MÃE DE ZIZAO VIRA ‘GANDULA’ E ROUBA A CENA EM TREINO DO CORINTHIANS
Crédito da imagem: Eduardo Viana
Se o chinês Zizao não deve ter mais chances de entrar em campo pelo Corinthians nesta reta final de Brasileiro, a mãe do jogador tem sido a grande atração no CT Joaquim Grava.
Como o visto do pai do corintiano expirou, foi a vez da mãe conseguir a liberação para passar um período no Brasil. A irmã de Zizao, com compromissos de trabalho na China, não deve visitá-lo por enquanto.
Durante o treino desta quinta-feira, a mãe de Zizaoatacou até de gandula. No meio do aquecimento, ela chutou para dentro do campo três bolas que foram em direção dela, que assistia à movimentação do filho numa das áreas cobertas atrás do gramado mais próximo aos vestiários do CT.
Ela também costuma fazer alongamentos e exercícios de Tai Chi Chuan. Zizao, de 24 anos, tem apenas um jogo com a camisa do Corinthians, quando entrou no segundo tempo da derrota para o Cruzeiro.
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Audálio Dantas foca na mobilização política ao narrar história de Herzog.
ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULOA família Herzog fugia do nazismo e buscava abrigo na Itália, escondendo suas origens. Era o ano de 1943. Vlado tinha pouco mais de seis anos quando foi interpelado por um homem de olhar raivoso que queria saber o seu nome. “Aldo”, respondeu.
O homem retrucou: “Como você se chama Aldo se usa sempre essa malha com a letra “V” bordada”?
Vlado não titubeou: “Ganhei esta malha do meu primo Vittorio”.
Audálio Dantas parte dessa história de infância turbulenta para narrar “As Duas Guerras de Vlado Herzog”. A primeira, travada com a família na escapada contra a ira de Hitler, resultou na perda de parentes e na migração para o Brasil em 1946.
A segunda, contra a ditadura militar instaurada em 1964, levou sua vida depois da tortura sofrida no DOI-Codi na rua Tomás Carvalhal, em São Paulo. No sábado, 25 de outubro de 1975, Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, foi assassinado nas dependências do 2º Exército.
Só agora, há pouco mais de um mês, a Justiça determinou que a certidão de óbito fosse alterada: Herzog não cometeu suicídio; foi torturado até a morte.
A última sessão da barbárie iniciou com o torturador pedindo o envio da máquina de choque elétrico. “Tragam a pimentinha!”, berrou.
Com depoimentos, Audálio reconstitui a trajetória de Herzog: o tumulto da infância, os estudos no Brasil, o casamento com Clarice, a chegada dos filhos, o trabalho na BBC de Londres, o interesse por cinema, a aproximação com o Partido Comunista.
Mas o forte do livro está no relato das semanas que antecederam a morte e nas discussões que levaram à realização do ato ecumênico em memória de Herzog -então a maior manifestação contra a ditadura desde o AI-5.
Audálio era então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e esteve no centro dos acontecimentos. Viu a onda de terror desencadeada pelo general Ednardo Mello no comando do 2º Exército e os seus embates com o governador paulista Paulo Egydio.
Os personagens mais duros do regime buscavam mais espaço no poder e alegavam enxergar comunistas por todo o lado: na Polícia Militar e nos jornais; em figuras como o empresário José Mindlin, então secretário da Cultura, e o cardeal Paulo Evaristo Arns. É nesse contexto que Audálio descreve a onda de prisões daquelas semanas.
Foram 63 policiais presos -o tenente Ferreira de Almeida morreu no DOI-Codi. Entre os jornalistas, foram presos 12 -incluindo Vlado, que se apresentou voluntariamente no quartel onde seria morto.
“As pessoas sumiam de uma hora para a outra”, lembra o autor, relatando sequestros, depoimentos de torturados e fugas. O sindicato protestava e receava a intervenção dos militares. Poderia fazer mais?
No seu último encontro com Vlado, Audálio recorda que a discussão foi sobre esse ponto. Vlado pedia um maior envolvimento dos jornalistas nos protestos e saiu da conversa com “uma visível expressão de desalento”, conta o autor.
A notícia da morte de Vlado foi um choque. No enterro apressado, Ruth Escobar rompeu o silêncio: “Até quando vamos continuar suportando tanta violência?”. Na saída do cemitério, alguém gritou: “Vamos para o sindicato!”.
A partir daí, o sindicato passou a realizar assembleias e concentrou o debate contra a ditadura. Audálio relata as pressões dos militares para conter manifestações e dos que queriam uma ação mais forte da entidade. Do cardeal Arns ouviu a indagação: “Não sei se não é hora de um protesto mais forte. Quem sabe, sair pela rua?”.
Audálio, 80, defende que a linha ponderada do sindicato foi correta e o transformou “numa importante trincheira, espaço para uma reação organizada contra a repressão”.
O autor também analisa a cobertura da imprensa no período. “Jornais que haviam se calado durante anos diante dos crimes da ditadura abriam espaço para o noticiário em páginas inteiras e alguns chegavam a ousar comentários, em artigos assinados, sobre os ‘excessos’ dos órgãos de repressão política e o desrespeito aos direitos humanos”.
Segundo Audálio, “a maioria [dos donos dos grandes jornais] havia apoiado o golpe de 1964 e convivera bem com o regime. Engoliram a censura até perceber que a mercadoria que entregavam aos leitores -a informação- começava a correr perigo de não ser aceita, por falta de credibilidade”.
E anota: “Depois do assassinato de Herzog, já não era possível limitar a notícia da morte de presos políticos aos termos dos comunicados oficiais. As versões de suicídio ou de morte ’em confrontos’ com as forças de segurança já não eram aceitas sem discussão”, escreve.
MULTIRRELIGIOSO
Audálio narra os detalhes da preparação do culto multirreligioso que lotou a Sé: a operação militar para impedir a presença de manifestantes, os agentes infiltrados, as pressões sobre os religiosos.
Um diálogo do autor com dom Helder Câmara, que não quis falar no evento, resume a história. “O senhor não quis falar?”, perguntou Audálio. Resposta do arcebispo: “Há momentos, meu filho, em que o silêncio diz tudo. A ditadura começou a cair hoje”.
Dois meses e meio depois, o operário Manoel Fiel Filho morreu no DOI-Codi. Não houve manifestações de protesto. Só então o general Ednardo foi demitido do comando do 2º Exército. A ditadura duraria até 1985.
AS DUAS GUERRAS DE VLADO HERZOG
AUTOR Audálio Dantas
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 39,90 (406 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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Dois terços dos indígenas recebem do Bolsa Família
Datafolha mostra que 94% plantam e 85% caçam; para 57%, falta terra
Maioria sabe ler, e 65%, escrever em português; 30% exercem trabalho remunerado, mas só 7% com carteira assinada
DE BRASÍLIAA pesquisa sobre o perfil indígena feita pelo Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela que 64% dos índios são beneficiários do Programa Bolsa Família, recebendo em média R$ 153 por mês.
A região Nordeste é a campeã do benefício: 76% dos índios recebem o programa social do governo. O Sul aparece em segundo com 71%; seguido do Centro-Oeste (63%), Norte (56%) e Sudeste (52%).
Mesmo com os benefícios, 36% afirmam ser insuficiente a quantidade de comida que consomem. A maioria dos índios (76%) bebe água que não é filtrada nem fervida. As doenças infectocontagiosas atingem 68% e os problemas estomacais, como diarreia e vômito, 45%.
Os índios também afirmam que luz elétrica, água encanada, rede de esgoto e casa de alvenaria são muito importantes para eles.
Mais de 70% dos índios ouvidos atribuem muita relevância à atuação da Funai (Fundação Nacional do Índio) na sua aldeia. No entanto, 39% reprovam o desempenho do órgão, avaliando-o como ruim ou péssimo.
CESTA BÁSICA
Quase metade dos entrevistados (46%) relatou receber cesta básica da Funai ou da Funasa (Fundação Nacional da Saúde). Os índios da região Nordeste são os que mais recebem o benefício: 79%. Na região Norte apenas 7% ganham a cesta básica.
O acesso ao atendimento médico é considerado difícil por 63% dos índios; 69% deles foram atendidos em postos de saúde dentro da aldeia e 12% dentro de casa. Eles ainda usam mais os remédios naturais (66%) do que os farmacêuticos (34%).
A maioria dos índios (66%) sabe ler, e 65% sabem escrever na língua portuguesa. Segundo a pesquisa, 30% exercem trabalho remunerado, mas somente 7% têm carteira assinada.
A agricultura é exercida por 94%, e 85% praticam a caça; 57% deles consideram que o tamanho das terras onde vivem é menor do que o necessário.
O índios também citaram algumas medidas governamentais que poderiam melhorar a vida dos indígenas no país: intervenções na área da saúde (25%), demarcação de terras (17%), reconhecimento dos direitos indígenas (16%), investimentos públicos (15%) e educação (15%).
Procurada anteontem, a Funai afirmou, pela assessoria de imprensa, que tinha muitas demandas e que não poderia responder às questões da reportagem até o encerramento desta edição.
“A presidente [Marta Azevedo] está em viagem, sem disponibilidade de agenda. Ela seria a pessoa mais indicada para comentar a pesquisa”, afirmou, por e-mail.
CRITÉRIOS
O sorteio das aldeias a serem pesquisadas levou em conta a região em que se localizam e o tamanho da população indígena residente. Os dados são representativos dos índios brasileiros.
Foi entrevistada somente a população indígena brasileira que fala português e todos os pesquisadores foram vacinados contra tétano e febre amarela para não expor os seus habitantes a riscos.
Os entrevistadores também provaram que não tinham tétano, febre amarela, febre tifoide, sarampo, catapora, hepatite ou malária, como determina o regulamento da Funai.
Os pesquisadores viajaram de ônibus, carro, avião ou barco para os locais sorteados, como Tarauacá (AC) e Borba (AM), em dupla.
O objetivo de enviar um homem e uma mulher foi evitar o risco de constrangimento caso os entrevistados não aceitassem ser abordados por pessoas do sexo oposto.
A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
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Índios estão integrados ao modo de vida urbano, afirma pesquisa
Datafolha mostra que DVD, celular, geladeira e fogão a gás estão no cotidiano de aldeias do país
Indígenas desejam obter diploma de uma universidade; maior problema é o difícil acesso à saúde
DE BRASÍLIAOs índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles.
Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país.
Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular.
Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados.
Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”.
De todo modo, os números ainda estão longe dos percentuais de acesso a bens de consumo da média da população. No Brasil como um todo, segundo o IBGE, 98% têm televisão; 82%, aparelho de DVD; e 79% têm celular.
A pesquisa teve ainda o intuito de avaliar as condições de vida dos indígenas.
Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde.
A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%).
Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece.
A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids.
A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles.
Algumas características das aldeias: 69% têm postos de saúde; 88%, escolas; 59%, igrejas; 19%, mercados; e 6%, farmácias.
(MATHEUS LEITÃO)
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Extração ilegal de ouro ocorre há 4 anos, afirma PF
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM CUIABÁ
O confronto que causou a morte de um índio no rio Teles Pires tem como pano de fundo um sistema de extração ilegal de ouro operado há ao menos quatro anos na região da divisa entre Mato Grosso e Pará.
Alvo da Operação Eldorado, deflagrada pela Polícia Federal nesta semana em sete Estados, o esquema movimentava milhões de reais.
A estrutura criminosa é descrita em detalhes em decisão da Justiça Federal que determinou a prisão de 28 suspeitos de envolvimento na exploração ilegal, além de 64 ações de busca e apreensão.
Segundo o documento, oito índios caiabis e mundurucus -dois deles caciques- recebiam pagamentos em dinheiro, ouro, combustível e até tratamento médico em São Paulo para autorizar a permanência de garimpeiros em terras indígenas.
O ouro era extraído do rio Teles Pires por meio de balsas. A PF identificou 14 delas na região, gerando danos ambientais como assoreamento e contaminação por mercúrio. No total, cada balsa rendia R$ 500 mil por mês, totalizando R$ 84 milhões ao ano, segundo a PF.
“A atividade é praticada não por garimpeiros artesanais, mas por ricos ’empresários do crime'”, aponta trecho da decisão do juiz Fábio Fiorenza, da 5ª Vara Federal de Mato Grosso.
Com base em grampos telefônicos legais, a PF identificou quatro grupos da operação: 1) líderes indígenas; 2) donos de balsas e garimpeiros; 3) donos de postos de compra de ouro; 4) pessoas que dão apoio ao esquema.
Para ocultar a origem ilegal do ouro, entravam em cena empresas de comércio de ouro de cidades como Jacareacanga (PA), Porto Velho (RO) e Alta Floresta (MT), ligadas a firmas que vendem o metal no mercado financeiro.
A produção era “regularizada” com notas frias fornecidas por pessoas físicas ou cooperativas de garimpeiros.
A exploração mineral em terras indígenas, vetada por lei, é tema de projeto de lei em discussão no Congresso.
Pela proposta, índios receberiam royalties. A Funai é favorável.
(RODRIGO VARGAS)
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Falta de pontaria põe Romarinho no banco do Corinthians
Atacante vai para o banco no jogo contra o Coritiba depois de ter atuado mal diante do Atlético-GO
SÃO PAULO – A fraca atuação diante do Atlético-GO, no último domingo, foi decisiva para Romarinho perder a sua vaga de titular no Corinthians para o jogo deste sábado contra o Coritiba, às 21h, no Pacaembu. As duas ótimas chances de gol desperdiçadas pelo atacante diante do lanterna do Campeonato Brasileiro foram a gota d”água para o treinador. “As finalizações dele não têm sido muito precisas”, justificou Tite.
Nilton Fukuda/Estadão -04/09/2012
Como Guerrero estava suspenso, Romarinho atuou como centroavante, posição que não costuma se dar bem. Mas com a volta do peruano à equipe, ele, Jorge Henrique e Martínez passaram a disputar duas vagas para atuar pelas beiradas do campo e servir Guerrero. O treinador manteve mistério por toda a semana e nesta sexta-feira veio a confirmação de que Romarinho levou a pior. “O momento dos outros é melhor”, explicou Tite.
Desde a o fim da Libertadores, será a primeira vez que Romarinho ficará na reserva. Após a conquista do torneio continental, o atacante só não jogou quando esteve suspenso. Nesta reta final do Brasileiro, porém, ele caiu de rendimento e, com isso, corre sério risco de esquentar o banco no Mundial – para aumentar ainda mais a concorrência, Emerson está voltando de contusão no joelho direito e dificilmente não será titular. “Conversei com o Romarinho e mostrei para ele que nos últimos dois, três jogos, ele não teve a mesma intensidade dos outros jogadores”, disse Tite.
O treinador, porém, evita fazer projeções para o Mundial. “A escalação está definida para o jogo contra o Coritiba. O resto fica para depois”, disse.
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Na última quinta-feira acompanhei na Câmara Municipal uma sessão da Comissão da Verdade ( Wladimir Herzog) o depoimento de meu amigo e colega de militância estudantil e partidária Waldir José de Quadros. Hoje, um professor da Unicamp na área de Economia, cabelos brancos , voz suave mais sempre o mesmo cara correto dos anos 70.
Waldir foi presidente da Juventude do MDB ( eu era seu vice) naquele período de grande dificuldades para os que lutavam na oposição. Na àrea universitária militava junto com membros do PCB ( Partido Comunista Brasileiro) uma das poucas ( talvez a única) organização de esquerda que condenava a luta armada e defendia a militância politica pacífica para sairmos da ditadura implantada à partir de 1964.
O nome de Waldir foi sugerido a Comissão da Câmara Municipal por Pedro Tavares de Lima (também membro do grupo do MDB) e hoje procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo.
Waldir falou com clareza as dificuldades daquele tempo. Era o segundo semestre de 1975 e o regime desencadeou uma onda de prisões a pretexto de combater os membros do clandestino PCB. E todas as torpezas foram praticadas: prisões ilegais ( como era prática do regime); tortura e morte dos dissidentes.
Logo após a prisão de Waldir e de um grupo grande de companheiros do MDB – duas semanas antes do assassinato de Waldimir Herzog- fizemos de tudo para salva-los de das prisões que poderia ser um passo para entrarem na lista de desaparecidos.
Procuramos denunciar à imprensa os fatos, embora a rigorosa censura bloqueasse a maioria das informações. Mesmo assim, com risco de toda a ordem, os jornais começaram a dar pequenas notas das prisões.
O pior era para a familia dos desaparecidos. Mães, esposas, filhos saiam por todo lado procurando informações para localizar seus familiares. O desespero das famílias era a parte mais difícil de enfrentar.
Uma das mães – em uma das continuas visitas a séde do MDB, na Cãmara Municipal, pediu -quase em desespero- que fôssemos a séde do II Exército e tentássemos falar com os militares.Consegui, com ajuda de José Luiz Portela ( há época estudante de engenharia e integrante de um grupo de jovens que acreditava numa liberalização do regime ) um contacto no comando militar. Sómente anos após soube que quem fornecerá o nome da pessoa fora Cláudio Lembo, há época presidente da Arena.
Com minha inesquecível Eliane reunimos um grupos de mães e fomos para o Ibirapuera onde estava o comando do Exército. Para nossa surpresa fomos recebidos pelo general Ednardo D’avila Mello comandante do II Exército e – acreditávamos- o responsável pelas prisões. Por duas semana fizemos visitadas diárias ao militares com mães, irmãos e filhos clamando pelo direito de verem seus parentes. Nada era informado mais tudo era prometido para o dia seguinte. E no dia seguinte, nada. Era remarcada para outro dia e nós lá estávamos nesta busca infrutífera.
Neste contactos conheci quase toda a cúpula dos militares de São Paulo. O General Ednardo (comandante ?), o general Antonio Ferreira Marques (chefe do Estado Maior) e até o coronel Paes ( então desconhecido) que viria -no futuro- frequentar a listas dos piores do regime . Éramos obrigado a ouvir horas e horas de pregações contra o comunismo, contra deputado Ulisses, contra o senador Brossard (tido como traidor da Revolução) e outros tantos. Trouxeram até um ex-membro da ALN ( que passará para o lado do regime -se é que alguma vez tenha sido contra) que ficava horas falando contra seus ex-companheiros.
Eu tinha um discurso claro: lutávamos pelo Estado de Direito e pela democracia e o MDB recebia de braços abertos todas as correntes que pretendesse mudar o regime por uma saída pacífica. Lembro que uma vez o ex- ALN ficou uma arara quando disse que a opção pela luta armada era um erro infantil da extrema – esquerda. Ele vivia- ou fazia crer que vivia – um dilema ainda não resolvido pela sua “militância” .
Os generais eram diariamente desmentidos por oficiais de patente inferior. Quem mandava era o Coronel Paes. O General ouvia e abaixava a cabeça. Era um completo quadro de quebra da hierarquia.
Mandavam os que atuavam nos porões da repressão. Os demais, davam cobertura.
Após duas semanas de visitas permanentes deu-se o terrível acontecimento em que foi o assassinato de Herzog e – a partir dai-eu e as mães , filhos e esposas dos presos fomos proibidos de entrar na àrea.
Foram 15 dias dramáticos para todos onde eu vi o mundo em que vivíamos.Um Exército sem hierarquia , com coronéis mandando em generais, e os grupos mais radicais do regime dando as ordens.
No depoimento de Waldir, da última quinta, relembramos dos terríveis acontecimentos de outubro de 1975 e que viria a marcar todas as nossas vida.
Espero que dias como aqueles nunca mais venham a ocorrer.
Publico abaixo duas notas divulgadas pela imprensa naquele período. Um é o comunicado das prisões que os jornais davam com grande dificuldades. Sómente a idade (de quase irresponsabilidade) permitiu-me assinar comunicados a imprensa sobre prisão naquele quadro onde a policia politica era a lei. Só para lembra muitos dos presos eram sindicalista (dentre eles o irmão do presidente Lula) mas nenhum Sindicato deu um píu pelas presos. A segunda nota foi um apelo para a soltura dos presos ( sem ordem judicial) e que estavam há quase três meses no DOI-CODI e no Dops. Fico espantado com o equilibrio da nota no período do natal que acredito tenha sido ponderações do Pedrinho ( Pedro Tavares de Lima) e do Marrey ( Luis Antonio Marrey). Não acho que sózinho faria uma nota tão serena que lida quase quarenta anos mostra interamente adequada.
JUVENTUDE DO MDB RELACIONA PRISÕES
O Departamento Estadual de Juventude do MDB de São Paulo divulgou ontem uma relação de pessoas presas nos últimos dias, entre as quais vários membros do partido, “sem cumprimento das formalidades legais” e que chegaram a seu conhecimento através de informações de parentes e amigos dos presos.
A nota, assinada pelo presidente do Departamento, Antonio Roque Citadini, contém a seguinte relação de nomes: Severian Loureiro, membro do Diretório da Juventude; Sérgio Azevedo Fonseca, membro da Juventude; Lenita Nobuko Yassuda, membro da Juventude; Ricardo de Moraes Monteiro, jornalista e membro da Juventude; Luís Guilherme de Moraes Monteiro, membro da Juventude; Paulo Sérgio Markum, jornalista e membro da Juventude; Diléa Markum, jornalista e membro da Juventude; David Capistranoda Costa Filho, membro da Juventude; Miguel Treffault Urbano Rodrigues, estudante de Biologia-USP; Benauro Roberto de Oliveira, professor; Cristina de Castro Mello, arquiteta; Luís Paulo da Costa, jornalista e membro do Diretório do MDB de São José dos Campos; Ubiratan de Paula Santos. membro da Juventude; Anthony de Chrysto, jomallsta.
Além dessas pessoas, presas recentemente, segundo a relação da Juventude do MDB continuam presas mais as seguintes pessoas: Waldir José Quadros, presidente do Departamento de Juventude do MDB; Sérglo Gomes da Silva, jornalista e membro da Juventude; José Salvador Faro, professor e membro da Juventude; Miguel Trujillo Filho, membro da Juventude e do Diretório de Sorocaba; Francisco José Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, médico em Taubaté e membro da Juventude; Marisa Saenz Leme, membro da Juventude; José Carlos de Souza Alves, estatístico; Lázaro de Campos, membro do Diretório o MDB de Sorocaba; Aurélio Sabadin, Sorocaba; Manoel José Constantino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, filiado ao MDB local; José Ferreira, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul; Pedro Daniel de Souza, ex-líder sindical e comerciante em São Caetano do Sul, filiado ao MDB local; Henrique Buzzoni, advogado, filiado ao MDB de Vila Madalena; Antonio da Costa Gadelha Neto, corretor de seguros; Jafet Henrique de Carvalho, arquiteto; Osmar Gomes da Silva, dentista; Ernesto Correa de Mello, feirante; Eleonora Machado Freire, médica; Frederico Pessoas da Silva, Jornalista; Simão Lorente, aposentado; Sônia Maria de Oliveira Morosetti, advogada, de Santos; Sandra Mara Nogueira Miller, advogada, de Santos; Roberto Caland Salles da Costa, de Santos; Luís Martins, presidente da Sociedade Amigos do Jardim Lavinha – São Bernardo do Campo; Álvaro Bandarra, comerciante, de Santos; Fernando Gomes da Silva, engenheiro; José Milton Ferreira de Almeida; Aldo Pedro Dettrich; Gildázio Westin Consensa; Armando Eurico Gomes; Ricardo Felício Mansur; Francisco Vítor Machado; Edwaldo Alves da Silva.
Foram comunicadas às auditorias militares mais as seguintes prisões ocorridas nos últimos dias: Elzo Ramos Júnior, 30/9; Nivaldo José Costa Miranda, 30/9; Sebastião Vitorino da Silva, 30/9; Emílio Bonafante de Maria, 1/10; Antonio Bernardino dos Santos, 1/10; Rosa Maria Colombo Faria, 1/10: Feliciano Eugênio Neto, 2/10; Fernando J. Dias, 2/10; Ana Marta Maduro Gonçalves Brandão Dias, 2/10; Geraldo da Silva Espinosa, 2/101 Sérgio Martins. 2/10; Francisco Stedel, 2/10; Adegildo Justiniano de Paula. 3/10; José Hortêncio. 3/10: Isaías Trajano da Silva. 3/10; Gumercindo Arias Rodrigues, 4/10; José Ferreira da Silva, 4/10.
DEPUTADO DENUNCIA
O deputado Dias Menezes, oposicionista por São Paulo, denunciou ontem na Câmara a prisão de jomalistas em diversos estados, “na mesma ocasião em que se instala na capital paulista a assembléia da Sociedade Interamericana de Imprensa”. Lembrou ele a contradição entre as prisões e a luta que aquela entidade mantém em defesa da liberdade de informar.
Citou o parlamentar a prisão dos jornalistas Luiz Paulo Costa, em São José dos Campos, e Paulo Sérgio Markum e sua mulher Diléa Markum, na capital.
(FOLHA DE S. PAULO, 21/10/1975)
APELO DO MDB
Os departamentos da Juventude e Trabalhista do MDB paulista, distribuíram ontem comunicado formulando apelo às autoridades no sentido de que o espírito natalino alcance também aqueles que, sem mandado judicial e sem prisão preventiva, se acham detidos há quase oitenta dias dentro dos quais se destacam: Waldir José de Quadros, presidente do Departamento de Juventude do MDB de São Paulo; Davi Rumel, Genivaldo Matias da Silva, Ricardo Moraes Monteiro, Sérgio Azevedo Fonseca e Ubiratan de Paula Santos, membros do Departamento da Juventude de São Paulo; Davi Capistrano Filho, Hélio Rodrigues e Osvaldo Luiz de Oliveira, de Campinas e Miguel Trujillo Filho de Sorocaba.
Assinado pelos dirigentes partidários Antônio Roque Citadini e João Gerônimo, respectivamente presidente em exercício do Departamento da Juventude e presidente do departamento Trabalhista do MDB, o documento assinala que, é de público conhecimento que todos os indiciados possuem endereço certo e conhecido, têm empregos definidos, são contribuintes do Imposto de Renda, sendo alguns mutuários do BNH, chefes de família regularmente constituída.
Não se tratam, portanto, de indivíduos clandestinos, de vida nômade e irregular e paradeiro incerto.
Quando de suas prisões, não houve maiores dificuldades para encontrá-los. Estavam em suas residências ou em seus locais de trabalho.
Solicitamos, por isso, seja acolhida a mensagem papal de liberdade, para que todos possam vivê-la em família, neste Natal de 1975. Não se pede a anistia (uma vez que ainda não foram julgados), mas o direito de responderem em liberdade as eventuais acusações que lhes sejam feitas.
Finalizando, os referidos departamentos reafirmam sua fé de que só com o restabelecimento do Estado de Direito – que possibilite os processos regulares, com prisões efetuadas sob mandado judicial, preservando aos acusados ampla defesa – ver-se-ão satisfeitos os anseios populares.
(DIÁRIO DA NOITE, 18/12/1975)