Era 2011 quando o então presidente Andrés Sanchez jurava a quem quisesse ouvir que, em quatro anos, o Corinthians se tornaria o clube mais rico do mundo. A realidade, no entanto, desfez a profecia com a mesma voracidade do turbilhão que deteriorou as finanças corintianas.
O cenário é totalmente oposto ao projetado por Andrés há quatro anos. Atrasos de pagamento, impostos sonegados, receitas minguadas, dívidas em profusão. O mercado publicitário esfriou, a Arena não se mostrou ser um negócio tão rentável como sugeria o ex-mandatário e, a menos de uma semana para a eleição presidencial, o Corinthians não tem perspectiva de transpor a crise financeira.
Entenda a sucessão de fatos que culminou no “rebaixamento” do clube: de emergente a potência mundial à vala da classe devedora dos times brasileiros.
O faturamento caiu
O clube encerrou 2014 com arrecadação inferior a 200 milhões de reais, a menor em quatro anos. Ter ficado fora da Libertadores e a eliminação na primeira fase do Campeonato Paulista acarretaram um prejuízo estimado em 25 milhões de reais. Com menos exposição, os ganhos com a marca Corinthians ficaram 98% abaixo do previsto. Mas o encolhimento do bolo vem de longa data.
Nos últimos dois anos, as receitas corintianas foram superadas pela de adversários nacionais do mesmo porte. Ultrapassado por Flamengo e São Paulo, que aumentaram seu faturamento em escala superior a 50% nesse período, o Corinthians experimenta um declínio de 115 milhões de reais. Em 2012, com os títulos da Libertadores e do Mundial, a receita era de 358 milhões de reais. A renda com sócios também ficou aquém da meta, e o Fiel Torcedor não decolou. No ano passado, os rivais Palmeiras e São Paulo apresentaram evolução de 60% e 54% em seus quadros, respectivamente. Já o programa do Corinthians cresceu apenas 41% e, atualmente com 75.600 sócios, foi deixado para trás pelo do alviverde, que ultrapassou a marca de 90.000 contribuintes.
Além de ter perdido o posto de maior faturamento do Brasil, o clube ainda enfrenta dificuldade para valorizar os espaços de patrocínio na camisa e renovar a cota máster com a Caixa, que venceu no último dia 31. Vínculos com outras duas marcas (Car System e Fisk) se encerraram em dezembro. Juntos, os três patrocinadores foram responsáveis por 50 milhões de reais do orçamento alvinegro na última temporada.
Mas os gastos aumentaram
Apesar das perdas, os custos crescem de forma impetuosa, sobretudo no departamento de futebol profissional, que, desde 2009, é o que mais gasta com pagamentos de salário e contratações entre os clubes brasileiros. De lá para cá, a diretoria corintiana torrou 1,2 bilhão de reais, uma média de quase 200 milhões por ano. Em 2013, o investimento em futebol foi de 248 milhões de reais. Gastando 100 milhões a menos, o Atlético-MG conquistou a Libertadores, enquanto o rival Cruzeiro, que desembolsou 157 milhões, faturou o Brasileiro.
No mesmo ano, o clube paulista acertou a repatriação de Alexandre Pato, do Milan, por 40 milhões de reais divididos em três vezes. Sem sucesso, o atacante foi emprestado ao São Paulo. Hoje o Corinthians, que paga metade de seu salário, já contabiliza 55 milhões de reais desembolsados pelo jogador, incluindo a última parcela ao Milan. Desse montante, 4,4 milhões correspondem aos vencimentos de Pato desde sua chegada ao rival. “O departamento de futebol gastou mais do que podia. E gastou mal”, diz Antonio Roque Citadini, conselheiro e candidato da oposição no pleito de 7 de fevereiro. “O Corinthians contratou caro, paga altos salários e comissões a empresários.”
Oposicionistas do presidente Mário Gobbi, sucessor de Andrés Sanchez no clube, alegam que, cerca de 10 milhões de reais do valor total do negócio teriam sido convertidos em repasses a agentes e intermediários que selaram a transferência de Pato. A diretoria nega o pagamento de comissões. Outra queixa da oposição se refere ao inchaço de atletas e funcionários. “Temos uma categoria de base com 200 jogadores. Isso é um problema. Não é preciso ter tanto jogador assim”, diz Citadini.
E a dívida não para de crescer
Estouro de orçamento se tornou uma constante. Em 2013, o Corinthians gastou 45 milhões de reais a mais que o previsto e, até outubro, o déficit de 2014 ultrapassava os 60 milhões de reais, sendo 38 milhões em reforços. O último balanço dos débitos aponta um passivo de 270 milhões de reais. A escalada da dívida, porém, é anterior à queda das receitas. Quando Andrés Sanchez assumiu o clube, no fim de 2007, a dívida corintiana era de 100 milhões de reais. Ele passou o bastão ao novo mandatário em fevereiro de 2011, com um endividamento de 180 milhões. Mas Gobbi logo descobriria que o buraco da herança era mais embaixo.
A gestão de Andrés deixou de pagar impostos de 2007 a 2010, o que gerou um débito de 94 milhões de reais para a atual administração. Ameaçado por penhoras de bilheteria e terrenos da sede, o Parque São Jorge, e sob o risco de perder o patrocínio da Caixa, Gobbi selou um acordo com a Receita Federal no fim de 2013. Até o momento, o clube quitou 50 milhões de reais relativos aos impostos sonegados pela antiga gestão. No ano passado, Andrés Sanchez, Roberto de Andrade, ex-vice e agora candidato à presidência pela situação, André Luiz de Oliveira, ex-diretor administrativo, e Raul Corrêa da Silva, diretor financeiro que segue no cargo, foram denunciados pela Justiça Federal, mas acabaram absolvidos, já que o Corinthians havia entrado em acordo para pagar a dívida. “Fomos processados erradamente”, afirma Andrés, antes de justificar os crimes fiscais. “Infelizmente tivemos de pagar muitos processos trabalhistas do clube naquela época e decidimos que os impostos não seriam pagos.”
Com falta de dinheiro em caixa, a gestão de Gobbi teve de comprometer verbas futuras. Angariou cerca de 19 milhões de reais para aderir ao Refis, programa de parcelamento da dívida, combinando a antecipação de receitas dos direitos de televisão e luvas por renovação de patrocínios. Também recorreu a empréstimos emergenciais com empresários mais próximos. O agente Carlos Leite costuma socorrer o clube desde o começo da era Sanchez. Fernando Garcia, sócio da Kalunga e conselheiro do Corinthians, injetou aproximadamente 15 milhões de reais em troca de percentuais de atletas promissores, como o atacante Malcom, de quem o Corinthians detém apenas 30% dos direitos econômicos. O estatuto do clube veda esse tipo de associação entre membros do Conselho e jogadores.
Embora siga gastando sem moderação, o departamento de futebol não está imune à crise financeira. Mano Menezes, que, assim como outros cinco jogadores do elenco, é agenciado por Carlos Leite, deixou o comando do time no fim de 2014, mas segue vinculado ao clube por ter seis meses de remuneração em aberto. Tal qual o técnico, jogadores que atrelaram parte dos vencimentos a direitos de imagem enfrentam atrasos acumulados. É o caso do volante Ralf, que cobra na Justiça quase 3 milhões de reais do clube referentes à negociação de seus direitos econômicos em 2013. Ainda há pendências de premiação pelos títulos da Recopa Sul-Americana e do Paulista de 2013 e pela vaga na Libertadores. “Meu salário não atrasou. Mas a gente sabe de um ou outro que recebe direitos de imagem que podem estar atrasados. Só que ninguém nunca chiou. O perfil dos jogadores não é esse. O Corinthians passa por um momento difícil e nosso grupo vem encarando com maturidade”, diz o goleiro Cássio.
O quadro ainda gera desconfiança de reforços potenciais, patrocinadores, investidores e, principalmente, da ala oposicionista no clube, que questiona supostos artifícios contábeis da diretoria para maquiar as contas. Mesmo com o aumento da dívida em quase 200 milhões de reais nos últimos sete anos, os balanços indicam apenas lucros. Um grupo de conselheiros liderados por Paulo Garcia, irmão de Fernando Garcia e então pré-candidato à presidência, bateu à porta de Mário Gobbi para cobrar um relatório detalhado dos débitos. Exigiram do presidente o registro em cartório de que o passivo do Corinthians não passa de 300 milhões de reais, como sustenta a diretoria, mas não foram atendidos. “Provavelmente o valor da dívida é maior que o divulgado”, afirma Roque Citadini. O diretor financeiro Raul Corrêa da Silva não respondeu os questionamentos da reportagem.
O estádio não se provou um negócio tão rentável
Vista como um divisor de águas e a salvação da lavoura, a rentabilidade da Arena Corinthians ficou bem abaixo das expectativas desde sua inauguração, em maio do ano passado. Apenas 13 dos 89 camarotes foram comercializados. O clube contabiliza pouco mais 34 milhões de reais em renda líquida com o estádio. Em 20 jogos, a média de arrecadação é de 1,2 milhão de reais. Ex-presidente que iniciou o projeto, Andrés Sanchez, que agora atua como administrador informal da Arena, esperava uma bilheteria anual de 200 milhões de reais, mas as projeções com base na receita líquida sinalizam para um número inferior a 100 milhões, pelo menos neste ano.
O quebra-cabeça no clube é pagar a dívida pela construção do estádio de Itaquera, que, entre juros e obra, custou 1,15 bilhão de reais. Toda receita proveniente da Arena vai para um fundo de administração constituído pelo Corinthians, a construtora Odebrecht e a Caixa Econômica Federal, que viabilizou dois empréstimos para o empreendimento. Um de 400 milhões de reais, por meio de financiamento do BNDES, e outro de 350 milhões. O clube tem até 2026 para quitá-los. Em junho, pagará a primeira parcela. A diretoria nega que a entrada seja de 100 milhões de reais – seria necessário triplicar as receitas do estádio para adicionar mais 66 milhões ao montante do fundo. Independentemente da quantia inaugural do parcelamento, a partir de julho o Corinthians terá de pagar pelo menos 5 milhões de reais por mês. No fim de 2016, as prestações subirão para 10 milhões. Se não honrar os compromissos em dia, existe a possibilidade, registrada em contrato, de o clube deixar de ser um dos cotistas do fundo. Ou seja, pode perder o estádio.
Para fechar a conta, o Corinthians precisa desatravancar os CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento), concedidos pela prefeitura de São Paulo e que podem render até 420 milhões de reais. No entanto, dirigentes vêm encontrando rejeição do mercado para vender os títulos de incentivo fiscal a empresas. Um dos motivos é o fato de a obra ainda não ter sido dada como concluída pela prefeitura, o que compromete a validade dos certificados. A prestação de contas da Arena, prometida para antes da Copa do Mundo, também não foi divulgada pelo clube. “Os CIDS estão atrasados. O Corinthians aguarda a prefeitura. A prestação de contas só poderá ser apresentada quando as obras forem finalizadas”, diz Andrés Sanchez. Como o estádio ainda passa por ajustes, a torneira de gastos continua aberta.
Caso os CIDs encalhem, a conta do Corinthians pode ultrapassar o 1,15 bilhão de reais estipulado. Na melhor das hipóteses, com a venda dos certificados, o débito do estádio (750 milhões de reais) – submetido ao fundo de investimentos – somado ao passivo (270 milhões de reais, segundo dados da diretoria até agosto) supera 1 bilhão de reais e faz do Corinthians o clube mais endividado do Brasil. Botafogo (750 milhões de reais) e Flamengo (705 milhões de reais) têm passivos maiores, mas dispõem de receitas de bilheteria para ajudar a baixar a conta. O clube rubro-negro, que faturou mais de 300 milhões de reais em 2014, por exemplo, pagou 52 milhões de sua dívida.
O congelamento dos ganhos com o estádio tende a agravar o círculo vicioso do endividamento. “O Corinthians vive um dilema”, afirma o consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi. “Se não quitar logo os empréstimos do estádio, os juros podem tornar a dívida impagável. Ao mesmo tempo, se não sobrarem recursos da Arena para investir no futebol, corre o risco de enfraquecer o time e, consequentemente, deixar de disputar títulos. E aí vai ter dificuldade para atrair torcedores.” O contrato de naming rights, que ajudaria a acelerar o pagamento da dívida, também não saiu no prazo previsto, em 2011. O clube esperava receber pelo menos 20 milhões de reais por ano para conceder o nome da Arena a uma empresa. Mas o apelido “Itaquerão”, consagrado por parte da mídia e torcida, aliado à retração econômica no país, faz Andrés Sanchez estudar propostas de 15 milhões. Não há previsão para selar o acordo.
Copa e economia traíram cartolas
A era de ouro corintiana coincidiu com a era de ouro da economia brasileira, que despejou caminhões de dinheiro na maioria dos grandes clubes do país. De 2009 a 2012, o êxodo de craques tomou rumo contrário. Medalhões voltavam da Europa ainda no auge, atraídos pelos altos salários pagos por aqui. O Corinthians repatriou Ronaldo. Reforço a peso de ouro, chegou a receber 1 milhão de reais por mês justamente na época em que o clube deixou de pagar impostos para honrar compromissos trabalhistas, segundo dirigentes. Em seus primeiros oito meses com a camisa alvinegra, o Fenômeno arrebanhou 24 milhões de reais para o clube. Era o boom das receitas, que só iriam declinar em 2013.
Hoje sufocado por dívidas, o Corinthians é a representação mais bem acabada da ilusão compartilhada entre os cartolas brasileiros de que era possível competir com o mercado europeu e ligas emergentes bancadas por petrodólares e bilionários. Na esteira do real valorizado, o clube começou a inflar contratos para bater a cotação do euro e ganhou poder no mercado ao tirar Alex do Spartak Moscou, da Rússia, em 2011. “Fui vendido para o Spartak por 5 milhões de euros e voltei ao Brasil por 6 milhões de euros “, gabava-se o meia em sua chegada.
Naquele mesmo ano, a euforia motivou Andrés Sanchez a fazer uma proposta de 90 milhões de reais por Carlitos Tévez, do Manchester City. Desde o início de sua gestão, a prioridade sempre foi reforçar o time, não pagar dívidas. Euforia que também o levou a ostentar uma miragem: “Vamos quitar toda a dívida. Em quatro anos, o Corinthians será o time mais rico do mundo. Podem me cobrar”, cravou Andrés no início de 2011. Atualmente, com faturamento inferior a 200 milhões de reais, o Corinthians deixou de figurar na lista dos 20 clubes mais ricos do mundo. O Real Madrid, que lidera o ranking, arrecada 1,66 bilhão de reais por ano – oito vezes mais que o Corinthians, valor suficiente para quitar toda a dívida do clube paulista, incluindo o estádio.
“É praticamente impossível, não só para o Corinthians, mas para qualquer clube brasileiro, se tornar o mais rico do mundo. Clubes europeus são marcas globais e têm receitas bem maiores”, diz Somoggi. A desaceleração da economia e o encolhimento do mercado publicitário no futebol devastaram o eldorado que o clube projetava. E vieram bem antes da tão sonhada internacionalização da marca Corinthians. Dirigentes superestimaram a capacidade da Copa do Mundo como catalisadora de novos investimentos e deixaram de fazer contas na hora de contratar. O estouro da crise financeira em 2014 não impediu o Corinthians de seguir repatriando jogadores com salários em torno de 500.000 reais, como Cristian e Elias, que custou 12 milhões de reais. Mas há um último e não menos importante fator que ajuda a compreender o que fez o clube mergulhar em um arrocho tão severo…
Racha compromete ainda mais o futuro
Ainda que velado, o rompimento entre Mário Gobbi e Andrés Sanchez expôs a fragilidade financeira do Corinthians. “O racha da diretoria interferiu bastante nessa situação”, afirma Citadini. “E é um racha grande, mais profundo do que aparenta. Na volta da viagem do Japão, parece que o sashimi não desceu bem e houve uma ruptura, uma sucessão de desentendimentos.” Logo após o triunfo no Mundial de Clubes, no fim de 2012, o atual presidente teria sugerido uma política mais sustentável de gastos e foi prontamente rebatido por diretores ligados a Andrés, que pregavam contratações de impacto para o clube seguir levantando taças. Em seguida, a diretoria bateu o martelo pela contratação de Alexandre Pato.
O fracasso do atacante coincidiu com as pressões da Justiça Federal pelo não pagamento de impostos da antiga gestão. Embora sustente que deixou de interferir no dia a dia do clube desde a saída da presidência, Andrés Sanchez continuou como figura central nas tomadas de decisão no clube, sobretudo em torno da Arena, em que ocupou o cargo de administrador até agosto do ano passado, antes de sua eleição a deputado federal. A queda de desempenho do time desencadeou uma corrente interna de acusações a Mário Gobbi. Instigados por Paulo Garcia, amigo de Andrés, correligionários do ex-mandatário propagavam pelos corredores do Parque São Jorge a teoria de que Gobbi seria o único responsável pelo “mico Pato” e a perda de fôlego nas finanças. Em contragolpe, o presidente passou a insinuar em reuniões com conselheiros sobre a “herança maldita” de dívidas deixadas pela gestão passada, em irônica alusão ao termo utilizado por Andrés quando substituiu Alberto Dualib no comando do clube.
A eleição no Corinthians está marcada para o próximo sábado. O ex-diretor de futebol Roberto de Andrade, candidato da situação apoiado por Gobbi e Andrés, enfrenta a chapa oposicionista liderada por Roque Citadini. Os embates políticos comprometeram o planejamento do time para a temporada. Enquanto Roberto de Andrade, municiado por Andrés, corria atrás de nomes como Dudu e Leandro Pereira, o presidente vetou os possíveis reforços, que foram parar no Palmeiras, e priorizou o acerto de salários do plantel. Decisão que alastrou o desgaste com Andrés e antigos aliados. As renovações de Paolo Guerrero e contratos de publicidade também emperraram diante do panorama de indefinição.
Horizonte turbulento para o último time brasileiro campeão mundial, mas que, nas palavras de Andrés Sanchez, não diz mais que um simples ajuste de rota. “O Corinthians está passando por dificuldades, mas acredito que em pouco tempo fará parte dos cinco maiores clubes do mundo.” Se o prognóstico do ex-presidente estiver tão preciso quanto o de quatro anos atrás, o torcedor corintiano tem, além da dívida bilionária, mais um grande motivo para se preocupar.
Eleição no Timão: Citadini promete mudanças e reza para vender Pato
Candidato da oposição diz que atual administração perdeu o controle dos gastos com futebol, projeta trocas e diz que não será fácil negociar atacante: “Ninguém compra”
Por Carlos Augusto Ferrari São Paulo
Caímos no conto do vigário, porque o Pato foi do Inter para o Milan por um jogo. Quando ele começou a não jogar, o Milan inventou que ele estava contundido. Hoje está claro que isso era um artifício usada para não mostrar o jogador. Não havia água de São Gennaro que curasse
Antônio Roque Citadini
Antônio Roque Citadini voltou à linha de frente da política do Corinthians fazendo barulho com sua candidatura à presidência, pela chapa “Pró Corinthians”. Crítico ferrenho do grupo encabeçado por Andrés Sanchez, o ex-presidente do Tribunal de Contas de São Paulo conseguiu unir a oposição, ganhou o apoio de um poderoso integrante da situação e projeta uma grande mudança no clube caso saia vencedor das eleições do dia 7 de fevereiro.
– O problema básico é que o futebol perdeu a mão, gastou de uma forma equivocada, a mais. Isso levou a esse desequilíbrio – afirmou.
Entre os gastos exagerados, Citadini detona o investimento de mais de R$ 40 milhões na contratação de Alexandre Pato. Vendê-lo poderia causar um desafogo nas contas, mas, sem propostas, a solução foi emprestá-lo ao São Paulo com 50% dos salários pagos pelo Corinthians. Para Citadini, só um milagre salva.
– Nós deveríamos rezar uma missa por dia para aparecer um negócio – disse.
Citadini é da chapa “Pró Corinthians”, da oposição
(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Vice de futebol entre 2001 e 2004, período em que o Corinthians era gerido em parceria com o fundo americano Hicks Muse, Citadini ganhou força na eleição ao se transformar no único candidato da oposição para enfrentar o situacionista Roberto de Andrade. Mais que isso, ganhou o incentivo de Luis Paulo Rosenberg, dissidente do grupo da situação e antigo homem de confiança de Andrés Sanchez.
– Ele está ajudando muito na campanha e ajudará muito na gestão. Não sei bem como vamos definir as coisas. Mas a regra é que aqueles que ajudam ganhar ajudam a administrar – projetou.
Leia a entrevista com Antônio Roque Citadini:
O grupo da situação sempre tentou investir em jogadores renovados para reforçar o elenco, mas agora o Corinthians vem atravessando uma grave crise econômica. Que estratégia você planeja para o futebol?
A situação financeira não é boa. A própria direção fala. Eu acho que essa coisa precisa ser bem colocada. O clube que ganha títulos é aquele com as contas equilibradas. Se você estiver com as contas esculhambadas, não ganha. Você precisa contratar tendo uma situação equilibrada, porque aí paga em dia, atrai jogador, ele joga com mais dedicação. De cada dez títulos, em nove você está com a situação financeira equilibrada. A primeira coisa é colocar as contas em dia.
O orçamento deste ano diz que o Corinthians tem apenas R$ 10 milhões para contratar…
Esse orçamento é hipotético. Nosso problema é caixa, não é previsão. O clube precisa resolver suas contas pagando em dia, usando os recursos que recebe. Isso é importante fazer. Eu não penso nos R$ 10 milhões. Você ter mais ou menos. O problema é caixa.
Osmar Stábile, Paulo Garcia, Roque Citadini e Emerson Piovezan se juntaram na oposição (Foto: Martin Fernandez)
Como você analisa essa crise financeira do clube e o atraso no pagamento dos salários? Alguns jogadores falam disso publicamente.
O problema básico é que o futebol perdeu a mão, gastou de uma forma equivocada, a mais. Isso levou a esse desequilíbrio. No campo da despesa, é gastar melhor. No campo das receitas, é faturar mais. Infelizmente, temos mudanças na economia do país, as empresas estão puxando o freio. Os clubes também são atingidos com isso.
O grupo da situação alega que a apropriação indébita de tributos, denunciada pelo Ministério Público Federal, era necessária para fazer o clube andar na gestão de Andrés Sanchez. Você concorda?
Todos eles reconhecem que foi um erro. O clube acaba ficando vulnerável, como ficou. O melhor é que isso não ocorra. Todo mundo acha isso.
Não gosto muito de ser o juiz da história. O Mário foi presidente, ganhou títulos, mas acho que se cansou muito cedo de ser presidente, falava toda hora que não via a hora de deixar. Ele vai ser analisado pela história
Antônio Roque Citadini
Vender o Alexandre Pato pode ser uma solução para esse momento financeiro ruim?
Não sei, acho que ninguém compra. Eu não gosto de ficar criticando um jogador ou uma contratação. Muitas vezes você acredita que vai dar certo e depois dá errado. É do futebol. No caso do Pato, que envolvia muito dinheiro, deveríamos ter nos informado melhor. Caímos no conto do vigário, porque o Pato foi do Inter para o Milan por um jogo. Quando ele começou a não jogar, o Milan inventou que ele estava contundido. Hoje está claro que isso era um artifício que o Milan usava para não mostrar o jogador. Não havia água de São Gennaro que curasse. Na verdade, com isso, eles conseguiram manter o Pato como um supercraque e repassaram para o Corinthians como um supercraque. Ele já não era naquela altura, como provou no Corinthians e no São Paulo. Agora é aguentar o tranco. Foi feito dessa forma, o clube vai ter de aguentar.
Mas o que fazer com ele, então?
Quem é que vai comprar? O Corinthians não é o Milan, que conseguiu a proeza de escondê-lo dois anos. Não dá para ser feito no Corinthians pelo tipo da torcida, pela nossa história. Aqui, o jogador é bom ou ele racha. Nós deveríamos rezar uma missa por dia para aparecer um negócio. Depois da compra qualquer coisa era uma solução. O problema foi ter caído nisso.
Pensa em vender outros?
Depende de ter jogador para vender. Não sei se temos tantos craques assim para vender.
Em junho, o Corinthians terá de pagar a primeira parcela do estádio. Como pensa em gerir essa conta? Eu não sei o valor. Mas vamos ter de pagar o estádio. É um belo estádio, moderno, gosto de ver futebol lá. Se nós não tivermos condições de pagar um estádio, ninguém tem. Eu sempre fui a favor. O estádio foi uma grande coisa. O Corinthians aproveitou muito bem a Copa do Mundo, se comprometeu, porque ficou com grande dívida, mas construiu um estádio moderno e salvou a cidade de um vexame. A cidade até deve favor ao Corinthians.
Citadini voltou à linha de frente da política alvinegra
(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Que análise você faz da administração de Mário Gobbi?
Não gosto muito de ser o juiz da história. O Mário foi presidente, ganhou títulos, mas acho que se cansou muito cedo de ser presidente, falava toda hora que não via a hora de deixar. Ele vai ser analisado pela história.
Um dos vices dele, Luis Paulo Rosenberg, pulou para a oposição e vai te apoiar. Como aconteceu esse processo?
O Luis Paulo foi uma das pessoas de maior destaque (da situação). Ele e o Andrés. Ele teve papel muito importante no estádio. O apoio dele foi muito importante nos termos em que aconteceu. Primeiro, ele reconheceu que nós, especialmente eu, estávamos fazendo um trabalho muito positivo. Ele é uma pessoa respeitada por todo mundo como um dirigente de qualidade. Candidato nunca se surpreende com apoio. Foi muito positivo.
Qual será a função dele na sua administração?
Ele está ajudando muito na campanha e ajudará muito na gestão. Não sei bem como vamos definir as coisas. Mas a regra é que aqueles que ajudam ganhar ajudam a administrar.
Ele deve administrar a arena?
Não há dúvida.
A situação diz que sua relação com um de seus vices na chapa, Osmar Stábile, é péssima. Isso é verdade?
É uma avaliação equivocada. Houve uma divisão dura na situação. Eu diria que aquele grupo originário que elegeu Andrés e Gobbi se dissolveu. O grupo de agora é diferente. Não é só o Luis Paulo (que saiu). Nós demos uma demonstração de grande capacidade política. Se a situação joga na divisão da oposição para ganhar, eles podem tirar o cavalo da chuva.
Paulo Garcia abriu mão da candidatura para apoiá-lo. Ele também terá cargo na sua diretoria, como no futebol, por exemplo?
Nenhuma das pessoas que estão aí, Paulo ou Luis Paulo, será surpresa (se aparecer na direção). Eles estão na linha de frente da eleição. Surpresa seria se eles não estivessem.
Eles (situação) falam que eu não gosto do clube social. Eu sou o que mais frequenta o clube social. Alguns de lá não vão ao clube, não gostam e só fazem média. Eles estão fazendo coisas inimagináveis. Eles fecharam o restaurante em pleno verão. Isso é gostar do clube social?
Antônio Roque Citadini
Muito se fala sobre um racha no grupo da situação. O quanto isso foi importante na sua candidatura?
A divisão ajudou. Eu conheço o clube. Há um sem número de pessoas que praticamente abandonou ao clube, que não aderiu à oposição, mas que foi para casa. Isso também é importante.
Existe uma história de que você era favorável ao fim do clube social quando foi vice-presidente na gestão Dualib. Isso é verdade?
Eu defendia a separação do futebol do clube social e dos esportes olímpicos. E acabou ocorrendo. Quer dizer, o que eu defendia é que o futebol não poderia ser gerido como o social e os esportes olímpicos, como orçamento e sua forma de gestão. A lei mudou e estabeleceu isso. Eles (situação) falam que eu não gosto do clube social. Eu sou o que mais frequenta o clube social. Alguns de lá não vão ao clube, não gostam e só fazem média. Eles estão fazendo coisas inimagináveis. Eles fecharam o restaurante em pleno verão. Isso é gostar do clube social?
Mas há uma lenda de que você queria jogar cimento nas piscinas…
Não foi lenda. Houve um projeto que iria redefinir todo o Parque São Jorge. As piscinas ficariam numa ponta, o ginásio mudaria. Era um projeto que a Hicks (Muse, ex-parceira do clube) queria. Aquilo (sede) foi sendo construído de acordo com a oportunidade. Comprava terreno e construía. Se fosse construir o estádio lá, ele seria basicamente em cima da sede e do ginásio, que é o espaço maior. Nunca houve história de aterrar a piscina. Se o clube fosse fazer esse programa, ele teria mudanças. Não sabemos o que faríamos com a sede. Mas isso tudo está superado.
Quais seus planos para o clube social e os esportes olímpicos? O clube social tem de melhorar. Eles falam que eu não gosto, mas eles não gostam. A piscina está com ladrilho quebrado, o restaurante não funciona, todas as áreas têm queixa. O clube precisa voltar a ter esportes olímpicos, não é só futsal e natação. Precisamos pensar no basquete e outros que o Corinthians foi importante. Temos de nos abrir a outros esportes.
Como pensa em lidar com a renovação de contrato de Paolo Guerrero? Não sei quanto ele está pedindo. Mas, de qualquer forma, o Guerrero é um jogador de qualidade. O clube precisa ver como vai pagar. Ele é um grande jogador, se identificou com o clube. Essa é a grande vantagem. Você tem um limite, mas tem de fazer um esforço grande.
Você foi dirigente do futebol durante a parceria com a Hicks Muse. É favorável ao retorno desse tipo de gestão?
O futebol mudou, hoje tem mais dinheiro que naquela época. As parcerias estão superadas. Depois da MSI, que foi desastrosa, fica difícil qualquer outra.
Citadini espera sair vencedor no sábado, dia 7
(Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Uma parte da torcida reclama que os ingressos estão caros. O que você pensa sobre os valores?
Os sócios do clube reclamam que querem ter acesso para comprar. O Fiel Torcedor também e há reclamação do preço final. O Fiel Torcedor foi coisa importante. Precisamos melhorar, possibilitar que ele dê um salto. Tem um monte de mudanças que podemos fazer. Devemos caminhar para os clubes europeus, com venda de ingressos só pela internet. Temos de acabar com essa coisa de fila para comprar. É pré-histórico. Há setores que precisam ser caros. Eu sou sócio-torcedor VIP. Acho que tenho de pagar caro, porque o clube oferece cadeira, banheiro, estacionamento… Mas também precisa de ingressos populares, ou então vai mudar nossa história, coisa que não queremos.
Integrantes do departamento de futebol atual acreditam que você fará uma grande reformulação no setor, seja com dirigentes ou funcionários. Esse é o caminho?
É possível que mude muitas coisas. Fui diretor de futebol quatro anos, nada ali para mim é estranho. Segundo, porque eu sou o candidato da mudança, não sou da continuidade. Nós precisamos reduzir custos, estamos gastando muito. Não com jogador, mas com o departamento de futebol, como médico, funcionário. Tudo isso está ganhando muito, demais. Ganhando coisa de um outro tempo que não existe mais.
O Corinthians brigará por títulos em 2015? Essa é uma grande sorte. Estamos vivendo uma crise, mas todo mundo está. Nós rapidamente temos condição de sairmos forte disso. Vamos brigar por títulos.
Antonio Roque Citadini quer base 100% do Corinthians (FOTO: Alan Morici/LANCE!Press)
O LANCE!Net começa nesta terça-feira uma série especial de entrevistas com os candidatos a presidente do Corinthians. Antonio Roque Citadini, pela chapa 11 “Pró-Corinthians”, de oposição, e Roberto de Andrade, pela chapa 10 “Renovação e Transparência”, da situação, disputam a eleição que acontecerá no próximo sábado, a partir das 9h, no Parque São Jorge.
Na quarta-feira, a entrevista será com Roberto de Andrade. Na quinta e na feira, as entrevistas serão divididas por outros temas importantes, como posicionamento do clube no contexto nacional, incluindo formação da liga de clubes, calendário, Bom Senso F.C. e aspectos econômicos.
PRIMEIRA PARTE
Ex-presidente do Corinthians e do Conselho de Orientação do clube, vice de futebol na era Alberto Dualib entre meados da década de 1990 e início dos anos 2000, Antonio Roque Citadini cresceu nos bastidores na reta final da campanha presidencial e, pela primeira vez, vai disputar o posto maior do clube. Ele chega com a chapa reforçada pelo apoio de Paulo Garcia, que abriu mão da disputa e da quarta tentativa, já que perdeu em 2007, 2009 e 2012.
Citadini concorrerá com Roberto de Andrade, candidato da situação e apoiado por Andrés Sanchez, no pleito do próximo sábado, no Parque São Jorge, sede do clube.
Nesta entrevista ao LANCE!Net, Citadini prega equilíbrio financeiro acima de tudo, diz que o “bom e barato” não existe, ataca a atual geração do futebol brasileiro e provoca até jogadores rivais, como os atacantes Dudu, do Palmeiras, e Pato, do São Paulo.
– Como Dudu tem uns 20 iguais. Sou contra essa coisa de disputar jogador. Temos uma geração ruim. Olha a nossa Seleção. Um horror! E o Pato? Vai ficar marcado na história como um jogador que tem um ótimo agente – diz, com a mesma língua afiada que o marcou na época em que se afastou da gestão Dualib por discordar da parceria com o MSI, cujo grupo era presidido pelo iraniano Kia Joorabchian.
LANCE!Net – A chapa da situação diz que você tem grande rejeição por frequentar pouco o clube e, principalmente, por ter a imagem ainda ligada à do Dualib. Como driblar isso?
Primeira coisa, as pesquisas não mostram essa rejeição. Segundo, dos candidatos, eu sou o que mais frequenta o clube. Terceiro, a matriz dessa coisa que tenho rejeição vem porque dizem que sou só do futebol. Agora, a minha identificação com o futebol é clara: fui diretor de futebol com o Dualib por quatro anos. Peguei o período da Hicks Muse [entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000], tivemos períodos ruins e ótimos, mas sempre fui do futebol. Tradicionalmente, não era o futebol que falava pelo clube, mas isso mudou depois e virou regra.
L!Net – Você comprou essa briga no fim da década de 90, quando o time ainda treinava no Parque São Jorge porque não tinha CT.
Exatamente, por conta disso, diziam que eu era contra os departamento sociais. Mas isso tinha de ser feito porque tínhamos parceria para o futebol, não para os outros esportes como basquete, tênis e outros. E tanto era certo que acabou ocorrendo. Hoje, o clube trata o futebol separado do ponto de vista da gestão orçamental e porque está fora do Parque São Jorge. O time treina na (Rodovia) Ayrton Senna, joga no estádio e há jogadores que seguramente nunca irão à sede do clube, ao bar da torre, à sirene. Porque o futebol descolou da Fazendinha.
L!Net – Sua campanha se baseia no equilíbrio orçamentário, mas como fazer isso e manter um jogador como Guerrero, que pede US$ 7 milhões (R$ 19 milhões) de luvas por exemplo, e contratar reforços que cobram salários altíssimos?
Acho que existe uma questão preliminar: se o clube estiver equilibrado, ele tem uma situação que pode torná-lo altamente competitivo. Se tiver uma gestão equilibrada, poderá ter grandes times. Por quê? Porque se começar a pagar salário atrasado, dever para um e para outro, perde a competitividade. Quem ganha título neste país é time que está bem financeiramente. De cada dez, nove ganham e um é azarão. O pressuposto para ser competitivo é ter as contas equilibradas. Até porque a diferença de nossa receita para os outros é muito grande. O presidente do Atlético Mineiro (Alexandre Kalil) disse que todo ano torcia para que Corinthians e Flamengo comprassem um Pato [custou R$ 40 milhões ao Corinthians, no início de 2013] porque isso equalizaria com o que eles ganham. Mostra que, se o Corinthians tiver equilíbrio, passa a ser atrativo para qualquer jogador. E não tem nada a ver com essa história do bom e barato, ouviu? Porque não existe isso, existe ruim e barato o que fazem.
L!Net – O próximo presidente pegará a bomba da renovação do Guerrero. Acha possível pagar o que ele exige?
Acho que a primeira coisa que o presidente eleito terá de fazer é saber como está a saúde financeira do clube. E como vai tocar nos próximos anos. Equilibrando, o Corinthians será mais atrativo para o Guerrero do que qualquer outro clube.
L!Net – O Corinthians prorrogou o contrato com a Nike até 2025 para pagar dívida fiscal, renovou com a SPR Sports (empresa de franchising que administra a rede Poderoso Timão) até 2019 para quitar salários atrasados, não poderá contar também com a bilheteria dos jogos porque está comprometida com o pagamento do estádio. Como gerir o clube com essas perdas?
Esse é um ponto que precisa ser revisto. O clube tem de repensar. A gente deve propor limitações para uma gestão não invadir a seguinte. Tem de ter limite porque se não cada presidente vai ficar sacando no futuro e vai chegar uma hora que vai se tornar inadministrável. É preciso mudar o estatuto.
L!Net – Uma outra ideia que você tem citado é exigir que 100% dos garotos da base pertençam ao Corinthians. Mas é de praxe do mercado os garotos exigirem 30% na primeira assinatura…
Não, mas a Fifa já proibiu agentes de terem direitos econômicos…
L!Net – Mas há clubes hospedeiros, e os pais também podem assumir parte dos direitos pelos filhos.
Mas clube hospedeiro é um perigo porque na própria decisão da Fifa ela diz que vai investigar esses clubes. Clube que não disputa campeonato e tem enorme receita com jogadores vai ser punido, então isso também vai ter de mudar uma hora. Veja, o negócio dos 100% do Corinthians não é uma visão contra empresário, na verdade. O agente do jogador é perfeitamente razoável que negocie salário e tempo de contrato, mas o clube não pode abrir mão do seu negócio. Isso só ocorre por uma certa promiscuidade com dirigentes e agentes. O clube repassa o valor, continua pagando e investindo no jogador e o agente não perde nada, só se beneficia. É uma parceria péssima para os clubes. Na Europa os clubes de peso não aceitam isso. Tanto que obrigaram a Fifa a tomar uma atitude. Isso passou a ser coisa de Portugal e Espanha, que são quase Terceiro Mundo também. No caso do Corinthians, é claro: o clube não revela mais jogador, é raro.
L!Net – Mas os agentes, ou mesmo a família do garoto, têm poder de barganha. Por isso os clubes cedem 30% dos direitos na primeira assinatura…
Mas os agentes decidem porque o clube deseja. Cria-se uma relação de compadrio. Mas entre o jogador fazer um contrato para jogar no Corinthians ou no Atlético-PR… (risos).
L!Net – Vamos citar o caso do Dudu. Por que acha que ele falou que gostaria de jogar no Corinthians, enquanto negociava com o São Paulo e acabou no Palmeiras? Porque o clube está bem financeiramente ou porque a relação dos seus agentes era boa com o clube?
Não sei, de qualquer forma, esse negócio do Dudu só foi bom para os ucranianos. E olha, não é nenhum Rivelino, um Ronaldo, para ter disputa. A briga foi criada pelos agentes. Se fosse um notável, um Romário, tudo bem, mas não vejo motivo.
L!Net – Mas o Corinthians precisava e continua precisando de um atacante, não?
Mas como o Dudu tem uns 20 iguais. Sou contra essa coisa de disputar jogador. Nós temos uma geração ruim. Olha a nossa Seleção. Um horror! Tirando o Neymar, o resto pode jogar tudo no mesmo balaio que não dá nada. A Seleção de agora e a da África do Sul [na Copa do Mundo de 2010] fizeram vergonha e estão com vergonha até agora. Geração fraquíssima! Só é boa para negociar contrato de marketing. Por que isso acontece? Porque os clubes ficaram reféns. Você acha que, se o Corinthians ganhasse o Dudu, faria uma diferença monstruosa?
L!Net – Impossível saber hoje…
Posso lhe dizer que não. Não! Tem meia-dúzia de jogadores que você não pode perder. Se fosse o Tevez [atacante da Juventus-ITA], diria que o Corinthians tinha que ganhar uma briga. O resto não. Estou dizendo que a Seleção Brasileira, tudo ali, com exceção do Neymar, não serve. Conseguem bons contratos porque os agentes são bons, senão não conseguiriam nada. Tanto que ninguém vai ficar na história do futebol brasileiro. Acha que o Pato vai ficar na história? Não, vai ficar na história como jogador que tem um agente ótimo!
L!Net – Quem será o “homem-forte” do futebol do Corinthians para tocar o que você defende? O clube terá um “executivo-estrela” como Alexandre Mattos, do Palmeiras, Rodrigo Caetano, do Flamengo, por exemplo?
Acho que o clube precisa ter um dirigente remunerado.
L!Net – O clube já tem o Edu Gaspar.
Tem o Edu, mas se eu mudar a diretoria, mudo o Edu. Eu sou um candidato de mudança, senão fica a mesma diretoria. É um cargo fundamental. Mas vamos ver. Vamos contratar um profissional da área e de confiança do clube. Não pode ser amigo de empresário. Amizade com empresário nessa área não pode. É aquela história da linha na sala. Quem trabalha para o clube fica do lado de cá da linha. Quem é agente fica do outro. E ninguém ultrapassa a linha.
L!Net – Vai abrir diálogo com as torcidas organizadas ou fará como o presidente Paulo Nobre no Palmeiras, que rompeu?
Nem romper nem criar privilégios. Tem de ser tratada com respeito e igualdade. Não vai ter torcida privilegiada nem inimiga.
L!Net – Os líderes das principais organizadas do Corinthians costumam se reunir com o presidente assim que ele é eleito. Vai recebê-los na sala da presidência, se for eleito?
Conheço todos eles, não preciso marcar nada. E eles me conhecem também. As relações serão igualitárias e cordiais.
L!Net – O clube pagar ônibus para viagens em jogos foram de São Paulo, ceder ingressos e receber o dinheiro depois…
Não tem isso de pagar ônibus ou outra coisa para torcida. Esse negócio de pagar para torcida é para o voleibol, que o torcedor vai ao ginásio com a camisa do patrocinador. Acho que há uma mudança fundamental nessa relação com a construção da arena. Sou favorável que toda a venda de ingresso aconteça pela internet. Sem bilheteria no estádio, é assim no mundo inteiro. O bilheteiro acabou.
L!Net – Como vai cuidar da Arena Corinthians?
Não terei dificuldade. A primeira razão: Luiz Paulo Rosenberg, que tocou aquilo lá por todo o tempo, depois ele divergiu (da diretoria) e saiu. Não sei se ele quer, mas é uma pessoa fácil de trabalhar e não teria dificuldade porque conhece tudo lá dentro.
L!Net – Acha possível ainda conseguir naming rights para a arena?
Olha, muita coisa mudou. O mercado mudou, o mundo mudou, vai se vender pelo preço que o mercado ditar. Não tem outra alternativa.
L!Net – Sobre ingressos, Rosenberg diz até que o preço do ingresso no estádio deveria aumentar…
Não ouvi ele falar isso. Acho que tem de ter vários preços, o VIP que é caro mesmo e os mais baratos.
L!Net – Sabe quanto está o ingresso?
Sei, eu sou Corinthians VIP, pago caro.
L!Net – Sabe quanto está o valor do ingresso no setor VIP. E nos populares? Ou que deveriam ser populares?
Sei também, que chega a 30 e poucos reais [já com os descontos para o cliente do Fiel Torcedor]. O que estou dizendo é que tem de ter ingressos populares e caros, com o sujeito tendo tudo à disposição, estacionamento e tudo mais.
(Nota da redação: Torcedores reclamam que há poucos ingressos a preços populares)
Nos últimos três anos, os sócios do Corinthians foram abandonados.
Além do trânsito terrível da cidade, os sócios ainda têm que enfrentar engarrafamento outra vez na hora de chegar ou sair do clube. A gente se irrita e perde um tempão, que seria de nosso lazer.
Coisas simples como fazer mais duas ou três entradas para o estacionamento não passaram pela cabeça da atual diretoria. Se coisas assim, banais, não são feitas imagina o resto…
Os banheiros são sujos. Os fraldários são uma piada; os bebês dos sócios não têm um lugar adequado onde trocar de roupa. Até os azulejos da piscina estão quebrando, e o piso também. Muitas vezes causam ferimentos nos pés de crianças e adultos. É algo inconcebível. Você vai para o clube se divertir e volta machucado.
E nessa você não vai acreditar…
Em pleno verão, em plenas férias, o restaurante do clube está fechado!
A diretoria não consegue administrar um restaurante, nem arrumar um terceirizador.
Os sócios do Corinthians só querem uma coisa: respeito.
Por isso, eu sei que você vai votar em Roque Citadini. Ele tem um plano emergencial para o clube, que está completamente abandonado.
Ele tem um programa de médio e longo prazo. Ele vai melhorar tudo porque vai organizar a parte financeira e vai colocar seu próprio vice-presidente para cuidar dos sócios.
Vote Chapa 11. Dia 07 é dia de Roque. É dia do Corinthians voltar a ser do Corinthians.
Peço um pouco da sua atenção para o vídeo abaixo, onde falo um pouco sobre os meus amigos Stabile e Piovezan, meus vices para as eleições do próximo dia 07.
O Corinthians de hoje tem dois problemas principais:
A parte financeira está em crise: gastaram mais do que arrecadaram. E o clube social, que está abandonado.
Por isso, escolhi dois especialistas para resolver estes problemas.
O Emerson, que tem experiência e respeito até dos adversários. É o homem que vai saber colocar o nosso Corinthians em dia. Pode apostar!
E para o Clube Social, meu vice-presidente Osmar Stabile. Que dirigente frequenta mais o clube que ele? Nenhum!
Você conhece o Osmar. O Osmar sabe tudo o que o sócio precisa. Ele próprio é um sócio assíduo e querido por todos.
Futebol é conjunto. É união da equipe, e eu tenho dois ótimos vices-presidentes. Por isso, vou ser um bom presidente.
Só preciso de você dia 07, sábado. Vote 11. Vote Roque Citadini!
Assista aqui a entrevista concedida ao programa Bate-Bola, na ESPN
CHANCES DE VENCER AS ELEIÇÕES
Estou certo que nós podemos ganhar (as eleições do Corinthians). Nós temos condições de ganhar.
Nós fizemos uma aliança, o Paulo Garcia que era o outro candidato está me apoiando e isso fortaleceu muito. O Paulo tem uma grande presença no clube, é um nome historicamente muito forte.
A nossa chapa tem o apoio de vários grupos, até de grupos que saíram da situação, caso do Luis Paulo Rosenberg, que já esteve até aqui… então nós temos uma campanha em condições de ganhar.
Pode botar que eu vou ser presidente. Estou muito acreditando que nós vamos ganhar as eleições.
Uma das razões que a minha candidatura cresceu, além do apoio do Paulo Garcia e de todos mais, eu sempre fui oposição, é que um grande número de pessoas vinculadas a essa gestão ficara meio incomodadas com a briga que começou lá. Ontem mesmo eu participei de uma reunião em que haviam 20 pessoas, conselheiros e tal, todos oriundos da situação, porque eles não concordavam com o quadro que se criou nos dois últimos anos de atrito por qualquer coisa.
O Luis Paulo (Rosenberg) não quer cargo nenhum na chapa agora. Ele terá um papel importante por duas situações que é preciso reconhecer: na questão do estádio, em que ele foi dos que mais encaminhou, ajudou, desde o início e tal. Talvez depois do Andres, o Rosenberg tenha sido o que teve mais destaque, e ele tem uma contribuição grande a dar em qualquer posição.
Agora deixa eu pedir voto!
Dia sete, eu peço aqueles que são sócios, vamos lá para votar! E aqueles que não forem sócios e conhecerem sócios avisa para ir votar dia 07.
Chapa 11 ! A minha chapa é 11.
RENOVAÇÃO DE GUERRERO
O Guerrero é um grande jogador, deu certo no Corinthians, se acontecesse com o Pato o que aconteceu com o Guerrero nós estaríamos felizes, ele (Guerrero) é um jogador que fará, provavelmente, o último grande contrato dele, então é natural que queira uma condição boa, continuando num clube que deu tudo para ele, também. Qual é o clube do Guerrero? O clube do Guerrero é o Corinthians.
Eu acho que o clube deve fazer todo o esforço para renovar o contrato do Guerrero. Outro dia me disseram: “vão renovar na véspera da eleição”. Ótimo! Pra nós é ótimo. Nós não temos problema nenhum. Se quiser renovar na véspera da eleição, dois dias antes da eleição… pode renovar com qualquer um, eu não tenho problema nenhum. Isso não altera o meu humor e nem me dá um voto a mais ou um voto a menos.
Eu digo para todo mundo: é melhor que já esteja renovado, aliás, deveriam ter renovado há um ano, dois anos atrás. Eu não tenho nenhum problema. Não desequilibra a eleição. O eleitor não pensa assim. Se quiserem renovar na véspera, podem renovar na véspera.
Eu acho que (a renovação) é uma negociação. Não é que você chega e fala: “Eu pago qualquer coisa! O que você quer?”. Não é “eu pago qualquer coisa”. Vamos sentar aqui e ver como nós podemos pagar. Eu acho que dá para acertar, e gostaria mesmo que acertasse, já. Até para que não ficasse para depois da eleição.
TETO SALARIAL PARA JOGADORES
Não tem nada que ter teto. O jogador bom ganha muito, clube que tem dinheiro paga muito. Esse negócio de teto é tudo bobagem. Se o jogador for grande jogador ele pode ganhar, se o jogador só tiver bom empresário, aí é outra coisa, não tem porque chegar no teto.
Porque teto vira piso. Daí todo mundo quer chegar lá em cima. Salário alto é para quem joga muito. É assim, em qualquer lugar. O Neymar, o Messi… a verdade é que não ganham a mesma coisa.
Esse negócio de teto salarial não dá certo em lugar nenhum do mundo.
Essa é uma conversa que existe em todo lugar, na Espanha… isso aqui não dá.
Não tem teto salarial em clube nenhum aqui. Todos os que falam só estão falando para efeito da mídia.
Se o craque é bom, se aparecesse o Rivelino de novo, nós faríamos ao Diabo, porque era um grande jogador.
O duro é pagar salário alto para jogador ruim. Jogador ruim é duro você ver ele em campo e pensar naquele salário.
SITUAÇÃO FINANCEIRA DO CORINTHIANS
O clube vive uma situação singular de dificuldades, porque nós temos uma situação difícil na parte financeira. Isso foi escondido de uma certa forma, procuravam dizer: “Não é isso…”, até que estouraram aquelas ações de dívidas fiscais, onde ficou claro que o Corinthians não estava pagando, estava recolhendo imposto e não estava pagando. Isso gerou uma ação que foi muito onerosa, o clube teve que fazer um esforço grande para não se comprometer mais ainda.
Nós vimos hoje, saiu a relação dos clubes que mais devem, e o Corinthians, tradicionalmente, não ficava naquela posição, ficava bem embaixo e está bem em cima, 3º ou 4º lugar.
Na verdade, nós temos uma crise financeira porque o clube perdeu a mão na área do futebol. Não tem nada a ver com estádio. Ficam dizendo: “Ah! O estádio…”. Não! O Corinthians perde daqui para frente a bilheteria, para pagar um estádio caro como aquele, um estádio bonito, importante, mas isso foi combinado, acertado, então não tem o que reclamar que perdeu a bilheteria agora. Já sabíamos há tempo que nós iriamos perder a bilheteria.
O problema do clube foi que gastou demais, contratou demais, pagou salário demais, pagou comissão demais, para compra, venda, renovação de contrato… contratou muitos jogadores da categoria de base, então, na verdade o nosso aperto financeiro vem daí.
Há uma coisa importante a dizer: clube que está mal de dinheiro, clube que está desequilibrado financeiramente, em geral não ganha nada.
Essa história de: “em vez de pagar imposto, salário eu compro jogador”, de cada dez, um se sai bem nisso. Como regra, o clube ganha quando está com equilíbrio financeiro. No caso do Corinthians a nossa tradição é a de sempre ganhar quando estamos bem de dinheiro.
Eu quero dizer que “estar bem” não é que o clube tem que dar lucro, o clube tem que estar equilibrado. O que não pode fazer é começar a contratar, não pagar salário, isso aí acaba prejudicando.
O Corinthians tem uma vantagem muito grande, eu não sou desses que ficam dizendo, “o clube está quebrado”, isso aí não é comigo, primeiro porque não é verdade. O clube passa por uma certa dificuldade de caixa, e resolverá rapidamente, pelo menos eu espero que se resolva rapidamente.
Eu sei que muitos dos que estão na atual gestão, no passado, qualquer dividazinha diziam: “está quebrado o clube, está falido”. Não tem nada. O Corinthians não está quabrado, não está falido, é um clube grande, é um clube extraordinário, é um clube que hoje tem uma situação até um pouco diferenciada, porque tem uma Arena, belíssima, todo mundo sabe que a nossa Arena é a mais bonita da Copa, é a Arena que dá para ver todos os cantos do campo, que dá para ver o jogo – precisa ser explorada bem, precisa ser “americanamente” explorada.
Quando eu quero dizer “americanamente”, é que os americanos sabem fazer isso, não é como nós que temos uma dificuldade… não tem lanchonete, não tem restaurante… então no Corinthians, lá tem tudo, tem condições de ter tudo. Nós temos estacionamento, duas estações de metrô. O Corinthians agora tem uma condição melhor com a Arena, além da questão futebolística. O Corinthians pode transformar a Arena num grande divisor nas competições que ele tem. E nós já vimos que qualquer um lá ‘treme a perna”, “bambeia a perna” quando chega lá, qualquer outro time tem dificuldade. Isso daí é algo muito positivo para o Corinthians, que nós devemos pensar em explorar bem.
Então as nossas dificuldades na área financeira, que apareceram, estão aí, eu tenho certeza que com um pouco de juízo, rapidamente se resolverá. E o clube, considerando que nós recebemos muito mais dinheiro que os outros – o que é justo – recebemos mais dinheiro da televisão, da publicidade, de tudo, o que também é uma coisa justa, nós vamos ter condições, nós e o Flamengo, embora eu entenda que deveríamos receber mais que o Flamengo, mas a verdade é que o clube tem condições de ser um clube diferenciado numa situação de equilíbrio financeiro.
O VETO DE DILMA
O veto, embora tenha surpreendido, na verdade, os que estavam bem informados sabiam que viria o veto.
É sempre ruim discutir dívida. Os clubes estão devendo e é engraçado o futebol, quando alguém diz: “fulano vai entrar em juízo”… daí dizem: “Ah, não! O futebol não pode! Não pode porque a FIFA não deixa, os clubes são entidades privadas…” (o que é verdade), não é bem como eles definem, porque os clubes são entidades privadas, mas que tem uma natureza pública clara.
Quando se apertam, correm para o Governo! Essa também é uma regra.
Eu acho que tem que acabar esse círculo de: deve, o Governo ajuda, volta a ter dívida, o Governo ajuda… esse círculo tem que acabar.
Então, eu vejo que encontrar um ponto de compromisso dos clubes – eu estou falando isso em meu prejuízo, porque dia 08 a gente assumindo a presidência, se tivesse sido parcelado da forma como estava ali, seria uma maravilha receber essa herança.
Mas o Corinthians, pelo tamanho e responsabilidade dele, que ele tem na sociedade e no futebol, é justo que ele tenha uma posição até diferente dos outros.
Os clubes precisam encontrar um equilíbrio.
Sempre me incomodou os clubes que não pagam o INSS, não depositam o FGTS, não pagam salários e compravam jogadores que o Corinthians estava disputando para comprar. Sempre me incomodou isso. Isso daí era um golpe desses clubes muito grande. Quer dizer, o cara não paga o Governo, não paga salário, não paga FGTS, não paga INSS, vai lá e disputa jogador com o Corinthians.
O torcedor até nem entende. Muitos torcedores, no futebol é esquisito isso, mas é verdade, falam “Ah! Não pague, vá lá e compre o jogador”, mas não é isso não.
Aliás, vamos falar a verdade, isso não é clube brasileiro. Todos os clubes são assim, no mundo inteiro. Se você pegar a Espanha, a cada cinco anos o Governo tem que fazer um plano de salvação dos times de lá. E faz uma coisa generosa… o próprio Real Madrid, houve aí uma operação que se fizessem aqui… o Governo comprou um terreno, pagou um preço como se tivesse ouro a cada cinco centímetros do terreno… o Barcelona também. Eu estou falando dos times espanhóis, mas posso colocar os italianos também. Teve uma lei “Salva Calccio”, que foi um negócio que se tivesse aqui todo mundo bateria em nós na rua, mas lá teve, aliás tivemos várias. Até na própria Inglaterra, que agora estão todos com dificuldades, tanto que lá são clubes- empresa que há dez anos dão prejuízo. Me pergunto com um clube que é empresa há dez anos dá prejuízo? Não divide dividendos para os seus donos. Então a verdade é que boa parte deles não é para dar lucro mesmo, então aí é outro problema que não é problema nosso.
Os clubes precisam aqui, pela importância que tem o futebol, dar o exemplo também. Nós vivemos também de exemplos: vamos passar um certo aperto, mas não vamos atrasar o FGTS, não vamos atrasar a Previdência Social, que precisa tanto. Então eu acho que o Governo tem direito de chegar e falar: “espera aí. Eu vou fazer um programa aqui que vou perdoar uma série de coisas”, que também faz para empresa privada, também não vamos achar que são só os clubes, esse que foi negado para os clubes teve coisa para empresa privada pior do que isso, mas precisamos dar o exemplo, então é justo que o Governo diga: “vamos acabar esse círcuo viciado de dívida, perdão, dívida…”.
Eu acho também que é uma coisa boa, tem um lado bom que ninguém destacou: o futebol brasileiro só vai sair dessa ressaca que está depois da Copa, embora ninguém assuma, nós vivemos um momento difícil para o futebol. Nosso futebol teve uma derrota esportiva, técnica, teve uma derrota em todos os campos, não foram os sete a um. Nós estamos derrotados desde a Copa da África do Sul. Nós não temos time, a nossa Seleção só tem o Neymar, que fora o Neymar ficam jogando confete: “joga no Manchester, joga não sei no que lá…”. Isso não quer dizer nada, é tudo jogador médio. Nos perdemos como futebol a linha de frente, por mais que enfeitem o jogador: Ah! Esse daí fez três gols o ano passado…”, pode brigar por ele.
Eu falo assim sobre o Corinthians, nós caímos numa arapuca, inventaram tanto que esse Pato era jogador que o Corinthians gastou o que gastou. E nós deveríamos ter visto que aqueles negócios que falavam não eram (verdade).
O Pato é o Pato que está no Corinthians, o Pato que está no são Paulo, é o Pato que não deu certo no Milan. Infelizmente é duro falar isso porque nós temos um contrato para pagar com ele e ninguém quer, também.
Ontem um torcedor me parou e disse: “vende o Pato por R$ 40 milhões!”. Eu falei: “procura alguém por R$ 4 milhões que já está bom.”. Não tem.
Eu estava falando sobre a importância que foi o Governo ter vetado. O futebol só muda, nesse quadro que nós temos, por dois locais: pelos clubes ou pelo Governo.
Não tenha esperança de CBF, Federação… não tenha esperança nenhuma disso daí. Isso daí não muda nada. Tudo o que falarem para vocês, podem ter certeza de que não é para mudar, porque a estrutura do nosso futebol no campo das federações e confederações é medieval, nós temos uma estrutura pré-revolução de 30 no Brasil, é quase isso.
Ontem eu vi uma matéria do quanto os clubes gastam para sustentar a Federação. Tem cabimento nós sustentarmos Federações? Quem deve sustentar a Federação é a CBF. Ela que sustente a Federação Carioca, Paulista, Mineira, não nós, os clubes. O Corinthians pega 5% de todos os jogos dele e vai para a Federação. Por que? Qual é a explicação que me dão? Nós já pagamos tudo lá. Pagamos quando registra, quando transfere, quando não sei o que lá, porque temos que dar uma “bolsa” para a Federação?
O Governo que deve olhar isso. Na verdade nós mudamos pelos clubes ou pelo Governo. E os clubes devem trabalhar para que o Governo mude o futebol. Por exemplo: eleição na CBF. Nós não podemos ter essa eleição biônica, que elege o presidente da CBF, onde o voto da Federação do Acre vale tanto quanto o voto da Federação Paulista e o do Corinthians. Tem que ser como em qualquer país do mundo. Quem vota? Votam os clubes. Até aceito voto “um a um”. Em alguns países, como na Itália, há uns votos qualificados, então Inter, Milan, etc., valem mais, eu não estou querendo isso, mas tem que ser “um a um”.
Outra coisa, não tem que ter reeleição. O Corinthians tem que brigar para mostrar à população e para os clubes que foi uma coisa importante que o Corinthians tomou coragem de fazer: acabou com a reeleição. Os outros deveriam nos seguir. É uma coisa que o Corinthians deveria fazer e brigar. Vejam o exemplo do Corinthians, tem eleição agora, seu for eu, espero que seja eu o eleito, três anos de mandato e tchau! Vem outros aí e é isso mesmo. Mas quem tem que fazer isso é o Governo.
Não pense que a CBF vai querer acabar com aquela coisa monstrenga… mais ai dizem: “ela (CBF) é privada”. Não é privada. É privada com uma natureza pública. Vão ensinar Direito para outro! Ela não é uma entidade que pode fazer qualquer coisa e fica por isso mesmo.
Então, o Governo ao vetar disse o seguinte: “eu também entrei no jogo!”. Isso nós não tínhamos desde os primeiros seis meses do Governo Lula. Depois dos primeiros seis meses o Governo achou: “Ah, não… vamos nos acertar com esses cartolas aqui.. tá bom, está tudo bom assim.. é melhor ter ingresso para jogo, vamos levar a Seleção pra lá, pra cá…”.
Foi a primeira vez que o Governo, depois de doze anos, disse: “olha!Não é isso não. Eu quero ter uma intervenção diferente”.
Espero que os clubes, e aí estou falando como quem está candidato a Presidente do Corinthians, que os clubes também deem as contribuições deles. Estão dando, olha, tivemos as eleições do Palmeiras, o Palmeiras teve eleição direta, o Corinthians tem eleição direta de sócios, o São Paulo não dá para ter, o Santos, a mesma coisa. Então os clubes estão mudando, que mudem as Federações.
No próximo dia 07 de fevereiro teremos eleições para a nova diretoria do Corinthians e para o Conselho Deliberativo.
Sou candidato a presidente, na Chapa 11, apoiado pelo Pró-Corinthians, com o Osmar Stabile e o Emerson Piovezan. Nossa chapa tem nesses últimos meses colocado as ideias muito claramente através destes vídeos. Relembro que são pontos importantes, como o fim do “Chapão” (que tanto infelicita o clube); a busca do equilíbrio financeiro do clube (procurando pagar todas as contas em dia, procurando conviver com a receitas e despesas de forma equilibrada); nós procuraremos também ter sempre um time competitivo, pois este é o grande compromisso do Corinthians: ter um time forte e competitivo que dispute todas as competições para ganhar.
Teremos também, como discutimos nesses últimos meses, uma grande mudança nas categorias de base. Nós achamos que todos os jogadores tem que ser 100% do Corinthians.
Quero apelar a todos os sócios que não deixem de comparecer no dia 07 de fevereiro, sábado, para votar.
Nós temos aproximadamente 12 mil pessoas que podem votar (é um número pequeno e deveríamos ter um número bem maior).
Peço a todos que são sócios que votem na Chapa 11, que é a chapa da qual sou candidato a presidente junto com os vices Stabile e Piovezan.
Quero também apelar a todos os torcedores do Corinthians que conheçam algum sócio, para que procurem este sócio e que mostrem nossos vídeos que trouxeram nossas ideais principais para este Corithians Grande e Forte que todos queremos para os próximos anos.
Ouça abaixo a entrevista concedida nesta sexta, na Rádio Transamérica.
OPOSIÇÃO UNIDA
Há uma mudança clara no quadro eleitoral do Corinthians neste ano. A eleição deste ano não repete as últimas duas eleições. Nas duas últimas eleições nós tínhamos um grupo de situação e outro de oposição. Este ano ocorreram algumas coisas, a primeira delas a cisão dentro da situação – ficaram dois grupos, um do Andres outro do atual presidente – e acabou ocorrendo um processo de pequenas rupturas em todos os lados do clube.
Este desacerto que ocorreu na situação, por várias razões… a crise financeira do clube, erros que cometeram, enfim, uma série de razões… essas fissuras, que foram abertas pela situação, acabaram mudando o quadro e hoje temos muita gente que foi da situação, por uma série de descontentamentos, abandonaram a situação, e mesmo na oposição nós tivemos vários grupos se recolocando.
No meu caso e no caso do Paulo, nós tínhamos uma situação em que nós convivemos na oposição, acho que uns oito anos, sete ou oito anos. Em todas as eleições eu apoiei o Paulo, estivemos juntos, e praticamente se confundiam um grupo ou outro.
Na verdade nós víamos que a chance eleitoral é grande – aliás o Juarez (Soares) já falou isso, e eu fui o primeiro a falar: “agora nós temos que ganhar a eleição, porque ele falou isso, agora nós temos que cumprir a questão eleitoral”. Então se viu que há uma possibilidade real de vencer a eleição, especialmente com essa unificação de dois grupos fortes da oposição.
Nós temos outros, temos o candidato da situação, que aliás não se declara o candidato da continuidade da gestão do presidente Mario Gobbi, diferentemente do que ocorria quando o Gobbi foi candidato, que ele se apresentava como um continuador do Andres. Neste momento, as desavenças que ocorrem ai, muitas abandonaram até a área da situação. Então temos também um terceiro candidato, que é o Ilmar Schiavenato, que foi até pouco tempo atrás diretor social da gestão do Mario Gobbi, e também será candidato na eleição. Então é um quadro bastante diferente, onde as possibilidades eleitorais são grandes.
RELAÇÃO COM EMPRESÁRIOS DE JOGADORES
Há uma situação clara. A FIFA aprovou uma legislação nova e o Corinthians cumprirá integralmente. Daqui para frente nenhum clube pode fazer esse sistema de “pizza”, parcelar jogador da base ou do principal.
A partir de agora, todos os clubes se obrigam a cumprir as normas da FIFA, mesmo que os empresários fiquem aí falando que vão encontrar maneira de burlar e tal, o Corinthians não deve participar de burla, junto com empresário, ao contrário, deve cumprir com rigor essa questão colocada pela FIFA a partir de agora.
E nós vamos cumprir! É isso mesmo, tem que cumprir, até porque esse sistema de parceria acabou não sendo bom para o Corinthians, nem para clube nenhum.
No caso do Corinthians, isso aí começou com o clube precisando de dinheiro e emprestando dinheiro de empresário. Foi lá procurar empresário para emprestar dinheiro, depois achou que estava difícil de pagar e cedeu espaços em contratos de jogadores.
Mas isso aí agora acabou. Esse assunto, é cumprir a Lei! Cumprir a Lei e não ajudar a essa coisa que os empresários andam cochichando por aí que vão encontrar umas maneiras de burlar.
DÍVIDAS DO CLUBE
Nós temos que assumir. O clube está com uma dificuldade financeira, e essa dificuldade veio por dois campos: o primeiro porque o Departamento de Futebol gastou demais. Gastou o que tinha, o que não tinha e acabou se endividando e depois nós perdemos a receita do estádio, da bilheteria. Então, o clube tem que enfrentar essa realidade nova e com coragem, dizendo a verdade.
Mas eu quero dizer que isso não ocorre só no Corinthians. No pós-Copa, essa Copa inesquecível, que nós tivemos por dois motivos: primeiro porque o estádio do Corinthians abriu a Copa e depois porque nós jogamos mal para valer, que nós não vamos esquecer tão fácil… a verdade é que no pós-Copa houve uma queda nos negócios, as empresas estão puxando o breque, e isso daí dificulta para o futebol também.
Não dá para saber (tamanho da dívida do clube). O que a gente sabe provavelmente não é exatamente o que tem. Até porque é uma regra de qualquer gestão, isso pública ou privada, ninguém gosta de apresentar números ruins, então provavelmente vamos encontrar uma situação mais gravosa do que a declarada normalmente.
TRANSFERÊNCIA DE VOTOS
A eleição tem números modestos, porque embora tenha esse número de sócios aptos a votar, normalmente votam 4 mil, 3,5 mil pessoas. Até porque nessa lista tem gente com 100 anos, 104 anos, gente que acabou não dando baixa ainda, quer dizer, que morreu, mas não foi dada baixa ainda.
Não dá exatamente para você fazer um cálculo assim, pura e simples matemático, agora há algumas coisas que são interessantes: o eleitorado do clube é dividido em três setores, o primeiro é daqueles sócios que frequentam habitualmente o clube, que vão lá, todo dia, toda semana, frequentam a piscina, jogam tênis, um número mais ou menos de um terço (de sócios). Há um número de um terço, também, que frequentam esporadicamente o clube. Vez por outra vão num restaurante, encontram com alguns amigos, mas não são frequentadores habituais. E um terço dos sócios do clube que são sócios, podem votar porque são remidos, esse último terço não vai ao clube, não tem hábito de ir ao clube. Este último terço é basicamente de gente que frequenta o estádio, vai ao futebol e quase não vai mais ao Parque São Jorge.
Então, acho que a fusão da chapa ajuda muito porque a minha chapa tinha uma boa presença entre os eleitores do futebol que não frequentavam o clube. E a chapa do Paulo, que não é só o Paulo, mas é o Osmar Stabile e o Piovesan, era uma chapa formada por pessoas que habitualmente frequentam o clube. Por isso nós achamos que é uma fusão interessante do ponto de vista também eleitoral.
ANDRES SANCHEZ
Eu tenho uma relação pessoal cordial com o Andres, embora nós estejamos sempre em campos opostos, mas eu tenho uma relação de cordialidade com ele quando estamos juntos.
A questão do Andres hoje no Corinthians precisa ser analisada sob um prisma um pouco diferente. O Andres foi eleito deputado federal, teve uma boa votação, foi o mais votado até da legenda, é deputado que toma posse agora na próxima semana, ou na outra semana, no começo de fevereiro, é deputado da base do Governo, que tem um trabalho enorme num Congresso bastante dividido, então os mais antigos que estão ai vão se lembrar o que que ocorria sempre que um ex-dirigente se elegia deputado. Ele, aos poucos, mais se tornando mais deputado do que dirigente.
Por mais que o Andres queira, e que as pessoas queiram, ele vai ter que se ocupar com as coisas de deputado. Nós lá no Corinthians tivemos vários exemplos, o Silvio e o Juarez vão recordar… mas também não foi só no Corinthians, foi em outros clubes. Então quando se fala do Andres, dizem: “Não! Ele precisa ser diretor de futebol”. Ele tem, a partir do mês que vem, uma vida bastante dura, como deputado. E ser deputado, lá em Brasília, porque não é nem aqui, então a presença dele no Corinthians… ele pode ajudar inclusive no Congresso, porque ele conhece bem os problemas do futebol, então poderá ajudar muito lá, mas seguramente não será um dirigente que se ocupará diariamente das questões do clube, até porque ele não terá condições.
CITADINI PEDE SEU VOTO
Eu quero aproveitar, já que candidato que não pede voto não ganha voto, quero pedir aos sócios do Corinthians, porque você sabe, Calil, é uma dificuldade imensa, embora seja um número pequeno, ele é espalhado pela cidade da grande São Paulo, por cidades do interior e por outros estados, então quem estiver ouvindo, eu gostaria de me apresentar e pedir a eles que me apoiem nessa eleição. Muito obrigado!