Crise e contratações
(William H. Johnson (1901-1970), “Músicos de Rua” (1939-40)) (Reprodução)
O início da temporada de futebol na Europa mostra os perversos resultados da crise economica para o esporte.
Se na Inglaterra, ainda surfando em dinheiro russo e árabe, é possível ver algumas “grandes contratações”, nos demais países do bloco quase nada disso acontece. O caso do Paris Saint Germain é um ponto isolado no continente, já que a grana de Dubai jorra mais do que petróleo.
Espanha e Itália são as maiores vítimas do brutal “furacão financeiro”, cujos efeitos estão por toda a parte.
Não falo de Portugal, Grécia ou Turquia, porque sempre foram secundários para o futebol. Na Espanha, o tão sonhado “campeonato das estrelas” começará – pela primeira vez em muitos anos – sem qualquer contratação bombástica. Isto sem falar no incrível esforço de espanhois e italianos para “venderem” nomes consagrados que recebem grandes salários.
É por esta razão que qualquer contratação arrasta-se como uma novela “O direito de nascer”.
Veja-se o caso Ganso, com todos os conflitos entre seus “proprietários”. Se estivesse a Europa em outro momento, poderia o atleta já ter sido negociado para algum Clube de lá.
Mesmo em situação inversa (onde o Clube quer vender), o quadro também é muito complicado, devido a falta de dinheiro no mercado.
O caso do meia Kaká é um exemplo marcante. Sei que muitos acham que tenho má vontade com o meia e portanto só deveria elogiá-lo, ou então nem falar dele. Não vejo assim. Kaká foi um bom jogador (bom, só bom), mas nada que justificasse a posição que a mídia queria lhe atribuir. Seu melhor período foi no SPFC, no início da década passada, quando disputou grandes partidas. Lamentavelmente, para muitos, teve o azar de enfrentar um Corinthians que tinha gosto em vencer o Tricolor. Vampeta, Gil, Ricardinho, Dida e outros tantos tinham enorme alegria em partidas contra o SPFC. Mas após este bom período no Tricolor – que injustamente criticava o craque – Kaká foi para a Europa e fez algumas boas temporadas. Agora, no Real Madrid, seu desempenho vem sendo muito criticado e o Clube quer, por qualquer caminho, negociá-lo.
Vários times já manifestaram interesse em alguma negociação, mas, com a falta de dinheiro no mercado, tudo fica difícil. E também o Clube espanhol não é muito feliz neste momento. Ontem, no jogo contra o Barça, poderia tê-lo colocado para jogar, pelo menos parte da partida. Mas creio que, com bronca por ter feito uma grande contratação, que afinal se mostrou frustrada, os espanhois façam bom negócio.
Estão reagindo de cabeça quente, o que pouco ajuda no negócio de um atleta.
Tudo isso ocorre pela falta de grana no mercado.
Em outro tempos, tanto Ganso quanto Kaká já estariam em novos Clubes.
Olho vivo !
Franz Kline (1910-1962) (Reprodução)
Nos últimos 20 anos, a imprensa brasileira, em sua imensa maioria, apoiou, aplaudiu e elogiou o quanto foi possível o Presidente da CBF Ricardo Teixeira.
Apenas um número reduzido de jornalistas manteve uma posição distante e crítica da gestão de nossa entidade maior de futebol. Há alguns meses, pouco antes de sair da Confederação e do Brasil, o Presidente da CBF era louvado por todo lado. Apoiado por dirigentes de futebol – sem nenhuma discordância – políticos (de todos os partidos), sem falar do sempre presente suporte da mídia. Numa hecabombe, sem precedente, dirigentes, jornalistas e políticos foram surprendidos pela saída de Ricardo Teixeira. Só uns poucos – dentre eles o Juca Kfouri – estavam de outro lado na história. Por esta razão é importante ficarmos de olhos abertos em sua coluna. Algumas vezes ele dá uma opiniões atravessadas com as quais não concordo. E todos sabem quais são. Mas – neste campo- é preciso ficar atento.
Após a “renúncia” de Ricardo Teixeira qualquer faísca pode acabar em fogueira.
Mudança de rota
JUCA KFOURI
As relações do governo federal com a CBF e com o COB passam por delicado momento de correção
CBF E COB viveram no melhor dos mundos no governo Lula. Após um primeiro momento de colisão, com a aprovação do Estatuto do Torcedor e da chamada Lei da Moralização do Esporte, vistas pelas entidades como contra elas, Lula deixou-se seduzir pela cartolagem, saiu em sua defesa e lhe deu não só a Timemania como as leis de incentivo. Sem exigir nenhuma mudança no modelo de gestão, como seria obrigatório, o que só aprofundou os problemas.
A gestão Dilma ainda patinou no relacionamento graças ao comportamento servil do ex-ministro do Esporte Orlando Silva Jr., que acabou caindo em meio às mais variadas denúncias, embora consideradas inconsistentes pelo Conselho de Ética do próprio governo.
A chegada de Aldo Rebelo à pasta esfriou o relacionamento, mantida a formalidade institucional.
A saída pelos fundos do ex-presidente da CBF, a chegada do novo acumulando cargos no Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, mais o incômodo do COI com o mesmo procedimento do presidente do COB, que também acumula a presidência da Rio-2016, somados ao mau desempenho em Londres, permitiram ao governo federal uma correção de rota que, se seguida com firmeza, poderá trazer resultados positivos no futuro imediato e mais ainda a longo prazo.
Nestas alturas, por delicados que sejam os movimentos, é indisfarçável o empenho governamental em tomar as rédeas dos megaeventos no país e em parar de dar dinheiro diretamente ao COB. Em todos os escalões são abundantes as críticas à má gestão do dinheiro público no caso do COB, além de se fazer coro às preocupações do COI.
Do mesmo modo que se está de acordo com o constrangimento da Fifa pela imagem do novo presidente da CBF, não só por seu passado subserviente e colaboracionista em relação à ditadura como, principalmente, pelo episódio da subtração da medalha, que “correu o mundo”, segundo a coluna ouviu de envergonhado alto funcionário da entidade que controla o futebol mundial.
Afinal, se o conservadorismo político ou, mais, o reacionarismo, são marcas tradicionais na cúpula do esporte -Juan Samaranch, o antecessor do atual presidente do COI, era franquista de carteirinha, e João Havelange, na Fifa, se dava melhor com ditadores sul-americanos e africanos-, havia uma preocupação com o decoro que os fazia evitar gestos públicos como o de José Maria Marin na premiação da Copa São Paulo de futebol júnior.
Carlos Nuzman já dá sinais de ter entendido que a situação se complicou e tem piscado mais que o normal. Seu descontrole na entrevista final em Londres, sem saber que estava sendo gravado, comprova: “Não dá mais para fazer reunião e fazer merda. Tô de saco cheio, eu tô cansado, tô cansado de fazer merda. Me encheu”.
Uma excursão de aplausos
O ano de 1952 traz um marco especial na história do Corinthians.
Naquela oportunidade, há 60 anos, o Timão realizou sua primeira excursão à Europa, que se reerguia de uma guerra devastadora. O time alvinegro, que havia sido campeão em 1951 e ganharia o bicampeonato do Paulista em 1952 ( na verdade decidido no inicio de 1953), realizou uma bela e festejada excursão pela Europa.
Somente uma derrota, ocorrida na estreia, contra o Besiktas, em Istambul, na Turquia pelo placar de 1xo.
Após este jogo – já melhor adaptado, desenvolveu uma carreira de belas exibições e de vitórias marcantes. No mesmo país, bateu o Fenerbançe, por 6×1, com gols de Claudio, Carbone Luisinho e Gatão.
Na Turquia jogaria mais 6 jogos, contra as grandes equipes de lá e sempre com expressivas vitórias .
Em seguida, foi para a Suécia onde, no estádio Rasunda, em Estocolmo, em que tanta alegria o Brasil se consagrou na Copa do Mundo de 1958, empatando com AIK por 3×3.
Na Suécia, também, o Timão enfrentou o Djurgarden, vencendo por 3×2, com gols de Claudio, Goiano e Jackson. Na Dinamarca, no estádio Nacional, enfrentou uma seleção local e empatou por 1×1. Retornou à Suécia, que é muito próxima da Dinamarca, enfrentando o Malmoe (2×1) e a seleção de Gotemburg 9×3.
Vai à Finlândia, onde participa da inauguração do Estádio Olímpico de Helsinque – local onde seriam disputadas as Olímpiadas daquele ano, goleando o selecionado local por 5×1.
Luisinho brilhou (mais uma vez) naquela festivo dia, e Gilmar defendeu um pênalti num jogo que ficaria para a história.
Retornando à Suécia, jogou mais duas partidas antes de retornar ao Brasil, sendo muito festejado pela brilhante excursão.
O ano de 1952 fica na história do Clube, além da conquista do título do Paulista (então a maior competição do país), como o ano da primeira grande excursão europeia da equipe alvinegra.
Este time dos anos 1950 constitui-se numa bela página da história corinthiana.
É noite de ópera
Numa quarta, quase sem futebol, é noite de ópera.
Vou ver uma gravação recém lançada em DVD de La Traviata, de Verdi, feita no Teatro Real de Madrid, com Norah Amsellem, José Bros e o incrível Renato Bruson, um barítono que já se retirou dos palcos e deixará saudade.
Viva !
Pequena (grande) Taça do Mundo
Neste mês de agosto, lembramos que há 59 anos, em 1/8/1953, em um sábado, o Corinthians conquistou uma de suas mais importantes vitórias no âmbito internacional.
No período em que não existiam as atuais competições continentais, o Timão participou da chamada “Pequena Copa do Mundo de Clubes”, reunindo as maiores equipes da Europa (Barcelona e Roma) e dois representantes das Américas.
No jogo inicial, a primeira grande surpresa: o Corinthians venceu o Barcelona – então considerado o grande favorito da competição – pelo placar de 3×2.
Luisinho (2) e Carbone fizeram os gols do nosso time, e Kubala e Moreno para o Barça.
No jogo seguinte, o Timão ultrapassou a Seleção de Caracas (que reunia o melhor do futebol local), por 2×1. Claudio e Carbone fizeram os gols corinthianos. Em novo jogo o alvinegro brasileiro venceu o poderoso Barçelona por 1×0 em partida tumultuada com uma briga generalizada que interrompera o jogo por quase 20 minutos. Goiano, marcou o gol da vitória.
Já com o título na mão, o Timão venceu, novamente a seleção de Caracas (2×0,) com dois gols de Cláudio. Na partida final – no jogo da festa- o Corinthians bateu a poderosa Roma por 3×1 com gols de Luisinho(2) e Cláudio.
Foi uma conquista que marcou a história do Clube e as matérias da época retratam bem o entusiamos dos torcedore por tão belo feito.
Essa geração de jogadores merece sempre ser lembrada.
No ano seguinte, conquistariam o tão famoso IV Centenário de São Paulo, em título inesquecível da nossa história. Gilmar, Cabeção, Homero, Olavo, Goiano, Julião, Roberto Belangero, Claudio, Luisinho Carbone, Baltazar, Nardo e Mário tornaram-se ídolos eternizados por tão emblemático título paulista.
Creio que destes campeões dos anos 1950 só continuam entre nós Cabeção, Julião e Gilmar (este muito doente).
Os demais deixaram uma imensa saudade nos corações dos corinthianos.
Que vivam para sempre!
100 anos de Nelson Rodrigues
Comemora-se no próximo dia 23 de agosto os cem anos de nascimento de Nelson Rodrigues. Pernambucano, mas carioca de coração, o dramaturgo Nelson era torcedor do Fluminense e escreveu a mais famosa crônica sobre a invasão corinthiana de 1976. Nós não esqueceremos nunca do Nelson, da crônica e da invasão.
Para sempre Viva!
NELSON E A INVASÃO CORINTIANA
Nelson Rodrigues
1-Uma coisa é certa: – não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações. Até que, lá um dia, acontece a grande vitória. Ainda digo mais: – já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate. Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.
2-Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.
3-A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: – “O Rio é uma cidade ocupada”. Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte.
4-Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha. Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time. Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel. Um amigo me perguntou: – “E se o Corinthians perder?” O Fluminense era mais time. Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corinthianos, quando faziam um prévio carnaval. Esse carnaval não parou. De manhã, acordei num clima paulista. Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam. Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca. Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.
5-Não cabe aqui falar em técnico. O que influi e decidiu o jogo foi a torcida. A torcida empurrou o time para o empate.
6-A torcida não parou de incitar. Vocês percebem? Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca. Os corinthianos estavam tão certos de que ganhariam que apelaram para o já ganhou. Veio de São Paulo, a pé, um corinthiano. Eu imaginava que a antecipação do carnaval ia potencializar o Corinthians. O Fluminense jogou mal? Não, não jogou mal. Teve sorte? Para o gol, nem o Fluminense, nem o Corinthians. Onde o Corinthians teve sorte foi na cobrança dos pênaltis. A partir dos pênaltis, a competição passa a ser um cara e coroa. O Fluminense perdeu três, não, dois pênaltis, e o Corinthians não perdeu nenhum. Eis regulamento de rara estupidez. Tem que se descobrir uma outra solução. A mais simples, e mais certa, é fazer um novo jogo. Imaginem que beleza se os dois partissem para outro jogo.
7-Futebol é futebol e não tem nada de futebol quando a vitória se vai decidir no puro azar. Ouvi ontem uma pergunta: “O que vai fazer agora o Fluminense?” Realmente, meu time não pode parar. O nosso próximo objetivo é o tricampeonato carioca. Vejam vocês:
– empatamos uma partida e realmente um empate não derruba o Fluminense. Francisco Horta já está tratando do tricampeonato. Estivemos juntos um momento. Perguntei: – “E agora?” Disse – amanhã vou tomar as primeiras providências para o tricampeonato. Como eu, ele não estava deprimido. O bom guerreiro conhece tudo, menos a capitulação. Aprende-se com uma vitória, um empate, uma derrota. Só a ociosidade não ensina coisa nenhuma.
No seguinte jogo, vocês verão o Fluminense em seu máximo esplendor.
(Reprodução)
NELSON RODRIGUES era tricolor e publicou este texto no GLOBO em 6/12/1976, no dia seguinte ao jogo Fluminense x Corinthians.
Olha aí!
Tarsila do Amaral, “Sol Poente” (1929)
Este Blog, há muito tempo, vem discutindo o momento ruim que vive nosso futebol.
Sobretudo com ausência de jogadores “foras-de-série”. Isto já ocorreu na Copa da Africa so Sul, 2010, onde o elenco era dos mais fracos que o futebol brasileiro já apresentou. Não adianta a mídia inventar que este ou aquele é craque, por uma ou outra jogada. Com o tempo, a realidade se impõe. O craque Tostão, na Folha de hoje, 15/8, fala deste grave problema.
É hora de refletirmos sobre ele, ou então, a Copa de 2014 será pesada.
Pior do que pensava
TOSTÃO
Após as más atuações e a derrota para o México, o futebol brasileiro está pior do que pensava
Prefiro ver o Brasil melhor no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do que ganhar mais medalhas. De qualquer maneira, se quiser evoluir, em todas as áreas, incluindo o esporte, será necessário diminuir as patotas, a perniciosa relação de troca de favores e colocar os mais bem preparados e mais dignos nos cargos estratégicos.
Não basta planejar e investir.
Projeto não fala, não pensa, nem tem alma.
O Brasil joga hoje, contra a Suécia, a última partida no estádio Rasunda, onde ganhou a Copa de 1958. Recentemente, vi, em DVD, todos os jogos, na íntegra. A seleção era melhor do que imaginei com 11 anos, ao escutar as partidas pelo rádio. O Brasil mostrou ao mundo que era possível unir o futebol imprevisível, descontraído e criativo com a eficiência.
Chico Buarque, décadas atrás, em um belíssimo texto, disse que os europeus eram os donos do campo, por ocuparem melhor os espaços, e os brasileiros, os donos da bola, por gostarem de ficar com ela e de tratá-la com intimidade. Hoje, o Brasil não é dono do campo nem dono da bola.
Está pior do que pensava. Antes da Olimpíada, achei que o time, por ser quase o principal, diferentemente de outros países, seria o grande favorito e que nossos jovens dariam show em defesas de jogadores desconhecidos. Enganei-me.
Contra o México, Mano errou ao colocar Alex Sandro no meio-campo, aberto, com a função de ser secretário de Marcelo. Alex Sandro e o time já tinham jogado mal contra a Coreia do Sul. Mano errou também ao levar Hulk. A prioridade era mais um zagueiro ou um lateral direito. A defesa jogou muito mal em todas as partidas.
O Brasil não tem um craque definitivo. O único com chance de ser um fora de série é Neymar. Ainda não é. Sem craques experientes a seu lado, no Santos e na seleção, ficará muito mais difícil para ele evoluir. Neymar vive um momento perigoso. Deram a ele o prestígio de uma celebridade mundial, de gênio, e também uma enorme responsabilidade. Se o Brasil não for campeão do mundo, os mesmos que o adulam vão massacrá-lo.
A formação ineficiente e, muitas vezes, promíscua, nas categorias de base dos clubes, e o estilo de jogar dificultam o aparecimento de craques. Com menos craques, há menos chances de isso mudar. Mano, pelo menos no discurso, tenta fazer alguma coisa, sem sucesso. As marcas da mediocridade foram impregnadas na alma dos jogadores, técnicos e de parte da imprensa.
Não adianta trocar de técnico, a não ser que surja alguém especial, romântico e racional, profundo conhecedor de detalhes técnicos, táticos, observador da alma humana e, ao mesmo tempo, corajoso, combativo e que não precisa gritar, se exibir e dizer que é tudo isso. Falta ao futebol um Zé Roberto.
www.folha.com
Golaço! E de letra
O belo gol de Romarinho salvou o fim de semana desportivo de nossa gente.
Um toque de gênio na vitória do Corinthians em Curitiba por 2×1, contra o Coxa. Romarinho mostra, cada dia mais, que pode se tornar um ótimo jogador para o Timão e para a Seleção Brasileira. Não só pelos belos gols que faz (um deles na primeira linha da história – aquele de Buenos Aires), mas pelo refinado toque de bola que tem. Vamos torcer para que sua carreira avance e ele – numa nova fase – consolide-se como o grande atacante que já dá claros sinais de ser. Tivesse ele o apoio da mídia, como os Lucas, Oscares ou Marcelos da vida, já estaria ocupando todo o espaço de rádios, TVs e jornais.
Melhor assim, seguir contra a maré, sem bajulação, pois a conduta da mídia nada resolve.
Conduta que só dá a ideia, errada, de que jogador médio é que merece ser rotulado como craque.
Seleção e derrota
A Seleção Brasileira perdeu no sábado, 11/8, para a do México, em jogo que não deixa espaço para choros e caras de brabo.
Perdeu, merecidamente. Trata-se de uma Seleção em que 80% dos jogadores que lá estão poderiam ficar de fora que ninguém sentiria falta. Creio que boa parte deles permaneça por lá, ainda que sem grandes resultados, e com a mídia insistindo que são craques. E este é o time “principal” do Brasil.
Com esta geração jogando esta bola, toda a Copa de 2014 pode se tornar um evento trágico para o “País do Futebol”.
Evento londrino
A abertura e o encerramento das Olimpíadas de Londres foi no mesmo ritmo: lento, arrastado, quase sonolento. Não deixará saudades e não intimida o Rio de Janeiro para daqui 4 anos. Qualquer escola de samba, com uma boa bateria e um razoável carnavalesco, fará uma apresentação muito mais criativa.
Aquela entrada com as Bachianas de Villa-Lobos indica um bom caminho para os organizadores do evento no Brasil.
Bem pior do que a festa londrina foi o desempenho da delegação do Brasil.
Com o Comitê Olímpico Brasileiro recebendo 2,1 bilhões para sua preparação (o dobro do que recebeu o grupo da Itália, e mais do que recebeu a “gigante” Austrália, 1,7 bi), o número de medalhas conquistadas e os índices obtidos foram pífios. Com o dinheiro todo centralizado no COB, e distribuído para os “amigos” das Confederações, o Brasil faz o trabalho oposto ao que todos os exemplos de sucesso indicam. Nada se investe em Clubes, universidades, escolas e centros de formação de atletas, procurando concentrar-se em gastos administrativos de entidades, qu pouco contribuem para o crescimento dos esportes e devido suporte aos atletas. Com as mudanças na CBF fica cada vez mais difícil manter este reinado de miséria (em vitórias) e de fartura em grana vinda do governo. Vamos torcer para que a Presidente Dilma Roussef venha a ter com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro a mesma postura que aplicou ao futebol.
Aí, sim, a coisa muda.
1914, o ano que não terminou
(Ana Maria Dias, “Manhã Luminosa”, 2008) (Reprodução)
O ano de 1914 é muito importante na história do Corinthians.
Trata-se do ano em que o alvinegro conquistou seu primeiro grande título. Foi Campeão Paulista invicto, não perdendo, nem empatando uma só partida. Teve ainda o destaque de seu mais importante jogador, Neco, que foi o artilheiro da competição.
Mas 1914 não é importante somente por ter sido o ano em que o “time dos carroceiros” venceu o Campeonato Paulista.
Neste ano o Corinthians teve sua estreia em partidas internacionais em duas partidas contra o Torino da Itália.
Curioso este fato de o Timão ter sua estreia mundial com o time que ficaria marcado em nossa história. O Torino voltaria ao Brasil em excursão, durante 1948, quando venceu todo mundo com a famosa “esquadra”, que era a própria Seleção Italiana. Só perdeu um jogo: para o Corinthians por 2×1, no Pacaembu em 1948.
No ano seguinte (em 4 de maio) um terrível desastre aéreo extinguiu a equipe torinese. O Timão promoveu a famosa partida em homenagem aos italianos, jogando no Pacembu contra a Portuguesa, vestido com a camisa do Torino. A renda do evento foi doada às famílias dos jogadores do Torino e esta foi a única homenagem que recebeu a famosa “seleção azzurra” do Torino.
Há dois anos, o alvinegro voltou a lembrar estes fatos com o lançamento da bela camisa grená com a qual o Timão passou a jogar como uniforme alternativo.
Jogadores famosos e craques
Quando aparece um negócio com algum time europeu, como este de Lucas (ex-Marcelinho), a mídia surfa.
Começa a ver traços de “fora-de-série” em um jovem atleta, que ainda não tem sua carreira consolidada. Grandes transações financeiras (quando elas realmente existem) não garantem um status de craque “fora- de-série” para ninguém. Acrescente-se que o jogador precisa superar várias etapas para se consagrar. Uma delas é tornar-se titular – indiscutível e indispensável – da Seleção Brasileira. Já vimos muitos jogadores, envoltos em ruidosas transações, seguirem para a Europa e depois minguarem. Seria inútil criar listas destes “futuros craques” que foram para a Europa e deram chabu. Menos para a nossa mídia.
Bem menos.
Olimpíadas e futebol
Thomas Eakins, “The Biglen Brothers Racing”, 1873 (reprodução)
Estas Olimpíadas não são a maravilha toda de que falavam por aí.
Primeiro, aquela abertura que mais parecia com Jogos Colegiais de Xiririca. Monótona, arrastada, sem criatividade, dando ao Rio a possibilidade de, mesmo sem grandes esforços, fazer um papel bem melhor.
Agora, nesta edição londrina dos jogos, aparecem confusões por todo o lado. Entrega de resultados em modalidades como o badmiton (sinceramente, nem sabia que isso existia), envolvendo 4 países numa trama ao estilo da máfia. Depois, o “corpo mole” de algumas equipes para fugirem de confrontos na fase seguinte.
Por último, os casos de doping, já comprovados, que mancham qualquer disputa.
E sempre com um tratamento leve da mídia.
Hoje pela manhã, um brasileiro que não conseguiu classificação, foi direto ao falar com a TV: “não dormi bem”. Pronto, está dada a explicação! Simples, sem qualquer fuga. E a mídia nada diz. Poderia ter perguntado se foi o travesseiro, o aparecimento de uma pulga, ou até mesmo uma goteira no quarto…
Nada, nenhum questionamento.
Imagino se no futebol algum atleta aparecer com esse tipo de justificativa o que ocorreria. Cairia o mundo. E nem se diga que os olímpicos são atletas “amadores”. Muitas das confederações gastam rios de dinheiro (público) e não são objeto de qualquer cobrança ou indagação.
O COB, bem, o COB é aquilo que já conhecemos.
Dinheiro sobrando, distribuído para os chapas das confederações.
E grande parte dos recursos é consumida com a própria burocracia olímpica.
É, acho que é melhor acompanhar apenas o futebol.
Futebol, Olimpíadas e outros
Grant Wood. “Adolescência”, óleo sobre tela e têmpera, 1932. (reprodução)
Tite, nosso técnico, fez uma análise precisa do empate de ontem, 5/8, em São Januário, contra o Vasco da Gama.
Disse, na Folha, de hoje: “Gostei muito do desempenho, a marcação, a ofensividade. Mas fico com o sentimento de que a gente tem que transformar em vitória, poderia ter vencido.” Também acho.
O Corinthians foi melhor e poderia ter vencido.
Não acho que este empate seja um desastre como a guerra na Síria.
Mas não foi o melhor resultado. Mesmo estando há 6 jogos sem derrota, neste tipo de disputa o importante é vencer. O empate ajuda pouco, quase nada.
Vamos para frente, pois a equipe pode melhorar sua sequência sem derrotas e conseguir vitórias, mudando o campeonato.
“Valeu pela experiência”
Este é o bordão que mais ouço dos atletas brasileiros participantes da Olimpíada londrina.
Valeu para quem? Foi boa a viagem, bons hoteis, ótimos papos. E daí?
A mídia gosta de pegar no pé de jogadores de futebol quando, saindo do gramado, os atletas vêm com aquelas máximas “jogamos com determinação e humildade”; “o professor pediu para marcar no campo todo” etc e tal. Porém pouco falam em relação aos atletas olímpicos, que mantêm sempre a mesma cantilena: “valeu pela experiência”. Reduziram a máxima “o importante é competir” para “o importante é viajar e estar aqui”.
Oh vida dura!
O Blog do Perrone traz uma interessantíssima matéria sobre um barraco no Tricolor Paulista.
Um empresário (ou será ex?) de um famoso supermercado teria exagerado nas cobranças ao time, ao fazer duras declarações públicas. Diz a matéria que o dito cujo – embora filho de portugueses, abandonou a Lusa – fica mandando, durante os jogos, mensagens SMS para o auxiliar técnico, exigindo mudanças na equipe, substituições de jogadores etc. A Diretoria tratou de desautorizar as críticas feitas em público ao treinador tricolor.
Curioso é que, na matéria do Perrone, um Diretor reclama que o empresário deveria trazer a rede de supermercados para anunciar na camisa do time.
Poderia repetir o que fez com o filho, quando corria na Fórmula 1, ou quando um batalhão de atletas era levado para a maratona de Nova York e a mídia divulgava o incentivo como ” apoio cultural” . Esqueçam , senhores. Isto já não vos pertence mais ! O tal empresário não é mais o dono da rede de supermercados. É grande acionista, mas não o principal.
Se desejarem falar com o novo investidor majoritário, devem procurar na lista de Paris por um nome argelino.
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