Entrevista para a Jovem Pan
Veja abaixo o vídeo da entrevista que o jornalista Wanderley Nogueira comandou na Jovem Pan. A descrição também está abaixo.
Uma sucessão de erros. É assim que Antônio Roque Citadini, ex-vice-presidente do Corinthians, resume o que levou o clube a uma crise financeira mesmo após anos de pujança. Para ele, a diretoria atual acreditou que o momento de pujança do futebol brasileiro duraria por muito tempo – o que não aconteceu – e se curvou aos empresários.
Em entrevista à Jovem Pan Online, o candidato à presidência do Corinthians derrotado por Roberto de Andrade, da situação, na eleição de fevereiro deste ano explicou em detalhes os problemas que o clube enfrenta fora de campo. E sugeriu as mudanças estruturais necessárias para colocar ordem numa situação complicada.
JP Online: Como o Corinthians chegou a esta situação, com tantos problemas financeiros, depois do tempo de bonança?
Citadini: Isso aconteceu por se acreditar em milagre. No fundo, o clube estava esperando que uma hora aparecesse alguma coisa milagrosa, porque nos últimos três ou quatro anos a gestão financeira foi muito ruim. Gastou o que pode, comprou cento e tantos jogadores – a maior parte nem aparece, é jogador de categoria de base. No fundo isso vai sangrando. No período pré-Copa, tudo aumentou para os clubes: a publicidade, a cota de TV, a bilheteria. De certa forma, eles se projetaram para uma situação de aumento contínuo, achando que ficaria assim. O Corinthians era o primeiro da lista, pois foi quem deu o maior salto – na televisão, na publicidade da camisa, na renda.
Ninguém pensou que depois da Copa haveria um desvalorização nisso aí, que o país entraria numa crise econômica. Estamos num momento em que as receitas do futebol estão caindo. O Corinthians foi o que menos se preparou para isso. Você tem duas maneiras de resolver esse problema. Uma delas é pensando antes: quando a coisa começou a apertar, poderia ter pisado no freio. Entretanto, contrataram o Vagner Love faz alguns meses, e todos sabem que ele não é um jogador barato. Quando o negócio apertou, começaram a fazer um negócio na categoria de base. Pegavam dinheiro do empresário, e davam jogador da categoria de base. Resultado: hoje não temos hoje categoria de base.
JP Online: O Corinthians mudou a estratégia de contratações de uns anos para cá. Times vencedores como o de 2012 tiveram como destaques jogadores que não foram caros e não eram renomados, mas fizeram seu nome no clube, como o Paulinho. Depois, começaram a chegar Elias, Sheik, Cristian. A diretoria deveria ter mantido a mesma filosofia de contratações?
Citadini: Se o clube está equilibrado, pode contratar jogador barato ou caro. Agora, se ele está sem condições de pagar, não deve contratar. E deve aguentar. A nossa sorte nessa situação toda é que não é só o Corinthians que está em crise: todo mundo está em crise. O São Paulo está na mesma situação ou talvez até pior. A do Palmeiras não preciso dizer nada, a do Santos é conhecida, dos clubes do Rio também. A exceção é o Flamengo que, nos últimos meses, percebeu que precisava ajustar suas contas. Nós não percebemos, e agora temos de fazer o pior ajuste, que é aquele que se faz quando não se tem dinheiro mesmo.
JP Online: Entrou tanto dinheiro no Corinthians e também saiu muito. Existe corrupção no Corinthians?
Citadini: Não. A questão é a seguinte: o Corinthians errou e foi perdulário em uma porção de coisas. Por exemplo, o Corinthians inventou um negócio de pagar comissão para empresário, para compra, para venda, para empréstimo e até para renovar contrato. Com jogador que estava na metade do contrato pagava comissão para o empresário para renovar por mais dois anos.
JP Online: Isso não é um tipo de corrupção?
Citadini: Sei lá. Aí o Roberto de Andrade (atual presidente), que na época era diretor, disse o seguinte: o mercado tinha mudado e tinha que dar dinheiro aos empresários porque senão pegavam o jogador e levavam para outro lugar. Eu acho que foi um erro, porque o Corinthians devia falar “não vou pagar, quem vai pagar é esse jogador que está ganhando um contrato bom, ele que se vire com você”. Isso aí foi algo que sangrou o clube, que entrou numa vertente de gastar, gastar e gastar. Outro fator: com esse negócio de comprar e fazer contrato cada vez maior começa a afetar os jogadores. Isso fez todo mundo querer aumento, pois pensaram que o salário do Pato, por exemplo, era referência. E não é só salário de jogador, não. Esse Mano Menezes ficou um ano no Corinthians e ganhou um salário que pode ficar dez anos sem trabalhar e não vai ficar sem dinheiro. Você acha que um técnico pode ganhar 650, 700 mil?
JP Online: O que deveria ter sido feito num momento em que o Corinthians era campeão mundial, sensação do Brasil, e a diretoria queria se manter no topo num cenário de salários inflacionados…
Citadini: (Interrompendo) E empresário ganhando muito no Corinthians. O Corinthians é a mãe dos empresários.
JP Online: Se fosse o presidente na época, então, o que teria feito para evitar a queda na parte financeira?
Citadini: O que deveria ter sido feito era trabalhar com o tamanho das receitas. Acabou. Você acha razoável contratar um técnico pagando 700 mil? Eu não contrataria, não mesmo, porque a diferença entre técnicos no Brasil é mínima. Tem técnico ganhando 50 mil e tem outros ganhando 750 mil. Por que vou pagar isso? Não preciso pagar. Mas o Corinthians entrou num estado de euforia e acreditou que aquilo ali ficaria para sempre.
JP Online: Quem é o culpado dessa euforia toda? O Andrés Sanchez?
Citadini: Não… Seria fácil encontrar um culpado. Não é (ele), a diretoria toda está envolvida. Você tem de olhar lá atrás, quando se contrata um Rodriguinho pagando não sei quanto, daí paga comissão para empresário. O Corinthians tem de ter mais amor ao dinheiro.
JP Online: Você foi vice-presidente numa época em que o Corinthians fez grandes contratações também.
Citadini: Sim, mas naquela época era diferente. Nós tínhamos uma parceira que pagava para nós, e na verdade era uma situação estruturalmente diferente. A parceira ficava com a receita de televisão, a receita de camisa. O futebol tem racionalidade quando se está ganhando. Quando não se está ganhando, que o clube está precisando trazer jogador, aí a matemática financeira vai para o “beleléu”. Você tem de ter muita coragem para chegar e falar “não”, porque a matemática é superada pela necessidade de ter um time competitivo. Falam da pressão das torcidas organizadas… Sinceramente, as organizadas têm pouquíssima influência nisso tudo. Tem mais influência no Corinthians o “departamento do Canindé”, que é um grupo de associados que joga bola lá de fim de semana, do que as torcidas organizadas.
Todo mundo sabe que eu sou oposição, mas não gosto de ficar de fora, e por isso digo “nós”. Nós, o Corinthians, erramos. O Corinthians tem eleição com voto dos associados, e muitos desses associados, diria que quase a metade deles, não estão nem aí para o futebol. Eles estão preocupados com seu departamento, se a sauna está boa, se o tênis está bem… Então a diretoria fez obra pra tudo quanto é lado no Parque São Jorge, no fundo para atender aquele associado que também vota. A mãe de todas as receitas no Corinthians é o futebol. Na minha campanha, eu dizia que o futebol não poderá indefinidamente bancar as despesas do clube. Teremos de viver um clube social mais modesto.
JP Online: Então quer dizer que o grande adversário do departamento de futebol do Corinthians são os seus associados?
Citadini: Não são os associados, mas aqueles departamentos que só pensam no seu pé, não pensam no conjunto do clube. Esse é um perigo porque o clube acaba tendo que gastar. Veja, existem dois Corinthians: um fora do Parque São Jorge, que é uma nação de 40 milhões de pessoas apaixonadas, que compram camisa, que torcem, que sofrem; e existe um Corinthians lá de dentro, dos quais uma parcela grande não está nem aí para o futebol. Eles falam na minha cara: “não estamos nem aí para o futebol”. É um problema estrutural que nós temos.
JP Online: Então como lidar com esses interesses? Seria necessária uma reforma no clube ou uma gestão mais dura e austera?
Citadini: Precisa de duas coisas: uma gestão austera e aumentar o número de associados envolvidos nisso. Por exemplo, nós agora temos o Fiel Torcedor, que reúne um monte de gente que não frequenta o Corinthians, mas que é de uma grande importância para o clube. Vai chegar uma hora em que vão perguntar por que esse pessoal não pode votar. Por que tem de votar só os quatro mil que estão lá frequentando a piscina, a sauna, e esses cento e tantos mil não podem votar? É uma coisa que tem de ser discutida.
JP Online: A Arena teve influência nesses problemas do Corinthians?
Citadini: Não. Aí que vem aquela simplificação: “o Corinthians perdeu as rendas e agora está sem dinheiro por isso”. O Corinthians sabia que a hora que tivesse a arena, a renda iria para pagar o estádio. Não tem esse papo de ter sido surpreendido. A arena tem uma vantagem que é fantástico assistir aos jogos lá, e eu diria que o Corinthians mudou muito com ela. A sua torcida mudou. As pessoas ficam meio bravas quando digo isso, mas a torcida, aquela coisa de ficar a quatro metros do jogador, dá um prazer de ver o futebol que não há em outros estádios. Você precisa ter uma arena como essa. Acho que o Corinthians, recuperando desta temporária situação financeira, explorando bem a arena, se tornará um clube difícil de ser batido. Acho que também será assim no caso do Palmeiras.
JP Online: Como o Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, ajuda os clubes hoje?
Citadini: Ele não ajuda em nada. A realidade é a seguinte: mudança no futebol brasileiro pode vir de vários lugares, mas tem dois lugares que não mudam nada: a CBF e as federações. Você não tem nenhuma mudança relevante ocorrida nos últimos 50 anos, exceto quando o Ricardo Teixeira fez o campeonato por pontos corridos e em 1958 quando o João Havelange resolveu terceirizar a organização da Seleção que foi para a Copa do Mundo com Paulo Machado de Carvalho. Fora isso, a CBF não tem nada.
JP Online: E por que é assim?
Citadini: Porque as mudanças só podem vir dos clubes ou do governo. Se não for por essas duas vias, não muda nada na essência. Por causa dessa estrutura maluca, em que as federações estaduais, que não são reconhecidas pela Fifa, elegem o presidente. O Corinthians vale menos que a federação do Acre nesse sentido. Em outros países são os clubes que votam. Isso só vai mudar quando o Governo mandar um projeto de lei em que diga que o presidente da entidade do futebol brasileiro será escolhido pelos clubes.
JP Online: E o caminho da criação de uma liga de clubes, que muitos sugerem para resolver essa situação?
Citadini: A liga é um caminho. O problema é que nós já tivemos uma experiência com a liga Rio-São Paulo, que fez o Rio-São Paulo de 2002, que foi um excelente campeonato, e depois acabaram com ela. Nós não temos muita tradição nisso, mas o governo pode ajudar.
JP Online: Então os clubes não tem união suficiente para fazer isso sozinhos?
Citadini: Os clubes não têm união nenhuma. Eu sempre digo que o Corinthians poderia ajudar com seu exemplo, quando acabou com a reeleição. Foi uma grande vantagem para o Corinthians. Por que não se estabelece que todos os clubes, federações e confederações não tenham reeleição? Porque aí você oxigena essas entidades, significa mudar, mexer nisso que está aí.
Você vê a reação contra a lei de parcelamento da dívida porque o governo está fazendo uma ou outra exigência mínima. Se fosse eu o governo faria um monte. Eu sou a favor de proibir a reeleição. Dizem que a Fifa vai protestar, mas a Fifa não protesta coisa nenhuma. Ela não admite que o Governo interfira no futebol, tipo colocando mais um goleiro no jogo, mas se o Governo brasileiro disser que não haverá mais reeleição nos clubes, ela não falará nada. Há coisas que precisam se modernizar, e a lei deveria ser mais rigorosa.
JP Online: O jornalista Juca Kfouri deu uma sugestão que muitos não gostaram: que os presidentes dos clubes sejam responsabilizados com apreensão de bens pessoais e até prisão caso sejam descobertas irregularidades em suas administrações. Você é a favor ou contra?
Citadini: Eu sou a favor. Eu sou favorável a que a direção do clube não seja remunerada e seja perfeitamente esclarecido isso e o cara viva de sua profissão. Agora, sou favorável à punição e também a uma série de medidas, como os dirigentes publicarem seu imposto de renda.
JP Online: Qual foi o maior vexame do futebol brasileiro recentemente: a goleada da Seleção sofrida para a Alemanha, a eliminação do Corinthians na Libertadores para Tolima e Guaraní-PAR ou a goleada que o Santos sofreu para o Barcelona?
Citadini: São coisas diferentes. A nossa derrota para o Guaraní foi muito ruim porque o time deles é muito ruim. Está certo que ninguém é grande coisa nesta Libertadores, mas qual é o jogador deles que poderíamos contratar para o Corinthians? Não veja. Agora, a questão do 7 a 1 para a Alemanha tem outro sentido. Ele foi terrível porque mostrou o buraco em que o futebol brasileiro está.
JP Online: Então você relaciona o 7 a 1 a todos os problemas do futebol brasileiro que discutimos até aqui?
Citadini: Sim, sim. Você não consegue pegar dos dirigentes da CBF e das federações nenhuma declaração de que nós estamos nessa situação vexatória. Se falar com eles, vão dizer que já fomos tantas vezes campeões…
JP Online: Eles não escutaram o recado?
Citadini: Não.
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ESPORTE
Corinthians e Palmeiras têm as maiores torcidas de Maringá, revela pesquisa
torcidas
O Corinthians Paulista, com 24,28%, tem a maior torcida entre os maringaenses, de acordo com pesquisa realizada pelo curso de Economia da Faculdade Cidade Verde (FCV). Os corintianos são quase o dobro dos torcedores do Palmeiras, que vem em segundo no ranking, com 12,80%, como aponta o levantamento, inédito em Maringá. Os são-paulinos e santistas vêm a seguir. Depois dos quatro clubes paulistas, o Flamengo ocupa a quinta maior torcida, com 4,64%. A maior parte dos entrevistas (27,81%), declarou não torcer para nenhum time de futebol.
De acordo com o coordenador de Economia, Sidinei Silvério da Silva, para o cálculo do número de torcedores utilizou-se a população estimada pelo IBGE em 2014. O levantamento foi feito no último dia 23 com 453 pessoas, todos com mais de 18 anos e 51% sendo mulheres e 49% homens, em todas as regiões do município. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos.
Citadini, li a entrevista ontem. Ótimo momento para cobrar sobre o caso Pato, que faz lembrar um pouco o caso Nilmar. Deixaram de pagar direito de imagem, que a jurisprudência do TST equipara à verba salarial. Gastaram 40 milhões para ele sair de graça. Há algo errado nisso tudo…