É Tudo Verdade 2014: Documentário sobre a Democracia Corinthiana relembra futebol, rock e política dos anos 80
É impossível agradar a todas as torcidas quando o assunto é futebol. Mas o documentário “Democracia em preto e branco”, que conta a história da Democracia Corinthiana, deve interessar, sim, a todos os fanáticos por futebol e até a quem não está nem aí para o esporte. O movimento liderado por Sócrates, Vladimir, Casagrande e Zenon rompeu as barreiras do campo, influenciando o processo de redemocratização do País. Tudo isso é contado ao som do melhor do rock nacional que, assim como a Democracia Corinthiana, trazia à tona o sentimento de descontentamento com a “década perdida”. O filme faz parte da competição brasileira de longas do É Tudo Verdade 2014, que ocorre entre os dias 3 e 13 de abril, em São Paulo, e de 4 a 12 de abril, no Rio de Janeiro (veja os horários de exibição abaixo).
Futebol e política se fundem quando Sócrates, na época ídolo do Corinthians e assediado por times europeus, decide colocar seu futuro nas mãos do Congresso, que poderia aprovar a emenda constitucional cujo objetivo era reinstaurar as eleições diretas para a presidência da república. Era 1984 e mais de 1,5 milhão de pessoas se reuniam no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, pedindo “Diretas Já”. Sócrates sobe então ao palco e promete: se a emenda for aprovada, não vou embora do meu país. A emenda não passou e ele partiu. O jogador, que morreu em 2011, foi entrevistado neste mesmo ano para o documentário. “O que eu tinha na mão era aquilo lá”, diz, relembrando o episodio. “Queria demonstrar meu sentimento, meu credo naquilo que eu pretendia para o meu povo”.
O diretor Pedro Asbeg, relembra com carinho seu encontro Sócrates, um de seus ídolos de infância. “Tivemos a chance de mostrar a ele um promo do filme e esse encontro foi igualmente emocionante, pois ele estava muito entusiasmado com o projeto”, conta. “O filme, inevitavelmente, é também uma homenagem a ele”.
Nesta entrevista, Asbeg, que é flamenguista, fala sobre a dificuldade de tratar de três temas tão ricos como a Democracia Corinthiana, a política e a música dos anos 80 em apenas um filme, reclama da dificuldade que os documentaristas encontram na negociação, autorização e compra de materiais de arquivo e adianta um pouco sobre seu novo documentário “Geraldinos”, em processo de montagem, para o qual gravou os últimos 10 jogos da “Geral” do Maracanã.
Em outra entrevista, você havia me falado que é fanático por futebol e achava que o esporte deveria estar mais presente na filmografia nacional. Agora que o documentário está para ser lançado você sente essa demanda do público, interessado em saber mais sobre histórias que envolvem o esporte?
Pedro Asbeg – Acredito que o universo do futebol, além de ser repleto de histórias ricas e fascinantes, é também parte integral da cultura popular brasileira. Por isso, apesar do numero crescente de filmes com temática futebolística, acho que ainda estamos aquém do potencial cinematográfico que o tema tem.
O documentário é construído sobre três pilares: a situação política da época (anos 80, Diretas Já), o surgimento do rock nacional e, claro, a Democracia Corinthiana e seus resultados dentro e fora do campo. Todos esses assuntos são interligados. Como foi abordar todos esses temas no mesmo filme?
Pedro Asbeg – Foi difícil e, ao mesmo tempo, necessário. Quanto mais eu pesquisava sobre o período e os temas, mais percebia que eles estavam diretamente ligados. Afinal, naquele momento cinzento da nossa história o voto e a liberdade de expressão eram desejos comuns de grande parte da população, principalmente dos mais jovens.
Como foi o processo de escolha e compra de material da arquivo?
Pedro Asbeg – O processo de pesquisa foi gigantesco e muito prazeroso, pois além de descobrir materiais riquíssimos e muito raros, pude contar com a colaboração do grande pesquisador Marcio Selem (que é pesquisador do filme “Bernardes”, também selecionado para o ÉTV 2014).
Infelizmente, o processo de negociação, autorização e compra do material de arquivo foi duro, burocrático e cansativo. Os preços subiram muito de 2010 até 2014, encaramos empresas intransigentes e que veem esse material apenas de maneira comercial. A ANCINE nos obriga a ter cartas de anuência inexplicavelmente e, pra piorar, temos uma lei que dificulta muito o uso de qualquer imagem, uma vez que todas precisam contar uma autorização formal. Desta forma, é quase impossível se fazer um filme de denúncia no Brasil.
Assim que terminar o festival pretendo iniciar um movimento entre documentaristas para tratarmos desses problemas. Gostaria de encontrar soluções práticas para o documentário brasileiro sobreviver de uma maneira que não seja apenas fazendo homenagens ou vivendo tão preso a regras feitas por pessoas que não tem qualquer compreensão do trabalho, apenas preocupações burocráticas e que protegem quem não deveria ser protegido. Chaim Litewski, diretor que venceu o É Tudo Verdade em 2009 com “Cidadão Boilesen”, por exemplo, está há anos tentando fazer um filme sobre PC Farias. Alguém acha que a família vai dar uma carta de anuência para a ANCINE?
A locução é da Rita Lee e, ao longo do filme, entendemos o motivo desta escolha. Como foi o contato com a cantora?
Pedro Asbeg – Este sempre foi um filme que imaginei contar com um locutor. Aos poucos fui percebendo quantas eram as razões para ter a Rita fazendo esse papel. Além de ser uma verdadeira pioneira e rainha do rock brasileiro (e também corintiana), ela trazia um frescor feminino em um filme basicamente masculino. Por fim, ela viveu em 82 um episódio emocionante que tratamos no filme. Foram dois anos de tentativas e negociações até que conseguíssemos ter a Rita no filme, para apenas uma muito agradável tarde de gravações. Não tenho a menor dúvida de que valeu a pena.
Você já está trabalhando em algum outro projeto?
Pedro Asbeg – Estou atualmente iniciando o processo de montagem de um filme que dirijo com meu amigo Renato Martins. Filmamos em 2005 os últimos 10 jogos da “Geral” do Maracanã, mitológica e popular área do estádio que reunia aqueles de menor poder aquisitivo. Hoje, às vésperas da Copa e com milhões de reais gastos com dinheiro público, percebemos que o fechamento da Geral foi uma parte do processo de “limpeza” pelo qual passam nossos estádios e outros ambientes públicos em geral. É sobre essas questões que trata “Geraldinos”.
Você disse que as entrevistas mais emocionantes para você foram as dos ex-jogadores Magrão (Sócrates) e do Casão (Walter Casagrande). Pode contar um pouco mais como foi a relação deles com o filme? Chegou a mostrar algum trecho para o Sócrates? E o Casagrande, já assistiu?
Pedro Asbeg – Sim, considero estas as entrevistas mais emocionantes que fizemos para o filme, pois além de terem trazido depoimentos bonitos e sinceros, os dois são também meus ídolos de infância.
Gustavo Gama (produtor executivo do filme e co-diretor de “Bernardes”) e eu estivemos com o Sócrates em 2011. Tivemos a chance de mostrar a ele um promo do filme e esse encontro foi igualmente emocionante, pois ele estava muito entusiasmado com o projeto. Infelizmente não está aqui para ver o resultado final. O filme, inevitavelmente, é também uma homenagem a ele. Ainda não consegui mostrar nada do filme para o Casão, torço muito para que ele possa ir à sessão no dia 10.
Afinal, você é corintiano?
Pedro Asbeg – Sou torcedor do Flamengo, fanático por futebol e admirador da história da Democracia Corinthiana. Talvez por isso (espero), o filme gere interesse aos que torcem para qualquer time e mesmo para aqueles que não gostam de futebol. Afinal, os temas que costuram o filme são nacionais e até universais.
Pedro Asbeg é formado em cinema pela University of Westminster, dirige e edita documentários. Recentemente, montou os filmes de longa-metragem “Carta para o Futuro”, “Copa Vidigal”, “Enchente”, “Vou rifar meu coração” e “Cidadão Boilesen”, vencedor do festival de documentários “É Tudo Verdade” em 2009. Em 2011 dirigiu seu primeiro longa-metragem, que estreou na Première Brasil do Festival do Rio. Atualmente produz seu terceiro longa-metragem como diretor, “Geraldinos”.
Horários de exibição de “Democracia em Preto e Branco” no Festival É Tudo Verdade 2014
Rio de Janeiro
Espaço Itaú Botafogo – SALA 4 – Praia de Botafogo, 316 – Botafogo
05/04 sábado – 21h
06/04 domingo- 15h
São Paulo
Cine Livraria Cultura – Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073
10/04 quinta-feira – 21h
11/04 sexta-feira – 15h
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BRANDÃO, O MAIOR COACH QUE CONHECI.
Por Edgard Soares
Nenhum Blog trata os heróis corinthianos como o de Roque Citadini. Com respeito e fazendo justiça aos que construíram a verdadeira história do Campeão dos Campeões.
Num momento em que a crônica esportiva perdeu tanto a qualidade que um dia já teve é reconfortante que alguém, que não pertence a ela profissionalmente, como é o caso de Roque, dê este exemplo. Que bom se fosse seguido.
No ensejo do lançamento de livro sobre Oswaldo Brandão, mais uma vez, foi possível anotar este comportamento, quando o Blog posta matéria sobre o “inesquecível” Brandão.
Ao lê-la em meu e-mail, enviada por seu autor, não poderia deixar de registrar um depoimento a respeito daquele que considero o melhor treinador de futebol que conheci.
E, pelos motivos que expus no primeiro parágrafo, resolvi fazê-lo aqui, neste espaço que reverencia os verdadeiros ídolos do alvinegro.
Neste Blog, recorda-se que o Corinthians não foi fundado em 2007, como muitos supõem.
Falando com emoção:
Tive a felicidade de conhecer Brandão como repórter da Folha da Tarde. E, como tal, o entrevistei várias vezes no Parque São Jorge em uma de suas quatro passagens pelo clube.
No meu caso isso ocorreu antes de 1977, quando ele foi supervisor do departamento de futebol no final da década de 60, tendo como técnico e seu subordinado, Aymoré Moreira, campeão mundial comandando a selecão brasileira no Chile, em 1962.
Há muito Brandão queria deixar de ser técnico e se transformar em Manager (ele, em sua maravilhosa e cativante simplicidade pronunciava “manáger”) e estava curtindo muito aquela experiência única em sua carreira.
Durou pouco, é verdade. Brandão voltou a ser apenas treinador, mas valeu a pena. O Corinthians era ainda dirigido por Wadih Helu e o desespero pela conquista do título que não vinha tornava impossível qualquer planejamento a médio prazo. E a implantação da idéia de Brandão necessitava exatamente disso, de tempo. Com o Corínthians na fila, não havia clima para tal. Os resultados tinham que aparecer imediatamente.
Mas, para mim, foi uma convivência inesquecível. Era, então, muito garoto, mas Brandão me dava a mesma atenção que dispensava a jornalistas bem mais experientes. Brandão não gostava muito de dirigir automóvel e, num final de treino, ele pediu uma carona para voltar para casa. Normalmente, Brandão utilizava taxi. Mas, naquele dia, ele voltou num carro da Folha. Claro que aproveitei para tirar dele uma “exclusiva”.
Ao chegar na porta de seu prédio, que ficava no bairro de Santa Cecília, a duas quadras da Avenida Angélica, na altura da Praça Marechal Deodoro, a surpresa: Brandão insistiu para que eu e o premiado fotógrafo Alfredo Rizzutti subíssemos até seu apartamento para terminarmos o papo. E fez questão de que o motorista do jornal, Zelão, também nos acompanhasse. Em seu apartamento, sua esposa nos recebeu com extrema delicadeza, com direito a cafezinho e refrigerante.
Brandão era assim, humano, cativante. Falou do Corinthians, de sua experiência como Manager, dos títulos que ganhou, de futebol em geral. Propiciou uma excelente entrevista.
Embora tendo sido criada a lenda em torno de Brandão de que era mais um psicólogo do que um estrategista, ele entendia, sim, e muito, de futebol; de como montar um time; e de como modificar a maneira de atuar de uma equipe, por exemplo, do primeiro para o segundo tempo de uma partida.
Claro que possuía uma liderança nata e uma capacidade motivacional incomum. Não poucas vezes fechava o vestiário, ficavam apenas ele e os jogadores. E quando estes voltavam a campo parecia uma outra equipe. Inclusive taticamente.
Mas essa não era sua única qualidade como Coach.
Não por outro motivo ele convocou e montou a seleção brasileira que disputou as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958 e que foi campeã na Suécia. Foi o primeiro treinador a ter coragem de convocar Mané Garrincha para a seleção brasileira e a classificou para a Copa num jogo decisivo no Maracanã contra o Peru, 1 a 0, gol de Didi. Com 120 mil pessoas no estádio, em abril de 1957.
Como possuía uma personalidade forte, Brandão após a classificação, tendo dado moral à seleção que vinha de dois fracassos marcantes em Copas do Mundo (1950, no Brasil e 1954, na Suiça), descontente com os dirigentes, surpreendeu a então CBF e pediu demissão.
Tivesse prosseguido com a seleção, que dali a um ano embarcou para a Europa e Brandão, ao lado de todos os títulos que conquistou, teria o de campeão mundial.
A base do time campeão em Estocolmo: Gilmar, De Sordi (Djalma Santos), Belini, Zózimo (Orlando) e Nilton Santos; Dino e Didi; Joel (Garrincha), Didi, Vavá, Dida e Pepe( Zagalo) ele já havia formado. E ainda tinha Roberto Belangero e Evaristo de Macedo, dois cracaços, entre os seus convocados.
Pelé seria uma convocação natural fosse quem fosse o treinador dali a um ano. Ou seja, a seleção campeã foi mesmo montada por Brandão.
A história se repetiu em 1977. Consagrado e no seu melhor momento como treinador, técnico da 2a. Academia e bicampeão brasileiro com o Palmeiras, Brandão foi chamado para a seleção brasileira em 1975 e formou uma equipe forte para disputar as Eliminatórias com vistas à Copa da Argentina. Certamente classificaria novamente o Brasil.
Brandão foi o primeiro treinador a chamar para a seleção Paulo Roberto Falcão e Toninho Cerezzo, inexplicavelmente desprezados na convocação final para a Copa de 78 pelo treinador que o sucedeu.
Tendo sido um ídolo na Argentina como treinador do Independiente, matreiro, Brandão, conhecia de sobejo o futebol e manha dos “irmanos” e seria o homem certo, no lugar certo, para a Copa naquele país.
Mas a pressão absurda da imprensa carioca, que sabia do temperamento de Brandão, fez com ele, pela segunda vez, abrisse mão do cargo logo após a primeira partida pelas Eliminatórias, 0 a 0 contra a Colômbia.
Seu substituto foi Claudio Coutinho, terceiro preparador físico na Copa do México de 70 (os outros dois eram Admildo Chirol e Carlos Alberto Parreira).
Coutinho era bom teórico, dava boas entrevistas utilizando termos em inglês, mas não possuía experiência nem currículo como técnico para uma Copa do Mundo.
O estopim da saída de Brandão foi a escalação de Vladimir, o lateral esquerdo e ídolo corinthiano que, por sinal, vivia o melhor momento de sua carreira.
A imprensa carioca criticou demais a escalação. Mas isso era, evidente, apenas um pretexto. O que os cariocas queriam era um treinador do Rio de Janeiro.
Tanto que os laterais esquerdos convocados por Coutinho eram, ambos, inferiores a Vladimir e, além de tudo, improvisados: Rodrigues Neto (um ex-ponta-esquerda) e Edinho (na verdade um quarto-zagueiro). Com Amaral e Polozzi convocados para a posição, a lateral-esquerda foi uma maneira de arrumar um lugar para o jogador do Fluminense entre os convocados.
Brandão sabia que as críticas a Vladimir eram apenas uma desculpa e não tinha paciência para enfrentar uma campanha tão mesquinha e despropositada. E decidiu ir embora.
Ou seja, o Corinthians e seus jogadores sempre estiveram muito presentes na vida e na carreira de Brandão.
Poderia ocupar o seu tempo, caro leitor, e o precioso espaço do Blog, falando de um Brandão pouco conhecido, mas creio que o livro tenha explorado bastante sua rica biografia.
Apenas para terminar, e como corinthiano, não consigo ver Brandão como treinador de outros clubes.
Embora ele seja o único técnico que foi campeão pelos três grandes clubes que dirigiu: Palmeiras, Corinthians e São Paulo. Este último, também, tirando-o da fila. E tendo ganho mais títulos pelo Palmeiras do que pelo Corinthians.
Mas para mim, fica e ficará sempre, o Brandão do Corinthians. É o único de que me recordo.
Num dos momentos mais trágicos, certamente o mais trágico de sua vida, o Brandão do Corinthians teve uma postura ímpar, sublime. Não conheço ninguém que a teria.
Brandão tinha uma paixão, um grande orgulho, o seu único filho, Márcio. Rapaz elegante, bem apessoado, era modelo. Nada tinha a ver com o futebol.
Na reta final do Campeonato Paulista de 1977, uma fatalidade. O filho querido, o rapaz saudável e bem sucedido na sua carreira, foi diagnosticado com uma doença incurável, terminal.
Na época, poucos sabiam a respeito.
E embora a direção do Corinthians o tivesse liberado inteiramente, Brandão reuniu forças para ficar todos os momentos disponíveis ao lado do filho e comandar, ao mesmo tempo, o time tão próximo de atingir o seu grande objetivo, que era voltar a ser campeão. Como tinha sido com ele, 23 anos atrás, em 1954.
Provavelmente, somente a crença de Brandão, kardeccista convicto, lhe possibilitou viver estes momentos tão angustiantes, com tamanho estoicismo.
Os jogadores sabiam do que ocorria. E todos, indistintamente, o idolatravam pela sua coragem ao enfrentar o drama pessoal que vivia. E ainda encontrar condições de os orientar e motivar.
Isto explica a desabalada corrida de Zé Maria, o capitão corinthiano, em direção ao Banco de Reservas, assim que Wanderlei Boschilla apitou o final da partida contra a Ponte Preta.
José Maria Rodrigues Alves, o Super Zé, aos prantos, levantou Brandão e o colocou em seus próprios ombros e saiu com ele pelo gramado.
Naquele instante, Brandão, a lenda, se eternizou.
Elias diz ter ‘cara, coração e estilo maloqueiro’ do clube
CORINTHIANS
Principal reforço da equipe faz exames médicos e assina contrato de três anos
DE SÃO PAULO
O volante Elias, 28, insistiu em mostrar identificação com o Corinthians durante sua apresentação oficial ontem, no centro de treinamento, após exames médicos.
Campeão da Copa do Brasil e do Paulista em 2009 e da Série B em 2008 pelo clube, ele voltou com discurso ensaiado para se manter ídolo.
“Não tenho só a cara [do Corinthians]. Tenho cara, corpo, coração, estilo de rua. Sou maloqueiro”, disse na entrevista coletiva.
“Se vou vestir a camisa do Corinthians de novo? Essa eu nunca tirei”, afirmou o declarado torcedor corintiano.
Apontado como futuro “protagonista” do time pelo técnico Mano Menezes, ele avaliou que sua responsabilidade não será a mesma que o ex-atacante Ronaldo teve quando estiveram juntos ali.
“Se eu tivesse 10% da conta bancária dele, eu seria três Ronaldos”, brincou.
“Como não tem esse grande jogador, o elenco todo vai dividir a responsabilidade. Mas, quando o bicho pegar, o Corinthians pode contar comigo”, completou.
Por ter chegado depois da janela de transferência, ele só atuará em jogos oficiais a partir de julho.
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Oswaldo Brandão é uma lenda em nosso futebol. Em seu livro, lançado esta semana, (Oswaldo Brandão, libertador corinthiano, herói palmeirense – Editora Contexto) o jornalista Maurício Noriega resgata esta grande figura de nosso maior esporte.
Foi um jogador modesto, para dizer pouco. Começou no Sul vindo jogar no Palestra onde -por causa de uma contusão- encerrou a carreira de atleta.
Foi no próprio alviverde que começou a carreira de treinador. Passou por todos os grandes do futebol paulista: Palestra, Santos, Portuguesa, São Paulo e, principalmente, o Corinthians. Dirigiu também -com grande sucesso- o Independente da Argentina e o Penarol, de Montevideo. Foi também – por algumas vezes- técnico da seleção brasileira. Venceu em quase todas as equipes, conquistando muitos títulos.
Mas, sem querer diminuir nada do que fez, sua vida é marcada com o Corinthians.
Um título inesquecível. Campeão do Quarto Centenário.
Chegou ao alvinegro num momento especial para nosso futebol. Disputava-se -em 1954- o campeonato do Quarto Centenário da cidade.
Ano de notáveis acontecimentos tivemos na “terra da garoa” eventos dos mais significativos. Na arte, na politica, nos negócios e … no futebol.
Todos queriam ganhar o título de campeão do quarto centenário.
O Corinthians era chamado o “Campeão do Centenário” por ter vencido o campeonato de 1922, ano que comemorava a independência do Brasil.
Em 1954, todos queriam vencer o mais importante campeonato do país. Corinthians, Palestra, São Paulo e Santos prepararam-se com todos os esforços para conquistar o título.
O Corinthians, que havia vencido o campeonato de 1952, tinha uma grande equipe e seu técnico era Oswaldo Brandão.
Foi uma disputa sem igual que apaixonou à todos. No fim, venceu o Corinthians sendo, à partir daí, chamado o “Campeão dos centenários”.
Brandão conquistava sua maior façanha e o Corinthians nunca mais esqueceria aquele time de 1954.
Gilmar, Homero e Alan; Idário, Goiano e Roberto; Cláudio ,Luizinho, Baltazar, Carbone (Rafael) e Simão. O técnico foi Oswaldo Brandão.
É um dos títulos mais importantes na história do Corinthians.
Mas, para Oswaldo Brandão, sua marca com o alvinegro não estava completa.
Em 1977, no dia de outubro, Oswaldo Brandão venceria mais um campeonato histórico do Corinthians.
Num Morumbi com 146.082 pessoas -o maior público da história do estádio- o Timão venceu a Ponte Preta, com o famoso gol de Basílio, e conquistava o título tão esperado.
Oswaldo Brandão havia vencido o último título do Timão em 1954, no campeonato dos centenários, e, agora – em 1977 – voltava a vencer o campeonato paulista.
Não! Ninguém deve esquecer Oswaldo Brandão. Sua história com o Corinthians é uma grande marca de nosso futebol.
-Noite inesquecível de 13 de outubro de 1977. O Corinthians vence e Brandão é festejado pela torcida.-
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A biografia de Oswaldo Brandão
Um dos maiores técnicos do futebol brasileiro, pouco lembrado e reverenciado, injustamente, recebe, finalmente, uma belíssima biografia: “Oswaldo Brandão – Libertador corintiano, Herói palmeirense” (Editora Contexto).
Oswaldo Brandão, para aqueles que conviveram com ele, dentro e fora dos gramados, era muito mais do que um simples técnico. Um ser humano incrível.
Ficou marcado para sempre na história do futebol brasileiro como o técnico que conseguiu livrar o Corinthians do longo jejum de 22 anos sem um título, no ano de 1977. Mas Brandão representa muito mais do que essa conquista, que chega a parecer simples para um profissional com tanta vivência no futebol.
Maurício Noriega acertou em cheio na escolha. O livro foi escrito com alma, porque “Nori”, como é conhecido e tratado pelos amigos, tinha razões pra lá de pessoais com o personagem biografado. Seu pai, um dos maiores jornalistas esportivos do país, Luiz Noriega, era muito amigo de Brandão. Nori “abraçou” a produção da obra quase como uma “missão”. Gol de letra. Brandão ficará agradecido, com certeza. Luiz Noriega, idem. E Nori, segue o caminho de ambos. Vale também conferir reportagem especial feita com o autor, Maurício Noriega, aqui no Literatura na Arquibancada (
http://www.literaturanaarquibancada.com/2012/03/mauricio-noriega-paixao-pelo-jornalismo.html )
Sinopse (da editora):
Paizão, descobridor de talentos, disciplinador, Oswaldo Brandão foi um dos maiores técnicos do futebol brasileiro do século XX. Ganhou inúmeros títulos e marcou especialmente a trajetória dos grandes rivais paulistas Corinthians e Palmeiras. Foi o técnico que mais vezes comandou ambos os times. Pelo Palmeiras, conquistou três campeonatos brasileiros e quatro paulistas e liderou a equipe na fase áurea da chamada “academia de futebol”. No Corinthians, ganhou dois paulistas, sendo que um deles (de 1977) encerrou um dramático jejum de 23 anos.
Também atuou na Argentina e no Uruguai e teve passagem de destaque pela seleção brasileira, embora nunca tenha ido a uma Copa do Mundo. Com a narrativa brilhante do jornalista e comentarista esportivo Maurício Noriega, entramos no mundo pessoal e profissional deste personagem marcante na crônica esportiva do país.
Capítulo de abertura
Por Maurício Noriega
13/10/1977
Uma multidão invadiu o gramado do estádio do Morumbi. Fazia apenas alguns segundos que o Corinthians tinha sido campeão paulista, após vinte e dois anos e alguns meses de jejum.
Histeria coletiva, choro, gente percorrendo de joelhos o campo de jogo, pagando promessas. O repórter Carlos Eduardo Leite, o Dudu, da TV Cultura de São Paulo, aproximasse de José de Souza Teixeira, auxiliar técnico do Corinthians. Microfone em riste, ele percebe Teixeira inabalável, apenas observando.
Não vai comemorar, Teixeira? – pergunta.
Eu sabia que seríamos campeões – respondeu, com o olhar fixo em uma cena em particular.
A poucos metros dali, um senhor algo grisalho, de sorriso e bigode fartos, era carregado por uma procissão. Parecia que o povo conduzia o altar de um santo, agradecendo uma graça recebida.
Aquela imagem do Brandão sendo carregado pelo povo está na minha memória. Eu fiquei em pé, em cima da cobertura do banco de reservas, olhando tudo aquilo. Os policiais tinham levado o troféu embora, esconderam dos torcedores.
Mas eles não queriam o troféu, queriam o Brandão – recorda Teixeira.
Naquela noite fria de 13 de outubro de 1977, Oswaldo Brandão estava cumprindo sua maior missão. Espírita kardecista, ele ainda demoraria 12 anos para desencarnar, como dizem os adeptos da doutrina.
Eu me guardo. Choro pra dentro – dizia aos repórteres.
Mas, naquela noite, milhões viram Brandão chorar, ao vivo e pela TV. Um paletó azul-escuro que cobria um suéter azul-celeste sobre uma camisa social branca se destacava no mar de gente que escondia o verde do gramado. Parecia flutuar acima deles. Todos queriam tocá-lo. Vestindo o paletó estava Brandão.
E ele chorava.
Trinta anos tinham passado desde que Brandão trocara a função de jogador de futebol pela de técnico. Foi em 1947 que ele assumiu o time principal do Palmeiras. Pouco antes tinha deixado de jogar, por causa de uma contusão no joelho direito.
Com a bola nos pés, foi ora lateral-direito, ora centroavante. Chutava forte. Com os jogadores nas mãos, tornara-se um dos maiores técnicos de futebol do Brasil. Fez sucesso na América do Sul. Foi campeão no Brasil, no Uruguai e na Argentina. Até mesmo na seleção brasileira, que classificou para a Copa do Mundo de 1958 e dirigiu por algumas vezes, dando a primeira oportunidade a muitos futuros craques. Em três décadas tinha deixado sua marca.
Embora colecionasse títulos de torneios mais importantes, Brandão passaria a ser lembrado para sempre, a partir daquela noite, como o técnico que tinha libertado o povo corintiano da escravidão de gozações e humilhações dos adversários.
O roteiro parecia de cinema. O Corinthians havia sido campeão pela última vez, em 1954, com Brandão como treinador da equipe no jogo decisivo contra o Palmeiras. E foi no comando do grande rival histórico do Corinthians que, em 1974, o treinador prolongou o sofrimento alvinegro, vencendo o título paulista daquela temporada, derrotando a equipe da Fiel e, ironia do destino, cravando seu nome também como o maior treinador da história do alviverde Palestra Itália.
Aquele senhor de 61 anos em nada lembrava o jovem que deixara a cidade de Taquara, no Rio Grande do Sul, para ganhar a vida como jogador de futebol e, quem sabe, evitar o destino previsível da maioria de seus companheiros de infância, o de seguir os passos dos pais e trabalhar na indústria ferroviária.
Até chegar ao título de 1977, provavelmente o mais marcante de sua carreira, Brandão tinha acumulado a experiência de jogador mediano no Sul, com passagens por Internacional e Grêmio, e uma breve carreira no Palestra Itália.
Assumiu como técnico do Palmeiras para quebrar um galho em 1945. Retornou como técnico de fato dois anos mais tarde, e só deixaria o futebol em 1989, quando desencarnou (como espiritualista, ele evitava o termo morte).
Marcou gerações de torcedores e influenciou profundamente jogadores e treinadores com quem trabalhou.
Inclusive alguns que nem sequer o conheceram, mas que imitam seus gestos, métodos e até mesmo algumas de suas frases.
Poucos olhos viram a vida e o futebol como os de Oswaldo Brandão.
Sobre o autor:
Maurício Noriega, paulista de Jaú, cidadão de Bariri, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero de São Paulo e mestrando em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais. Em mais de 25 anos de carreira, trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Diário Popular, A Gazeta Esportiva e Lance!, e na Rádio Bandeirantes. Organizou ainda a operação editorial brasileira do portal esportivo internacional SportsJÁ! Participou de diversas coberturas internacionais, entre elas Jogos Olímpicos, Jogos Pan-americanos, Copa América, Eurocopa, Copa do Mundo, GPs de Fórmula 1, Atletismo e Mundiais de Vôlei e Basquete. Desde 2002 é comentarista e apresentador do canal SporTV, com passagem pelo jornal Bom Dia São Paulo, da Rede Globo. Ganhou por cinco vezes (2005, 2006, 2007, 2010 e 2011) o prêmio Ford/Aceesp de melhor comentarista esportivo. Pela Editora Contexto publicou o livro “Os 11 maiores técnicos do futebol brasileiro”.
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