Mar 22, 2015

Guerra sem fim

A firmeza da presidenta

Em meio ao tiroteio que enfraquece o governo, Dilma Rousseff cumpriu fielmente a promessa ao Bom Senso

JUCA KFOURIEm primeiro lugar, para acalmar os furiosos, explico que acho presidente mais elegante que presidenta, mas que o tratamento no feminino está registrado em todos os dicionários ainda antes de Dilma Rousseff nascer, razão pela qual, aqui, o termo foi usado pela primeira vez quando Patrícia Amorim foi eleita no Flamengo.

Não significa, portanto, nenhum alinhamento automático a quem quer que seja, a não ser ao atendimento da legítima preferência de quem foi democraticamente eleita e reeleita. Dito isso, vamos ao que importa.

A presidenta cujo governo tem levado justas bordoadas de todos os lados, à esquerda e à direita, agiu de maneira impecável em relação à medida provisória do esporte.

Se há uma falha na MP está em não ter obrigado os clubes que aderirem a se transformar em sociedades empresariais.

De resto, não há nenhuma intervenção indevida do Estado no esporte, apenas há os cuidados obrigatórios do credor a quem lhe deve, há décadas, quase R$ 4 bilhões.

Quer pagar no generoso prazo de 20 anos com uma série de incentivos para saldar a dívida? Pois que se sujeite às condições do credor. O resto é choro de mau pagador.

Estive com a presidenta na terça seguinte ao primeiro panelaço, ato odiento de quem não quer ouvir.

Suspeitei que o encontro agendado na semana anterior nem aconteceria, porque na manhã daquele dia Dilma Rousseff fora hostilizada em São Paulo.

Mas não só o encontro foi mantido como estendeu-se por mais tempo do que o previsto, curiosamente por exatos 90 minutos.

Em seu gabinete no Palácio do Planalto, estavam também o ministro Thomas Traumann e o ex-deputado Edinho Silva, competente articulador da MP.

Ela queria ouvir alguém, como este que vos escreve, sem nenhum interesse específico na medida, a não ser aquilo que considera melhor para o país.

Surpreendi-me com sua serenidade e firmeza num dia tão turbulento. Ela disse e repetiu, ao anotar diversas ponderações, que seu compromisso com o Bom Senso F.C. seria mantido e que resolveria as naturais resistências do Ministério da Fazenda.

Já escrevi aqui e repito que o artigo 217 da Constituição, que trata da autonomia das entidades esportivas, analisado pelo STF, foi objeto de uma decisão unânime da mais alta corte do Brasil, seguindo o relatório do então ministro Cezar Peluso, no sentido de que autonomia não significa soberania, argumento dos que defendem a terra de ninguém em que se transformou nosso futebol.

Saí otimista do encontro, convencido de que o governo estava prestes a fazer um golaço. A última quinta confirmou a sensação.

O que não significa a resolução de todos os problemas nem que se deva baixar a guarda, ao contrário, porque será dura a batalha no Congresso Nacional para evitar que o texto seja estuprado como foram a Lei Pelé e, em certa medida, o Estatuto do Torcedor.

Por enquanto, está 7 a 2. Ou a 6?

www.folha.com.br

3 Comments

  • Juca Kfouri Citadini, sério????? Ele defende o PT e a presidanta (menos elegante, mas muito mais de acordo com a realidade) não importa o que façam. Embora não tenha coragem para assumir é totalmente favorável a que sejam proibidas manifestações contra a quadrilha que nos (des)governa.
    Enrola, enrola, mas no fim não dá para disfarçar, odeia quem não acha o lulo-petismo o máximo. Um exemplo: “Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia” Sério? Quer dizer então que só pode se manifestar quem passa fome?
    Mas tudo bem (na verdade mal), dele eu espero isso, mas por que citá-lo?????? Dá para explicar????

    O texto, como era de se esperar, é de um puxa-saquismo vergonhoso: “Estive com a presidenta na terça seguinte ao primeiro panelaço, ato odiento de quem não quer ouvir.”
    Odiento?????

    A MP em questão é absurda, idiota e COM CERTEZA não é “o melhor para o país” Juca Kfouri!

  • Ops, esqueci de comentar: o Juca ridiculariza o protesto de quem não passa fome, mas se derrete todo pelo de quem ganha CENTENAS DE MILHARES de reais por mês.
    Normal, coerência nunca foi mesmo uma característica dos petralhas.

  • Sua abordagem do assunto foi boa, Citadini. Mas pisou na bola ao citar Juca Kfouri. Esse cara é um dos jornalistas esportivos mais odiados no País. Só faz seu proprio jogo, é camaleão., Muda de cor e partido conforme suas necessidades. Quanto a lei assinada pela presidente, não vai funcionar no futebol. Querer que só haja uma reeleição em clubes, federações e confederações, é algo que a Fifa não aprova. E se o Governo brasileiro insistir, ela simplesmente desfilia o Brasil e o tira das Copas, das competições internacionais e seus clubes não poderão mais jogar torneios oficiais ou fazer amistosos fora do Brasil. Já pensou o Brasil fora de uma Copa ou o Corinthians sem poder disputar Libertadores e Mundial Inter Clubes? È isso que vai acontecer se o Governo brasileiro insistir em peitar a Fifa. Pode acreditar.

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