Sep 16, 2012

Um grande clássico

(Anita Malfatti, “Samba”)

Neste final de semana, Corinthians e Palmeiras se enfrentarão pelo Campeonato brasileiro de 2012.

Com o Corinthians afastado da disputa pelo título, por razões por demais conhecidas, o jogo será muito importante para o Palestra.

Se notarmos pela história, Corinthians e Palmeiras, ou Palestra, centralizaram por muito tempo grandes paixões, embates, brigas, vitórias e derrotas.

Nas primeiras décadas do esporte, Corinthians, Palestra e Paulistano dividiam as maiores proezas e craques do futebol. Após a década de 1930, com o desaparecimento do Paulistano, Santos e São Paulo vieram incorporar-se às grandes disputas contra o Corinthians.

Não há dúvidas que ainda hoje, para uma legião de pessoas, este clássico é o que mais emociona.

Basta lembrarmos da crônica de Alcântara Machado, “Corinthians 2,  Palestra 1” ,  para vermos a importância que a partida tem na história do futebol brasileiro.

Nada como rever um conto do livro que marca o nascimento do Modernismo no Brasil.

Corinthians (2) vs Palestra (1)

Prrrrii!
– Aí, Heitor!
A bola foi parar na extrema esquerda. Melle desembestou com ela.
A arquibancada pôs-se em pé. Conteve a respiração. Suspirou:
– Aaaah!
Miquelina cravava as unhas no braço gordo da Iolanda. Em torno do trapézio verde a ânsia de vinte mi1 pessoas. De olhos ávidos. De nervos elétricos. De preto. De branco. De azul. De vermelho.
Delírio futebolístico no Parque Antártica.
Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se, caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava.
– Neco! Neco!
Parecia um louco. Driblou. Escorregou. Driblou. Correu. Parou. Chutou.
– Gooool! Gooool!
Miquelina ficou abobada com o olhar parado. Arquejando. Achando aquilo um desaforo, um absurdo.
Aleguá-guá-guá! Aleguá-guá-guá! Hurra! Hurra! Corinthians!
Palhetas subiram no ar. Com os gritos. Entusiasmos rugiam. Pulavam.
Dançavam. E as mãos batendo nas bocas:
– Go-o-o-o-o-o-ol!
Miquelina fechou os olhos de ódio.
– Corinthians! Corinthians!
Tapou os ouvidos.
– Já me estou deixando ficar com raiva!
A exaltação decresceu como um trovão.
– O Rocco é que está garantindo o Palestra. Aí, Rocco! Quebra eles sem dó!
A Iolanda achou graça. Deu risada.
– Você está ficando maluca, Miquelina. Puxa! Que bruta paixão!
Era mesmo. Gostava do Rocco, pronto. Deu o fora no Biagio (o jovem e esperançoso esportista Biagio Panaiocchi, diligente auxiliar da firma desta praça G. Gasparoni & Filhos e denodado meia-direita do S. C. Corinthians Paulista, campeão do Centenário) só por causa dele.
– Juiz ladrão, indecente! Larga o apito. gatuno!
Na Sociedade Beneficente e Recreativa do Bexiga toda a gente sabia de sua história com o Biagio. Só porque ele era freqüentador dos bailes dominicais da Sociedade não pôs mais os pés lá. E passou a torcer para O Palestra. E começou a namorar o Rocco.
– O Palestra não dá pro pulo!
– Fecha essa latrina, seu burro!
Miquelina ergueu-se na ponta dos pés. Ergueu os braços. Ergueu a voz:
– Centra, Matias! Centra, Matias!
Matias centrou. A assistência silenciou. Imparato emendou. A assistência berrou.
– Palestra! Palestra! Aleguá-guá! Palestra Aleguá! Aleguá!
O italianinho sem dentes com um soco furou a palheta Ramenzoni de contentamento. Miquelina nem podia falar. E o menino de ligas saiu de seu lugar. todo ofegante, todo vermelho, todo triunfante, e foi dizer para os primos corinthianos na última fileira da arquibancada:
– Conheceram, seus canjas?
O campo ficou vazio.
– Ó… lh’a gasosa!
Moças comiam amendoim torrado sentadas nas capotas dos automóveis. A sombra avançava no gramado maltratado. Mulatas de vestidos azuis ganham beliscões. E riam. Torcedores discutiam com gestos.
– Ó… lh’a gasosa!
Um aeroplano passeou sobre o campo.
Miquelina mandou pelo irmão um recado ao Rocco.
– Diga pra ele quebrar o Biagio que é o perigo do Corinthians.
Filipino mergulhou na multidão.
Palmas saudaram os jogadores de cabelos molhados.
Prrrrii!
– O Rocco disse pra você ficar sossegada.
Amilcar deu uma cabeçada. A bola foi bater em Tedesco que saiu correndo com ela. E a linha toda avançou.
– Costura, macacada.
Mas o juiz marcou um impedimento.
– Vendido! Bandido! Assassino!
Turumbamba na arquibancada. O refle do sargento subiu a escada.
– Não pode! Põe pra fora! Não pode!
Turumbamba na geral. A cavalaria movimentou-se.
Miquelina teve medo. O sargento prendeu o palestrino. Miquelina protestou baixinho:
– Nem torcer a gente pode mais! Nunca vi!
– Quantos minutos ainda?
– Oito.
Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio! Arremeteu. Chute agora! Parou.
Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio Biagio! Calculou.
Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu.
– CA-VA-LO!
Prrrrii!
– Pênalti!
Miquelina pôs a mão no coração. Depois fechou os olhos. Depois perguntou:
– Quem é que vai bater, Iolanda?
– O Biagio mesmo.
– Desgraçado.
O medo fez silêncio.
Prrrrii!
Pan!
– Go-o-o-o-ol! Corinthians!
– Quantos minutos ainda?
Pri-pri-pri!
– Acabou, Nossa Senhora!
Acabou.
As árvores da geral derrubaram gente.
– Abr’a porteira! Rá! Fech’a porteira! Prá!
O entusiasmo invadiu o campo e levantou o Biagio nos braços.
– Solt’o rojão! Fiu! Rebent’a bomba! Pum! CORINTHIANS!
O ruído dos automóveis festejava a vitória. O campo foi-se esvaziando como um tanque. Miquelina murchou dentro de sua tristeza.
– Que é – que é? É jacaré? Não é!
Miquelina nem sentia os empurrões.
– Que é – que é? É tubarão? Não é!
Miquelina não sentia nada.
– Então que é? CORINTHIANS!
Miquelina não vivia.
Na Avenida Água Branca os bondes formando cordão esperavam campainhando o zé-pereira.
– Aqui, Miquelina.
Os três espremeram-se no banco onde já havia três. E gente no estribo. E gente na coberta. E gente nas plataformas. E gente do lado da entrevia.
A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berrando, assobiando e cantando. O mulato com a mão no guindaste é quem puxava a ladainha:
– O Palestra levou na testa!
E o pessoal entoava:
– Ora pro nobis!
Ao lado de Miquelina o gordo de lenço no pescoço desabafou:
– Tudo culpa daquela besta do Rocco!
Ouviu, não é Miquelina? Você ouviu?
– Não liga pra esses trouxas, Miquelina.
Como não liga?
– O Palestra levou na testa!
Cretinos.
– Ora pro nobis!
Só a tiro.
– Diga uma cousa, Iolanda. Você vai hoje na Sociedade?
– Vou com o meu irmão.
– Então passa por casa que eu também vou.
– Não!
– Que bruta admiração! Por que não?
– E o Biagio?
– Não é de sua conta.
Os pingentes mexiam com as moças de braço dado nas calçadas.

(Wikisource, http://pt.wikisource.org/wiki/Corinthians_(2)_vs_Palestra_(1))

Sep 14, 2012

Sem jogos oficiais e com craques demais

Rubens Gerchman, “Não há vagas” (Reprodução)

O fato de o Brasil não disputar a etapa de classificação para o Mundial de 2014 é claramente negativo para nossa esquadra.
Não que não seja correta esta regra, que garante ao país que sedia a Copa uma vaga no Mundial, mas a falta de jogos oficiais  compromete a organização do time.

Sem disputas oficiais, os amistosos passaram a ser o único foco da preparação e, como sabemos, os jogos não têm sido lá estas coisas.

Em partidas amistosas (diria melhor, festivas) aparecem sempre “grandes jogadores”.
Nada mais falso para o time.

É no calor de uma disputa para valer que surgem os craques legítimos e desaparecem os “craques”.
Este é um grave problema em nossa atualidade. Há uma gama de “craques” famosos e comentados por todo lado. Mas será que  este jogadores estão amadurecidos para as grandes disputas?
Ensaiar dancinha na concentração não é o mesmo que estudar o adversário e ver a melhor forma de vencê-lo.

Esta é uma seleção – que pelo número de convocados nos últimos anos – mostra que estamos na estaca zero.
E o caminho de formação da equipe ainda será trabalhoso e complicado.

Para a história  

Completa no dia de hoje (14/9) 102 anos do primeiro gol feito pelo Timão.
Foi marcado por Luiz Fabbi na vitória corinthiana contra o Estrela Polar. O resultado foi 2×0 e o outro gol foi de Jorge Campell.
O jogo foi no Bom Retiro – onde nasceu o Timão – na atual rua José Paulino, hoje ocupada por comércio atacadista que serve todo o Brasil.

 

Sep 13, 2012

Nem tango, nem samba

 


O empate do Corinthians na noite de ontem, 12/9, com a Ponte Preta no Pacaembu, mostra que o Campeonato para o alvinegro segue sem ritmo.
Por mais que o técnico grite à beira do gramado, o time joga no ritmo que bem quer. Há poucos dias, superou o Grêmio, o Atlético-MG e empatou com o Flu (no Rio), todos estes candidatos ao título.
Segundo a mídia, já seriam os favoritos.

Mas, faltando ritmo, o time não engrena uma sequência de bons resultados, que poderia mudar todo este modorrento campeonato.
Nada que nos preocupe muito, mas é claro que a torcida corinthiana gostaria de vencer esta disputa.

Talvez este seja o mais fácil campeonato dos últimos tempos, pois Atlético-MG, Grêmio e Flu não assustam ninguém!

Sep 12, 2012

Vida dura

Eliseu Visconti (1866-1892). “Uma rua da favela” (1890) (Reprodução)

A crise econômica da Europa está tendo um efeito devastador no futebol de vários países que estão quebrados.

Exceto alguns times da Inglaterra (dominados por investidores russos e árabes), o Paris Saint German (coberto por petrodólares) e um ou outro do Leste Europeu, tudo mais vive uma crise de dar piedade.

Embora disfarcem bem, os times da Espanha são os mais afetados pela crise.
Tradicionalmente, viviam de dinheiro barato dos bancos de lá e de ajuda do Governo. Os dois estão no chão. Bancos estão sendo socorrido por alemães, enquanto o Governo local não consegue dinheiro nem para pagar merenda escolar. A crise do Crisitano Ronaldo é exemplo desta dificuldade. Em outra época, o Real Madrid iria a um banco qualquer e levantaria tudo o que se afirma que a “estrela” quer. Hoje, os Clubes de lá não tem mais a mão amiga, ou melhor, a “grana amiga” que permitia qualquer loucura. No dia de ontem, a Catalunia promoveu uma grande manifestação por sua independência e pelo orgulho dos catalães. Isso é só fumaça.
A verdade é que o grandes Estados da Espanha estão quebradinhos, como todos os outros,  e gritam qualquer coisa.

Na Itália, os grandes Clubes começaram o campeonato sem qualquer contratação bombástica.
O Milan disse que contrataria Kaká, escanteado no Real Madrid, mas depois desconversou. Todos os Clubes começam a temporada com equipes modestas, sem negociações capazes de assustar o tesouro.

Portugal, Grécia, Turquia etc. nem contam, porque nunca foram grande coisa.
A Alemanha vive com o que pode e controla as finanças de seus times impedindo qualquer salto à loucura.

No Brasil, a situação é melhor por vários motivos.
Primeiro, porque nunca fomos um país de compradores de jogadores. O segundo motivo, que garante relativa estabilidade aos Clubes, é o contrato com a TV. A entrada da Rede Record na briga por direitos de transmissão (e o fim da cláusula de preferência) motivou a TV Globo a encontrar mais recursos para bancar o futebol.
É esta grana que permite um Campeonato nos termos em que se encontra.

O grande Clube que não se equilibrar com recursos deste contrato de TV, nunca mais sairá do vermelho!
E poderá chorar à vontade.

Fala, Mestre

“Dentro de campo, nunca vi tanto jogador de baixa qualidade técnica vestindo a camisa de times grandes”, diz Paulo Cézar Caju, em seu artigo de ontem, 11/9, no Jornal da Tarde.
Ele está certo.
Estamos diante da pior safra de “craques” do futebol brasileiro desde 1954.

Sep 11, 2012

Sem Zizao, China não resiste e é goleada.


(Reprodução)

A seleção da China foi goleada, ontem à noite, 10/9, em Recife, pela Seleção Brasileira por 8×0.
Tivemos de tudo na partida, inclusive “dancinha” para comemorar os importantes gols . Este tipo de comemoração é importante, pois mostra (segundos os psicólogos do esporte) o nível mental de amadurecimento do atleta.
Tudo bem.

Mas o que teria faltado ao time chinês para conseguir um bom resultado?
Tudo. A China já está fora do próximo mundial  e, no ranking da Fifa de Seleções, ocupa uma posição próxima (mas não muito melhor) do Butão.

Lamentavelmente, o treinador chinês  não convocou o astro Zizao, jogador do Timão.
Se o fizesse, a festa seria outra.

Não seria igual à apresentação do Corinthians no início do ano, já que aquela é inigualável.

Como evento, a  festa de apresentação do Zizao só perdeu para a chegada de Ronaldo (o fenômeno). Perdeu, não.
Em alguns quesitos  (como coreografia), foi superior. Afinal, segundo marketing do Timão, ele abriria as portas do “mercado chinês” para o alvinegro.
Entendi!

Uma pena! Se Zizao tivesse com aquela camisa vermelha da China, a coisa seria diferente.
Muito diferente.

 
Vai, Colintias! 
(Reprodução)

Mistificação ou fraude

No início do ano, um pouco antes das eleições no Clube, uma notícia ocupou a mídia por todo lado: o Corinthians teria um novo patrocínio na camisa.
Seria uma empresa coreana (ou japonesa, para alguns mais ousado) e seria o maior contrato já visto no futebol tapuia.

Mas o ponto alto daquela ofensiva de notícias vazadas pelo marketing corinthiano foi uma foto que provocou o maior barulho na internet (em blogs, sítios etc) e, em seguida,  nos jornais,  rádios e TVs.

A foto – com definição muito ruim – “mostrava” um coreano (ou japonês) com uma camisa do Timão e a propaganda da montadora Hyundai.
Era a prova que faltava do negócio realizado.

Foi um alvoroço só.
Falavam que o Corinthians estaria com um contrato fechado (na mão, como dizia um Diretor) de publicidade na camisa para o ano de 2012, e a mídia trazia inclusive os números do acerto.
Pelo que afirmavam, os Diretores do Marketing do Timão  seriam 50 milhões por ano, em contrato de 3 anos.

Não houve quem não tivesse aplaudido.
Os membros da “Republica”, que reúne do pessoal de aplauso fácil (e caro)  até jornalistas “independentes”, parabenizavam o Corinthians por tão grande proeza.

A foto do tal coreano provaria o acerto conseguido.
Muitos se preocuparam em dar o nome ao tal empresário que a foto borrada trazia.

O resto da história é conhecido de todos.
O tal “acordo” acertado não existia, embora o marketing corinthiano tivesse espalhado por todo lado notas da bombástica contratação.

Estamos chegando ao final do ano e o Clube ainda vive sem publicidade na camisa.
Ficou apenas a foto escura da área Vip do Pacaembu.

Ainda bem que a Globo chamou os Clubes para aditar o contrato de transmissão de jogos  (até 2017,18 ou 19?).
Com grana adiantada, pela TV,  está sendo possível tocar o barco.
E o tal marketing nada tem com a venda da TV.

Sep 9, 2012

Corinthians coloca pimenta no campeonato

 

O Corinthians, que por razões conhecidas e repetidas, não teve um bom desempenho no primeiro turno do Campeonato Brasileiro.
Mas é o time que está dando o ritmo na disputa. Enfrentando os tais “favoritos”, vem batendo um a um.
Ontem, no Pacaembu, foi a vez do Grêmio gaúcho dançar. Poderia ter sido um placar maior se o juiz não estivesse, digamos, numa noite infeliz. Mas, deixa para lá.
O Corinthians vem dando o tempero nesta disputa arrastada, onde ninguém é favorito de nada. Não há uma grande equipe disputando o título.
O destaque é o Corinthians, que vence os fortes de forma indiscutível, como diria Mário Moraes.

TV e Grana

Neste domingo, no Estadão, o jornalista Paulo Vinícius Coelho, reclama da divisão de dinheiro da TV.
Segundo ele, os dois grandes (Timão e Fla) estão ficando cada vez com mais dinheiro. Agora, com os aditivos ao contrato de TV, a diferença entre o primeiro grupo e os outros estaria aumentando mais ainda. Diz o jornalista em estado de alerta: ” Criar um grande campeonato não inclui apenas contratações ou manutençao de grandes craques. É preciso dividir o dinheiro de maneira mais igualitária”.
Ficaríamos assim, no quadro do PVC: um traz a audiência e os anunciantes e os outros ficam com o cofrinho para receber a divisão (igualitária , é claro).
É uma proposta simples, que revoga as leis de mercado. Só.

A cada um segundo seu trabalho, como diziam os marxistas. Nada de fazer um “socialismo” de araque. Neste quadro quem pode mais chora menos. E quem quiser mais dinheiro faça como fez o Timão. Comece num bairro simples, lute muito (contra tudo e todos), fique grande e aí a conversa é outra.
Ou sejam participantes secundários .

Sep 8, 2012

Da ópera “Eugene Onegin” (Tchaikovsky)

Simon Keenlyside e Ekaterina Scherbachenko.



Sep 7, 2012

“Di un cor che muore reca il perdono” da ópera Maria Stuarda (Donizetti)

Mariella Devia, em “Maria Stuarda” de Gaetano Donizetti (em registro de 2008).



Di un cor che muore reca il perdono

A chi m’offese, mi condannò.

Dille che lieta resti sul trono,

Che i suoi bei giorni non turberò.

Sulla Bretagna, sulla sua vita,

Favor celeste implorerò.

Ah! dal rimorso non sia punita:

Tutto col sangue cancellerò.

D’un cor che muore ecc.

 

Sep 6, 2012

Falta emoção

(Mario Schifano (1934-1998), “Futurismo rivisitato”) (Reprodução)

Na partida de ontem, 5/9, por mais que o técnico Tite gritasse ao lado do gramado, o jogo não mudava de ritmo.
O Corinthians, mesmo com o time misto, teria todas as condições de sair com uma vitória de Florianópolis, mas sua cadência no campeonato não permite. Não há dúvida de que o Timão jogou para vencer (e poderia ter conseguido), mas aquela falta de “fome de vitória” é um fator importante. E o Corinthians está – rigorosamente – jogando para cumprir a tabela. Uma pena!
Não que isso mude o mundo, mas retira o sabor da disputa e diminui o campeonato.

É grana II

A imprensa espanhola diz que Cristiano Ronaldo só não tem aumento de salário porque o Clube ainda não conseguiu “vender” outro jogador, o brasileiro Kaká.
Vender não seria o verbo mais apropriado. O Real pretende mesmo se ver livre do meia. Só não quer continuar pagando o salário para um atleta que fracassou completamente na equipe. Opa! Retifico, senão a mídia tupiniquim cai de paulada: um jogador que não teve tanto sucesso na equipe do Real Madrid.
Cristiano Ronaldo ficará “tristinho” por mais algum tempo até que o Clube consiga grana para fazer voltar seu sorriso.

Que grana!

Sei que a mídia vive pegando no pé da TV Globo por  ela ter o contrato que lhe dá os direitos de transmissão dos jogos de futebol.
Reclamam de tudo: horários, locais de entrevistas e muito mais. Nunca entrei neste barco. A televisão (neste caso a Globo) é um fator importante para o futebol. Nossos Clubes sobrevivem nos dias atuais – em boa parte –  em virtude do dinheiro da TV. A prorrogação do contrato – que gerou uma grana extra – está permitindo aos Clubes enfrentar a falta de recursos, que vinham de outras fontes, garantindo que toquem o barco nos campeonatos.
Viva a TV! E a sua grana.

Nossa grana

Sem publicidade fixa na camisa, o Corinthians está perdendo um dinheirão, apesar de tantos e tantos  jogos televisionados.
Como está mais do que claro – neste campo – quem define as contratações é o mercado. Como já  lembramos aqui, a crise econômica levou as empresas  a “puxarem o breque” neste gastos. Mesmo com o Corinthians tendo títulos e torcida de sobra, o mercado hoje tem dinheiro de menos. E aí vamos para o fim da temporada sem um patrocinador definido.  O marketing pode ser competente para alimentar a mídia, à guisa de grandes tacadas que não se realizam. Isso é fácil! Basta lembrarmos do coreano (ou japonês) que foi fotografado, no Pacaembu, com uma camisa de propaganda de uma montadora. Seria “o maior contratado do futebol”. A foto (meio escura e sem grande definição), transformada em viral, espalhou-se pela internet da República,  sempre acompanhada de grandes e bombásticas informações. Passaram as eleições no Clube, o Campeonato Paulista e a Copa Libertadores, mas duas coisas ficaram sem resposta:  a existência do  tal contrato (que já estaria até assinado); e quem era aquele coreano ou japonês com a camisa da montadora no Pacaembu.

Sep 5, 2012

Homenagem a Ruço


José Carlos dos Santos, “Ruço” (1949-2012)

Os gols do volante carioca Ruço pelo Corinthians não foram muitos, mas foram  importantes. Como o gol de meia-bicicleta, contra o Fluminense, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro, em 5/12/1976, marcado debaixo de chuva em um Maracanã tomado pela Fiel. Ali começou o milagre da classificação, que viria nos pênaltis. Quando Ruço marcava gols como aquele, todo mundo na arquibancada já sabia como ia ser a  comemoração: com beijinhos, é claro, beijinhos para toda a galera.
Raçudo sem ser tecnicamente brilhante, Ruço veio do Madureira, em 1975, e foi um dos herois do título paulista de 1977.
Depois, voltou para o Rio, onde defendeu o Botafogo.  (Cf. UNZELTE, “Almanaque do Timão”. São Paulo: Abril, 2000, p.513)

 

NELSON E A INVASÃO CORINTIANA

Nelson Rodrigues

Uma coisa é certa: — não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma vitória tem que  ser o lento trabalho das gerações. Até que, lá um dia, acontece a grande vitória.

Ainda digo mais: — já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate. Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.

Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela.

Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.

A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: — “O Rio é uma cidade ocupada”. Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte.

Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha. Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time. Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel. Um amigo me perguntou: — “E se o Corinthians perder?” O Fluminense era mais time. Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corinthianos, quando faziam um prévio carnaval. Esse carnaval não parou. De manhã, acordei num clima paulista. Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam. Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca. Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.

Não cabe aqui falar em técnico. O que influi e decidiu o jogo foi a torcida. A torcida empurrou o time para o empate.

A torcida não parou de incitar. Vocês percebem? Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca. Os corinthianos estavam tão certos de que ganhariam que apelaram para o já ganhou. Veio de São Paulo, a pé, um corinthiano. Eu imaginava que a antecipação do carnaval ia potencializar o Corinthians. O Fluminense jogou mal? Não, não jogou mal. Teve sorte? Para o gol, nem o Fluminense, nem o Corinthians. Onde o Corinthians teve sorte foi na cobrança dos pênaltis. A partir dos pênaltis, a competição passa a ser um cara e coroa. O Fluminense perdeu três, não, dois pênaltis, e o Corinthians não perdeu nenhum. Eis regulamento de rara estupidez. Tem que se descobrir uma outra solução. A mais simples, e mais certa, é fazer um novo jogo.

Imaginem que beleza se os dois partissem para outro jogo.

Futebol é futebol e não tem nada de futebol quando a vitória se vai decidir no puro azar. Ouvi ontem uma pergunta: “O que vai fazer agora o Fluminense?” Realmente, meu time não pode parar. O nosso próximo objetivo é o tricampeonato carioca. Vejam vocês:

Empatamos uma partida e realmente um empate não derruba o Fluminense. Francisco Horta já está tratando do tricampeonato. Estivemos juntos um momento. Perguntei: — “E agora?” Disse — amanhã vou tomar as primeiras providências para o tricampeonato. Como eu, ele não estava deprimido. O bom guerreiro conhece tudo, menos a capitulação.

Aprende-se com uma vitória, um empate, uma derrota. Só a ociosidade não ensina coisa nenhuma.

No seguinte jogo, vocês verão o Fluminense em seu máximo esplendor.

NELSON RODRIGUES era tricolor e publicou este texto no GLOBO em 6/12/1976, no dia seguinte ao jogo Fluminense x Corinthians.