Tite freia empolgação com sequência do Corinthians e elogia Sandro Ricci
Técnico comemora segunda vitória seguida, mas vê Timão em processo de evolução no Brasileirão. Postura do árbitro sobre sinalizadores é exaltada
Por Rodrigo FaberCriciúma, Santa Catarina
Objetivo do técnico Tite no Corinthians desde o início do Campeonato Brasileiro, a sequência de duas vitórias consecutivas foi conquistada após os 2 a 0 sobre o Criciúma, no estádio Heriberto Hulse, neste domingo. Porém, o comandante ainda não está satisfeito. De olho no G-4 da competição nacional e de uma vaga na Taça Libertadores da América do ano que vem, ele evitou qualquer euforia e disse que o Timão ainda está vivendo um processo não concluído de evolução no torneio.
Campeão paulista e da Recopa Sul-Americana, a equipe vinha fazendo campanha modesta no Brasileirão. A instabilidade, refletida especialmente nos pontos perdidos fora de casa, mandou o Corinthians para a parte de baixo da tabela. Após os triunfos consecutivos sobre Grêmio e Criciúma, o time enfim de aproximou dos líderes e, por enquanto, tem o foco voltado exclusivamente para o torneio, uma vez que deverá jogar pela Copa do Brasil somente no fim de agosto.
– Temos de ir por partes. Eu dizia que tínhamos de entrar no campeonato, e ainda estamos no meio de um processo. Falei isso após o empate (contra o Grêmio) e estou falando hoje que vencemos – afirmou o técnico, em entrevista coletiva após a partida deste domingo.
Temos de ir por partes. Dizia que tínhamos de entrar no campeonato e ainda estamos no meio de um processo”
Tite
– Nós não tivemos facilidade, mas um comportamento diferente. Se ficar acuado e deixar que a torcida aqui influencie, você fica perto de perder. O time vem mostrando maturidade com bola, de ir para cima do adversário, compactar na defesa e ter uma postura adequada.
Com o desfalque de Alexandre Pato, que não ficou sequer no banco de reservas, devido a um edema ósseo na canela direita, o Corinthians precisou apenas do primeiro tempo para resolver a conta no Heriberto Hulse. Renato Augusto abriu o placar, com um belo gol, em chute de fora da área, e Paolo Guerrero completou o marcador, de pênalti.
A partida teve de ser interrompida nos minutos finais, por conta de sinalizadores que foram acendidos inicialmente na torcida do Criciúma, e depois no setor destinado aos torcedores do Corinthians. Tite elogiou a postura do árbitro Sandro Meira Ricci, e disse que a lembrança de Kevin Douglas Beltrán Espada, jovem que morreu na partida entre San José e Corinthians, pela Libertadores, atingido por um artefato semelhante, é inevitável.
– Quero parabenizar o Ricci pelo aspecto disciplinador. Na hora que der sinalizador, para. Chega. Todos tem de ter uma postura assim. Não quero saber de onde vem, do Criciúma ou do Corinthians. O futebol tem de ter outra conotação, não de ferrar o outro. A primeira lembrança que vem é a do menino boliviano, a família dele – disse.
O Corinthians volta a campo na próxima quarta-feira, às 21h50m (horário de Brasília), no clássico contra o Santos, na Vila Belmiro. Com os desfalque de Emerson Sheik, que cumprirá suspensão pelo terceiro cartão amarelo, a equipe deverá ter a mesma formação que começou o jogo em Criciúma: Cássio; Edenílson, Gil, Paulo André e Fábio Santos; Ralf e Guilherme; Romarinho, Danilo e Renato Augusto; Paolo Guerrero.
Tite orienta o time do Corinthians diante do Criciúma (Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians)
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O senador José Ermírio de Moraes foi o grande construtor do Império Votorantim, o maior grupo empresarial brasileiro. Era um ferrenho defensor do “nacionalismo”, bandeira de luta trazida ainda com o governo Getúlio Vargas. Construiu suas empresas no calor de uma dura luta contra grupos internacionais que queriam explorar- a sua modo e interesse- as riquezas minerais do pais. Formado engenheiro nos Estados Unidos foi de uma vanguarda que enfrentou os cartéis e grupos estrangeiros que por aqui chegaram.
Além de grande empresário foi participante da luta politica. No início dos anos 60 elegeu-se senador no seu estado natal de Pernambuco, em histórica campanha onde o candidato a governador de seu grupo era o jovem Miguel Arraes. Venceram os dois em campanha que os grupos conservadores tudo fizeram para impedir que os dois “nacionalista” conquistasse o mandato.
Foi senador pelo PTB e durante seu mandado atraiu o ódio das elites conservadoras de todo o pais. O menor grito contra ele era que era “comunista”, embora fosse o maior empresário do pais e tivesse sua formação na democracia americana. Sua luta em defesa da Nação era atacada por todo lado, inclusive na grande imprensa.
O empresário Fernando Gasparian, outro grande nacionalista, falava com grande euforia do Senador.
Com o Movimento de 1964 vitorioso o grande empresário filiou-se ao MDB e continuou sua dura luta no Senado, num momento em que os grupos estrangeiros ganhavam todas as vantagens do Poder então dominante. Sua voz forte, corajosa era duramente combatida pelas forças reacionárias.
Suas empresas sofreram todo tipo de retaliação por parte dos governos militares com corte de créditos, pressão fiscal e tudo mais. Só não quebrou poque era um homem de luta, embora nunca tenha esquecido uma advertência de um ministro do governo de então, que dizia ser objetivo das forças conservadoras e da Administração “quebrar o grupo”.
Perseguido por todo lado, sempre manteve suas posições políticas. Em 1970, já no MDB, concorreu reeleição em campanha duríssima. Estava doente. Muito doente. E as forças conservadoras tinham uma missão: tirar-lhe o mandato de senador. Gastaram um mar de dinheiro e derrotaram o senador que quase não podia fazer campanha.
Era homem de lutas e idéias ( diferente dos filhos que já não queriam confrontos), deixou o exemplo de uma grande brasileiro.
Para que melhor se conheça o valente senador José Ermírio de Moraes trago trechos de seu pronunciamanto em 28 de outubro de 1969 onde resume suas proposta para o Brasil:
…baseados em nossa longa experiência de empresas, tomamos a liberdade de sugerir.. alguns pontos da nossa economia… que darão ao nosso país uma posição de realce no cenário mundial :
1- Organizar um programa para, dentro de 2 décadas, exportar pelo menos 80% dos seus produtos minerais já industrializados internamente.
2-Industrializar os seus produtos agropecuários, a fim de conseguir maior rendimento e mão-de-obra imensa a uma população que cresce à razão de quase 3% ao ano, elevando o PNB per capita.
3- Observar atentamente os preços mais favoráveis dos mercados internacionais para venda e compra dos produtos minerais e agrícolas, fazendo acordos para garantir preços compensadores.
4- Criar leis nacionalistas, beneficiando sòmente empresas com maioria de capital brasileiro.
5- Criar um sistema de modo a dedicar no orçamento 20% para a Educação e 10% para a saúde, aumentando e melhorando a educação universitária que em vários Estados tem decaído na qualidade do Ensino.
6- Duplicar o rendimento por hectare em todas as àreas agrícolas do pais por meio de preparo do solo, calagem, fertilização, seleção de sementes, rotação de cultura, extinção de pragas e irrigação adequada para garantir safras plantadas, organizando a mecanização da lavoura e o transporte a granel da produção….
7- Selecionar àreas de plantação de café, soja, algodão, milho, cacau, trigo, cana-de-açucar, arroz e outros produtos agrícolas, a fim de evitar desperdício de tempo e despesas nos respectivos plantios.
8- Determinar às Caixas Econômicas Federais para financiar equipamentos agrícolas destinados à produção.
9- Reduzir os juros e fazer financiamentos a longo prazo à agricultura e à industria, propiciando a criação de novas empresas , e evitar a properidade exagerada da indústria do dinheiro, acompanhando de perto as companhias de investimento para não abusarem dos juros cobrados num ramo de negócio tão necessário ao desenvolvimento nacional.
10- Controlar a importação dos produtos dispensáveis.
11- Valorizar as empresas brasileiras nas obras governamentais, não permitindo a concorrência desleal de firmas estrangeiras.
12- Administrar de forma que as rendas básicas da nação sejam realizadas com a produção de artigos que não tenham grande consumo desnecessários, prejudicando a poupança nacional.
13- Controlar os preços de venda dos fertilizantes e também a propaganda excessiva dos mesmo em todo país.
14- Proibir que firmas estrangeiras ou brasileiras tenham postos privativos.
15- Examinar cuidadosamente a situação das patentes, royalties e assitência técnica em vigor a fim de evitar a saída desnecessárias de divisas.
16- Combinar com os governos estaduais e municipais determinando rever favores dados a grupos industriais que muito prejudicam o Estado e o Muncipio, especialmente o do ICM.
17- Evitar com firmeza a desnacionalização do país.
18- Não permitir que o governo federal nem os Estaduais façam emprestimos no exterior a prazo curto e para fins não rentáveis.
19- Não permitir ao facilitar a implantação de indústrias ociosas no pais.
20- Desenvolver o transporte marítimo , ferroviário e lacustre por serem os mais baratos e que tem capacidade para transportar maiores volumes.
21- Desenvolver o transporte a granel e também aparelhar para embarque e desembarque de cofres de carga , evitando o grande prejuízo com a perda de sacaria.
22- Orientar de forma que os salários sejam aumentados sempre um pouco acima dos índices do custo de vida, para que o trabalhador possa fazer uma pequena poupança, sendo absolutamente necessário que, concomitantemente, dêem-se condições para que haja eficiência e aumento da rentabilidade no trabalho , para evitar a inflação.
23- Intensificar a pesquisa mineral e cintefica, orientando convenientemente os órgãos especializados.
24- Evitar a criação de monopólios, pois qualquer ramo industrial ou comercial que esteja em mãos de um só ou de grupos interligados- notadamente estrangeiros- não poderá correponder as urgentes necessidades nacionais.
25- Procurar desenvolver a Amazônia, integrando o nordestino nas regiões onde haja trabalho, dando-lhe condições adewquadas de vida.
26- Fiscalizar severamente as autarquias e órgãos governamentais a fim de evitar o excesso de pessoal e ociosidade.
27-Dialogar com todos aqueles que trabalham para o bem do país.
28- Evitar que politicos façam suas campanhas a custa de favores dados por organizações ou grupo comerciais e industriais.
29- Evitar candidatura a qualquer cargo de politicos inescrupulosos que tenham se enriquecido ilicitamente e a nenhum cidadão que receba favores do Governo.
30-Controlar e punir as especulações de títulos nas bolsas de valores e regular o mercado paralelo, evitando a instituição de meios ílicitos, como cheques pré-datados e muitas outras formas de abuso.
31- Dar todo apoio e recursos à PETROBRÁS , mesmo se for estabelecendo algumas leis concedendo empréstimos das companhias particulares para desenvolvimento dessa magnífica e necessária empresa estatal.
32- Desenvolver , de acordo com o novo program do MME, a pesquisa do carvão nacional nas principais regiões carboníferas , pois, recentemente, há um grande melhoramento na técnica do uso de carvão, inclusive da redução do consumo de coque na siderurgia e também no seu uso na fabricação de muitos produtos químicos.
33- Proibir aos governos federal, estadual e municipais , a propaganda exagerada das obras realizadas por ser desnecessária e dar margem a justas críticas.
34- Melhorar as condições de vida do trabalhador rural …. apoio do Banco Nacional de Habitação, que deve contar com os recursos necessários para financimento de moradias na zona rural e não sómente nas cidade.
35- Trazer a paz à família brasileira.
No dia 22 de setembro de 1973, na convenção do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), Ulysses Guimarães proferiu um histórico discurso intitulado “Navegar é Preciso, Viver não é Preciso”.
Através dele, o principal líder da oposição democrática ao regime militar lançou a sua “anti-candidatura” à presidência da República, tendo como candidato à vice-presidência Barbosa Lima Sobrinho, outro grande democrata. Era uma demonstração de coragem para enfrentar o Governo do Gal. Garrastazu Médici, o então chefe do regime militar. Esta “anti-candidatura” – mesmo sem chance de vitória no Colégio Eleitoral, abriu caminho para a estrondosa vitória do MDB nas eleições parlamentares de 1974.
Em tempos em que figuras da estatura de Ulysses e Barbosa Lima são cada vez mais raras na política brasileira, lembrar daqueles que lutaram pela democracia no Brasil é essencial, pois, como escreveu o filósofo George Santayana, “Aqueles que esquecem o passado, estão condenados a repetí-lo”.
Assim, transcrevo abaixo, na íntegra, este fantástico discurso.
“O paradoxo é o signo da presente sucessão presidencial brasileira. Na situação, o anunciado como candidato, em verdade, é o Presidente, não aguarda a eleição e sim a posse. Na Oposição, também não há candidato, pois não pode haver candidato a lugar de antemão provido. A 15 de janeiro próximo, com o apelido de “eleição”, o Congresso Nacional será palco de cerimônia de diplomação, na qual Senadores, Deputados Federais e Estaduais da agremiação majoritária certificarão investidura outorgada com anterioridade. O Movimento Democrático Brasileiro não alimenta ilusões quanto à homologação cega e inevitável, imperativo da identificação do voto ostensivo e da fatalidade da perda do mandato parlamentar, obra farisaica de pretenso Colégio Eleitoral, em que a independência foi desalojada pela fidelidade partidária. A inviabilidade da candidatura oposicionista testemunhará perante a Nação e perante o mundo que o sistema não é democrático, de vez que tanto quanto dure este, a atual situação sempre será governo, perenidade impossível quando o poder é consentido pelo escrutínio direto, universal e secreto, em que a alternatividade de partidos é a regra, consoante ocorre nos países civilizados.
Não é o candidato que vai percorrer o País. É o anticandidao, para denunciar a antieleição, imposta pela anticonstituição que homizia o AI-5, submete o Legislativo e o Judiciário ao Executivo, possibilita prisões desamparadas pelo habeas corpus e condenações sem defesa, profana a indevassabilidade dos lares e das empresas pela escuta clandestina, torna inaudíveis as vozes discordantes, porque ensurdece a Nação pela censura à Imprensa, ao Rádio, à Televisão, ao Teatro e ao Cinema.
No que concerne ao primeiro cargo da União e dos Estados, dura e triste tarefa esta de pregar numa “república” que não consulta os cidadãos e numa “democracia” que silenciou a voz das urnas.
Eis um tema para o teatro do absurdo de Bertold Brecht, que, em peça fulgurante, escarnece da insânia do arbítrio prepotente ao aconselhar que se o povo perde a confiança do governo, o governo deve dissolver o povo e eleger um outro.
Não como campanha, pois eqüivaleria a tola viagem rumo ao impossível, a peregrinação da Oposição pelo País perseguirá tríplice objetivo:
1 – Exercer sem temor e sem provocação sua função institucional de crítica e fiscalização ao governo e ao sistema, clamando pela eliminação dos instrumentos e da legislação discricionários, com prioridade urgente e absoluta a revogação do AI-5 e a reforma da Carta Constitucional em vigor.
2 – Doutrinar com o Programa Partidário, unanimemente aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral, conscientizando o povo sobre seu conteúdo político, social, econômico, educacional, nacionalista, desenvolvimentista com liberdade e justiça social, o qual será realidade assim que o Movimento Democrático Brasileiro for governo, pelo sufrágio livre e sem intermediários do povo.
3 – Concitar os eleitores, frustrados pela interdição de a 15 de janeiro de 1974 eleger o Presidente e o Vice-Presidente da República, para que a 1 5 de novembro do mesmo ano elejam senadores, deputados federais e estaduais da oposição, etapa fundamental para atuação e decisões parlamentares que conquistarão a normalidade democrática, inclusive número para propor Emendas e Reforma da Carta Constitucional de 1969 e a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito, de cuja ação investigatória e moralizadora a presente legislatura se encontra jejuna e a atual administração imune, pela facciosa intolerância da maioria situacionista.
Hoje, e aqui, serei breve.
Somos todos cruzados da mesma cruzada. Dispensável, assim, pretender convencer o convicto, converter o cristão, predicar a virtude da liberdade a liberais, que pela fé republicana pagam até o preço de riscos e sofrimentos.
Serei mais explícito e minudencioso ao longo da jornada,quando falarei também a nossos irmãos postados no outro lado do rio da democracia.
Aos que aí se situaram por opção ou conveniência, apostasia política mais rebelde à redenção.
Prioritariamente, aos que foram marginalizados pelo ceticismo e pela indiferença, notadamente os jovens e os trabalhadores, intoxicados por maciça e diuturna propaganda e compelidos a tão prolongada e implacável dieta de informações.
Quando a Oposição clama pela reformulação das estruturas político-sociais e pela incolumidade dos direitos dos cidadãos, sua reiteração aflige os corifeus dos poderosos do dia.
Faltos de razão e argumentos, acoimam-na de fastidiosa repetição. Condenável é repetir o erro e não sua crítica. Saibam que a persistência dos abusos terá como resposta a pertinácia das denúncias.
Ressaltarei nesta Convenção a liberdade de expressão, que é apanágio da condição humana e socorre as demais liberdades ameaçadas, feridas ou banidas.
A oposição reputa inseparáveis o direito de falar e o direito de ser ouvido.
É inócua a prerrogativa que faculta falar em Brasília, não podendo ser escutado no Brasil, porquanto a censura à Imprensa, ao rádio e à Televisão venda os olhos e tapa os ouvidos do povo. O drama dos censores é que se fazem mais furiosos quanto mais acreditam nas verdades que censuram. E seu engano fatal é presumir que a censura, como a mentira, pode exterminar os fatos, eliminar os acontecimentos, decretar o desaparecimento das ocorrências indesejáveis.
A verdade poderá ser temporariamente ocultada, nunca destruída. O futuro e a história são incensuráveis.
A informação, que abrange a crítica, é inarredável requisito de acerto para os governos verdadeiramente fortes e bem intencionados, que buscam o bem público e não a popularidade. Quem, se não ela, poderá dizer ao Chefe de Estado o que realmente se passa, às vezes de suma gravidade, na intimidade dos Ministérios e dos múltiplos e superpovoados órgãos descentralizados?
Quem, se não ela, investigará e contestará os conselhos ineptos dos Ministros, as falsas prioridades dos técnicos, o planejamento defasado dos assessores? Essa a sabedoria e o dimensionamento da prática com que o gênio político britânico enriqueceu o direito público: Oposição do Governo de Sua Majestade, ao Governo de sua Majestade.
A burocracia pode ser preguiçosa, descortês, incapaz e até corrupta. Não é exclusivamente na Dinamarca, em qualquer reino sempre há algo de podre. Rematada insânia tornar impublicáveis lacunas, faltas ou crimes, pois contamina de responsabilidade governante que a ordena ou tolera.
Eis por que o poder absoluto, erigido em infalível pela censura, corrompe e fracassa absolutamente.
É axiomático, para finalizar, que sem liberdade de comunicação não há, em sua inteireza, Oposição, muito menos Partido de Oposição.
Como o desenvolvimento é o desafio da atual geração, pois ou o Brasil se desenvolve ou desaparecerá, o Movimento Democrático Brasileiro, em seu Programa, define sua filosofia e seu compromisso com a inadiável ruptura da maldita estrutura da miséria, da doença, do analfabetismo, do atraso tecnológico e político.
A liberdade e a justiça social não são meras conseqüências do desenvolvimento. Integram a condição insubstituível de sua procura, o pré-requisito de sua formulação, a humanidade de sua destinação.
A liberdade e a justiça social conformam a face mais bela, generosa e providencial do desenvolvimento, aquela que olha para os despossuidos, os subassalariados, os desempregados, os ocupados em ínfimo ganha-pão ocasional e incerto, enfim, para a imensa maioria dos que precisam para sobreviver, em lugar da escassa minoria dos que têm para esbanjar.
Este o desenvolvimento vivificado pelas liberdades roosevelteanas, inspiradoras da Carta das Nações Unidas, as que se propõem a libertar o homem do medo e da necessidade. É o perfilhado na Encíclica Populorum Progressio, isto é, prosperidade do Povo, não do Estado, que lhe é consectária, cunhando seu protótipo na sentença lapidar: o desenvolvimento é o novo nome da paz.
Desenvolvimento sem liberdade e justiça social não tem esse nome. É crescimento ou inchação, é empilhamento de coisas e valores, é estocagem de serviços, utilidades e divisas, estranha ao homem e a seus problemas.
Enfatize-se que desenvolvimento não é silo monumental e desumano, montado para guardar e exibir a mitologia ou o folclore do Produto Interno Bruto, inacessível tesouro no fundo o mar, inatingível pelas reivindicações populares. É intolerável misitificar uma Nação a pretexto de desenvolvê-la, rebaixá-la em armazém de riquezas, tendo como clientela privilegiada, senão exclusiva, o governo para custeio de tantas obras faraônicas e o poder econômico, particular ou empresarial, destacadamente o estrangeiro, desnacionalizando a indústria e dragando para o exterior lucros indevidos.
É equívoco, fadado à catástrofe, o Estado absorver o homem e a Nação.
A grandeza do homem é mais importante do que a grandeza do Estado, porque a felicidade do homem é a obra-prima do Estado.
O Estado é o agente político da Nação. Além disso e mais do que isso, a Nação é a língua, a tradição, a família, a religião, os costumes, a memória dos que morreram, a luta dos que vivem, a esperança dos que nascerão.
Liberdade sem ordem e segurança é o caos. Em contraposição, ordem e segurança sem liberdade são a permissividade das penitenciárias. As penitenciárias modernas são mini-cidades, com trabalho remunerado, restaurante, biblioteca, escola, futebol, cinema, jornais, rádio e televisão.
Os infelizes que as povoam têm quase tudo, mas não têm nada, porque não têm a liberdade. Delas fogem, expondo a vida ou aguardam aflitos a hora da libertação.
Do alto desta Convenção, falo ao General Ernesto Geisel, futuro Chefe da Nação.
As Forças Armadas têm como patrono Caxias e como exemplo Eurico Gaspar Dutra, cidadãos que glorificaram suas espadas na defesa da lei e na proteção à liberdade. O General Ernesto Geisel a elas pertence, dignificou-as com sua honradez, delas sai para o supremo comando político e militar do Brasil.
A história assinalou-lhe talvez a última oportunidade para ser instituído no Brasil, pela evolução, o governo da ordem com liberdade, do desenvolvimento com justiça social, do povo como origem e finalidade do poder e não seu objeto passivo e vítima inerme.
Difícil empresa, sem dúvida. Carregada de riscos, talvez. Mas o perigo participa do destino dos verdadeiros soldados.
A estátua dos estadistas não é forjada pelo varejo da rotina ou pela fisiologia do cotidiano.
Não é somente para entrar no céu que a porta é estreita, conforme previne o evangelista São Mateus, no Capítulo XXIII, versículo 24.
Por igual, é angustiosa a porta do dever e do bem, quando deles depende a redenção de um povo. Esperemos que o Presidente Ernesto Geisel a transponha.
A Oposição dará à próxima administração a mais alta, leal e eficiente das colaborações: a crítica e a fiscalização.
Sabe, com humildade, que não é dona da verdade. A verdade não têm proprietário exclusivo e infalível.
Porém sabe, também, que está mais vizinha dela e em melhores condições para revelá-la aos transitórios detentores do poder, dela tantas vezes desviados ou iludidos pelos tecnocratas presunçosos, que, amaldiçoam e exorcizam os opositores, pelos serviçais de todos os governos, pelos que vitaliciamente apoiam e votam para agradar ao Príncipe.
A oposição oferece ao governo o único caminho que conduz à verdade: a controvérsia, o diálogo, o debate, a independência para dizer “sim” ao bem e a coragem e para dizer “não” ao mal – a democracia em uma palavra.
Senhores Convencionais:
Do fundo do coração digo-lhes que não agradeço a indicação que consagra minha vida pública. Missão não se pede. Aceita-se, para cumprir, com sacrifício e não proveito.
Como Presidente Nacional do Movimento Democrático Brasileiro agradeço-lhes, aí sim, o destemor e a determinação com que ao sol, aos ventos e desafiando ameaças desfilam pela Pátria o lábaro da liberdade.
Minha memória guardará as palavras amigas aqui proferidas, permitindo-me reportar às da lavra dos grandes líderes Senador Nelson Carneiro e Deputado Aldo Fagundes, parlamentares que têm os nomes perpetuados nos Anais e na admiração do Congresso Nacional.
Significo o reconhecimento do Partido a Barbosa Lima Sobrinho, por ter acudido a seu empenhado apelo.
Temporariamente deixou sua biblioteca e apartou-se da imprensa, trincheiras de seu talento e de seu patriotismo, para exercer perante o povo o magistério das franquias públicas, das garantias individuais e do nacionalismo.
Sua vida e sua obra podem ser erigidas em doutrina de nossa pregação
Por fim, a imperiosidade do resgate da enorme injustiça que vitimou, sem defesa, tantos brasileiros paladinos do bem público e da causa democrática. Essa Justiça é pacto de honra de nosso partido e seu nome é ANISTIA.
Senhores Convencionais:
A caravela vai partir. As velas estão paridas de sonho, aladas de esperanças. O ideal está ao leme e o desconhecido se desata à frente.
No cais alvoroçado, nossos opositores, como o velho do Restelo de todas as epopéias, com sua voz de Cassandra e seu olhar derrotista, sussurram as excelências do imobilismo e a invencibilidade do establishment. Conjuram que é hora de ficar e não de aventurar.
Mas no episódio, nossa carta de marear não é de Camões e sim de Fernando Pessoa ao recordar o brado:
“Navegar é preciso.
Viver não é preciso”.
Posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em breve possa gritar ao povo brasileiro: Alvíssaras, meu Capitão. Terra à vista!
Sem sombra, medo e pesadelo, à vista a terra limpa e abençoada da liberdade.”