Feb 3, 2015
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Entrevista para o Lance

  • Maurício Oliveira – 03/02/2015 – 07:20 São Paulo

Antonio Roque Citadini quer base 100% do Corinthians (FOTO: Alan Morici/LANCE!Press)

O LANCE!Net começa nesta terça-feira uma série especial de entrevistas com os candidatos a presidente do Corinthians. Antonio Roque Citadini, pela chapa 11 “Pró-Corinthians”, de oposição, e Roberto de Andrade, pela chapa 10 “Renovação e Transparência”, da situação, disputam a eleição que acontecerá no próximo sábado, a partir das 9h, no Parque São Jorge.

Na quarta-feira, a entrevista será com Roberto de Andrade. Na quinta e na feira, as entrevistas serão divididas por outros temas importantes, como posicionamento do clube no contexto nacional, incluindo formação da liga de clubes, calendário, Bom Senso F.C. e aspectos econômicos.

PRIMEIRA PARTE

Ex-presidente do Corinthians e do Conselho de Orientação do clube, vice de futebol na era Alberto Dualib entre meados da década de 1990 e início dos anos 2000, Antonio Roque Citadini cresceu nos bastidores na reta final da campanha presidencial e, pela primeira vez, vai disputar o posto maior do clube. Ele chega com a chapa reforçada pelo apoio de Paulo Garcia, que abriu mão da disputa e da quarta tentativa, já que perdeu em 2007, 2009 e 2012.

Citadini concorrerá com Roberto de Andrade, candidato da situação e apoiado por Andrés Sanchez, no pleito do próximo sábado, no Parque São Jorge, sede do clube.

Nesta entrevista ao LANCE!Net, Citadini prega equilíbrio financeiro acima de tudo, diz que o “bom e barato” não existe, ataca a atual geração do futebol brasileiro e provoca até jogadores rivais, como os atacantes Dudu, do Palmeiras, e Pato, do São Paulo.

– Como Dudu tem uns 20 iguais. Sou contra essa coisa de disputar jogador. Temos uma geração ruim. Olha a nossa Seleção. Um horror! E o Pato? Vai ficar marcado na história como um jogador que tem um ótimo agente – diz, com a mesma língua afiada que o marcou na época em que se afastou da gestão Dualib por discordar da parceria com o MSI, cujo grupo era presidido pelo iraniano Kia Joorabchian.

LANCE!Net – A chapa da situação diz que você tem grande rejeição por frequentar pouco o clube e, principalmente, por ter a imagem ainda ligada à do Dualib. Como driblar isso?

Primeira coisa, as pesquisas não mostram essa rejeição. Segundo, dos candidatos, eu sou o que mais frequenta o clube. Terceiro, a matriz dessa coisa que tenho rejeição vem porque dizem que sou só do futebol. Agora, a minha identificação com o futebol é clara: fui diretor de futebol com o Dualib por quatro anos. Peguei o período da Hicks Muse [entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000], tivemos períodos ruins e ótimos, mas sempre fui do futebol. Tradicionalmente, não era o futebol que falava pelo clube, mas isso mudou depois e virou regra.

L!Net – Você comprou essa briga no fim da década de 90, quando o time ainda treinava no Parque São Jorge porque não tinha CT.

Exatamente, por conta disso, diziam que eu era contra os departamento sociais. Mas isso tinha de ser feito porque tínhamos parceria para o futebol, não para os outros esportes como basquete, tênis e outros. E tanto era certo que acabou ocorrendo. Hoje, o clube trata o futebol separado do ponto de vista da gestão orçamental e porque está fora do Parque São Jorge. O time treina na (Rodovia) Ayrton Senna, joga no estádio e há jogadores que seguramente nunca irão à sede do clube, ao bar da torre, à sirene. Porque o futebol descolou da Fazendinha.

L!Net – Sua campanha se baseia no equilíbrio orçamentário, mas como fazer isso e manter um jogador como Guerrero, que pede US$ 7 milhões (R$ 19 milhões) de luvas por exemplo, e contratar reforços que cobram salários altíssimos?

Acho que existe uma questão preliminar: se o clube estiver equilibrado, ele tem uma situação que pode torná-lo altamente competitivo. Se tiver uma gestão equilibrada, poderá ter grandes times. Por quê? Porque se começar a pagar salário atrasado, dever para um e para outro, perde a competitividade. Quem ganha título neste país é time que está bem financeiramente. De cada dez, nove ganham e um é azarão. O pressuposto para ser competitivo é ter as contas equilibradas. Até porque a diferença de nossa receita para os outros é muito grande. O presidente do Atlético Mineiro (Alexandre Kalil) disse que todo ano torcia para que Corinthians e Flamengo comprassem um Pato [custou R$ 40 milhões ao Corinthians, no início de 2013] porque isso equalizaria com o que eles ganham. Mostra que, se o Corinthians tiver equilíbrio, passa a ser atrativo para qualquer jogador. E não tem nada a ver com essa história do bom e barato, ouviu? Porque não existe isso, existe ruim e barato o que fazem.

L!Net – O próximo presidente pegará a bomba da renovação do Guerrero. Acha possível pagar o que ele exige?

Acho que a primeira coisa que o presidente eleito terá de fazer é saber como está a saúde financeira do clube. E como vai tocar nos próximos anos. Equilibrando, o Corinthians será mais atrativo para o Guerrero do que qualquer outro clube.

L!Net – O Corinthians prorrogou o contrato com a Nike até 2025 para pagar dívida fiscal, renovou com a SPR Sports (empresa de franchising que administra a rede Poderoso Timão) até 2019 para quitar salários atrasados, não poderá contar também com a bilheteria dos jogos porque está comprometida com o pagamento do estádio. Como gerir o clube com essas perdas?

Esse é um ponto que precisa ser revisto. O clube tem de repensar. A gente deve propor limitações para uma gestão não invadir a seguinte. Tem de ter limite porque se não cada presidente vai ficar sacando no futuro e vai chegar uma hora que vai se tornar inadministrável. É preciso mudar o estatuto.

L!Net – Uma outra ideia que você tem citado é exigir que 100% dos garotos da base pertençam ao Corinthians. Mas é de praxe do mercado os garotos exigirem 30% na primeira assinatura…

Não, mas a Fifa já proibiu agentes de terem direitos econômicos…

L!Net – Mas há clubes hospedeiros, e os pais também podem assumir parte dos direitos pelos filhos.

Mas clube hospedeiro é um perigo porque na própria decisão da Fifa ela diz que vai investigar esses clubes. Clube que não disputa campeonato e tem enorme receita com jogadores vai ser punido, então isso também vai ter de mudar uma hora. Veja, o negócio dos 100% do Corinthians não é uma visão contra empresário, na verdade. O agente do jogador é perfeitamente razoável que negocie salário e tempo de contrato, mas o clube não pode abrir mão do seu negócio. Isso só ocorre por uma certa promiscuidade com dirigentes e agentes. O clube repassa o valor, continua pagando e investindo no jogador e o agente não perde nada, só se beneficia. É uma parceria péssima para os clubes. Na Europa os clubes de peso não aceitam isso. Tanto que obrigaram a Fifa a tomar uma atitude. Isso passou a ser coisa de Portugal e Espanha, que são quase Terceiro Mundo também. No caso do Corinthians, é claro: o clube não revela mais jogador, é raro.

L!Net – Mas os agentes, ou mesmo a família do garoto, têm poder de barganha. Por isso os clubes cedem 30% dos direitos na primeira assinatura…

Mas os agentes decidem porque o clube deseja. Cria-se uma relação de compadrio. Mas entre o jogador fazer um contrato para jogar no Corinthians ou no Atlético-PR… (risos).

L!Net – Vamos citar o caso do Dudu. Por que acha que ele falou que gostaria de jogar no Corinthians, enquanto negociava com o São Paulo e acabou no Palmeiras? Porque o clube está bem financeiramente ou porque a relação dos seus agentes era boa com o clube?

Não sei, de qualquer forma, esse negócio do Dudu só foi bom para os ucranianos. E olha, não é nenhum Rivelino, um Ronaldo, para ter disputa. A briga foi criada pelos agentes. Se fosse um notável, um Romário, tudo bem, mas não vejo motivo.

L!Net – Mas o Corinthians precisava e continua precisando de um atacante, não?

Mas como o Dudu tem uns 20 iguais. Sou contra essa coisa de disputar jogador. Nós temos uma geração ruim. Olha a nossa Seleção. Um horror! Tirando o Neymar, o resto pode jogar tudo no mesmo balaio que não dá nada. A Seleção de agora e a da África do Sul [na Copa do Mundo de 2010] fizeram vergonha e estão com vergonha até agora. Geração fraquíssima! Só é boa para negociar contrato de marketing. Por que isso acontece? Porque os clubes ficaram reféns. Você acha que, se o Corinthians ganhasse o Dudu, faria uma diferença monstruosa?

L!Net – Impossível saber hoje…

Posso lhe dizer que não. Não! Tem meia-dúzia de jogadores que você não pode perder. Se fosse o Tevez [atacante da Juventus-ITA], diria que o Corinthians tinha que ganhar uma briga. O resto não. Estou dizendo que a Seleção Brasileira, tudo ali, com exceção do Neymar, não serve. Conseguem bons contratos porque os agentes são bons, senão não conseguiriam nada. Tanto que ninguém vai ficar na história do futebol brasileiro. Acha que o Pato vai ficar na história? Não, vai ficar na história como jogador que tem um agente ótimo!

L!Net – Quem será o “homem-forte” do futebol do Corinthians para tocar o que você defende? O clube terá um “executivo-estrela” como Alexandre Mattos, do Palmeiras, Rodrigo Caetano, do Flamengo, por exemplo?

Acho que o clube precisa ter um dirigente remunerado.

L!Net – O clube já tem o Edu Gaspar.

Tem o Edu, mas se eu mudar a diretoria, mudo o Edu. Eu sou um candidato de mudança, senão fica a mesma diretoria. É um cargo fundamental. Mas vamos ver. Vamos contratar um profissional da área e de confiança do clube. Não pode ser amigo de empresário. Amizade com empresário nessa área não pode. É aquela história da linha na sala. Quem trabalha para o clube fica do lado de cá da linha. Quem é agente fica do outro. E ninguém ultrapassa a linha.

L!Net –  Vai abrir diálogo com as torcidas organizadas ou fará como o presidente Paulo Nobre no Palmeiras, que rompeu?

Nem romper nem criar privilégios. Tem de ser tratada com respeito e igualdade. Não vai ter torcida privilegiada nem inimiga.

L!Net – Os líderes das principais organizadas do Corinthians costumam se reunir com o presidente assim que ele é eleito. Vai recebê-los na sala da presidência, se for eleito?

Conheço todos eles, não preciso marcar nada. E eles me conhecem também. As relações serão igualitárias e cordiais.

L!Net – O clube pagar ônibus para viagens em jogos foram de São Paulo, ceder ingressos e receber o dinheiro depois…

Não tem isso de pagar ônibus ou outra coisa para torcida. Esse negócio de pagar para torcida é para o voleibol, que o torcedor vai ao ginásio com a camisa do patrocinador. Acho que há uma mudança fundamental nessa relação com a construção da arena. Sou favorável que toda a venda de ingresso aconteça pela internet. Sem bilheteria no estádio, é assim no mundo inteiro. O bilheteiro acabou.

L!Net – Como vai cuidar da Arena Corinthians?

Não terei dificuldade. A primeira razão: Luiz Paulo Rosenberg, que tocou aquilo lá por todo o tempo, depois ele divergiu (da diretoria) e saiu. Não sei se ele quer, mas é uma pessoa fácil de trabalhar e não teria dificuldade porque conhece tudo lá dentro.

L!Net – Acha possível ainda conseguir naming rights para a arena?

Olha, muita coisa mudou. O mercado mudou, o mundo mudou, vai se vender pelo preço que o mercado ditar. Não tem outra alternativa.

L!Net – Sobre ingressos, Rosenberg diz até que o preço do ingresso no estádio deveria aumentar…

Não ouvi ele falar isso. Acho que tem de ter vários preços, o VIP que é caro mesmo e os mais baratos.

L!Net – Sabe quanto está o ingresso?

Sei, eu sou Corinthians VIP, pago caro.

L!Net – Sabe quanto está o valor do ingresso no setor VIP. E nos populares? Ou que deveriam ser populares?

Sei também, que chega a 30 e poucos reais [já com os descontos para o cliente do Fiel Torcedor]. O que estou dizendo é que tem de ter ingressos populares e caros, com o sujeito tendo tudo à disposição, estacionamento e tudo mais.

(Nota da redação: Torcedores reclamam que há poucos ingressos a preços populares)

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