por Silas Colombo
Quem atravessa as catracas da recém-inaugurada Arena Corinthians quase confunde o lugar com um dos shopping centers da capital. Não há exagero na comparação. Só para chegar ao saguão de entrada é preciso passar por escadarias com acabamento em mármore preto, corrimãos cromados e um ambiente climatizado com ar-condicionado. Nas arquibancadas, cadeiras estofadas, numeradas e com porta-copos, como num cinema.
Nos banheiros há pias de mármore branco, vasos sanitários de louça japonesa e tomadas para carregar a bateria do celular. Se alguém acabar se perdendo nas dez escadas rolantes e nos quinze elevadores, é só procurar um dos seguranças montados em segways (aquelas patinetes motorizadas). “A partir daqui será estabelecido um novo padrão de infraestrutura para o nosso futebol”, discursa Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e responsável no clube pela administração do projeto.
Apesar do primor arquitetônico, do conforto e do capricho no acabamento, digno do padrão europeu, o processo de construção do estádio seguiu no estilo brasileiro. A pouco menos de trinta dias de sediar a abertura do Mundial, com cinco meses de atraso na entrega, três vítimas fatais em acidentes e custo, até agora, de 1,1 bilhão de reais (42% a mais que o previsto inicialmente), a arena erguida em Itaquera, na Zona Leste, ainda parece um canteiro de obras em alguns setores. Operários trabalham dia e noite para tentar terminar tudo a tempo do primeiro teste oficial, durante o jogo contra o Figueirense, no domingo (18), válido pelo Campeonato Brasileiro, com a presença de cerca de 50 000 visitantes. Depois disso, o campo passa das mãos do Timão para as da Fifa, que fará os preparativos para a abertura do Mundial, no dia 12 de junho.
Outra preocupação está relacionada às manifestações. A grandeza da construção e o tamanho do investimento transformaram o lugar em alvo dos que protestam contra o evento. Na manhã da última quinta-feira (15), cerca de 2 000 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, bloquearam a Avenida Doutor Luís Aires, em frente ao Itaquerão. Eram lideradas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que reivindica do governo mais dinheiro para a construção de conjuntos habitacionais.
Apesar dos atrasos e de toda a polêmica que envolve o empreendimento, a arena surpreende quem está acostumado com a precariedade da maioria dos estádios nacionais. A seguir, dez curiosidades a respeito do lugar onde será dado o pontapé inicial da Copa no Brasil.
1. Gramado com ar condicionado
O pontapé inicial será dado a exatos 777 metros acima do nível do mar. A localização foi proposital. O número lembra a data de um dos títulos mais importantes do Corinthians, o Paulista vencido em 1977, que encerrou um jejum de mais de duas décadas sem conquistas do time. O gramado compacto, com 105 por 68 metros, plantado em junho de 2013, teve suas sementes importadas do Oregon, nos Estados Unidos. Preparado para clima frio, o tapete verde esconde um ar-condicionado de 9 000 metros quadrados que não deixa a temperatura das raízes passar de 25 graus. Tratada como celebridade, a grama é aparada três vezes por semana, adubada duas vezes por mês e regada duas vezes por dia. “Assim, a bola rola mais rápido e fica difícil arrancar tufos”, explica o engenheiro agrônomo Tiago Rezende, responsável pela área.
2. 100% de visão do campo
Os torcedores vão estar bem perto dos craques. Todos os 68 000 lugares têm 100% de visão do campo. A cadeira mais próxima fica a 9 metros da linha lateral (no Morumbi, estádio do São Paulo, o melhor assento está a mais de 30 metros do gramado).
3. Show de luzes
Os projetores instalados na arena vão garantir um nível de iluminação de 5 000 lux (padrão 50% superior ao exigido pela Fifa) para melhorar as transmissões para TVs HD e 3D.
4. Som da torcida potencializado
Pelas estimativas dos engenheiros da Odebrecht, a construtora responsável pelo estádio, graças ao tratamento acústico especial, o som da torcida ouvido pelos jogadores no gramado terá o dobro da potência atingida no Pacaembu, por exemplo. Por lá, os gritos chegam a no máximo 91,5 decibéis em dia de casa cheia, com um pico de 113 decibéis na hora do gol.
5. Para faturar, 59 lojas
O empreendimento deve gerar uma receita de cerca de 200 milhões de reais por ano. Assim, o clube pretende saldar sua dívida com os empréstimos em sete anos. A principal fonte de renda está no prédio Oeste. Com dez andares, o edifício terá 59 lojas, entre lanchonetes e outras conveniências; uma delas será a maior unidade da rede Poderoso Timão, com quase 1 200 metros quadrados.
6. Camarotes por 450 000 reais
Serão 88 camarotes, com opções de doze a 200 lugares, alugados a partir de 450 000 reais por ano. A área vip será servida por dois restaurantes panorâmicos e quatro bares temáticos. Está em fase de teste um sistema em que o torcedor pode fazer seu pedido via SMS e recebê-lo direto na poltrona.
7. Customização alvinegra
Terminado o Mundial, o estádio passará por um novo período de reformas para se enquadrar às necessidades do Corinthians. Entre outras coisas, haverá a instalação do escudo do time na fachada e a abertura do espaço para visitação fora dos dias de jogo. Está em discussão se as arquibancadas instaladas provisoriamente para a Copa serão mantidas. “Vamos ainda decidir se elas ficam ou saem”, diz o presidente do Corinthians, Mário Gobbi.
8. Na intimidade dos craques
No espaço um pouco maior do que o de um campo de society haverá uma arquibancada para 86 torcedores vips assistirem ao aquecimento dos jogadores antes das partidas.
9. Clima europeu
Toda a estrutura é refrigerada por aparelhos de ar condicionado movidos a energia solar captada pelas placas fotovoltaicas que compõem a fachada.
10. Nome oficial
Andrés Sanchez viajou mais uma vez para Dubai, nos Emirados Árabes, com o objetivo de finalizar as negociações de naming rights com a empresa de aviação Emirates. Por 400 milhões de reais, ela vai expor sua logomarca na fachada por um período de vinte anos. Até a última quinta (15), porém, a transação ainda não havia sido concluída.
› Arena da Zona Leste
Os principais números da nova casa do Corinthians
CUSTO 1,1 bilhão de reais (o previsto era 820 milhões de reais)
CAPACIDADE 68 000 lugares (depois da Copa, será de 48 000 pessoas)
MÃO DE OBRA 2 500 operários no auge do período de construção
ATRASO NA ENTREGA cinco meses
As pendências que precisam ser resolvidas até o prazo final, no próximo dia 20
- › Falta instalar, pelo menos, 1 000 cadeiras nas arquibancadas provisórias
- › Parte da cobertura ainda não recebeu as placas brancas que dão acabamento e vedação
- › As calçadas do lado Sul nem começaram a ser feitas
- › Parte do hall de entrada do prédio Oeste não tem pisos e azulejos
- › Alguns camarotes estão sem poltronas, instalações elétricas e pias
- › A iluminação pública nas ruas do entorno não foi instalada