Pane geral
(Michelangelo, “Capela Sistina” (detalhe)) (Reprodução)
Não gosto de ficar procurando um culpado quando o time perde.
Igualmente, não apoio a tese de ficar discutindo regulamento quando o time é eliminado. O que houve ontem no Pacaembu foi uma pane geral. Um ou outro jogador falhou em exagero, mas todos falharam. Foi a derrota de um desacerto completo. E não devemos ficar buscando um culpado aqui ou acolá.
É bola prá frente, que temos muitas competições no ano.
Este time que perdeu ontem é – basicamente – o mesmo que foi campeão brasileiro no ano passado.
E que fez a melhor campanha na primeira fase do Paulista. A principal qualidade do time atual do Corinthians é sua organização dentro do gramado. Compacto, aguerrido e difícil de ser vencido. Esta vem sendo a razão do seu sucesso que – embora muitos não gostem – devemos ao técnico. Mas, como este blog diz (e não é de hoje), faltam alguns jogadores de melhor qualidade no grupo. Uns 2 ou 3 craques dariam um salto na produção da equipe. E isso faltou ontem, como faltará sempre em jogos difíceis. Quando a situação complica no jogo (ou quando as duas equipes são iguais) é o craque (o jogador diferenciado) que aparece para colocar “ordem na casa”. E isso falta a esta equipe. Mesmo quando ganhamos o Brasileiro do ano passado não tínhamos jogadores com estas qualidade. Nem sei se existe no futebol brasileiro.
Mas é o que precisamos.
Vamos contar com a competência – que não tem faltado – da comissão técnica para fazer uma boa preparação dos próximos jogos.
E não vamos ficar querendo cabeça de jogadores que erraram.
É este elenco que está aí – e que venceu no ano passado – que o time dispõe para a batalha.
A rosca do parafuso
(Georgina de Albuquerque (1885-1962)) (Reprodução)
A declaração feita aos jornalistas, no dia de ontem, sobre a Seleção, pelo atual presidente da CBF José Maria Marin, não deixa dúvidas.
O novo grupo no poder na entidade não está para brincadeira. “Quero ver a lista (de convocados) antes da divulgação oficial”, disse Marin. E ponto final. Sinal mais claro de mudança, e que o parafuso está apertando pelos lados da Seleção Brasileira de Futebol, não precisa mais ser destacado. Completou Marin: “Não vou convocar nem escalar ninguém… mas hierarquia é fundamental e quero ver a lista antes… não abro mão”.
Mensagem mais direta não poderia ser dada. O técnico Mano Menezes sabe o que o presidente fala de seu trabalho e que sua vida não será fácil na direção da seleção. O diretor de seleção Andrés Sanchez (que antes falava em autonomia de seu trabalho) já percebeu que a área está minada. A forma Marin de administrar é essa. Vai, pouco a pouco, tomando pé das coisas e criando formas de controlar. O que fará ao receber a lista? Vai ver o horóscopo de cada jogador? Procurar algum conhecido de Santo Amaro ? No início, nada fará.
Mas, vai avançando até os incomodados pedirem pra sair.
E o Triunvirato?
A entrevista do ex-secretário da CBF, Marco Antonio Teixeira, hoje, no blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br, responde muitas das perguntas para os que querem entender as mudanças da CBF.
Aquela fantasia (de um triunvirato na CBF) anunciada pela Folha, no dia posterior à renúncia do ex-presidente Teixeira, cai por terra. Acho que a UOL (que anda errando muito na questão do estádio do Timão) deveria colocar uma chamada – o dia todo – em seu portal. A ideia dos cartolas de deixar qualquer mudança no nosso futebol para depois da Copa está cada dia mais ameaçada. E a entrevista do tio de Teixeira mostra a complexidade dos acordos para costurar o futuro. Interessante é ver que hoje todos reconhecem o efeito devastador da entrevista do ex-presidente na Revista Piauí. O futebol vivia num mundo próprio, com uma ou outra voz em contrário.
Bastou uma jornalista – que estava fora do futebol- fazer uma matéria e o caldo entornou.
Mata-mata
Começa, neste final de semana, uma nova fase no futebol brasileiro.
Vencido o período de classificação das principais competições agora é matar ou matar. O Corinthians – que venceu bem – a etapa inicial vai – num bom momento – para as disputas mais complicadas. Vamos torcer, porque, domingo começa a aumentar a emoção. E temos boas condições de avançar. Até hoje não sei se o melhor é fazer o jogo decisivo em casa ou fora. Nem os técnicos têm opinião comum nesta história se “é melhor a primeira partida em casa” … “melhor a primeira partida fora”. Há exemplos positivos e negativos dos dois lados. Creio que o importante é estarmos num bom momento. E esquecer esta bobagem de que a Libertadores é diferente… blá-blá-blá.
Vamos jogar bola. E pronto.
Mudanças: sim ou não
(Juan Miró)(Reprodução)
Para a maioria dos Dirigentes de Clubes e Federações não devemos discutir qualquer mudança no futebol brasileiro: tudo ficaria para depois da Copa de 2014.
A renúncia, e mudança para Miami, do ex-presidente Ricardo Teixeira desorientou todo mundo. Liga, novo Clube dos Trezes, projetos A, B, C foram todos para o arquivo. Dirigentes que eram inimigos (na maioria das vezes só para efeito público) voltam a sorrir e a se abraçar. É hora de curar as feridas, pois a renúncia atingiu todo mundo. Fica apenas a esperança de que as coisas continuem no mesmo lugar, sem grandes solavancos.
Mas já aparecem dois fatos que podem antecipar as mudanças no futebol brasileiro, desrespeitando a trégua até o final da Copa .
O primeiro fator preocupador é o governo com sua ideia de editar uma nova legislação para o esporte. É uma mudança que atingiria em cheio o “poder” nos Clubes, Federações e Confederações. A declaração do Ministro Aldo Rebelo, ontem no Estadão, provocou urticária em muitos Dirigentes. Uma nova legislação pode democratizar os Clubes e Federações e trazer uma dose grande de transparência na gestão esportiva. Os dirigentes pouco podem fazer , além de figa. Se o Governo for em frente será um transtorno – e grande- para a cartolagem.
O segundo ponto que preocupa é esta disputa por um vice na CBF. O que parecia pacífico, sem problemas, pode tornar-se numa sinalização do novo poder no futebol. Embora todos digam que as decisões ficam para o pós- Copa, as pedras no tabuleiro estão sendo colocadas agora. E haverá reações. Quais e de onde nós veremos mais claramente nas próximas semanas.
Mas a consolidação do poder “Marin” nesta gestão pode ser, também, uma reeleição fácil de seu grupo em 2014.
Fritando
As declarações do presidente Marin – no início discretas, agora quase públicas -, sobre o técnico da Seleção, Mano Menezes, são constrangedoras.
O novo presidente da CBF não esconde – de ninguém – que não gosta de Mano. Por enquanto o técnico está “fingindo-se de morto”, mas, se vierem maus resultados e a campanha continuar, não terá como não falar. Neste caso, o presidente Marin não se mostra nada discreto e cordial.
É crítica o tempo todo.
Caso Oscar
Quem acha que teremos emoções somente no “Caso Cachoeira” é porque não está acompanhando a confusão Oscar-SPFC-Inter-Bertolucci.
Já apareceu de tudo: gravações, traições, contratos frios, comissões, participações, decisões judiciais e tudo mais. Não perco nenhum lance, acompanhando a mídia, inclusive o www.blogdobrirner.net. Este vive um momento raro: parece o Consultor Jurídico, com decisões, sentenças, opiniões de juristas etc.
E vêm mais emoções por aí.
O UOL fraquinho
Hoje pela manhã fui dar uma olhada no UOL para ver a notícia do dia sobre as “dificuldades” do estádio do Corinthians.
A matéria do dia está fraquinha: “Para MP, lista de obras sociais do Corinthians não preenche padrão de acordo judicial”. Fraca, não? Estava esperando que anunciasse que o foguete da Coreia do Norte, lançado recentemente, estava se dirigindo para Itaquera e o choque destruidor estava por ocorrer. Bom, menos mau.
Vamos aguardar a matéria de amanhã.
Publicidade na camisa
Nos últimos meses foram publicados notas e notas sobre o novo patrocinador da camisa do Timão.
Há um mês o assunto esquentou e a mídia – praticamente toda – garantia um contrato do Clube com uma montadora coreana. Números, prazos e estratégia de marketing, tudo foi anunciado em jornais, rádios, TVs e blogs. Passados alguns dias o assunto desapareceu. Hoje ninguém fala mais nada. É possível que a atitude certa seja a dos dias atuais. Bico calado até terminar a negociação. Aquela divulgação prévia – de que tanto o marketing gosta – não ajudou em nada ao Clube.
Só as empresas ganham com as divulgações antecipadas.
O Estado pode mudar o futebol
(Djanira da Motta e Silva) (Reprodução)
Durante décadas, os clubes de futebol, as Federações e os Dirigentes alimentaram a balela de que a Constituição garantia a eles “autonomia” e poderiam fazer o que quisessem.
Sem qualquer controle do Estado. Era, segundo os Dirigentes, um mundo auto-regulado, sem interferências de ninguém. Diziam-se “entidade privadas”, imunes a qualquer controle ou regulamentação. Uma parte significativa da mídia entrou nesta lorota, que era um dogma do futebol. Com esta “interpretação criativa” da cartolagem chegou-se a dizer que não poderia haver CPI sobre o Futebol, pois a autonomia seria atingida.
Puro equívoco.
No último dia 23 de fevereiro, o Supremo Trinal Federal, enterrou – de uma vez – este conjunto de ideias malucas dos Dirigentes. Ao julgar a constitucionalidade do Estatuto do torcedor, o STF disse que o Estado pode legislar sobre Futebol e tudo mais. Não poderia ser diferente. Aquela autonomia das entidades, de que fala a Constituição de 1988, é mero instrumento ou meio para a concretização do esporte, definido como direito do cidadão. A ideia de que a regulamentação do Poder Público é uma “interferência estatal no funcionamento das associações desportivas” caiu por terra.
E mais , o Estado pode e deve regulamentá-las.
Hoje, em longa entrevista no Estadão, o Ministro Aldo Rebelo diz que o que mais incomoda o Governo é a ” perpetuação de cartolas no comando das entidades”.
Períodos de “10, 15, 20 anos de uma pessoa na mesma cadeira são considerados um abuso”. Entre outros pontos, este fará parte de um conjunto de normas e diretrizes que regulamentará a Gestão de Clubes, Federações e Confederações. Viva! O Governo, finalmente, entendeu que pode mudar o Futebol. E, após a decisão do STF, caiu por terra qualquer pretensão “independentista” do esporte. Será uma grande revolução se o Governo inovar e estabelecer normas para o estatuto das entidades desportivas.
O fim da reeleição de Dirigentes deve ser um objetivo claro. Sugiro que seja adotado o modelo do Corinthians: os dirigentes têm um mandato de 3 anos, sem reeleição, somente podendo recandidatar-se após 2 gestões. Isto deveria valer para Clubes, Federações e Confederações. E também deveria estabelecer novas normas de transparência e controle destas entidades. Seria uma revolução e tanto no Esporte brasileiro.
Devemos lembrar que os problemas no Futebol são de menor grau quando comparados aos de outras modalidades. No Futebol, o torcedor e a opinião pública estimulam mudanças, especialmente em clubes grandes. Em outros esportes olímpicos o quadro é desolador. Veja-se o COB, onde há mais de décadas e décadas segue o domínio do Sr. Nuzman. Nas Federações não é diferente.
O Ministro Aldo Rebelo poderá fazer uma revolução.
E será um marco no Futebol. O Estado pode mudar o Futebol. Só é preciso querer. Nas últimas décadas, os Ministros da área queriam ser paparicados pelos cartolas. E isso os Dirigentes esportivos sabem fazer muito bem. É trocar festas e elogios por uma revolução. Vamos torcer para que o Ministro faça a sua.
O Futebol agradecerá.
Agora é pra valer.
Quem gosta e quem não do gosta do Campeonato Paulista (Paulistinha ou Paulistão) sabe que esta primeira fase é longa e pouco atraente.
Agora, com a fase final, o campeonato ganha uma outra ordem. O Corinthians venceu a primeira fase, o que chega a ser uma surpresa. Disputa a Libertadores, viaja muito e, em vários jogos, colocou a equipe “B” para atuar. Como fez ontem, quando venceu a Ponte em Campinas. Mas os outros vacilaram (ou não estão jogando grande coisa) e o Corinthians ganhou sem jogar tudo o que pode jogar. Vamos esperar esta segunda fase para vermos os melhores jogos. Será? O importante para o Timão foi testar alguns jogadores da base que poderão ser aproveitados nos próximos jogos e temporada.
E ficou claro que alguns reservas, mesmo com nome, não estão em boas condições físicas para atuar o jogo todo.
Briga feia
Nesta briga sem quartel entre o jogador Oscar, o São Paulo Futebol Clube, o Inter e o empresário Giuliano Bertolucci, as surpresas são diárias.
Agora o Clube paulista, alertado por uma entrevista dada para um certo jornalista, vai usar as palavras do atleta para fazer prova contra o Inter. Pelo que vi no Blog do Perrone a entrevista nunca teria sido colocada no ar. Ôpa! Que radialista bonzinho este que dá ao SPFC uma declaração que os ouvintes nunca ouviram.
Vale tudo. Até o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez, que nunca teve o problema de escancarar as categorias de base do Clube às parcerias com empresas, agentes, empresários etc, segundo o Painel FC da Folha, mudou de ideia e entrou na cruzada do Presidente do Tricolor, Juvenal Juvêncio. Agora defende a necessidade de “mais medidas de proteção aos clubes”. Como ele anda lá pela CBF, é só pedir pro presidente Marin fazer como a Fifa: proibir qualquer contrato de jogador que não seja só com o Clube. E mandar as agremiações ignorarem estes acordos de empresas e empresários que atletas e clubes tanto vivem fazendo.
O UOL e a guerra do estádio
Nesta segunda-feira, pela manhã, o portal UOL publica mais uma manchete sobre o estádio do Corinthians em Itaquera.
E, no padrão escândalo, diz que o Clube pode perder o terreno se não…
Li as duas primeiras linhas e mudei de matéria. Vamos aguardar a próxima.
Uma confusão salutar
A briga entre o jogador Oscar, o São Paulo Futebol Clube, o Inter de Porto Alegre e o empresário Giuliano Bertolucci está cada dia mais quente. Como já disse por aqui, não há anjos neste terreiro. O jogador com a bandeira da liberdade quer jogar no lixo o contrato com o clube paulista. O SPFC , que não é nenhum exemplo de santidade nestas questões, agarra-se ao contrato com o atleta, desconsiderando qualquer pressão quando o jogador era menor de idade. O Internacional – sempre queixoso com o mundo- é usado pelo empresário que é o ” dono do jogador” e pouco aparece nas matérias. O empresário, que nos últimos anos vem tendo forte influências em grandes clubes (inclusive SPFC e Inter), não fala nada e não ouve nada.
O interessante é que a mídia, pela primeira vez, está dividida. Normalmente o jogador é retratado como vítima ( quase um pobre coitado), explorado pelo clube. Neste caso, como o SPFC esta na briga, esta marca está mais leve. Agora também falam da defesa do pactuado entre o jogador e clube. Mas, como regra, os clubes ( SPFC e Inter) bem como quase toda a mídia esquecem o empresário, o real dono do jogador. Não há uma crítica de dirigentes do futebol ao agente que organizou toda a manobra. Na mídia, um ou outro, falam alguma coisa, como faz o Juca. Para a maioria não existe esta questão. Dos clubes não ouvi um dirigente levantando sua voz contra este negócio, que já esta tornando-se comum no nosso futebol.
O Brasil está criando um quadro novo no futebol mundial. Este contratos de jogadores divididos entre clubes, empresário, agentes etc , que retiram o monopólio dos clubes em contratar com jogadores. Um número significativo de atletas, nos dias atuais, “pertence” a empresas, empresários, agentes etc. Tudo à margem da lei. A única garantia destes acordos é a palavra dos dirigentes. Este contratos paralelos entre jogadores e empresários nunca foram contestado na Justiça. Se forem, correm o sério risco sério, de serem ” chumbados”, como dizem os portugueses. A Fifa não aceita. Sómente ” a palavra ” dos dirigentes dos clubes mantém estes contratos.
Mas este “mercado paralelo” que está no centro desta polêmica, SPFC/Inter/ Oscar/ empresário, não aparece na briga. Ninguém quer tocar fogo no prédio e acabar com o negócio. Até porque, todos, ainda que informalmente, defendem esta prática.
Esta mais do que na hora da CBF regular esta matéria . A Fifa , em muitas decisões , já disse de forma clara : só vale o contrato do jogador e clube. Os paralelos entre jogador e empresário (e também clubes) não vale. Seria uma medida revolucionaria da nova direção do futebol brasileiros. Vamos torcer. Mas não acredito .
Sexta-feira 13
(Marc Chagall. “Paris através da janela”, óleo sobre tela, 1913)
Para muitos sexta-feira 13 é um dia de azar e infortúnio.
Esta história teria seu início na ordem secreta do Papa Clemente V, para a destruição da Ordem dos Templários. Por solicitação do Rei Felipe IV da França, o Sumo Pontífice emitiu uma bula secreta, fixando uma certa sexta-feira, dia 13, em 1307, para o ataque final e extermínio aos Templários. O Rei ficou com o patrimônio da ordem e a Igreja com o prestígio (e também a grana). A partir deste fato, a sexta 13 ganhou a má fama que tem até hoje. Assim, o dia 13 é propício para o azar.
Já o dia 12 é seu oposto. Ali é sorte e alegria. Doze seria o número da completude: 12 meses do ano, 12 tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus, 12 signos do Zodíaco.
Enfim, é o dia da felicidade.
O futebol é um mundo de misticismos e superstições, onde o dia 13 não está perdoado. Mas não creio que a torcida do Flamengo passe a acreditar – a partir de ontem – que dia 12 seja dia da sorte, e 13, de azar. O que ocorreu não deixa dúvidas.
Mas esta cultura mística, carregada com todo tipo de história, é uma constante no futebol brasileiro.
Ninguém se esquece que o Brasil eliminou a camisa branca após a derrota da Seleção em 1950 , no Maracanã. Quando, em 1958, a Seleção não poderia jogar a final com a “canarinho” (a Suécia tinha a preferência e sua camisa oficial era amarela), foi proposto jogar com o velho uniforme nº.2, a tal camisa branca. Didi – o chefe da Seleção – disse não. Por mais que o psicólogo da Seleção explicasse que aquilo era superstição, bobagem, etc, o time rejeitou. A situação estava no impasse e a Direção da Seleção resolveu o caso com uma solução tão mística como a rejeição do branco: o time jogaria com uma camisa (comprada às pressas) de cor… azul, a mesma cor do manto de Nossa Senhora da Aparecida, segundo palavras dos Diretores. Foi uma solução marcada pela superstição. E o Brasil foi campeão!
Mesma sorte não teve o Palestra que, na partida final do famoso Campeonato Paulista de 1954 (ano do Quarto Centenário de São Paulo), por orientação de um pai-de- santo, trocou a cor de sua camisa e o Presidente engessou a perna, embora nada tivesse. Não deu sorte. O Corinthians foi o campeão daquele que é o mais famoso de todos os campeonatos de São Paulo.
Nas últimas décadas os “despachos”, “trabalhos” feitos por religiões de origem africana, perderam (um pouco) seu espaço. Foram substituídos pelos católicos (nenhum Clube deixa de rezar o pai-nosso e ave-maria antes do jogo) e pelos evangélicos, que surgiram com seus “atletas de Cristo”. Mas tanto em um como no outro está presente uma forte dose de misticismo e superstição. Invocar um santo ou fazer uma promessa, como fazem os católicos, é também aceitar sua mística. Como também os evangélicos (especialmente este novos pentecostais), que revivem hoje práticas que Calvino e Lutero mandariam para a fogueira: óleo santo, meia consagrada, terra de Israel, porta da salvação, etc, tudo é uma superstição geral que a Reforma Protestante tanto condenou e que os evangélicos de hoje reconstituem.
Mas no futebol azar, sorte, figa e tudo mais são presenças constantes. Para os que acreditam ou não.
Quarta de gols e de garfos
O Corinthians venceu, na noite de ontem, o Nacional do Paraguai e está classificado para a próxima fase da Copita (ou será Copaça?) Libertadores.
Agora o empenho do Timão deve ser por ficar numa classificação cada vez melhor. E acho bem possível. Mas, enquanto assistia nosso jogo do Alvinegro, recebi um sem número de mensagens, SMS, emails etc sobre o que ocorria na famosa Feira de Santana, onde o Bahia II (local) enfrentava o SPFC. Após o jogo, vi os lances. Foi uma garfada geral. Pênalti, cartão e expulsão. Hoje a mídia trata o ocorrido de forma discreta. Não fica bem dizer que seu “queridinho” eliminou o forte adversário com substancial ajuda da arbitragem. Juiz erra. E muito! Mas para os dois lados.
Quando o erro é evidente, e somente para um dos times, a coisa fica confusa.
Cem anos I
A comemoração dos cem anos do Santos foi lembrada, hoje, por dois artigos de fôlego: Wagner Villaron, no Estadão (“Sempre Santos”); e Juca Kfouri (com o “Santos 100 Pelé”), na Folha.
É justo que os jornais falem de um clube quando ele chega aos 100 anos. É fato pouco comum no Brasil. No artigo do Wagner ele diz que o time é um orgulho pelo “futebol ofensivo e goleador”. Está certo, mas precisa tirar um longo período de sua história e muitos jogos (como este último com o Barça). Juca centra (os técnicos e jogadores diriam “foca”) seu comentário no centenário santista numa partida. O jogo contra o Milan, em 1963, no Maracanã, na partida final da Copa Intercontinental. Fala da raça santista, da virada etc. Não deveria lembra desta partida. Juca diz apenas que Almir Pernambuquinho, dez anos após o jogo, revelou que jogou dopado prática, segundo Juca, “habitual… na Itália.” Não é bem isso que Almir revela no seu livro. Fala do doping e de muito mais. Cita a direção santista e afirma que o jogo estava comprado. Quer dizer, o juiz argentino Juan Regis Brozzi (creio) estava “na gaveta”. Nunca esqueci desse jogo. Era um piá (12 anos) e já sabia que era um corinthiano “casca grossa”. Nunca tive qualquer simpatia pelo Milan. Prefiro a Juve, o Napoli ou Catânia. Mas, naquela noite, torci para o Milan. E vi o submundo do futebol. Uma arbitragem deplorável. A imagem em branco e preto (com chuvisco) da TV não deixava dúvidas. Era assalto! Quando li o livro de Almir, uma década após, fiquei com uma sensação de orgulho de torcedor. Eu não caí nesta bobagem de torcer por time brasileiro, especialmente numa armação como essa.
E nunca mais me esqueci do que ocorreu.
Cem anos II
Há um filme do centenário do Santos que segundo Juca Kfouri está muito bom.
Ótimo, para ser preciso. Pode ser. Não vi e não vou ver. Mas, diz ainda Juca, que o pecado do filme “está em fazer permanente contraponto com o Corinthians”. Esqueça, Juca . Isso é doença de todos. A bronca com o Timão é ampla, geral e irrestrita. Viva!
E não vai mudar.
Líbia tropical
(Tarsila do Amaral)(Reprodução)
Após a renúncia do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e sua mudança para os Estados Unidos, a principal entidade de nosso futebol ficou numa situação de “caos do poder”.
Caos similar ao vivido na Líbia, desde o final do governo Kadafi aos dias atuais. Há um número incalculável de grupos brigando, cada um defendendo seu espaço. Os órfãos do ex-presidente juraram fidelidade ao novo dirigente (Marin), com o anterior afirmando que tudo continuaria tranquilo e bem. As Federações dividiram-se entre os nomes, mas todas continuam querendo manter seu status. Os clubes, que nunca apitaram muito, passaram a lutar por um espaço maior. Poucos acreditavam que o presidente Marin conseguiria sobreviver por algum tempo. A Folha, por exemplo, dizia que a entidade seria dirigida por um triunvirato.
O novo presidente – que não é nenhum iniciante – sentiu a insegurança de todos os grupos e passou a compor com cada um. Sua meta é equilibrar o barco e navegar com pouca velocidade. Mas não significa que esteja parado. Compõe com todos, mas não satisfaz (em 100%) a nenhuma das pretensões. Começou, aos poucos, trocando nomes, aproximando-se de Federações, agradando clubes, enfim, pretendendo acalmar a todos.
Em suma só quer uma coisa: continuar no cargo.
Esta política de aparente pacificação cancelou todos os projetos futuros de vários grupos do futebol brasileiro.
Com isso os clubes jogaram a Liga para o espaço; arquivaram a reconstrução do Clube dos 13. Nada mudará! Nenhuma mudança no futebol brasileiro até a Copa do Mundo. Nada de revolucionário virá, somente se tocará o barco até chegar 2014. Mas o futebol é um esporte que apresenta surpresas (nos campos e nos escritórios).
A Seleção Brasileira, e seu sucesso ou fracasso, é o motor para todo tipo de festa ou choro. E nossa Seleção está numa situação pior do que o quadro herdado com a saída de o ex-presidente Teixeira. E aí mora o perigo. O novo presidente “não vai com a cara” do técnico atual, Mano Menezes. Não vai demiti-lo por qualquer motivo. Mas, se algum motivo aparecer (uma derrota), ele dança.
O artigo do Antero Grecco (“Fogo Brando”), no Estadão de hoje, 11/4, mostra bem este quadro. E uma mudança de técnico sempre traz turbulências. Maiores ainda, se estiver próxima a Copa do Mundo.
É esse o problema do novo presidente da CBF: mudar devagar, sem fazer barulho, para não provocar a ira de vários grupos de nosso futebol.
Consultor Jurídico?
Sempre que posso dou uma olhada no blog do Birner (www.blogdobirner.net).
Ele tem muitas fontes no São Paulo e – principalmente – no Corinthians (basicamente em sua Diretoria). Por esta razão, traz boas matérias. Mas confesso que, esta semana, tomei um susto. Seu blog só tem notícias jurídicas. Advogados falam, Juízes declaram, Desembargadores afirmam, Ministros despacham etc. Tudo pela luta judicial, que ocorre entre São Paulo-Oscar-Inter. Parece um suplemento do Consultor Jurídico.
É bom, mas inusual.
Sem sigilo
Fez bem a Odebrecht em concordar com o Banco do Brasil e abrir o sigilo bancário do contrato de financiamento do BNDES para a construção do estádio do Corinthians.
Não é comum, para ser mais preciso, nunca vi isso. Mas é o melhor caminho. O Banco empresta para todos; a linha de crédito é conhecida; os juros são os cobrados em qualquer contrato similar e a forma de pagamento também é usual. O Banco do Brasil é somente um agente obrigatório para este tipo de contrato. Seu ganho é seguro e seu risco é nulo. Imagino com que dor no coração o UOL colocou esta nota no seu portal na manhã de hoje (11/4/12). Veja que diferença: quando falavam da reforma do Morumbi o São Paulo apresentou o Banco que participaria da operação. Sinceramente, não me lembro nem do nome. Era um Banco de internet, que trabalha com câmbio em lojas da cidade. Mas isso não significa nada.
Vão continuar falando aos borbotões, porque a dor é muito grande.
Mazzaropi, Adoniran e o desempate
(Reprodução)
Até nossos adversários reconhecem que a maior força do Corinthians é sua imensa torcida.
Com grande presença social entre as camadas populares, o Alvinegro avança pela classe média e é a maior força, até entre os ricos. Este fenômeno, que permitiu a um time de operários, da periferia e sem patrimônio financeiro, tornar-se – em um século – a potência que todos sabemos, é um fato ainda pouco estudado. Muitos foram protagonistas, ajudaram nesta vitoriosa caminhada: jogadores, ídolos, dirigentes, escritores, políticos, torcedores (famosos ou não). Há um mundo de situações que explica este crescimento do time que começou no Bom Retiro.
Destaco, hoje, dois grandes corinthianos, que muito ajudaram o Corinthians a ganhar a popularidade que tem nos dias atuais: Mazzaropi e Adoniran.
Foram valentes propagandeadores do Timão no meio da população, especialmente entre os mais pobres. Muito da adesão de novos torcedores foi obra destes dois gênios. Esta dupla tem muito em comum, além de seu fanatismo pelo Corinthians: eram de São Paulo, filhos de imigrantes italianos e foram brilhantes em sua arte.
Os dois traziam a marca do Corinthians.
Mazzaropi nasceu em São Paulo (em 9 de abril de 1912) teria completado, no dia de ontem, 100 anos.
Nasceu praticamente quando o Timão começava na Várzea, com garra e mais garra. Começou no circo, mas trabalhou em tudo: rádio, TV, cinema, além de um mundo de apresentações que hoje seriam chamadas de stand-up.
Quer dizer: contava piadas sozinho nos palcos, mas com graça e criatividade, não como fazem muitos dos atuais artistas desta onda, infestada por piadinhas (sem graça) de verve americana. Mas seu grande campo de sucesso foi o cinema. Em cada lançamento de seus 32 filmes, reunia sempre uma multidão no cinema Art Palácio, na Av. São João, centro de São Paulo.
Em 1966, lançou seu famoso “O Corinthiano”, até hoje um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional. O filme, feito em período de grande dificuldade do Timão, tem cenas de jogos reais, em que aparecem Rivelino e Dino, estrelas do Alvinegro. Seu Manoel, um barbeiro, corinthiano fanático, entra em conflito o tempo todo com seus vizinhos palmeirenses. Sobra até para a mídia da época, que atacava o Corinthians como o jornalista Geraldo Bretas (“venceu, mas não convenceu”, dizia o radialista em seu bordão). O sucesso de Mazzaropi com o povão, especialmente nos anos 1940, 50 e 60, muito ajudou na expansão de nossa torcida.
Viva, grande Mazzaropi!
Adoniran Barbosa, como Mazzaropi, era de São Paulo, onde nasceu em 6 de agosto de 1910.
Quase junto com o nascimento do Timão. Também era filho de imigrante italiano (chamava-se João Rubinato), e trabalhou em quase tudo. Atuou no rádio, televisão, cinema, mas seu forte foi a música. Compositor fantástico, assumia seu corinthianismo por todo lado. Criou o personagem “Charutinho”, na Rádio Record, com notável sucesso. Tratava-se de um corinthiano, morador do Morro do Piolho, o primeiro maloqueiro e sofredor, que ganhou a simpatia de toda a cidade. Especialmente entre a população pobre que acompanhava todas as participações daquele genial “Charutinho”. Arrastou para o Timão uma legião de torcedores. Viva, grande Adoniran!
Lembremos que o período que vai de 1940 a 1960 é decisivo para a definição do time com a maior torcida em São Paulo. Com a chegada da industrialização e seus operários (do Nordeste, na sua maioria) a cidade sofre uma brutal mudança. E o futebol também. A briga entre Corinthians e Palestra (dois times de origem italiana numa cidade onde 70% era de italianos ou seus descendentes) foi inesquecível. A utilização do Palestra pelos adeptos do facismo trouxe dinheiro e riqueza a sua agremiação, mas cobrou um alto preço. Vincular-se a ideias racistas e retrógradas deixara um campo aberto para seu rival (o Corinthians) receber levas e levas de imigrantes que por aqui chegavam para construir a nova metrópole. Aí o jogo desempatou e o placar nunca mais mudou. E para isso Mazzaropi e Adoniran foram muito importantes. Que vivam para sempre estes dois gênios!
E o triunvirato?
Quando o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, renunciou e deixou o país, a Folha publicou que a entidade seria dirigida por um Triunvirato.
Marin (seu formal presidente), Del Nero (da Federação Paulista) e Andrés Sanchez (diretor de Seleções). Acho que a Folha tinha lá suas fontes para informar com tanta certeza e precisão. Mas hoje, pelo que leio na Folha, a história de “triunvirato” ficou só naquela matéria. Marin vai compondo por todo lado, nomeando um aqui, outro ali, até sem avisar o nomeado. Surpresa? Pode ser. Mas apenas para os que acreditavam que, com a saída do presidente Teixeira, nada mudaria. Mas a frase do atual presidente sobre o ex indica algo: “Não dei nem boa Páscoa para ele”. Para que lado vão andar as coisas, pouco sabemos. O que definirá o futuro serão os acordos para Marin consolidar o Poder.
E muita gente vai perder o sono nos próximos meses.
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