tornando o grande jogador que todos conhecem.
Então muitas vezes você contrata… esse negócio do Pato, por exemplo, óbvio que tem uma porção de erros, mas eu não gostaria de achar que este erro é um erro maior do que os outros. Ele é maior no dinheiro, né?
Esse é o ponto, o risco é muito grande. O senhor faria um investimento desse em algum jogador do mundo que não fosse o Messi ou o Cristiano Ronaldo? 15 milhões de Euros para um clube brasileiro é muito dinheiro.
Eu não faria porque já tinha ouvido falar que ele era fraquinho lá no Milan. Aquela história de que ele não tem diálogo bom no vestiário, lá ele dizia que era por causa da língua que ele não dominava, mas aqui ele continuou não dominando a língua.
Mas a verdade é que eu teria dificuldade.
Como aliás tenho dificuldade de pagar esses salários de técnicos. Não estou querendo concentrar no nosso técnico. Eu acho que os técnicos conseguiram fazer um lobby no Brasil, todos, quase todos, que eles se passam por gênios, e o clube se não tiver um desses cabeças está roubado.
Vou dizer uma coisa pra você, a diferença entre um técnico que está nesses grandes clubes para um técnico que está em clube médio ou pequeno, é mínima. A única diferença que tem é o salário.
Citadini é sobre isso que eu queria falar. Fala-se muito que tanto a situação quanto a oposição querem Tite para o ano que vem. E ai se discute que o Gobbi poderia fazer já um contrato com o Tite antes da eleição para que o time não comece o Campeonato Paulista sem treinador ou até se passar para jogar a Pré-Libertadores jogue o primeiro jogo sem treinador. Eu queria saber, é mesmo um nome que é unânime entre o presidente e todos… eu acho que são dois, duas pessoas da oposição, acho que o senhor e o Paulo Garcia, é isso?
Não, tem vários
Tá, mas é unânime?
A questão do Tite, eu até tenho boas relações com o Tite, eu que contratei ele pela primeira vez, lá em 2004, e ele é um excelente profissional, mas conforme eu disse, a questão primeira é dinheiro. Se for dentro dos padrões que o Corinthians terá condições de pagar, muito bem, vale qualquer um. Agora, se não for, não contrato, mesmo que seja o Tite do qual eu sou amigo.
Quanto o Corinthians pode pagar hoje?
Precisa ver o quanto ele vai arrecadar. E agora nós vamos arrecadar menos, porque nós já antecipamos muitas despesas. O Tite quando veio para o Corinthians ganhava pouco, lá atrás, depois ele ficou famoso e acabou ganhando muito.
O treinador de 2015 do Corinthians não vai ganhar o mesmo salário que ganha esse ano se você for o presidente?
Não vai ganhar mesmo. Aliás eu garanto a você que qualquer diretoria que for que tenha o mínimo de juízo vai pagar menos.
Eu sei que isso é muito desconfortável porque as pessoas ficam falando assim: “está criticando o salário”, o salário que foi o clube que quis. É verdade, o clube errou. Mas nós estamos discutindo não é a pessoa do Mano Menezes, que aliás eu não tenho nada contra, nem a favor, não estou falando disso, o clube que aceitou contrata-lo. Eu estou dizendo esse exemplo porque eu acho que a oposição tem que se firmar nessas questões.
Por exemplo, o último jogador que revelamos foi o Willian. Depois do Willian não teve mais nada, o resto não teve mais nada. Willian que foi a maior venda da história do Corinthians, US$ 19,5 milhões.
Por que esse calendário eleitoral não foi alterado? Em fevereiro, a atual diretoria, mesmo de saída, vai ter que fazer todo o planejamento.
Seu eu fosse um demagogo qualquer, jogaria nas costas da diretoria, porque, na verdade, eles têm 80% do Conselho Deliberativo, eles poderiam alterar. Mas a verdade é que, lá atrás, quando se fez a eleição em fevereiro, a ideia era que nesses primeiros meses, o presidente era importante estar antes do Campeonato Brasileiro. Foi essa a ideia que teve lá atrás. Eu quero dizer que a diretoria tem 80% do Conselho e se ela quisesse mudar, teria mudado.
Mas a verdade é que quando foi para discutir a mudança, foram colocadas outras mudanças, e aí deu uma briga entre as duas alas da diretoria, que como vocês sabem, a ala do Presidente e do ex-Presidente brigam em qualquer esquina do Parque São Jorge, então, eles se desentenderam por isso daí também.
Citadini, saindo um pouco do Corinthians e falando sobre uma visão geral do futebol, a gente discutiu muito no programa de hoje, vem discutindo, essa questão de união dos clubes, e o assunto do momento é essa briga que o São Paulo comprou por causa de um problema na Copa Sul-Americana, mas ele transferiu a bucha para o Internacional. Os clubes falam tanto em união, mas na hora do aperto cada um tenta resolver o seu problema. Como é que você vê isso?
Essa questão de união, ela é interessante, mas temos que tomar um cuidado. Eu falo pelo que eu conheço e pelo Corinthians. Porque o pessoal quer fazer união para dividir o dinheiro da televisão por igual. Aí não!
Todo mundo que vem gritar para fazer união está querendo olhar para o dinheiro da gente. Fala assim: “Eu queria uma parte do seu dinheiro”. Então, se for para isso, não vai ter união. Agora, eu acho que os clubes precisavam, principalmente pelo desastre que tem sido a CBF na administração dos campeonatos, trabalhar uma agenda. Mas olha, desde já, esse negócio só dá para aceitar divisão igual se a televisão transmitir igualmente os jogos, porque pra pegar e transmitir 80% dos nossos jogos e depois dividir o dinheiro igual não dá. O São Paulo é Rei nisso.
Na negociação coletiva não daria para aumentar o bolo?
Não. Negociação coletiva dá um azar medonho.
Mas poderia ser menos desigual, acho que essa é a questão.
Quando tinha o Clube dos 13, o Corinthians ganhava pouco mais que o Bahia, porque aconteceu o seguinte, quando a televisão começou a transmitir era presidente do Corinthians Vicente Matheus, ele não tinha nenhum interesse na televisão. A televisão não dava vantagem nenhuma, não dava esse dinheiro, era pouco dinheiro, aí ele chegou e falou assim: “eu quero ganhar o que ganha o Palmeiras”. Uma bobagem, errou. Isso daí foi usado o resto da vida.
Então você tinha cinco clubes que ganhavam iguais: Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco, que já não são do mesmo tamanho. Quanto eu estou falando de tamanho, não é por uma questão de grandeza, eu estou dizendo o tamanho na sociedade, que arrasta telespectadores, que compra produto.
Eu acho que a dificuldade de trabalhar com isso daí, com essa questão da união, é o dinheiro da tv. Os clubes a hora que estiverem mais livres, com mais receitas de bilheteria, de forma que diversifique as fontes de receitas, será mais fácil. Agora, de alguma forma, os clubes precisam pensar em assumir a organização dos campeonatos, porque não dá para ser organizado pela CBF.
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Ano que vem será muito difícil… é bom não nos iludirmos…
Citadini, seja a terceira via para termos em quem votar na eleição.
Citadini, você é única esperança para que possamos ver o Corinthians de “cara limpa” novamente. E gigante – o maior de todos – como sempre foi. Siga em frente Citadini. Confiamos e precisamos muito de você!!!
Cliquei Control F.
Digitei: São Paulo…
E não é que apareceu você falando sobre o SPFC nessa entrevista….
Não perdi meu tempo lendo essas asneiras..
Perde tanto tempo falando do SPFC e não viu as atrocidades cometidas no Curica.