É hora, é hora, é hora de Roque, pra gente vencer!
É hora, é hora, é hora de Roque, pro nosso Corinthians crescer.
É hora, é hora, é hora de Roque, pra gente mudar.
É hora, é hora, é hora e Roque, pra gente ganhar!
Roque é verdade, é sinceridade, Roque é honestidade.
É tudo que queremos ter.
É hora, é hora, é hora de Roque, pra gente mudar.
Roque Citadini é chapa 11!
Roque Citadini é um Corinthians Grande e Mais Forte.
Roque Citadini vai nos dar sorte.
Roque Citadini é honestidade.
Roque é um Corinthians mais feliz e completo para os sócios.
Vote Roque! Vote 11!
O Corinthians merece o melhor!
É hora, é hora, é hora de Roque, pra gente vencer!
É hora, é hora, é hora de Roque, pro nosso Corinthians crescer!
Corinthians deve renovar futebol no Brasil, diz Citadini
ELEIÇÃO
Candidato à presidência do clube critica estrutura do esporte no país
ALEX SABINODE SÃO PAULOAntonio Roque Citadini, 64, não tem fotos de títulos do Corinthians na parede de seu apartamento no bairro da Bela Vista, em São Paulo.
A imagem é do atacante Edílson com a bola parada sobre a nuca na final do Campeonato Paulista de 1999 entre Corinthians e Palmeiras.
Foram as embaixadinhas que detonaram uma batalha campal no Morumbi.
“Há alguns momentos que ficam mais na memória do que o título em si”, relembra.
Neste sábado (7), Citadini vai tentar ser presidente do Corinthians, cargo hoje ocupado por Mário Gobbi. Candidato da oposição, ele enfrenta o situacionista Roberto de Andrade.
O discurso dele é colocar contas em ordem, montar time competitivo, conquistar títulos. Mas não apenas isso.
Citadini quer usar a presidência do Corinthians como plataforma para mudar o futebol brasileiro. “O futebol só muda pelos clubes ou pelo governo. O Corinthians sempre teve força inovadora. Falamos de democracia quando não havia democracia. Não temos problema em olhar para o futuro com perfil de mudança”, diz.
A crença de Citadini é poder liderar um processo de modernização a partir do Parque São Jorge. “Se o Corinthians defender um conjunto de mudanças, duvido que não atraia gente e não atraia apoio. O clube tem o poder de romper com essa mesmice que vivemos no futebol.”
Vice-presidente de futebol na época em que o presidente era Alberto Dualib (1998-2007), Citadini ficou conhecido por não ter papas na língua. Característica que pretende manter no cargo mais importante do clube.
Para ele, o presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, é “biônico, como nos tempos da ditadura”. As federações estaduais são meros “escritórios da CBF” e não possuem qualquer importância.
Ele quer que a eleição para o comando do futebol seja feita pelos clubes que disputam os torneios nacionais. E sem direito a reeleições.
“Sem desrespeito, mas o [voto do] Corinthians não pode valer menos que o da Federação do Acre. A Federação do Acre não deveria participar de nada. Os clubes, sim”, opina.
Não que pretenda negligenciar o que acontece dentro de campo no Corinthians. “Os títulos virão”, garante.
O OUTRO CANDIDATO
A Folha pediu também uma entrevista ao candidato da situação, Roberto de Andrade. Alegando estar com a agenda lotada antes da eleição, ele disse que não poderia atender à reportagem.
Veja a entrevistas dadas por Roque Citadini e Luis Paulo Rosenberg ao programa Baita Amigos, do Neto.
RAZÕES PARA APOIAR ROQUE CITADINI (Chapa 11)
A verdade é que hoje nós estamos começando um ano em que as dificuldades financeiras vão ser muito grandes, vai precisar muito emprenho, muita obediência lógica, muito talento…
(Explicando “obediência lógica”) é exatamente isso (saber onde se gasta dinheiro). O primeiro ligar em que se coloca dinheiro é em pagamento de impostos. Por mais delicado que seja o assunto, por menos que a gente goste de fazer, o jogo começa por ai.
Então vai se exigir da direção do Corinthians, nos próximos anos, muito talento, muita ética.
O Citadini é uma pessoa que tem uma história no Corinthians. É uma pessoa que profissionalmente trabalhou com Tribunal de Contas, então é muita exposição, é saber o que é controlar dinheiro, é saber como se faz a Lei ser cumprida, e precisava ter a legitimidade de ter sido bem sucedido no futebol, uma pessoa de trato fácil…
APOIO DE PAULO GARCIA A CITADINI
Na semana em que eles resolveram se aliar, as últimas estatísticas, pesquisas de opinião, mostravam o seguinte: o Paulo ainda estava acima do Roque, só que o Paulo estava cedendo espaço e o Roque crescendo muito, com o candidato da situação estabilizado –os “amigos” de sempre, e fim – então partiu do Paulo, exatamente com essa visão empresarial, essa grandeza, a percepção de que era mais fácil carregar uma campanha em cima do Roque do que nele.
Eu acho que agora com o Roque aliado com o Paulo, que é uma pessoa, assim, desprendida, uma pessoa que não tem a vaidade de dizer: “Não! Eu vou ser o presidente.”. Se o Roque cativa mais o eleitor, se o Roque tem uma história no futebol – que é importante sendo Corinthians – e nós vamos estar todo mundo unidos no mesmo projeto, deixa de lado vaidades pessoais, deixa de lado o desejo: “eu quero ser Presidente do Corinthians porque eu quero ser presidente do Corinthians, porque eu estou cansado de vender carro…”, foi muito importante e eu tenho certeza que nós vamos construir um negócio bacana.
POR QUE O CITADINI MERECE SER PRESIDENTE DO CORINTHIANS
É uma pessoa que se preparou para isso a vida inteira. É uma pessoa que está cercada de gente muito competente. Por exemplo: um dos candidatos a vice dele, o Emerson Piovesan, foi a pessoa que a gente encontrou, quase que como um… ele cuidava, naquela desmanchada que foi o final de gestão do Dualib, ele estava lá cuidando para que as coisas fossem feitas (de maneira correta). E foi impressionante, ele abriu todo o jogo antes da eleição para todo mundo e entende do assunto.
É um cara que se alguém mandasse ele não pagar imposto, ele não obedeceria.
Então, eu acho que esse é um aspecto importante, é uma renovação de alguém que volta com um cabedal, muita de gente, de advogados, desembargadores, mercado financeiro, apoiando.
Eu acho que vai ser muito mais fácil o Roque, com essa transparência que ele tem, o respeito que ele tem profissional, atrair dinheiro para o Corinthians. E ele diz muito bem: “eu vou equilibrar o orçamento, mas primeiro eu vou buscar toda a receita possível, para ter certeza de que não estou fazendo um ajuste meia-boca”. E tem como compromisso no programa dele nunca atrasar pagamento.
O EXEMPLAR COMPORTAMENTO DE CITADINI COMO OPOSICIONISTA
O Roque mesmo sendo oposição, tinha uma posição de estadista. Ele olhava o interesse do Corinthians. Então ele investigava, cobrava, etc. Chegava no final ele dizia: “grande projeto! Está aqui minha aprovação”, e votava a nosso favor.
CONDUTA DO CITADINI NO CASO MSI
Quando o Kia veio com a proposta, e ele levou ao Conselho, só 12 pessoas votaram contra, foi a única vez em que eu estive junto com o Citadini até hoje.
Nós dissemos: “isso aqui é lesivo para o Corinthians, esse contrato é um desastre”, etc, e ali ele se separou do Dualib.
Na verdade, caracterizou uma posição de independência, que muitos dos nossos “Renovação e Transparência” não tiveram.
HONESTIDADE DE CITADINI
Então ele tem uma posição muito respeitável e o cargo dele exige isso.
Você está no Tribunal de Contas de São Paulo, você está controlando SABESP, DERSA, tudo quanto… e nunca teve uma acusação de nada contra essa pessoa (Citadini).
CITADINI GANHA A ELEIÇÃO NO CORINTHIANS?
Quando a gente começou ele estava em terceiro lugar, nem parecia que iria ganhar, mas mesmo que perdesse, estava ali na rua uma campanha que tinha um programa, que tinha gente séria, que não protege os amigos.
Ninguém vai ser candidato porque é meu amigo ou amigo do Roque. Se fazia uma luta em volta de um programa. Graças a Deus deu certo, principalmente por causa da adesão do Paulo – se o Roque ganhar essa eleição, o grande eleitor, sem dúvida, é o Paulo – foi um homem duma grandeza, dum corinthianismo totalmente louvável, ganhar tem que ser uma consequência de você saber transmitir a sua mensagem, e o Roque está fazendo isso muito bem.
Você sabe que campanha, o importante é você sentir em que trajetória você está, e o Roque está ganhando adesões, ganhando espaço o tempo todo, até pelo carinho e respeito com que vocês da imprensa o tem tratado. O jornalista esportivo sente quando a causa é boa, quando tem alguma novidade importante chegando.
Mas é uma eleição dura.
Então, eu acho muito importante ter uma liderança como a do Roque, e acho que o eleitor está percebendo isso e ele tem chance de ganhar, mas não é fácil não, tem que trabalhar muito.
POR QUE NÃO VOTAR EM ROBERTO ANDRADE
O outro (Roberto Andrade) eu estou vendo que nesses dois últimos anos detonou uma grana no futebol inacreditável!
Aliás eu não sei nem como é que ele está participando de contratação. Ele não é nada hoje no Corinthians. E ele vai lá e contrata jogador e não sei o que. Daí precisa vir o presidente e dizer: “Espera ai, aqui ainda tem quem manda”.
Eu acho que está numa hora de renovação mesmo… e de transparência, que é votar no Roque, que é tirar o time, é botar gente nova, é botar uma mentalidade nova e voltar a crescer.
Potencial para isso nós temos, mas o que precisa? Precisa preservar o futebol das influências políticas, preservar o futebol das sacanagens, das vendas antecipadas dos empresários que ganham por tudo quanto é lado e cuidar da administração para que o jogador quando lhe para a diretoria diga: “Está ai gente que eu sei que vai pagar o meu salário. Está ai gente que eu sei que posso respeitar”.
Era 2011 quando o então presidente Andrés Sanchez jurava a quem quisesse ouvir que, em quatro anos, o Corinthians se tornaria o clube mais rico do mundo. A realidade, no entanto, desfez a profecia com a mesma voracidade do turbilhão que deteriorou as finanças corintianas.
O cenário é totalmente oposto ao projetado por Andrés há quatro anos. Atrasos de pagamento, impostos sonegados, receitas minguadas, dívidas em profusão. O mercado publicitário esfriou, a Arena não se mostrou ser um negócio tão rentável como sugeria o ex-mandatário e, a menos de uma semana para a eleição presidencial, o Corinthians não tem perspectiva de transpor a crise financeira.
Entenda a sucessão de fatos que culminou no “rebaixamento” do clube: de emergente a potência mundial à vala da classe devedora dos times brasileiros.
O faturamento caiu
O clube encerrou 2014 com arrecadação inferior a 200 milhões de reais, a menor em quatro anos. Ter ficado fora da Libertadores e a eliminação na primeira fase do Campeonato Paulista acarretaram um prejuízo estimado em 25 milhões de reais. Com menos exposição, os ganhos com a marca Corinthians ficaram 98% abaixo do previsto. Mas o encolhimento do bolo vem de longa data.
Nos últimos dois anos, as receitas corintianas foram superadas pela de adversários nacionais do mesmo porte. Ultrapassado por Flamengo e São Paulo, que aumentaram seu faturamento em escala superior a 50% nesse período, o Corinthians experimenta um declínio de 115 milhões de reais. Em 2012, com os títulos da Libertadores e do Mundial, a receita era de 358 milhões de reais. A renda com sócios também ficou aquém da meta, e o Fiel Torcedor não decolou. No ano passado, os rivais Palmeiras e São Paulo apresentaram evolução de 60% e 54% em seus quadros, respectivamente. Já o programa do Corinthians cresceu apenas 41% e, atualmente com 75.600 sócios, foi deixado para trás pelo do alviverde, que ultrapassou a marca de 90.000 contribuintes.
Além de ter perdido o posto de maior faturamento do Brasil, o clube ainda enfrenta dificuldade para valorizar os espaços de patrocínio na camisa e renovar a cota máster com a Caixa, que venceu no último dia 31. Vínculos com outras duas marcas (Car System e Fisk) se encerraram em dezembro. Juntos, os três patrocinadores foram responsáveis por 50 milhões de reais do orçamento alvinegro na última temporada.
Mas os gastos aumentaram
Apesar das perdas, os custos crescem de forma impetuosa, sobretudo no departamento de futebol profissional, que, desde 2009, é o que mais gasta com pagamentos de salário e contratações entre os clubes brasileiros. De lá para cá, a diretoria corintiana torrou 1,2 bilhão de reais, uma média de quase 200 milhões por ano. Em 2013, o investimento em futebol foi de 248 milhões de reais. Gastando 100 milhões a menos, o Atlético-MG conquistou a Libertadores, enquanto o rival Cruzeiro, que desembolsou 157 milhões, faturou o Brasileiro.
No mesmo ano, o clube paulista acertou a repatriação de Alexandre Pato, do Milan, por 40 milhões de reais divididos em três vezes. Sem sucesso, o atacante foi emprestado ao São Paulo. Hoje o Corinthians, que paga metade de seu salário, já contabiliza 55 milhões de reais desembolsados pelo jogador, incluindo a última parcela ao Milan. Desse montante, 4,4 milhões correspondem aos vencimentos de Pato desde sua chegada ao rival. “O departamento de futebol gastou mais do que podia. E gastou mal”, diz Antonio Roque Citadini, conselheiro e candidato da oposição no pleito de 7 de fevereiro. “O Corinthians contratou caro, paga altos salários e comissões a empresários.”
Oposicionistas do presidente Mário Gobbi, sucessor de Andrés Sanchez no clube, alegam que, cerca de 10 milhões de reais do valor total do negócio teriam sido convertidos em repasses a agentes e intermediários que selaram a transferência de Pato. A diretoria nega o pagamento de comissões. Outra queixa da oposição se refere ao inchaço de atletas e funcionários. “Temos uma categoria de base com 200 jogadores. Isso é um problema. Não é preciso ter tanto jogador assim”, diz Citadini.
E a dívida não para de crescer
Estouro de orçamento se tornou uma constante. Em 2013, o Corinthians gastou 45 milhões de reais a mais que o previsto e, até outubro, o déficit de 2014 ultrapassava os 60 milhões de reais, sendo 38 milhões em reforços. O último balanço dos débitos aponta um passivo de 270 milhões de reais. A escalada da dívida, porém, é anterior à queda das receitas. Quando Andrés Sanchez assumiu o clube, no fim de 2007, a dívida corintiana era de 100 milhões de reais. Ele passou o bastão ao novo mandatário em fevereiro de 2011, com um endividamento de 180 milhões. Mas Gobbi logo descobriria que o buraco da herança era mais embaixo.
A gestão de Andrés deixou de pagar impostos de 2007 a 2010, o que gerou um débito de 94 milhões de reais para a atual administração. Ameaçado por penhoras de bilheteria e terrenos da sede, o Parque São Jorge, e sob o risco de perder o patrocínio da Caixa, Gobbi selou um acordo com a Receita Federal no fim de 2013. Até o momento, o clube quitou 50 milhões de reais relativos aos impostos sonegados pela antiga gestão. No ano passado, Andrés Sanchez, Roberto de Andrade, ex-vice e agora candidato à presidência pela situação, André Luiz de Oliveira, ex-diretor administrativo, e Raul Corrêa da Silva, diretor financeiro que segue no cargo, foram denunciados pela Justiça Federal, mas acabaram absolvidos, já que o Corinthians havia entrado em acordo para pagar a dívida. “Fomos processados erradamente”, afirma Andrés, antes de justificar os crimes fiscais. “Infelizmente tivemos de pagar muitos processos trabalhistas do clube naquela época e decidimos que os impostos não seriam pagos.”
Com falta de dinheiro em caixa, a gestão de Gobbi teve de comprometer verbas futuras. Angariou cerca de 19 milhões de reais para aderir ao Refis, programa de parcelamento da dívida, combinando a antecipação de receitas dos direitos de televisão e luvas por renovação de patrocínios. Também recorreu a empréstimos emergenciais com empresários mais próximos. O agente Carlos Leite costuma socorrer o clube desde o começo da era Sanchez. Fernando Garcia, sócio da Kalunga e conselheiro do Corinthians, injetou aproximadamente 15 milhões de reais em troca de percentuais de atletas promissores, como o atacante Malcom, de quem o Corinthians detém apenas 30% dos direitos econômicos. O estatuto do clube veda esse tipo de associação entre membros do Conselho e jogadores.
Embora siga gastando sem moderação, o departamento de futebol não está imune à crise financeira. Mano Menezes, que, assim como outros cinco jogadores do elenco, é agenciado por Carlos Leite, deixou o comando do time no fim de 2014, mas segue vinculado ao clube por ter seis meses de remuneração em aberto. Tal qual o técnico, jogadores que atrelaram parte dos vencimentos a direitos de imagem enfrentam atrasos acumulados. É o caso do volante Ralf, que cobra na Justiça quase 3 milhões de reais do clube referentes à negociação de seus direitos econômicos em 2013. Ainda há pendências de premiação pelos títulos da Recopa Sul-Americana e do Paulista de 2013 e pela vaga na Libertadores. “Meu salário não atrasou. Mas a gente sabe de um ou outro que recebe direitos de imagem que podem estar atrasados. Só que ninguém nunca chiou. O perfil dos jogadores não é esse. O Corinthians passa por um momento difícil e nosso grupo vem encarando com maturidade”, diz o goleiro Cássio.
O quadro ainda gera desconfiança de reforços potenciais, patrocinadores, investidores e, principalmente, da ala oposicionista no clube, que questiona supostos artifícios contábeis da diretoria para maquiar as contas. Mesmo com o aumento da dívida em quase 200 milhões de reais nos últimos sete anos, os balanços indicam apenas lucros. Um grupo de conselheiros liderados por Paulo Garcia, irmão de Fernando Garcia e então pré-candidato à presidência, bateu à porta de Mário Gobbi para cobrar um relatório detalhado dos débitos. Exigiram do presidente o registro em cartório de que o passivo do Corinthians não passa de 300 milhões de reais, como sustenta a diretoria, mas não foram atendidos. “Provavelmente o valor da dívida é maior que o divulgado”, afirma Roque Citadini. O diretor financeiro Raul Corrêa da Silva não respondeu os questionamentos da reportagem.
O estádio não se provou um negócio tão rentável
Vista como um divisor de águas e a salvação da lavoura, a rentabilidade da Arena Corinthians ficou bem abaixo das expectativas desde sua inauguração, em maio do ano passado. Apenas 13 dos 89 camarotes foram comercializados. O clube contabiliza pouco mais 34 milhões de reais em renda líquida com o estádio. Em 20 jogos, a média de arrecadação é de 1,2 milhão de reais. Ex-presidente que iniciou o projeto, Andrés Sanchez, que agora atua como administrador informal da Arena, esperava uma bilheteria anual de 200 milhões de reais, mas as projeções com base na receita líquida sinalizam para um número inferior a 100 milhões, pelo menos neste ano.
O quebra-cabeça no clube é pagar a dívida pela construção do estádio de Itaquera, que, entre juros e obra, custou 1,15 bilhão de reais. Toda receita proveniente da Arena vai para um fundo de administração constituído pelo Corinthians, a construtora Odebrecht e a Caixa Econômica Federal, que viabilizou dois empréstimos para o empreendimento. Um de 400 milhões de reais, por meio de financiamento do BNDES, e outro de 350 milhões. O clube tem até 2026 para quitá-los. Em junho, pagará a primeira parcela. A diretoria nega que a entrada seja de 100 milhões de reais – seria necessário triplicar as receitas do estádio para adicionar mais 66 milhões ao montante do fundo. Independentemente da quantia inaugural do parcelamento, a partir de julho o Corinthians terá de pagar pelo menos 5 milhões de reais por mês. No fim de 2016, as prestações subirão para 10 milhões. Se não honrar os compromissos em dia, existe a possibilidade, registrada em contrato, de o clube deixar de ser um dos cotistas do fundo. Ou seja, pode perder o estádio.
Para fechar a conta, o Corinthians precisa desatravancar os CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento), concedidos pela prefeitura de São Paulo e que podem render até 420 milhões de reais. No entanto, dirigentes vêm encontrando rejeição do mercado para vender os títulos de incentivo fiscal a empresas. Um dos motivos é o fato de a obra ainda não ter sido dada como concluída pela prefeitura, o que compromete a validade dos certificados. A prestação de contas da Arena, prometida para antes da Copa do Mundo, também não foi divulgada pelo clube. “Os CIDS estão atrasados. O Corinthians aguarda a prefeitura. A prestação de contas só poderá ser apresentada quando as obras forem finalizadas”, diz Andrés Sanchez. Como o estádio ainda passa por ajustes, a torneira de gastos continua aberta.
Caso os CIDs encalhem, a conta do Corinthians pode ultrapassar o 1,15 bilhão de reais estipulado. Na melhor das hipóteses, com a venda dos certificados, o débito do estádio (750 milhões de reais) – submetido ao fundo de investimentos – somado ao passivo (270 milhões de reais, segundo dados da diretoria até agosto) supera 1 bilhão de reais e faz do Corinthians o clube mais endividado do Brasil. Botafogo (750 milhões de reais) e Flamengo (705 milhões de reais) têm passivos maiores, mas dispõem de receitas de bilheteria para ajudar a baixar a conta. O clube rubro-negro, que faturou mais de 300 milhões de reais em 2014, por exemplo, pagou 52 milhões de sua dívida.
O congelamento dos ganhos com o estádio tende a agravar o círculo vicioso do endividamento. “O Corinthians vive um dilema”, afirma o consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi. “Se não quitar logo os empréstimos do estádio, os juros podem tornar a dívida impagável. Ao mesmo tempo, se não sobrarem recursos da Arena para investir no futebol, corre o risco de enfraquecer o time e, consequentemente, deixar de disputar títulos. E aí vai ter dificuldade para atrair torcedores.” O contrato de naming rights, que ajudaria a acelerar o pagamento da dívida, também não saiu no prazo previsto, em 2011. O clube esperava receber pelo menos 20 milhões de reais por ano para conceder o nome da Arena a uma empresa. Mas o apelido “Itaquerão”, consagrado por parte da mídia e torcida, aliado à retração econômica no país, faz Andrés Sanchez estudar propostas de 15 milhões. Não há previsão para selar o acordo.
Copa e economia traíram cartolas
A era de ouro corintiana coincidiu com a era de ouro da economia brasileira, que despejou caminhões de dinheiro na maioria dos grandes clubes do país. De 2009 a 2012, o êxodo de craques tomou rumo contrário. Medalhões voltavam da Europa ainda no auge, atraídos pelos altos salários pagos por aqui. O Corinthians repatriou Ronaldo. Reforço a peso de ouro, chegou a receber 1 milhão de reais por mês justamente na época em que o clube deixou de pagar impostos para honrar compromissos trabalhistas, segundo dirigentes. Em seus primeiros oito meses com a camisa alvinegra, o Fenômeno arrebanhou 24 milhões de reais para o clube. Era o boom das receitas, que só iriam declinar em 2013.
Hoje sufocado por dívidas, o Corinthians é a representação mais bem acabada da ilusão compartilhada entre os cartolas brasileiros de que era possível competir com o mercado europeu e ligas emergentes bancadas por petrodólares e bilionários. Na esteira do real valorizado, o clube começou a inflar contratos para bater a cotação do euro e ganhou poder no mercado ao tirar Alex do Spartak Moscou, da Rússia, em 2011. “Fui vendido para o Spartak por 5 milhões de euros e voltei ao Brasil por 6 milhões de euros “, gabava-se o meia em sua chegada.
Naquele mesmo ano, a euforia motivou Andrés Sanchez a fazer uma proposta de 90 milhões de reais por Carlitos Tévez, do Manchester City. Desde o início de sua gestão, a prioridade sempre foi reforçar o time, não pagar dívidas. Euforia que também o levou a ostentar uma miragem: “Vamos quitar toda a dívida. Em quatro anos, o Corinthians será o time mais rico do mundo. Podem me cobrar”, cravou Andrés no início de 2011. Atualmente, com faturamento inferior a 200 milhões de reais, o Corinthians deixou de figurar na lista dos 20 clubes mais ricos do mundo. O Real Madrid, que lidera o ranking, arrecada 1,66 bilhão de reais por ano – oito vezes mais que o Corinthians, valor suficiente para quitar toda a dívida do clube paulista, incluindo o estádio.
“É praticamente impossível, não só para o Corinthians, mas para qualquer clube brasileiro, se tornar o mais rico do mundo. Clubes europeus são marcas globais e têm receitas bem maiores”, diz Somoggi. A desaceleração da economia e o encolhimento do mercado publicitário no futebol devastaram o eldorado que o clube projetava. E vieram bem antes da tão sonhada internacionalização da marca Corinthians. Dirigentes superestimaram a capacidade da Copa do Mundo como catalisadora de novos investimentos e deixaram de fazer contas na hora de contratar. O estouro da crise financeira em 2014 não impediu o Corinthians de seguir repatriando jogadores com salários em torno de 500.000 reais, como Cristian e Elias, que custou 12 milhões de reais. Mas há um último e não menos importante fator que ajuda a compreender o que fez o clube mergulhar em um arrocho tão severo…
Racha compromete ainda mais o futuro
Ainda que velado, o rompimento entre Mário Gobbi e Andrés Sanchez expôs a fragilidade financeira do Corinthians. “O racha da diretoria interferiu bastante nessa situação”, afirma Citadini. “E é um racha grande, mais profundo do que aparenta. Na volta da viagem do Japão, parece que o sashimi não desceu bem e houve uma ruptura, uma sucessão de desentendimentos.” Logo após o triunfo no Mundial de Clubes, no fim de 2012, o atual presidente teria sugerido uma política mais sustentável de gastos e foi prontamente rebatido por diretores ligados a Andrés, que pregavam contratações de impacto para o clube seguir levantando taças. Em seguida, a diretoria bateu o martelo pela contratação de Alexandre Pato.
O fracasso do atacante coincidiu com as pressões da Justiça Federal pelo não pagamento de impostos da antiga gestão. Embora sustente que deixou de interferir no dia a dia do clube desde a saída da presidência, Andrés Sanchez continuou como figura central nas tomadas de decisão no clube, sobretudo em torno da Arena, em que ocupou o cargo de administrador até agosto do ano passado, antes de sua eleição a deputado federal. A queda de desempenho do time desencadeou uma corrente interna de acusações a Mário Gobbi. Instigados por Paulo Garcia, amigo de Andrés, correligionários do ex-mandatário propagavam pelos corredores do Parque São Jorge a teoria de que Gobbi seria o único responsável pelo “mico Pato” e a perda de fôlego nas finanças. Em contragolpe, o presidente passou a insinuar em reuniões com conselheiros sobre a “herança maldita” de dívidas deixadas pela gestão passada, em irônica alusão ao termo utilizado por Andrés quando substituiu Alberto Dualib no comando do clube.
A eleição no Corinthians está marcada para o próximo sábado. O ex-diretor de futebol Roberto de Andrade, candidato da situação apoiado por Gobbi e Andrés, enfrenta a chapa oposicionista liderada por Roque Citadini. Os embates políticos comprometeram o planejamento do time para a temporada. Enquanto Roberto de Andrade, municiado por Andrés, corria atrás de nomes como Dudu e Leandro Pereira, o presidente vetou os possíveis reforços, que foram parar no Palmeiras, e priorizou o acerto de salários do plantel. Decisão que alastrou o desgaste com Andrés e antigos aliados. As renovações de Paolo Guerrero e contratos de publicidade também emperraram diante do panorama de indefinição.
Horizonte turbulento para o último time brasileiro campeão mundial, mas que, nas palavras de Andrés Sanchez, não diz mais que um simples ajuste de rota. “O Corinthians está passando por dificuldades, mas acredito que em pouco tempo fará parte dos cinco maiores clubes do mundo.” Se o prognóstico do ex-presidente estiver tão preciso quanto o de quatro anos atrás, o torcedor corintiano tem, além da dívida bilionária, mais um grande motivo para se preocupar.
Eleição no Timão: Citadini promete mudanças e reza para vender Pato
Candidato da oposição diz que atual administração perdeu o controle dos gastos com futebol, projeta trocas e diz que não será fácil negociar atacante: “Ninguém compra”
Por Carlos Augusto Ferrari São Paulo
Caímos no conto do vigário, porque o Pato foi do Inter para o Milan por um jogo. Quando ele começou a não jogar, o Milan inventou que ele estava contundido. Hoje está claro que isso era um artifício usada para não mostrar o jogador. Não havia água de São Gennaro que curasse
Antônio Roque Citadini
Antônio Roque Citadini voltou à linha de frente da política do Corinthians fazendo barulho com sua candidatura à presidência, pela chapa “Pró Corinthians”. Crítico ferrenho do grupo encabeçado por Andrés Sanchez, o ex-presidente do Tribunal de Contas de São Paulo conseguiu unir a oposição, ganhou o apoio de um poderoso integrante da situação e projeta uma grande mudança no clube caso saia vencedor das eleições do dia 7 de fevereiro.
– O problema básico é que o futebol perdeu a mão, gastou de uma forma equivocada, a mais. Isso levou a esse desequilíbrio – afirmou.
Entre os gastos exagerados, Citadini detona o investimento de mais de R$ 40 milhões na contratação de Alexandre Pato. Vendê-lo poderia causar um desafogo nas contas, mas, sem propostas, a solução foi emprestá-lo ao São Paulo com 50% dos salários pagos pelo Corinthians. Para Citadini, só um milagre salva.
– Nós deveríamos rezar uma missa por dia para aparecer um negócio – disse.
Citadini é da chapa “Pró Corinthians”, da oposição
(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Vice de futebol entre 2001 e 2004, período em que o Corinthians era gerido em parceria com o fundo americano Hicks Muse, Citadini ganhou força na eleição ao se transformar no único candidato da oposição para enfrentar o situacionista Roberto de Andrade. Mais que isso, ganhou o incentivo de Luis Paulo Rosenberg, dissidente do grupo da situação e antigo homem de confiança de Andrés Sanchez.
– Ele está ajudando muito na campanha e ajudará muito na gestão. Não sei bem como vamos definir as coisas. Mas a regra é que aqueles que ajudam ganhar ajudam a administrar – projetou.
Leia a entrevista com Antônio Roque Citadini:
O grupo da situação sempre tentou investir em jogadores renovados para reforçar o elenco, mas agora o Corinthians vem atravessando uma grave crise econômica. Que estratégia você planeja para o futebol?
A situação financeira não é boa. A própria direção fala. Eu acho que essa coisa precisa ser bem colocada. O clube que ganha títulos é aquele com as contas equilibradas. Se você estiver com as contas esculhambadas, não ganha. Você precisa contratar tendo uma situação equilibrada, porque aí paga em dia, atrai jogador, ele joga com mais dedicação. De cada dez títulos, em nove você está com a situação financeira equilibrada. A primeira coisa é colocar as contas em dia.
O orçamento deste ano diz que o Corinthians tem apenas R$ 10 milhões para contratar…
Esse orçamento é hipotético. Nosso problema é caixa, não é previsão. O clube precisa resolver suas contas pagando em dia, usando os recursos que recebe. Isso é importante fazer. Eu não penso nos R$ 10 milhões. Você ter mais ou menos. O problema é caixa.
Osmar Stábile, Paulo Garcia, Roque Citadini e Emerson Piovezan se juntaram na oposição (Foto: Martin Fernandez)
Como você analisa essa crise financeira do clube e o atraso no pagamento dos salários? Alguns jogadores falam disso publicamente.
O problema básico é que o futebol perdeu a mão, gastou de uma forma equivocada, a mais. Isso levou a esse desequilíbrio. No campo da despesa, é gastar melhor. No campo das receitas, é faturar mais. Infelizmente, temos mudanças na economia do país, as empresas estão puxando o freio. Os clubes também são atingidos com isso.
O grupo da situação alega que a apropriação indébita de tributos, denunciada pelo Ministério Público Federal, era necessária para fazer o clube andar na gestão de Andrés Sanchez. Você concorda?
Todos eles reconhecem que foi um erro. O clube acaba ficando vulnerável, como ficou. O melhor é que isso não ocorra. Todo mundo acha isso.
Não gosto muito de ser o juiz da história. O Mário foi presidente, ganhou títulos, mas acho que se cansou muito cedo de ser presidente, falava toda hora que não via a hora de deixar. Ele vai ser analisado pela história
Antônio Roque Citadini
Vender o Alexandre Pato pode ser uma solução para esse momento financeiro ruim?
Não sei, acho que ninguém compra. Eu não gosto de ficar criticando um jogador ou uma contratação. Muitas vezes você acredita que vai dar certo e depois dá errado. É do futebol. No caso do Pato, que envolvia muito dinheiro, deveríamos ter nos informado melhor. Caímos no conto do vigário, porque o Pato foi do Inter para o Milan por um jogo. Quando ele começou a não jogar, o Milan inventou que ele estava contundido. Hoje está claro que isso era um artifício que o Milan usava para não mostrar o jogador. Não havia água de São Gennaro que curasse. Na verdade, com isso, eles conseguiram manter o Pato como um supercraque e repassaram para o Corinthians como um supercraque. Ele já não era naquela altura, como provou no Corinthians e no São Paulo. Agora é aguentar o tranco. Foi feito dessa forma, o clube vai ter de aguentar.
Mas o que fazer com ele, então?
Quem é que vai comprar? O Corinthians não é o Milan, que conseguiu a proeza de escondê-lo dois anos. Não dá para ser feito no Corinthians pelo tipo da torcida, pela nossa história. Aqui, o jogador é bom ou ele racha. Nós deveríamos rezar uma missa por dia para aparecer um negócio. Depois da compra qualquer coisa era uma solução. O problema foi ter caído nisso.
Pensa em vender outros?
Depende de ter jogador para vender. Não sei se temos tantos craques assim para vender.
Em junho, o Corinthians terá de pagar a primeira parcela do estádio. Como pensa em gerir essa conta? Eu não sei o valor. Mas vamos ter de pagar o estádio. É um belo estádio, moderno, gosto de ver futebol lá. Se nós não tivermos condições de pagar um estádio, ninguém tem. Eu sempre fui a favor. O estádio foi uma grande coisa. O Corinthians aproveitou muito bem a Copa do Mundo, se comprometeu, porque ficou com grande dívida, mas construiu um estádio moderno e salvou a cidade de um vexame. A cidade até deve favor ao Corinthians.
Citadini voltou à linha de frente da política alvinegra
(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Que análise você faz da administração de Mário Gobbi?
Não gosto muito de ser o juiz da história. O Mário foi presidente, ganhou títulos, mas acho que se cansou muito cedo de ser presidente, falava toda hora que não via a hora de deixar. Ele vai ser analisado pela história.
Um dos vices dele, Luis Paulo Rosenberg, pulou para a oposição e vai te apoiar. Como aconteceu esse processo?
O Luis Paulo foi uma das pessoas de maior destaque (da situação). Ele e o Andrés. Ele teve papel muito importante no estádio. O apoio dele foi muito importante nos termos em que aconteceu. Primeiro, ele reconheceu que nós, especialmente eu, estávamos fazendo um trabalho muito positivo. Ele é uma pessoa respeitada por todo mundo como um dirigente de qualidade. Candidato nunca se surpreende com apoio. Foi muito positivo.
Qual será a função dele na sua administração?
Ele está ajudando muito na campanha e ajudará muito na gestão. Não sei bem como vamos definir as coisas. Mas a regra é que aqueles que ajudam ganhar ajudam a administrar.
Ele deve administrar a arena?
Não há dúvida.
A situação diz que sua relação com um de seus vices na chapa, Osmar Stábile, é péssima. Isso é verdade?
É uma avaliação equivocada. Houve uma divisão dura na situação. Eu diria que aquele grupo originário que elegeu Andrés e Gobbi se dissolveu. O grupo de agora é diferente. Não é só o Luis Paulo (que saiu). Nós demos uma demonstração de grande capacidade política. Se a situação joga na divisão da oposição para ganhar, eles podem tirar o cavalo da chuva.
Paulo Garcia abriu mão da candidatura para apoiá-lo. Ele também terá cargo na sua diretoria, como no futebol, por exemplo?
Nenhuma das pessoas que estão aí, Paulo ou Luis Paulo, será surpresa (se aparecer na direção). Eles estão na linha de frente da eleição. Surpresa seria se eles não estivessem.
Eles (situação) falam que eu não gosto do clube social. Eu sou o que mais frequenta o clube social. Alguns de lá não vão ao clube, não gostam e só fazem média. Eles estão fazendo coisas inimagináveis. Eles fecharam o restaurante em pleno verão. Isso é gostar do clube social?
Antônio Roque Citadini
Muito se fala sobre um racha no grupo da situação. O quanto isso foi importante na sua candidatura?
A divisão ajudou. Eu conheço o clube. Há um sem número de pessoas que praticamente abandonou ao clube, que não aderiu à oposição, mas que foi para casa. Isso também é importante.
Existe uma história de que você era favorável ao fim do clube social quando foi vice-presidente na gestão Dualib. Isso é verdade?
Eu defendia a separação do futebol do clube social e dos esportes olímpicos. E acabou ocorrendo. Quer dizer, o que eu defendia é que o futebol não poderia ser gerido como o social e os esportes olímpicos, como orçamento e sua forma de gestão. A lei mudou e estabeleceu isso. Eles (situação) falam que eu não gosto do clube social. Eu sou o que mais frequenta o clube social. Alguns de lá não vão ao clube, não gostam e só fazem média. Eles estão fazendo coisas inimagináveis. Eles fecharam o restaurante em pleno verão. Isso é gostar do clube social?
Mas há uma lenda de que você queria jogar cimento nas piscinas…
Não foi lenda. Houve um projeto que iria redefinir todo o Parque São Jorge. As piscinas ficariam numa ponta, o ginásio mudaria. Era um projeto que a Hicks (Muse, ex-parceira do clube) queria. Aquilo (sede) foi sendo construído de acordo com a oportunidade. Comprava terreno e construía. Se fosse construir o estádio lá, ele seria basicamente em cima da sede e do ginásio, que é o espaço maior. Nunca houve história de aterrar a piscina. Se o clube fosse fazer esse programa, ele teria mudanças. Não sabemos o que faríamos com a sede. Mas isso tudo está superado.
Quais seus planos para o clube social e os esportes olímpicos? O clube social tem de melhorar. Eles falam que eu não gosto, mas eles não gostam. A piscina está com ladrilho quebrado, o restaurante não funciona, todas as áreas têm queixa. O clube precisa voltar a ter esportes olímpicos, não é só futsal e natação. Precisamos pensar no basquete e outros que o Corinthians foi importante. Temos de nos abrir a outros esportes.
Como pensa em lidar com a renovação de contrato de Paolo Guerrero? Não sei quanto ele está pedindo. Mas, de qualquer forma, o Guerrero é um jogador de qualidade. O clube precisa ver como vai pagar. Ele é um grande jogador, se identificou com o clube. Essa é a grande vantagem. Você tem um limite, mas tem de fazer um esforço grande.
Você foi dirigente do futebol durante a parceria com a Hicks Muse. É favorável ao retorno desse tipo de gestão?
O futebol mudou, hoje tem mais dinheiro que naquela época. As parcerias estão superadas. Depois da MSI, que foi desastrosa, fica difícil qualquer outra.
Citadini espera sair vencedor no sábado, dia 7
(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Uma parte da torcida reclama que os ingressos estão caros. O que você pensa sobre os valores?
Os sócios do clube reclamam que querem ter acesso para comprar. O Fiel Torcedor também e há reclamação do preço final. O Fiel Torcedor foi coisa importante. Precisamos melhorar, possibilitar que ele dê um salto. Tem um monte de mudanças que podemos fazer. Devemos caminhar para os clubes europeus, com venda de ingressos só pela internet. Temos de acabar com essa coisa de fila para comprar. É pré-histórico. Há setores que precisam ser caros. Eu sou sócio-torcedor VIP. Acho que tenho de pagar caro, porque o clube oferece cadeira, banheiro, estacionamento… Mas também precisa de ingressos populares, ou então vai mudar nossa história, coisa que não queremos.
Integrantes do departamento de futebol atual acreditam que você fará uma grande reformulação no setor, seja com dirigentes ou funcionários. Esse é o caminho?
É possível que mude muitas coisas. Fui diretor de futebol quatro anos, nada ali para mim é estranho. Segundo, porque eu sou o candidato da mudança, não sou da continuidade. Nós precisamos reduzir custos, estamos gastando muito. Não com jogador, mas com o departamento de futebol, como médico, funcionário. Tudo isso está ganhando muito, demais. Ganhando coisa de um outro tempo que não existe mais.
O Corinthians brigará por títulos em 2015? Essa é uma grande sorte. Estamos vivendo uma crise, mas todo mundo está. Nós rapidamente temos condição de sairmos forte disso. Vamos brigar por títulos.
Antonio Roque Citadini quer base 100% do Corinthians (FOTO: Alan Morici/LANCE!Press)
O LANCE!Net começa nesta terça-feira uma série especial de entrevistas com os candidatos a presidente do Corinthians. Antonio Roque Citadini, pela chapa 11 “Pró-Corinthians”, de oposição, e Roberto de Andrade, pela chapa 10 “Renovação e Transparência”, da situação, disputam a eleição que acontecerá no próximo sábado, a partir das 9h, no Parque São Jorge.
Na quarta-feira, a entrevista será com Roberto de Andrade. Na quinta e na feira, as entrevistas serão divididas por outros temas importantes, como posicionamento do clube no contexto nacional, incluindo formação da liga de clubes, calendário, Bom Senso F.C. e aspectos econômicos.
PRIMEIRA PARTE
Ex-presidente do Corinthians e do Conselho de Orientação do clube, vice de futebol na era Alberto Dualib entre meados da década de 1990 e início dos anos 2000, Antonio Roque Citadini cresceu nos bastidores na reta final da campanha presidencial e, pela primeira vez, vai disputar o posto maior do clube. Ele chega com a chapa reforçada pelo apoio de Paulo Garcia, que abriu mão da disputa e da quarta tentativa, já que perdeu em 2007, 2009 e 2012.
Citadini concorrerá com Roberto de Andrade, candidato da situação e apoiado por Andrés Sanchez, no pleito do próximo sábado, no Parque São Jorge, sede do clube.
Nesta entrevista ao LANCE!Net, Citadini prega equilíbrio financeiro acima de tudo, diz que o “bom e barato” não existe, ataca a atual geração do futebol brasileiro e provoca até jogadores rivais, como os atacantes Dudu, do Palmeiras, e Pato, do São Paulo.
– Como Dudu tem uns 20 iguais. Sou contra essa coisa de disputar jogador. Temos uma geração ruim. Olha a nossa Seleção. Um horror! E o Pato? Vai ficar marcado na história como um jogador que tem um ótimo agente – diz, com a mesma língua afiada que o marcou na época em que se afastou da gestão Dualib por discordar da parceria com o MSI, cujo grupo era presidido pelo iraniano Kia Joorabchian.
LANCE!Net – A chapa da situação diz que você tem grande rejeição por frequentar pouco o clube e, principalmente, por ter a imagem ainda ligada à do Dualib. Como driblar isso?
Primeira coisa, as pesquisas não mostram essa rejeição. Segundo, dos candidatos, eu sou o que mais frequenta o clube. Terceiro, a matriz dessa coisa que tenho rejeição vem porque dizem que sou só do futebol. Agora, a minha identificação com o futebol é clara: fui diretor de futebol com o Dualib por quatro anos. Peguei o período da Hicks Muse [entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000], tivemos períodos ruins e ótimos, mas sempre fui do futebol. Tradicionalmente, não era o futebol que falava pelo clube, mas isso mudou depois e virou regra.
L!Net – Você comprou essa briga no fim da década de 90, quando o time ainda treinava no Parque São Jorge porque não tinha CT.
Exatamente, por conta disso, diziam que eu era contra os departamento sociais. Mas isso tinha de ser feito porque tínhamos parceria para o futebol, não para os outros esportes como basquete, tênis e outros. E tanto era certo que acabou ocorrendo. Hoje, o clube trata o futebol separado do ponto de vista da gestão orçamental e porque está fora do Parque São Jorge. O time treina na (Rodovia) Ayrton Senna, joga no estádio e há jogadores que seguramente nunca irão à sede do clube, ao bar da torre, à sirene. Porque o futebol descolou da Fazendinha.
L!Net – Sua campanha se baseia no equilíbrio orçamentário, mas como fazer isso e manter um jogador como Guerrero, que pede US$ 7 milhões (R$ 19 milhões) de luvas por exemplo, e contratar reforços que cobram salários altíssimos?
Acho que existe uma questão preliminar: se o clube estiver equilibrado, ele tem uma situação que pode torná-lo altamente competitivo. Se tiver uma gestão equilibrada, poderá ter grandes times. Por quê? Porque se começar a pagar salário atrasado, dever para um e para outro, perde a competitividade. Quem ganha título neste país é time que está bem financeiramente. De cada dez, nove ganham e um é azarão. O pressuposto para ser competitivo é ter as contas equilibradas. Até porque a diferença de nossa receita para os outros é muito grande. O presidente do Atlético Mineiro (Alexandre Kalil) disse que todo ano torcia para que Corinthians e Flamengo comprassem um Pato [custou R$ 40 milhões ao Corinthians, no início de 2013] porque isso equalizaria com o que eles ganham. Mostra que, se o Corinthians tiver equilíbrio, passa a ser atrativo para qualquer jogador. E não tem nada a ver com essa história do bom e barato, ouviu? Porque não existe isso, existe ruim e barato o que fazem.
L!Net – O próximo presidente pegará a bomba da renovação do Guerrero. Acha possível pagar o que ele exige?
Acho que a primeira coisa que o presidente eleito terá de fazer é saber como está a saúde financeira do clube. E como vai tocar nos próximos anos. Equilibrando, o Corinthians será mais atrativo para o Guerrero do que qualquer outro clube.
L!Net – O Corinthians prorrogou o contrato com a Nike até 2025 para pagar dívida fiscal, renovou com a SPR Sports (empresa de franchising que administra a rede Poderoso Timão) até 2019 para quitar salários atrasados, não poderá contar também com a bilheteria dos jogos porque está comprometida com o pagamento do estádio. Como gerir o clube com essas perdas?
Esse é um ponto que precisa ser revisto. O clube tem de repensar. A gente deve propor limitações para uma gestão não invadir a seguinte. Tem de ter limite porque se não cada presidente vai ficar sacando no futuro e vai chegar uma hora que vai se tornar inadministrável. É preciso mudar o estatuto.
L!Net – Uma outra ideia que você tem citado é exigir que 100% dos garotos da base pertençam ao Corinthians. Mas é de praxe do mercado os garotos exigirem 30% na primeira assinatura…
Não, mas a Fifa já proibiu agentes de terem direitos econômicos…
L!Net – Mas há clubes hospedeiros, e os pais também podem assumir parte dos direitos pelos filhos.
Mas clube hospedeiro é um perigo porque na própria decisão da Fifa ela diz que vai investigar esses clubes. Clube que não disputa campeonato e tem enorme receita com jogadores vai ser punido, então isso também vai ter de mudar uma hora. Veja, o negócio dos 100% do Corinthians não é uma visão contra empresário, na verdade. O agente do jogador é perfeitamente razoável que negocie salário e tempo de contrato, mas o clube não pode abrir mão do seu negócio. Isso só ocorre por uma certa promiscuidade com dirigentes e agentes. O clube repassa o valor, continua pagando e investindo no jogador e o agente não perde nada, só se beneficia. É uma parceria péssima para os clubes. Na Europa os clubes de peso não aceitam isso. Tanto que obrigaram a Fifa a tomar uma atitude. Isso passou a ser coisa de Portugal e Espanha, que são quase Terceiro Mundo também. No caso do Corinthians, é claro: o clube não revela mais jogador, é raro.
L!Net – Mas os agentes, ou mesmo a família do garoto, têm poder de barganha. Por isso os clubes cedem 30% dos direitos na primeira assinatura…
Mas os agentes decidem porque o clube deseja. Cria-se uma relação de compadrio. Mas entre o jogador fazer um contrato para jogar no Corinthians ou no Atlético-PR… (risos).
L!Net – Vamos citar o caso do Dudu. Por que acha que ele falou que gostaria de jogar no Corinthians, enquanto negociava com o São Paulo e acabou no Palmeiras? Porque o clube está bem financeiramente ou porque a relação dos seus agentes era boa com o clube?
Não sei, de qualquer forma, esse negócio do Dudu só foi bom para os ucranianos. E olha, não é nenhum Rivelino, um Ronaldo, para ter disputa. A briga foi criada pelos agentes. Se fosse um notável, um Romário, tudo bem, mas não vejo motivo.
L!Net – Mas o Corinthians precisava e continua precisando de um atacante, não?
Mas como o Dudu tem uns 20 iguais. Sou contra essa coisa de disputar jogador. Nós temos uma geração ruim. Olha a nossa Seleção. Um horror! Tirando o Neymar, o resto pode jogar tudo no mesmo balaio que não dá nada. A Seleção de agora e a da África do Sul [na Copa do Mundo de 2010] fizeram vergonha e estão com vergonha até agora. Geração fraquíssima! Só é boa para negociar contrato de marketing. Por que isso acontece? Porque os clubes ficaram reféns. Você acha que, se o Corinthians ganhasse o Dudu, faria uma diferença monstruosa?
L!Net – Impossível saber hoje…
Posso lhe dizer que não. Não! Tem meia-dúzia de jogadores que você não pode perder. Se fosse o Tevez [atacante da Juventus-ITA], diria que o Corinthians tinha que ganhar uma briga. O resto não. Estou dizendo que a Seleção Brasileira, tudo ali, com exceção do Neymar, não serve. Conseguem bons contratos porque os agentes são bons, senão não conseguiriam nada. Tanto que ninguém vai ficar na história do futebol brasileiro. Acha que o Pato vai ficar na história? Não, vai ficar na história como jogador que tem um agente ótimo!
L!Net – Quem será o “homem-forte” do futebol do Corinthians para tocar o que você defende? O clube terá um “executivo-estrela” como Alexandre Mattos, do Palmeiras, Rodrigo Caetano, do Flamengo, por exemplo?
Acho que o clube precisa ter um dirigente remunerado.
L!Net – O clube já tem o Edu Gaspar.
Tem o Edu, mas se eu mudar a diretoria, mudo o Edu. Eu sou um candidato de mudança, senão fica a mesma diretoria. É um cargo fundamental. Mas vamos ver. Vamos contratar um profissional da área e de confiança do clube. Não pode ser amigo de empresário. Amizade com empresário nessa área não pode. É aquela história da linha na sala. Quem trabalha para o clube fica do lado de cá da linha. Quem é agente fica do outro. E ninguém ultrapassa a linha.
L!Net – Vai abrir diálogo com as torcidas organizadas ou fará como o presidente Paulo Nobre no Palmeiras, que rompeu?
Nem romper nem criar privilégios. Tem de ser tratada com respeito e igualdade. Não vai ter torcida privilegiada nem inimiga.
L!Net – Os líderes das principais organizadas do Corinthians costumam se reunir com o presidente assim que ele é eleito. Vai recebê-los na sala da presidência, se for eleito?
Conheço todos eles, não preciso marcar nada. E eles me conhecem também. As relações serão igualitárias e cordiais.
L!Net – O clube pagar ônibus para viagens em jogos foram de São Paulo, ceder ingressos e receber o dinheiro depois…
Não tem isso de pagar ônibus ou outra coisa para torcida. Esse negócio de pagar para torcida é para o voleibol, que o torcedor vai ao ginásio com a camisa do patrocinador. Acho que há uma mudança fundamental nessa relação com a construção da arena. Sou favorável que toda a venda de ingresso aconteça pela internet. Sem bilheteria no estádio, é assim no mundo inteiro. O bilheteiro acabou.
L!Net – Como vai cuidar da Arena Corinthians?
Não terei dificuldade. A primeira razão: Luiz Paulo Rosenberg, que tocou aquilo lá por todo o tempo, depois ele divergiu (da diretoria) e saiu. Não sei se ele quer, mas é uma pessoa fácil de trabalhar e não teria dificuldade porque conhece tudo lá dentro.
L!Net – Acha possível ainda conseguir naming rights para a arena?
Olha, muita coisa mudou. O mercado mudou, o mundo mudou, vai se vender pelo preço que o mercado ditar. Não tem outra alternativa.
L!Net – Sobre ingressos, Rosenberg diz até que o preço do ingresso no estádio deveria aumentar…
Não ouvi ele falar isso. Acho que tem de ter vários preços, o VIP que é caro mesmo e os mais baratos.
L!Net – Sabe quanto está o ingresso?
Sei, eu sou Corinthians VIP, pago caro.
L!Net – Sabe quanto está o valor do ingresso no setor VIP. E nos populares? Ou que deveriam ser populares?
Sei também, que chega a 30 e poucos reais [já com os descontos para o cliente do Fiel Torcedor]. O que estou dizendo é que tem de ter ingressos populares e caros, com o sujeito tendo tudo à disposição, estacionamento e tudo mais.
(Nota da redação: Torcedores reclamam que há poucos ingressos a preços populares)
Nos últimos três anos, os sócios do Corinthians foram abandonados.
Além do trânsito terrível da cidade, os sócios ainda têm que enfrentar engarrafamento outra vez na hora de chegar ou sair do clube. A gente se irrita e perde um tempão, que seria de nosso lazer.
Coisas simples como fazer mais duas ou três entradas para o estacionamento não passaram pela cabeça da atual diretoria. Se coisas assim, banais, não são feitas imagina o resto…
Os banheiros são sujos. Os fraldários são uma piada; os bebês dos sócios não têm um lugar adequado onde trocar de roupa. Até os azulejos da piscina estão quebrando, e o piso também. Muitas vezes causam ferimentos nos pés de crianças e adultos. É algo inconcebível. Você vai para o clube se divertir e volta machucado.
E nessa você não vai acreditar…
Em pleno verão, em plenas férias, o restaurante do clube está fechado!
A diretoria não consegue administrar um restaurante, nem arrumar um terceirizador.
Os sócios do Corinthians só querem uma coisa: respeito.
Por isso, eu sei que você vai votar em Roque Citadini. Ele tem um plano emergencial para o clube, que está completamente abandonado.
Ele tem um programa de médio e longo prazo. Ele vai melhorar tudo porque vai organizar a parte financeira e vai colocar seu próprio vice-presidente para cuidar dos sócios.
Vote Chapa 11. Dia 07 é dia de Roque. É dia do Corinthians voltar a ser do Corinthians.