Sexta-feira 13
(Marc Chagall. “Paris através da janela”, óleo sobre tela, 1913)
Para muitos sexta-feira 13 é um dia de azar e infortúnio.
Esta história teria seu início na ordem secreta do Papa Clemente V, para a destruição da Ordem dos Templários. Por solicitação do Rei Felipe IV da França, o Sumo Pontífice emitiu uma bula secreta, fixando uma certa sexta-feira, dia 13, em 1307, para o ataque final e extermínio aos Templários. O Rei ficou com o patrimônio da ordem e a Igreja com o prestígio (e também a grana). A partir deste fato, a sexta 13 ganhou a má fama que tem até hoje. Assim, o dia 13 é propício para o azar.
Já o dia 12 é seu oposto. Ali é sorte e alegria. Doze seria o número da completude: 12 meses do ano, 12 tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus, 12 signos do Zodíaco.
Enfim, é o dia da felicidade.
O futebol é um mundo de misticismos e superstições, onde o dia 13 não está perdoado. Mas não creio que a torcida do Flamengo passe a acreditar – a partir de ontem – que dia 12 seja dia da sorte, e 13, de azar. O que ocorreu não deixa dúvidas.
Mas esta cultura mística, carregada com todo tipo de história, é uma constante no futebol brasileiro.
Ninguém se esquece que o Brasil eliminou a camisa branca após a derrota da Seleção em 1950 , no Maracanã. Quando, em 1958, a Seleção não poderia jogar a final com a “canarinho” (a Suécia tinha a preferência e sua camisa oficial era amarela), foi proposto jogar com o velho uniforme nº.2, a tal camisa branca. Didi – o chefe da Seleção – disse não. Por mais que o psicólogo da Seleção explicasse que aquilo era superstição, bobagem, etc, o time rejeitou. A situação estava no impasse e a Direção da Seleção resolveu o caso com uma solução tão mística como a rejeição do branco: o time jogaria com uma camisa (comprada às pressas) de cor… azul, a mesma cor do manto de Nossa Senhora da Aparecida, segundo palavras dos Diretores. Foi uma solução marcada pela superstição. E o Brasil foi campeão!
Mesma sorte não teve o Palestra que, na partida final do famoso Campeonato Paulista de 1954 (ano do Quarto Centenário de São Paulo), por orientação de um pai-de- santo, trocou a cor de sua camisa e o Presidente engessou a perna, embora nada tivesse. Não deu sorte. O Corinthians foi o campeão daquele que é o mais famoso de todos os campeonatos de São Paulo.
Nas últimas décadas os “despachos”, “trabalhos” feitos por religiões de origem africana, perderam (um pouco) seu espaço. Foram substituídos pelos católicos (nenhum Clube deixa de rezar o pai-nosso e ave-maria antes do jogo) e pelos evangélicos, que surgiram com seus “atletas de Cristo”. Mas tanto em um como no outro está presente uma forte dose de misticismo e superstição. Invocar um santo ou fazer uma promessa, como fazem os católicos, é também aceitar sua mística. Como também os evangélicos (especialmente este novos pentecostais), que revivem hoje práticas que Calvino e Lutero mandariam para a fogueira: óleo santo, meia consagrada, terra de Israel, porta da salvação, etc, tudo é uma superstição geral que a Reforma Protestante tanto condenou e que os evangélicos de hoje reconstituem.
Mas no futebol azar, sorte, figa e tudo mais são presenças constantes. Para os que acreditam ou não.
Quarta de gols e de garfos
O Corinthians venceu, na noite de ontem, o Nacional do Paraguai e está classificado para a próxima fase da Copita (ou será Copaça?) Libertadores.
Agora o empenho do Timão deve ser por ficar numa classificação cada vez melhor. E acho bem possível. Mas, enquanto assistia nosso jogo do Alvinegro, recebi um sem número de mensagens, SMS, emails etc sobre o que ocorria na famosa Feira de Santana, onde o Bahia II (local) enfrentava o SPFC. Após o jogo, vi os lances. Foi uma garfada geral. Pênalti, cartão e expulsão. Hoje a mídia trata o ocorrido de forma discreta. Não fica bem dizer que seu “queridinho” eliminou o forte adversário com substancial ajuda da arbitragem. Juiz erra. E muito! Mas para os dois lados.
Quando o erro é evidente, e somente para um dos times, a coisa fica confusa.
Cem anos I
A comemoração dos cem anos do Santos foi lembrada, hoje, por dois artigos de fôlego: Wagner Villaron, no Estadão (“Sempre Santos”); e Juca Kfouri (com o “Santos 100 Pelé”), na Folha.
É justo que os jornais falem de um clube quando ele chega aos 100 anos. É fato pouco comum no Brasil. No artigo do Wagner ele diz que o time é um orgulho pelo “futebol ofensivo e goleador”. Está certo, mas precisa tirar um longo período de sua história e muitos jogos (como este último com o Barça). Juca centra (os técnicos e jogadores diriam “foca”) seu comentário no centenário santista numa partida. O jogo contra o Milan, em 1963, no Maracanã, na partida final da Copa Intercontinental. Fala da raça santista, da virada etc. Não deveria lembra desta partida. Juca diz apenas que Almir Pernambuquinho, dez anos após o jogo, revelou que jogou dopado prática, segundo Juca, “habitual… na Itália.” Não é bem isso que Almir revela no seu livro. Fala do doping e de muito mais. Cita a direção santista e afirma que o jogo estava comprado. Quer dizer, o juiz argentino Juan Regis Brozzi (creio) estava “na gaveta”. Nunca esqueci desse jogo. Era um piá (12 anos) e já sabia que era um corinthiano “casca grossa”. Nunca tive qualquer simpatia pelo Milan. Prefiro a Juve, o Napoli ou Catânia. Mas, naquela noite, torci para o Milan. E vi o submundo do futebol. Uma arbitragem deplorável. A imagem em branco e preto (com chuvisco) da TV não deixava dúvidas. Era assalto! Quando li o livro de Almir, uma década após, fiquei com uma sensação de orgulho de torcedor. Eu não caí nesta bobagem de torcer por time brasileiro, especialmente numa armação como essa.
E nunca mais me esqueci do que ocorreu.
Cem anos II
Há um filme do centenário do Santos que segundo Juca Kfouri está muito bom.
Ótimo, para ser preciso. Pode ser. Não vi e não vou ver. Mas, diz ainda Juca, que o pecado do filme “está em fazer permanente contraponto com o Corinthians”. Esqueça, Juca . Isso é doença de todos. A bronca com o Timão é ampla, geral e irrestrita. Viva!
E não vai mudar.
Louco ou gênio?
É sempre difícil saber se uma ideia é genial ou uma loucura pura.
Numa fase inicial ocorre – quase sempre – o mesmo quadro. Caminha-se para uma mudança. Forte, estrutural e rompendo com o presente. Foi o “Caso dos pardais”, na China maoísta dos anos 1950.
Com crise na agricultura e fome generalizada, um grupo de Economistas apresentou a Mao Tse Tung um caminho “genial”: os pardais comiam mais de 30% da produção agrícola chinesa. Era preciso acabar com esta praga. Mao mandou e a China eliminou, numa campanha nacional, todos os pardais. Resultado: a produção agrícola chinesa no ano seguinte caiu quase 60%, levando a uma fome infernal. Sem os pardais, as plantações tiveram que conviver com todo tipo de praga de insetos (que os pobres pardais comiam).
Mao consertou aquela ideia “genial” e “louca” com duas medidas: mandou fuzilar todos os Economistas que fizeram a proposta de eliminação dos pardais; e decretou uma importação dos pássaros da União Soviética.
Esta tragédia maoísta lembra – um pouco – a proposta de “adaptar o calendário de futebol do Brasil ao europeu”.
Aqui também acho que não há nada de “genial”, é “loucura pura”. O que propõem nossos “iluminados” é uma mudança no clima: o Inverno passa a ser Verão; o Outono, Primavera. Como sabemos, os povos – desde que o homem tomou a direção do mundo – organizam suas atividades de acordo com as estações do ano. No Verão, com Sol e tudo mais, é um tempo para descanso. Os trabalhadores (ou não) viajam, descansam e recomeçam o trabalho no início do Outono. Desde os anos 1930 – do século passado – quando a esquerda francesa inovou e estabeleceu as férias remuneradas – isto vem sendo feito. E toda atividade do país segue este caminho: os governos e as empresas programam tudo obedecendo às estações do ano. As fábricas, as escolas, os restaurantes, todos seguem os períodos climáticos. E os eventos (esportivos, culturais etc) fazem a mesma trilha. Por esta razão, os campeonatos europeus e americanos começam com o início do Outono (quando tudo começa a funcionar), vivem seu auge no Inverno, e vão se encerrando na Primavera.
O que propõem nossos “gênios” (ou “loucos’) é fazer com que o Brasil mude de Hemisfério. O auge dos nossos campeonatos seria em janeiro e fevereiro (com aquele sol na cabeça, que Deus nos deu), e descansemos no Inverno (na neve, que Deus não deu).
Esta ideia está mais para loucura e é uma vingança contra Policarpo Quaresma. Desqualifica totalmente o País, submetendo-nos ao regime das estações do hemisfério diverso do nosso. Lembra a ideia de outro gênio (aquele que inventou a Correção Monetária), Roberto Campos, que nunca se conformou com o fato de o Brasil não obrigar a todos falar inglês. Esta aí uma ideia para complementar a mudança das estações: falando inglês ganharíamos mercados e ficaríamos iguais aos europeus, como querem os “gênios” da mudança do calendário do futebol.
E mais interesssante é que esta ideia retorna quando o Brasil (pelo crescimento ecônomico das últimas décadas) tornou-se a “joia da coroa” das empresas que por aqui atuam. E que – com maior poder econômico – tendem a tornar os clubes locais mais fortes e concorrentes diretos dos europeus. Ou será que não acreditam que seremos a quinta (ou quarta) economia do mundo nos próximos anos? E que isso terá impacto no futebol? Como, aliás, já vem ocorrendo. Vejam o caso do Neymar (que não acho que seja tudo isso que a mídia diz) que continua jogando no Brasil. Com o Brasil crescendo e a Europa em queda livre são eles (os europeus) que deveriam pensar em mudar suas estações.
Grande Xico
Há motivos para termos fé na nossa mídia esportiva. Não muito, é claro. O artigo de hoje, na Folha, Fé no Casagrande do Xico Sá, é um deles. Chama de mística furada este papo de time “com cara de Libertadores”. Faz bem o Xico de dizer que este papo de “competição diferente” é “mistificação pura”.
Infelizmente não é só a mídia que martela esta bobagem. Até torcedores e jogadores do Timão entram neste papo furado. Xico diz – com razão – que por este critéro de “cara de Libertadores” o Barcelona de Messi seria um exemplo de covardia, que nunca ganharia Copita. Está certo o Xico. Este papo de que a Copita “Libertadores” é diferente é só para cutucar o Timão. É um torneio igual. Inclusive com um monte de times de segunda ou de terceira categoria (como este “poderoso Juan” que o Santos venceu ontem). Seu endeusamento é, também, para pagar pouco aos clubes pela transmissão da TV. O Corinthians – não fosse a bilheteria – teria prejuízo em jogar esta “Copita”.
Vencendo o Corinthians esta competição, a mídia se encarregará de retorná-la ao lugar de quinta, onde esta Copita fica bem.
A “Copita” faz a mídia sofrer.
O Corinthians venceu, ontem à noite, o Cruz Azul, do México, pela Libertadores. Conseguiu o que queria: uma vitória e a liderança em sua chave. Não foi um jogo brilhante, mas o objetivo foi alcançado.
O Corinthians, cada dia mais, firma-se como um time competitivo, bem organizado, dedicado, o que torna difícil ser vencido por qualquer adversário. Ontem foi assim. Com a organização (defesa, meio-de-campo e ataque) e o bom toque de bola alvinegro, o Cruz Azul sofreu para enfrentar o Timão. Alguns jogadores ainda estão abaixo do desempenho necessário. Esperemos que ganhem melhor condição rápido, porque a competição está em andamento. Faltaria para o time dar um salto de qualidade uns 2 ou 3 jogadores de bom nível. Ficaríamos muito melhor. Mas isso não é motivo pra lamentar.
O Timão venceu e vamos prá frente.
A mídia sofre
Assistindo ontem ao jogo no estádio, como sempre faço, ouvia a transmissão pelo rádio. É uma beleza ver como a mídia piratininga sofre. Com seu Queridinho fora de disputa e tendo que transmitir o Timão, ficam todos incomodados.
Como sempre aquele papo de que “Libertadores é outra coisa” (que coisa, não!); “a disputa é totalmente diferente” (pode ser: quem ganha, perde 3 pontos, e quem perde o jogo, ganha os 3 pontos); “até o rosto da torcida é diferente” (esta nem o Padre Quevedo explica!) e pasmem, há todo tempo, lembravam que ontem era aniversário de Airton Senna e que este “morreu sem ver o Timão ganhar a Libertadores”. Ah! Esta foi fantástica.
Onde é que faço a inscrição para o prêmio “Contra-Esso” de jornalismo; após essa citação de Senna, a matéria ficará imbatível. O pior é que alguns torcedores entram nesta bazófia.
Quando a mídia fica fazendo este blá-blá-blá da Libertadores é só pra atingir o Timão porque, ainda, não ganhou. Vencendo o Timão esta competição, que não é lá “uma Brastemp”, cairá pro lugar comum.
Copa ou Copita?
Curioso nossos jornalistas. Os que são contra o Campeonato Paulista (e com bons motivos) chamam-no de “Paulistinha”. Mas quem dá uma olhada neste times paraguaios, peruanos, bolivianos etc, que disputam a badalada Libertadores, ficará estarrecido com o baixo nível de futebol apresentado. E isso não é de hoje. Num futuro, com melhor planejamento, isso deve ser alterado. Porque para ficar vendo jogos como temos visto nestas décadas é, em muitas situações, melhor ver o “Paulistinha”. Ou então, sejamos justos e digamos que este torneio sulamericano é uma “Copinha” ou “Copita”. Pior ainda é que, com a melhora dos contratos de TV dos jogos brasileiros, a Copita Libertadores começa a dar prejuízo aos clubes daqui (pelo menos aos grandes).
Para o Corinthians, conquistando esta Copita, o melhor será rediscutir a participação num evento que não dá dinheiro e onde participam times de segunda (ou terceira) categorias.
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