D. Therezinha Zerbini
Morreu, ontem, D. Therezinha Zerbini fundadora do Movimento Feminino pela Anistia. Era uma lutadora pelos Direitos Humanos e pela anistia. Sua luta deu uma enorme contribuição para os esforços que trouxeram o Brasil para um quadro Democrático.
No inicio do anos 70 , quase sózinha, D. Therezinha fundou o Movimento pela anistia. Vivíamos tempos terríveis sob a ditadura do AI-5.
D. Therezinha era mais que corajosa. Era quase impetuosamente irresponsável.
Tendo sido presa alguns anos antes – ajudou alguns padres na organização de uma reunião estudantil- tinha em sua casa um marido que era exemplo de conduta. O General Zerbini, irmão do famoso médico de então, era general legalista e democrático e havia recusado a apoiar o Golpe de 1964. Foi punido duramente mas nunca se arrependeu. Defendia a legalidade e a Democracia.
O marco de fundação do Movimento – que era uma campanha permanente- foi uma missa na Igreja do Largo de São Francisco. D. Therezinha era católica fervorosa e tinha grande amizades com grupos de frades dominicanos que foram duramente reprimidas pelo regime. Eliane – que nunca esqueço- era minha namorada, naqueles primeiros anos de faculdade e participava ativamente do Movimento. A missa foi organizada ao lado da Faculdade de Direito e esperavamos ( eu era instado a estar presente em tudo do Movimento) mas a presença de estudantes foi pequena. O padre – um senhor simpático e velhinho- não havia se dado conta do que era a missa. Quando descobriu ficou apavorado. A Igreja tinha muita gente- a maioria da Policia- e o padre levou uma “prensa” antes da liturgia. Chamou D. Therezinha e disse que não poderia falar a palavra “Anistia”. Ela de pronto disse “fale na reconciliação da família brasileira , isso é a essencia do cristianismo”.
Nem isso foi feito. O padre disse que a Missa era pelos dias dos pais que se comemorava então. Quando a cerimônia terminou fomos literamente expulsos da Igreja. O medo do padre era tanto que chamou os funcionários para fechar a Igreja.
Saímos de lá e fomos a um restaurante vizinho a Igreja. D. Therezinha não se abalou e disse que ninguém segurava mais a luta pela Anistia.
Estava certa. Aos poucos foram avolumando os defensores das idéias do Movimento. Estudantes, parlamentares , familiares de exilados etc. foram se juntando e tornaram a campanha cada vez mais forte.
D. Therezinha percorreu o Brasil inteiro formando núcleos de mulheres que lutavam pela Anistia. Nem sempre foi fácil. Havia uma certa desaparovação dos grupos de extrema -esquerda ( que vinham da luta armada) e era comum ouvirmos que “aquela burguesa” não fazia uma luta revolucionária. Tentaram montar vários ovimento paralelos ” de caráter revoluconário” mas o Movimento Feminino pela Anisitia foi -além de pioneiro– o mais amplo e com maior repercussão na sociedade.
D. Therezinha não tinha medo. Se reunia com padres, madames da burguesia paulista, familiares de desaparecidos, ex-presos, militares cassados etc. Numa desta investida pela propagação do Movimento foi ao Congresso da Mulher Metalúrgica que se realizava em S.Bernardo. O Movimento Sindical começava a retomar lutas e D. Therezinha foi lá fazer campanha. Lula – que seria depois presidente- começava sua carreira sindicalistas e era muito diferente do Lula do PT. Tinha um discurso contra os politicos. Dizia que todos eram iguais, o que agradava ao regime militar. Embora tivesse um irmão membro do PCB ( Partido Comunista Brasileiro) tinha um discurso de crítica a esquerda. Seu discurso de posse na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo- depois estrategicamente escondido- foi uma dura crítica à esquerda.
Nessa linha de não se envolver com a oposição proibiu D. Therezinha de falar no Congresso. E mais. Disse que a Anisitia não era luta para os Trabalhadores. D. Therezinha, tenho a impressão, nunca perdoou o futuro presidente Lula. Quando o Brasil foi redemocratizado optou por Brizola , embora tivesse um amplo leque de amigos na política.
D. Therezinha,que nos deixa nesta semana, deixa um exemplo de luta e determinação. Foi guerreira, foi inteligente, foi uma mulher de dedicou uma vida a uma campanha.
O Brasil deve muito a D. Therezinha. Não sei se a Presidência da República emitiu nota sobre o falecimento. Deveria faze-lo. A Presidente Dilma sabe disso.
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Tive a oportunidade ímpar de encontrar-me com Dona Therezinha. Foi um encontro muito breve. Mas o suficiente para perceber que estava diante de uma mulher grandiosa, muito especial.