Entrevista ao Estadão
Os planos de Citadini para o Corinthians
Almir Leite
26 Agosto 2017 | 09h14
Parte I
Antonio Roque Citadini quer voltar à linha de frente do Corinthians. Desta vez, como presidente. Para isso, já se coloca como candidato na eleição de fevereiro de 2018. Às vésperas de completar 67 anos, no início de setembro, o conselheiro vitalício do clube do qual foi vice-presidente entre 2001 e 2004, considera que, independentemente da boa fase vivida no futebol, o Corinthians sofre hoje com vários problemas.
Ele lista os principais: conclusão, financiamento e gestão do da arena (mais especificamente a falta de
um plano de negócios para o estádio que represente receitas efetivas para o clube), a subtilização atual do Parque São Jorge, a falta de investimento nos esportes olímpicos e a ineficiência do departamento
de marketing.
Nesta entrevista ao blog, que será publicada em duas partes, ele conta como, se eleito, pretende resolver esses problemas.
Por que o senhor está se lançando candidato?
A eleição no próximo ano vai se dar numa situação muito diferente da do passado, dos últimos 15 anos. O clube vive hoje uma série de problemas que o atual grupo de dirigentes, que já está lá há dois,
três mandatos, claramente não tem condições de resolver. Eles não conseguem superar esses problemas.
Especificamente em relação ao estádio, quais são os problemas?
Há um problema que está se arrastando desde a inauguração do estádio, na Copa de 2014, que é a conclusão do estádio. O Corinthians tem várias pendências com a construtora (Odebrecht). Não consegue definir afinal o que falta fazer, o que não foi feito, o que foi feito errado, o que precisa corrigir. O clube precisa, em algum momento, sentar com a construtora e conversar. Vamos ver se a gente afinal conclui (o estádio).
Na sua visão, qual o motivo dessa indefinição?
Esta dificuldade ocorre por várias razões. Mas o principal motivo é que a construção do estádio se deu com emoção, com empolgação e faltando alguma racionalidade. Por exemplo: quando você vai
conversar com a atual direção sobre esse balanço final do estádio eles dizem: ‘Tá lá o contrato que é de tanto, etc. e tal.’ Não. Aquele contrato sofreu grandes alterações, muitas das quais autorizadas pelo Corinthians.
Existe um grande impasse…
A verdade é que não se conseguiu até agora chegar com a construtora e concluir o processo de conclusão (do estádio), porque realmente faltam algumas coisas a ser concluídas, mas a construtora diz que
não concluiu aquilo porque construiu outras coisas. Há itens que precisam ser refeitos. Então, o que fica claro nisso é que esse grupo de dirigentes não tem condições de resolver. Por um motivo: porque foram eles que, acertada ou erradamente, fizeram um monte de coisas. E como eu disse: teve muita emoção.
Mas tem um contrato também…
Muitas autorizações foram dadas para a construtora por funcionário do clube, o cara do marketing… Tem lá e-mail mandando fazer isso, fazer aquilo. Agora, numa construção, você manda fazer alguma coisa e tem um custo. Esse ajuste de contas precisa ser feito. Faz quatro anos que o clube não consegue fazer. Não adianta o clube soltar nota pelo jornal dizendo ‘eu não aceito isso, eu não aceito aquilo’.
Isso é apenas empurrar com a barriga.
O que fazer, então?
O que o clube tem de fazer é sentar com a construtora e conversar. Se houver acordo, vai para a conclusão (do estádio); se não houver, vai para a arbitragem.
Existe uma auditoria que, ao que parece, foi concluída…
A auditoria demorou porque o Corinthians não quer olhar para a auditoria. O Corinthians está com uma síndrome, de ele não querer ver os problemas. A atual direção não quer ver os problemas. Como
para resolver um problema a primeira coisa é olhar para ele e constatar, eles não querem a auditoria, que é relevantíssima, porque vai dar ao Corinthians embasamento para conversar com a construtora.
Sem esse embasamento vai ficar uma conversa de louco, cada um fala uma coisa. Agora, o Corinthians quase que não quer a auditoria. Porque não forneceu dados, procurou trabalhar de forma a protelar…
Como se fosse possível fazer um acordo com a construtora sem o clube estar ciente dos seus problemas e das soluções.O que é básico nisso aí: o pessoal que fez a construção não tem condições de solucionar.
Mas o estádio é positivo para o Corinthians.
O estadio é belíssimo, agradabilíssimo, importante para o Corinthians, a torcida assumiu.A mais importante missão da próxima gestão é resolver o problema do estádio. Resolver bem. A primeira
missão é entender que o estádio é muito importante. Ele tem sido um diferencial para o Corinthians, você vê o Corinthians jogando lá e vê em outro lugar, o clube tem ganho esportivo com o estádio.
Portanto, nós precisamos fazer uma boa solução com a construtora. Ou vai ser no acordo ou vai acabar tendo numa arbitragem, mas deve chegar um momento e solucionar.
Que motivos teria a diretoria atual para não solucionar?
O Corinthians tem uma coisa que não quer assumir… a abertura da Copa do Mundo custou 100 milhões. O Corinthians se responsabilizou, mas porque, diz o Corinthians, havia uma conversa que o governo do
Estado e o governo municipal bancariam. Não bancaram. E aí o clube gastou 100 milhões. Eu defendo (a tese de) que o clube não construiria aquele estádio se não fosse para a Copa. Eu sempre defendi o estádio, não é por uma questão eleitoral que vou falar mal do estádio. Eu falo que precisamos superar isso daí, resolver o problema e assumir até os nossos erros. Esse negócio da abertura da Copa, por exemplo: se nós aceitamos, vamos ter de encontrar solução.
Como solucionar?
Temos com a construtora vários pontos. O que falta terminar, o que não foi bem feito, tem coisas que precisam corrigir, algumas coisas que o Corinthians não autorizou, o clube tem de mostrar. Isso tudo
não se resolve não é por causa da construtora. Não se resolve por causa do Corinthians. Quem tem de dar o passo é o Corinthians e dizer: olha está aqui a lista de coisas que vocês não fizeram, que
precisam fazer e aí eles vão dizer do lado de lá (se é isso ou não). Porque como teve um monte de gente que acabou se envolvendo, muitas coisas não estão claras. Nos temos de salvar o estádio, nesse sentido
de que é importante para o Corinthians. Ponto.
E o financiamento da arena?
Esse é o segundo problema. É com a Caixa. Nós temos um empréstimo do BNDES que é um empréstimo bom, os juros são bons, são iguais a todo mundo, que o Corinthians precisa pagar e vai pagar. Não tem outra alternativa. Agora, este negócio com a Caixa, quando foi feito lá trás, o país era um país onde tinha dinheiro sobrando. Estabeleceu-se um plano de negócios que hoje não fica em pé porque o País mudou.
Nós temos de ajustar a nossa relação com a Caixa e pagar, como qualquer credor faz.
Tem a questão dos Naming Right…
Não tem naming right porque não tem empresa (interessada). Não adianta o Corinthians ficar vazando todo mês que está 90% perto de fechar um acordo. E o que é pior: como não tem, corre o risco de
negociar com picaretas.Tem de negociar com empresa séria, que vai ficar 20 anos anunciado lá.
O Corinthians também está sem patrocinador master há vários meses…
O marketing é outro grande problema no Corinthians. Nós vivemos uma situação difícil de acreditar. A Caixa só cancelou publicidade no Corinthians. O clube está fazendo uma campanha histórica no
Brasileiro e joga sem anúncio principal. É uma incompetência absoluta do marketing. Uma empresa que deixou (de patrocinar), embora tenha continuado em todos os outros clubes. Ninguém sabe o motivo real (de não renovar). O que fica como problema é que nós precisamos ter uma atuação de marketing mais agressiva, que nos dê receita.
Parte II
Há vários espaços na Arena que ainda não foram negociados…
Há problema de gestão do estádio. Foi entregue para a Omni, que só existe no Corinthians, pro Corinthians e com o Corinthians. A ideia que todo mundo falava, inclusive a diretoria, é que a gestão do estádio seria dada para uma grande empresa, americana, e com isso o clube iria ter receita para pagar a Caixa, para pagar outras despesas, para a manutenção, modernização… Ocorre que a Omni é uma empresa pequena, limitada a trabalhar no Corinthians e não está produzindo os valores para a gente poder pagar a Caixa, porque a exploração do estádio não está se dando na forma como era o projeto.
É óbvio que tem dificuldade, mas nós temos o estádio cheio em qualquer situação, com o time bom ou mau. No começo do ano, canibalizaram os preços dos ingressos altos, sem nenhum sentido. Que
se reduza o preço dos ingressos baratos, no setor popular, ótimo. Agora, que se canibalize os setores caros do estádio, qual é o sentido disso?
O trabalho da empresa deixa a desejar?
Todos os clubes que têm esse programa de sócio-torcedor alegam que, hoje, é a maior receita dos clubes. E precisam ser para nós. Não temos dificuldade. Lotar o estádio é um problema que não existe para
o Corinthians. Mas ela (Omni) é uma empresa limitada e é uma situação assombrosa o fato de só trabalhar para o Corinthians. Por exemplo: ela tem um método de (venda de) ingresso antigo, uma coisa
pré-Copa, então precisaria a venda de ingresso ser modernizada. Não o é porque ela é uma empresa limitada.
Seria o caso de romper o contrato?
O Corinthians precisa colocar claramente as suas exigências. E se ela tiver condições de tocar, ela dirá. Eu creio que não tem. Mas (a empresa) não vai querer se agarrar num contrato que assinou no
apagar das luzes e achar que esse contrato é a segurança dela. A segurança de uma empresa de serviços é ela atender bem o serviço que ela foi contratada. E, no nosso caso, é dar dinheiro para a gente
pagar a Caixa.
Há outros problemas no clube, além desses?
Nós temos outros problemas. Eu venho há anos dizendo que um dos maiores erros do clube foi adotar essa coisa de vender para empresários os jogadores da categoria de base. Eu desde sempre digo:
ou é 100% do Corinthians ou não precisa jogar no Corinthians. Esta é uma coisa que o clube está vendo agora o erro que cometeu nesses anos todos de ficar partindo propriedade dos jogadores. O Corinthians tem de fazer como qualquer clube grande, como faz o Barcelona, o Real Madrid, a Inter de Milão, o Milan e os jogadores da categoria de base ser 100% do Corinthians. Eu ganhando a eleição vai ser 100% e quem quiser ter parte no jogador de 17, de 18 anos, pode ir para outro clube. Se for para a gente fazer negócio para os empresários, perde completamente o sentido.
Quais seus planos para o Parque São Jorge?
Esse é outro problema que o clube tem. Que não é um problema. Por isso eu disse que a eleição vai se dar em uma situação muito diferente. O futebol deixou o Parque São Jorge, agora ninguém treina
lá, ninguém joga lá. Há jogadores que não sabem onde é o Parque São Jorge. Ele assina o contrato no CT, joga na arena, conhece o Parque por fora. Então nós precisamos repensar uma série de coisas.
Mas o que fazer?
Podemos dar um grande salto nos esportes olímpicos. Basquete, natação, vôlei, futebol de salão, futebol feminino. Com o clube agora desobrigado no futebol, pode fazer uma revolução no esporte olímpico. E o Corinthians foi grande no esporte olímpico. Nós tivemos equipes extraordinárias no basquete, no vôlei, natação e podemos voltar a ter. O futebol cresceu tanto que aquela relação que havia entre o clube social e o futebol ficou insignificante. O que o clube gasta hoje no clube social, para manter limpo, bonito, é um ou (são) dois jogadores. A relação mudou muito. Não é problema.
Como está o quadro social do clube?
O Corinthians não tem uma base de sócios boa. Ele precisa hoje ampliar a sua base e uma das coisas é vincular o sócio ao futebol. Ele precisa ter acesso para poder comprar ingresso, para poder frequentar o estádio. Porque o sócio do clube é importante, mas também é importante que ele viva o futebol. Se o Corinthians fizer essa integração futebol-clube social, o futebol será uma grande alavanca para o clube social. Muitas pessoas terão interesse.
Citadini presidente: O Carille está garantido?
Há aí uma coisa muito interessante. O Corinthians é o clube mais profissional que tem. Há mais de 15, 20 anos o futebol tem sofrido pouquíssima influência da política do clube. O futebol profissional.
O de base não. De uma certa forma o Corinthians sempre conseguiu estancar pressões. Esse caso do Carille e da comissão técnica é uma prova acabada disso. O clube optou por isso daí, estão fazendo um
bom trabalho. O clube tem de ser cada vez mais profissional, tem de ter um diretor técnico, como tem, boa comissão técnica e tem de ser administrado sem esses humores. A política não deve envolver nisso.
Eu não tenho nenhuma dificuldade em prestigiar o Carille. Até porque eu nunca fui a favor dessa coisa de presidente chegar com o seu técnico.
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